Infohabitar, Ano XVII, n.º 764
Edição: terça-feira, 9
de fevereiro de 2021
Pequena viagem pelos cerca de 70 anos de Habitação de Interesse Social Portuguesa (HISP) antes do INH/IHRU (série editorial: artigo 2/8) – infohabitar # 764
Caros
leitores da Infohabitar,
Tal como foi devidamente divulgado continuamos, esta
semana, com a nova série editorial dedicada ao desejável
desenvolvimento da qualidade arquitectónica e da satisfação residencial no que
ainda falta fazer em termos de nova habitação de interesse social portuguesa
(HISP); e para tal estamos a fazer uma viagem prática pelo passado da HISP.
No início do artigo faz-se a apresentação desta nova
série editorial, prevista para oito artigos, que, naturalmente, estão já em
diversas fases de elaboração.
Salienta-se que a viagem pelos
espaços do habitar e designadamente pelos espaços domésticos continuará a ser
feita na Infohabitar, e aliás conta já com um razoável desenvolvimento, que
pode ser verificado no nosso catálogo interativo, designadamente, no seu tema n.º
6 intitulado “Série habitar e viver melhor”.
Lembra-se, novamente, que serão sempre muito
bem-vindas eventuais ideias comentadas sobre os artigos aqui editados e
propostas de novos artigos (a enviar para abc.infohabitar@gmail.com
, ao meu cuidado).
E talvez por razões acrescidas esta nova série editorial poderá merecer, espera-se, uma maior participação, seja em comentários diretos, que ficarão anexados aos respetivos artigos comentados, seja em proposta de novos artigos de opinião, cujas propostas serão muito bem-vindas.
Caros leitores:
Considerando a muito crítica evolução da pandemia, continua
a sublinhar-se, a vital importância do máximo confinamento e do distanciamento
social, conseguidos, designadamente, através do teletrabalho, bem como do
respeito por todas as medidas de higiene e proteção amplamente divulgadas.
Não tenhamos dúvida de que boa parte do combate ao
vírus passa pelos nossos esforços sistemáticos, pessoais e familiares, que
terão de se enraizar nos nossos hábitos diários, mesmo quando temos já entre
nós as vacinas, mas quando simultaneamente a pandemia está numa fase muito
dura.
Despeço-me, até à próxima semana, enviando saudações
calorosas e desejos de força e de boa saúde para todos os caros leitores e seus
familiares,
Lisboa, Encarnação, em 8 de fevereiro de 2021
António Baptista Coelho
Editor da Infohabitar
Pequena viagem pelos cerca de 70
anos de Habitação de Interesse Social Portuguesa (HISP) antes do INH/IHRU (série editorial: artigo 2/8) – infohabitar
# 764
António Baptista Coelho
(texto e fotografias)
Série editorial: “Desenvolver a qualidade
arquitectónica e a satisfação residencial na nova habitação de interesse social portuguesa” (7 artigos)
Índice da Série Editorial, em
princípio, integrada por oito artigos a editar sequencialmente
Índice
geral e estrutura sequencial da (nova) série de sete artigos da Infohabitar
intitulada “Desenvolver
a qualidade arquitectónica e a satisfação residencial na nova habitação de
interesse social portuguesa” sobre o que foi o passado e o que pode ser o
futuro da habitação de interesse social (HIS) portuguesa”:
. 1.º artigo: Apresentação e enquadramento
justificativo e pormenorizado dos conteúdos, bases de referência e quadro
qualitativo desta série editorial
sobre o passado e o futuro da habitação de interesse social portuguesa (infohabitar
# 763).
. 2.º e presente
Artigo: viagem sintética pelo que foram os
cerca de 70 anos de produção de habitação de interesse social portuguesa antes
do INH/IHRU.
. 3.º Artigo: ainda antes da criação do INH, algumas
notas sobre “os anos dourados” da promoção cooperativa de habitação económica,
de 1974 a 1984
. 4.º Artigo: síntese, essencialmente qualitativa, do que se julga ter sido o processo de apoio à promoção de Habitação a Custos Controlados (HCC), indiretamente pelo INH/IHRU e diretamente por municípios, cooperativas e empresas.
. 5.º Artigo: considerações críticas sobre as características projetuais e vivenciais nos diversos níveis físicos residenciais da promoção de HCC, privilegiando-se as consideradas como menos positivas e potencialmente a melhorar na nova HISP.
. 6.º Artigo: avanço prospectivo e cuidadoso centrado na caracterização genérica do que poderá ser a promoção da nova HIS portuguesa.
. 7.º Artigo: proposta qualitativa para a HIS portuguesa ainda em falta, através de um avanço prospectivo e cuidadoso na respetiva caraterização arquitectónica pormenorizada dos seus diversos níveis físicos.
. 8.º Artigo: apontamentos gerais de síntese sobre a qualificação da HCC/HIS que é ainda necessária, desde a promoção ao projeto global e aos renovados e, por vezes, inovadores objetivos de qualidade; acompanhados pela respetiva discussão.
Resumo
Neste
segundo artigo (de oito) da série editorial intitulada “Desenvolver a
qualidade arquitectónica e a satisfação residencial na nova habitação de
interesse social portuguesa” faz-se uma sintética e pessoal viagem pelo que foram os
cerca de 70 anos de produção de Habitação de Interesse Social Portuguesa (HISP)
antes do INH/IHRU.
Em
primeiro lugar carateriza-se a reflexão e faz-se um enquadramento da série
editorial e numa perspetiva do que se julga poder ser a sua utilidade.
Em
seguida e sequencialmente: (i) abordam-se alguns dos primeiros conjuntos
portugueses de Habitação de Interesse Social, privilegiando-se os respetivos
aspetos tipológicos; (ii) depois avança-se para a atividade centrada nas
Habitações Económicas da Federeação das caixas de Previdência (HE-FCP),
centrando-se a síntese essencialmente em
Alvalade, Ramalde e Olivais Norte; (iii); em seguida viaja-se entre Olivais e
Abril de 74, sobre alguns dos aspetos que marcaram a HISP dos finais dos anos
de 1960 a início dos anos de 1970; depois (iv) aborda-se, globalmente, o
período temporal de Abril de 74 à criação do INH, deixando-se boa parte da
promoção cooperativa de habitação económica para o próximo artigo desta série.
Termina-se,
tal como no 1.º artigo desta série editorial, com os respetivos agradecimenros
e uma bibliografia cronológica sobre a temática.
1. Introdução e enquadramento sobre a utilidade da
presente série editorial
Neste segundo artigo (de oito) da série editorial
intitulada “Desenvolver a qualidade
arquitectónica e a satisfação residencial na nova habitação de interesse
social portuguesa” faz-se uma sintética e
sempre muito pessoal viagem pelo que foram os
cerca de 70 anos de produção de Habitação de Interesse Social Portuguesa (HISP)
antes do INH/IHRU, sublinhando-se
e comentando-se as matérias e os aspetos julgados atualmente mais oportunos.
Nunca será excessivo salientar que o teor desta reflexão é
essencialmente qualitativo e muito baseado, para além da extensa bibliografia
referida no final do artigo e cronologicamente estruturada, na prática do que
de melhor se fez, em termos de conjuntos residenciais de HISP, designadamente,
na última fase de promoção ativa de HIS, em Portugal, praticamente desde o
início do INH/IHRU em 1984 até aos anos que anunciavam já a crise de 2008, e
não esquecendo o que se julga terem sido as melhores experiências anteriores ao
25 de Abril de 74, matéria esta à qual se refere, especificamente, o presente
artigo.
Abordam-se, assim, nesta série editorial, os principais
aspetos qualitativos e caracterizadores dos últimos mais de trinta anos de
promoção de Habitação de Interesse Social (HIS) em Portugal – que foi designada
entre nós por Habitação a Custo Controlado (HCC) –, não esquecendo o que se
julga ser essencial dos outros 70 anos anteriores – matéria esta específica do
presente artigo – e numa perspectiva não de relato do que foi feito, mas sim de
tentativa de apuro do que a experiência havida nos pode ajudar a enquadrar
qualitativamente o que falta ainda fazer, entre nós, de HIS.
Salienta-se, ainda, a título de
enquadramento, julgar-se que o referido âmbito essencialmente qualitativo do
estudo agora apresentado sobre Habitação de Interesse Social (HIS), e o seu sublinhado
perfil prático, baseado na análise de casos de referência arquitectónica,
habitacional e urbana muito diversificados, proporcionam que este conjunto de
artigos possa ser útil, a título informativo, no âmbito da abordagem das
necessidades em HIS dos diversos países e muito variadas realidades habitacionais
do espaço lusófono.
2. Sobre alguns dos primeiros conjuntos portugueses de Habitação de Interesse Social: breves comentários gerais e sobre a inovação tipológica
Marcando
a transição entre a promoção filantrópica e a promoção estatal e municipal de
habitação popular urbana, salienta-se ter sido no Porto que, entre 1899 e 1905,
foram construídos 95 fogos, “destinados à população operária ou com fracos
recursos económicos” (1), através de uma parceria entre a Câmara Municipal
do Porto e o jornal “O Comércio do Porto”. Estes fogos foram localizados em
Monte Pedral (26 fogos), Bonfim/Antas (29 fogos) e Lordelo do Ouro (40
fogos).(2)
Fig. 1 – Bairro Social do Arco do Cego, em Lisboa; projecto de Edmundo Tavares e Frederico Machado; aqui haverá muito a ganhar com o respetivo estudo das tipologias unifamiliares superdensificadas e com verdadeiras áreas mínimas e com as tipologias multifamiliares com intensa escala humana e, por vezes, com uma aproximaçãoo ao carácter do unifamiliar.
O
Bairro Social do Arco do Cego (BSAC) em Lisboa, com os seus quase 500 fogos,
projeto de Edmundo Tavares e Frederico Machado e que se organiza em torno da
belíssima peça que é o Liceu D. Filipa de Lencastre (projetado em 1932 por
Jorge Segurado), foi designado como o “1.º Bairro Social de Lisboa” e tem uma
escala verdadeiramente urbana e significativa; salienta-se o prazo muito
dilatado de construção do BSAC, entre 1918/19 e 1935, marcado por longos
períodos de paragem das obras, sendo assim acabado já em pleno Estado Novo (3).
Tanto
nas promoções, parcialmente, municipais no Porto como na promoção “estatal” do
BSAC, em Lisboa, existe uma interessante característica de forte diversidade
tipológica, que, ao nível do edifício, corresponde à geração, (i) quer de
“inovadoras” tipologias unifamiliares muito densificadas (em bandas densas
contínuas e duplamente adossadas: lado a lado e costas com costas), (ii) quer
de algumas interessantes soluções de pequenos multifamiliares, cuja escala se
integra muito bem com a dos referidos unifamiliares; importa sublinhar que em
alguns casos tal variedade tipológica é proporcionada por pequenos
saguões/poços de luz e ventilação naturais, então ainda possíveis.
Este
interessante “jogo” tipológico de unifamiliares densificados e pequenos
multifamiliares permitiu:
- adequação a um amplo leque de modos e gostos de habitar;
- interessantes soluções de harmonização de escalas e usos entre as referidas tipologias, gerando-se atraentes e marcantes imagens globais;
- soluções urbanas com afirmada continuidade e caracterização, bem marcadas por espaços públicos tradicionais/bem conhecidos ou representativos, espaços para equipamentos bem integrados, e agradáveis pequenas ruas e pracetas residenciais ajardinadas.
Para
além disto tudo há que salientar uma estrutura urbana que, por vezes, estava
fortemente ligada às “extremidades” da cidade então preexistente.
E
esta perspetiva de alguma inovação tipológica nos primórdios da nossa HIS
continua a marcar outras realizações, entre as quais se destaca o Bairro do
Alvito, ne periferia de Lisboa, projetado por Paulino Montez e construído já
cerca de 1937 (4), que mantém uma clara aposta numa tipologia de pequenos
multifamiliares do tipo esquerdo/direito (6 fogos por caixa de escada), muito
bem harmonizada com soluções bifamiliares sobrepostas e igualmente
densificadas.
Uma
tal escolha tipológica proporciona a quase global disponibilização de um máximo
de relações com pequenos quintais privativos, servindo um máximo de fogos
(térreos e em 1.º andar).
Fig. 2 – No Porto, na Rua Duque de Saldanha, projecto de Marques da Silva (fotografia de Clemente Ricon); uma solução de arquitectura habitacional urbana extremamente bem integrada na continuidade da rua e mesmo assim criando a sua própria vizinhança de proximidade, para além de conter também uma interessante mistura tipológica.
No
Porto, na Rua Duque de Saldanha, mantém-se a referida variação e inovação
tipológica através de uma promoção municipal, hoje conhecida como Bloco de
habitações Duque de Saldanha, e que integra 115 mais 43 fogos, construídos,
respectivamente, numa primeira e numa segunda fases, entre 1937 e 1941; nesta
intervenção aplicou-se uma tipologia urbana e residencial marcada por um grande
pátio central semipúblico e por circulações através de galerias exteriores
comuns, atingindo-se, assim, um afirmado sentido comum ou convivial, mas em
direta e positiva aliança com uma continuidade urbana agradavelmente marginal
(5).
Depois
o Estado Novo desviou-se das “perigosas” soluções multifamiliares relativamente
densificadas, que ainda hoje em dia parecem fazer a satisfação dos respectivos
moradores, e privilegiou a “casa portuguesa” ou, melhor, a pequena “casa
portuguesa”, em bairros de moradias isoladas ou, frequentemente, geminadas,
também elas continuando, hoje em dia, a satisfazerem muito bem (com naturais
adaptações), por vezes, os netos dos moradores originais.
Nestes bairros as pequenas casas caracterizam-se por
determinados leques dimensionais bem definidos, mas são sempre marcadas por
aspectos de apurada funcionalidade doméstica, diretamente associados a estudos específicos
sobre o dimensionamento mínimo; de certa forma procurando-se atenuar os
problemas ligados às áreas menores, através de uma maior funcionalidade
doméstica e um cuidadoso estudo dimensional – dimensões lineares mínimas ou
recomendáveis.
É interessante considerar que estas preocupações com o
melhor projeto da HIS, se ligavam, tanto à escolha de adequados projetistas
arquitetos, como ao estudo específico dos chamados “mínimos” habitacionais, este
aliás também muito abordado, à altura, em outros países da Europa (ex., estudos
de Alexander Klein) e associado a idênticas ou bem distintas linguagens de
arquitetura.
E este caminho qualitativo de apuro do projeto de
Arquitetura e de continuado e diversificado estudo espacial, funcional e mesmo
construtivo/económico do habitar irá marcar o que podemos considerar como sendo
a fase seguinte da promoção de Habitação de Interesse Social Portuguesa (HISP),
designadamente, através do que se considera ter sido, então, o trabalho de
referência das Habitações Económicas – Federação das caixas de Previdência
(HE-FCP), trabalho este muito ligado à meritória atividade de um amplo conjunto
de técnicos – engenheiros e arquitectos – e, entre eles, do Arq.º Nuno Teotónio
Pereira.
Fig. 3 – Bairro da Encarnação, em Lisboa; projeto de Paulino Montez - nas imagens a solução de unifamiliares em bandas contínuas e formando íntimas pracetas residenciais da Rua dos Lojistas. A Encarnação integra alguns excelentes segredos, designadamente, em termos de estruturação e equipamento urbano dos seus principais eixos e pólos - ex., principal alameda que junta a Igreja e um interessante eixo ajardinado; pólos comerciais de vizinhança integrando mercados e lojas um a Norte e outro a Sul, e uma exemplar relação por pequenas veredas pedonais com o birro modernista de Olivais Norte que a velha Encarnação abraça; mas para além disto a Encarnação contém a pequena pérola de arquitetura doméstica e urbana que é a banda densa da Rua dos Lojistas, com uma fortíssima escala humana e um evidentemente muito grande potencial de apropriação, mantendo, no entanto o sentido de rua e de pracetas urbanas coim continuidade.
Mas
antes de aí chegar, passamos, então, de meados da década de 1930 até meados da década
seguinte e podem-se referir vários bairros de “casas económicas” dos quais é
exemplo – essencialmente pela significativa dimensão, caracterizada estrutura
urbana, cuidadoso equipamento colectivo e também pontuais explorações
tipológicas –, o grande Bairro da Encarnação, com cerca de 1100 edifícios
unifamiliares, grande parte deles geminados dois a dois e algumas excelentes
bandas entremeadas de agradáveis pracetas residenciais (na Rua dos Lojistas),
desenhado por Paulino Montez, logo à entrada Norte de Lisboa; bairro este que,
no entanto, durante bastante tempo, parece ter tido ligações à cidade bastante
deficientes.
Eram
bairros, à altura, periféricos, onde se previa um conjunto mínimo de
equipamentos comerciais, sociais e religiosos e caracterizados por uma
significativa presença de espaços e elementos verdes privativos, de certa forma
na tradição dos “bairros jardim” europeus desenvolvidos à altura e
anteriormente no Norte da Europa; e é de registar que, entre nós, nessa mesma
Encarnação, um então bem jovem Arq.º paisagista, o Arq.º Gonçalo Ribeiro Telles
desenhou o seu ainda hoje excelente jardim central, que rodeia a Igreja de
Santo Eugénio.
Os
pequenos bairros de “casas económicas” constituíram uma parcela significativa
da HIS realizada durante o Estado Novo, caracterizando-se por terem maior
escala física e dimensão urbanística nas principais zonas urbanas – da grande
Lisboa, do grande Porto e em capitais distritais –, como fica patente no
exemplo dado do Bairro da Encarnação, em Lisboa, e uma dimensão bastante mais
pequena, também em termos tipológicos (ex., bandas unifamiliares térreas com
pequenos quintais) e fortemente integrada nos tecidos urbanos de povoações
menos importantes.
Salienta-se,
ainda, que neste último caso proporcionaram, por vezes, soluções residenciais
muito humanizadas e com um atraente carácter arquitectónico, merecedoras de um
estudo específico que aborde os seus aspectos de caracterização arquitectónica
e de integração local, estudo este que deveria abranger, também, as pequenas
intervenções, mais “urbanas”, promovidas, em seguida, especificamente pelas
HE-FCP em várias localidades fora dos grandes centros urbanos; propondo-se,
então, um pequeno estudo daquilo que Nuno Teotónio designou como “os pequenos
restelos e os pequenos alvalades”, um trabalho útil para se aprofundarem
aspectos ligados à capacidade de integração das pequenas intervenções
residenciais em meio urbano e peri-urbano.
Fig. 4 – Pequeno conjunto habitacional em Beja; a marcação da escala humana é naturalmente evidente e interessantemente associada ao que parece ser uma tipologia bifamiliar térrea, em que cada fogo acaba por aproveitar uma estimulante e bem apropriável imagem de unifamiliar.
3. Alvalade, Ramalde e Olivais Norte –
entre os anos de 1940 e 1960,
exemplos da atividade das HE-FCP
A
II Grande Guerra acaba e a inovação que chega ao País, bem como as críticas
necessidades habitacionais, levam, então, à criação, em 1946, de um novo
organismo, as Habitações Económicas, ligado à Federação das Caixas de
Previdência (HE-FCP), tecnicamente equipado, e orientado para uma promoção
habitacional mais urbana. Este organismo irá atuar ao longo de cerca de 26
anos, até 1972, (6) altura em que as suas atribuições passaram para o, então, inovador
e centralizador Fundo de Fomento da Habitação (FFH).
Nas
Habitações Económicas – Federação das Caixas de Previdência (HE-FCP),
destaca-se ainda o muito meritório, extenso e aprofundado trabalho do Serviço
de Estudos e Projectos, que, entre todas as outras atividades diretamente
ligadas à promoção de HIS, publicou (embora com a designação de “circulação
restrita”) um significativo e extremamente útil conjunto de cadernos técnicos e
de estudo e investigação sobre a problemática habitacional, que abarcaram desde
aspectos de pormenorização construtiva a estudos normativos e económicos, cuja
caraterização seria muito interessante conhecer em detalhe.
Considerando-se
o que se julga ser a excelente obra habitacional e urbana que foi globalmente
deixada pelas Habitações Económicas – Federação das Caixas de Previdência
(HE-FCP) é interessante salientar que elas continuam a ser, ainda hoje, o
organismo português ligado à habitação de interesse social (HIS) que mais tempo
esteve em atividade, merecendo, naturalmente, uma adequada divulgação da sua
atividade, que foi longa, completa e produtiva; naturalmente que esta afirmação
tem, felizmente, as suas limitações se considerarmos o trabalho do INH/IHRU
numa única sequência, o que tem boas bases de fundamentação prática – mas
institucionalmente o INH acabou e criou-se o IHRU.
Mas
voltando à nossa breve viagem pela história da HISP, salienta-se que a criação
das HE-FCP, em meados dos anos 40, se conjugou, estrategicamente, com a
programação, pela Câmara Municipal de Lisboa, do bairro de Alvalade.
O
ainda hoje inovador grande bairro de Alvalade – 45.000 habitantes em 230 ha –, foi realizado para:
- 31.000 habitantes em fogos de renda económica – um pouco mais de 2/3 do total de habitantes previstos;
- mais 2.000 habitantes em moradias também de renda económica – talvez cerca de 500 fogos;
- sendo os restantes fogos – destinados a menos de 1/3 do total de habitantes previstos – destinados a várias modalidades intermédias de promoção habitacional, como é o caso da renda condicionada.
Este
novo bairro de Alvalade caracterizou-se por ser um conjunto fortemente
integrado (física e socialmente) de habitação para vários grupos sociais e de
equipamentos colectivos e serviços dos mais diversos tipos (e eles próprios
reforçando a continuidade física urbana de ruas e praças), conjunto este que
foi sendo concluído em prazos bem definidos e razoavelmente cumpridos.
Mais
do que um bairro fez-se cidade viva, e “os mistérios” (da qualidade urbana e
residencial) de Alvalade, desenhado por Faria da Costa, levar-nos-iam longe,
mais longe do que é possível ir neste capítulo.
Esta
referência ao “mistério” de Alvalade tem origem num texto de Cardoso Pires,
integrado no livro “A Cavalo no Diabo”,
em que o escritor diz sobre Alvalade (onde viveu muitos anos):
”Não tem história, só comércio, vá
lá, bombeiros e escolas para lhe dar alegria. Os jornais dizem que é uma das
zonas de mais assaltos em Lisboa, mas não se vê nem sombra de polícia ... E no
entanto, à primeira vista tudo é ordem e paz – o mistério de Alvalade está aí.”
Fig. 5 – Alvalade, Lisboa, projeto urbano de Faria da Costa; uma rua/impasse residencial com edifícios das HE-FCP. Aqui e numa visita que se impõe a quem nunca visitou estas “células sociais” do grande Alvalade, estão evidentes muitos dos “segredos” em seguida apontados; e por trás de uma “capa” urbana estrategicamente sóbria, mas ainda assim atraentemente “doméstica” e racional, temos habitações super-estudadas em termos de espaços e funções e numa interessante perspectiva de adaptabilidade de usos; e o verde privado/comum que é verdadeiro e fortíssimo verde de fruição pública e sem despesa pública! Numa perspectiva que alia tipologias multifamiliares à continuidade da disponibilização de pequenos quintais privados ou comuns (frontais e a tardoz).
Regista-se
que, já em 2000, no âmbito de um trabalho de cooperação entre o LNEC e o Centre Scientifique et Technique du Bâtiment,
o mistério de Alvalade voltou a destacar-se, quando elementos desse organismo
de investigação parisiense, após terem visitado Alvalade, salientaram ser este
um dos melhores conjuntos urbanos residenciais que então conheciam na Europa, e
um conjunto onde um visitante consegue facilmente imaginar-se “habitante”, tal
como em seguida se cita e “ilustra”:
“C’est un urbanisme qui réussit à
articuler et à hierarchiser, sur une grande échelle urbaine, les différents
espaces – des avenues aux impasses, et des espaces les plus publics aux espaces
les plus privés. Il est surprenant que cet exemple ne soit pas valorisé
davantage, dans la littérature professionelle internationale; il représente en
effet une forme idéal typique de la ville urbaine moderne, comparable à celle
élaborée par Haussman à Paris ou par Cerda à Barcelone.
A propos de l’Alvalade il faut
d’abord parler du plaisir de la déambulation au hasard des avenues et des rues,
jusqu’au coeur des îlots. Nous avons retrouvé ce plaisir typiquement urbain du
promeneur qui flâne, erre, découvre un lieu inconnu, se laisse surprendre au
milieu d’une placette aux allures villageoises, par la diversité des porches,
par les mille détails de modénature, par l’échappée visuelle sur un clocher,
par l’ambiance champêtre d’un jardin, puis par l’animation d’une grande avenue
et qui se prend à rêver qu’il pourrait lui aussi vivre dans cet appartement
dont la fenêtre est ouverte et dont s’échappe une odeur de cuisine qui lui
évoque des souvenirs... Peut-être est-ce là un indice subjectif, mais néanmoins
bien réel, da la qualité d’un quartier: la capacité du promeneur à s’imaginer
habitant le lieu et à l’investir?.”
(Citação
retirada do estudo: – “A qualidade arquitectónica e a satisfação
residencial. Qualité architectonique et
satisfaction résidentielle. Projecto de
investigação conjunta LNEC/CSTB sobre qualidade arquitectónica e satisfação
residencial” - Relato de síntese
1998-2000. Lisboa : LNEC, 2001. Relatório 149/01-NA. 60 p.; autorias: COELHO, António Baptista,
CABRITA, A. Reis; PEDRO, J. Branco)
Fig. 6 – “Os mistérios de Alvalade”.
É
possível dizer, citando em parte Cardoso Pires, que Alvalade tem mistérios,
mistérios de bem fazer cidade habitada e habitação na cidade. Alguns desses
mistérios vão sendo descobertos, outros, dando razão à designação, ainda não;
mas podem e devem ser aqui referidos certos desses “mistérios”, muito ligados à
matéria da desejável aliança entre qualidade de desenho, residencialização e
satisfação de necessidades e mesmo dos sonhos humanos:
·
A
benignidade integradora de várias arquiteturas, sem dominâncias cansativas ou
pouco cuidadas.
·
A
neutralidade, a dignidade e a escala humana de um desenho de arquitetura que é
global, “rodeando” todo o edifício e integrando atraentemente edifícios e
vizinhanças de proximidade (“impasses” e pracetas residenciais).
·
A
naturalidade da relação entre vários tipos de edifícios destinados a vários
grupos sociais, apostando-se numa eficaz disseminação dos potencialmente
diferentes grupos socioculturais.
·
A “fácil”
integração e concentração dos grandes e pequenos equipamentos ao longo das
ruas, praticamente sem se provocarem quebras na crucial continuidade urbana e
até reforçando e assinalando melhor continuidades, rótulas e enfiamentos
urbanos.
·
A
marcação dos percursos e a capacidade de orientação, também proporcionada pela
humana e comunitária repartição em grandes grupos de vizinhança, polarizados
por equipamentos de proximidade e, depois, em pequenos agrupamentos de
vizinhança de proximidade (pracetas e “impasses rodoviários”).
Seria
possível continuar a identificar outros atributos específicos. Atributos estes
que resultam de novas conjugações entre os primeiros atributos, que geram novas
potencialidades: é assim que é a cidade, sempre em parte inexplicável, quando
rica; e cá está, então, a “explicação” parcial dos tais mistérios; mas à frente
a eles voltaremos, felizmente, também noutros conjuntos urbanos; e, quem sabe,
um dia não parta para um texto mesmo dirigido para a possível identificação de
um conjunto significativo de tais mistérios.
Fig. 7 – Alvalade, uma outra excelente rua residencial, sossegada e íntima, mas a dois passos da animação urbana da Av.ª de Roma. E atente-se nos edifícios cuja racionalidade e economia em termos de configuração global não deixam de ser equilibradas por uma sóbria marcação e iluminação/ventilação das escadas e pela disponibilização de uma pequeníssima varanda, que, pelo menos, dá para estar “lá fora”.
Voltando a Alvalade, este bairro possui, entre outras, uma positiva qualidade urbanística ligada ao conhecimento sobre como fazer conjuntos dominantemente habitacionais:
- por um lado caracterizadamente residenciais porque suavizados, envolventes e fortemente marcados pela natureza e pela escala e usos humanos (ex. quintais);
- por outro lado, caracterizadamente urbanos, porque muito bem estruturados, física e ambientalmente e em termos de imagem arquitectónica, no interior (hierarquicamente) e no exterior da malha (na continuidade da cidade existente e entre vias urbanas importantes);
- porque expressivamente marcados pela continuidade urbana, na qual participam os próprios equipamentos colectivos, a existência de zonas com actividade concentrada, elas próprias criando vários tipos de sequências, e a aliança entre tráfegos de peões e veículos;
- e marcados por uma integração social realizada de forma que parece natural.
Alvalade teve, de facto, também, outra virtude, não repetida depois noutros bairros, foi “pano de fundo” e de adequada e animada integração de múltiplas experiências residenciais e urbanas modernistas, que marcaram cruzamentos, praças e avenidas, fazendo-se cidade histórica e viva, sem quebras, mas sim com surpresa e mesmo emoção, tal como é necessário.
Portanto,
uma cidade em continuidade, formal (em termos gerais) e funcional, que se liga
à preexistente e que nela própria deixa espaços estratégicos para a cidade do
futuro próximo.
Ainda
dentro da experiência das HE-FCP, que em Lisboa e no Porto, encomendava
projetos a um número restrito e apurado de arquitetos em profissão liberal,
destaca-se, a seguir, na década de 50, a experiência modernista extremamente
significativa, do Bairro de Ramalde, projetado pelo Arq. Fernando Távora, no
Porto (hoje conhecido como Bairro do Inatel).
Escreve
Francisco Barata que Ramalde, no Porto, constitui “a primeira referência às
propostas do movimento moderno no âmbito da habitação económica” 27. Francisco
Barata Fernandes – As formas da casa na forma da cidade. Palestra proferida nos
Encontros da Associação dos Arquitectos Portugueses – Habitação,
ConstruirCidade com Habitação, AAP, 1998, p. 9 (7), neste bairro não parece
ter-se feito um anti-Alvalade, até porque não haveria qualquer razão para se
fazer um anti-espaço urbano coeso, humanizado e vitalizado. Em Ramalde, tal
como defende Francisco Barata, “trabalha-se simultaneamente com o modelo da
cidade composta por quarteirões e o modelo da cidade tipificado da Carta de Atenas.”
(8)
Também
se poderá considerar que no Ramalde portuense se fez um conjunto que antecipou
o incontornável Olivais Norte lisboeta, repetindo-se a história da HISP do
início do século XX e das qualificadas inovações tipológicas em habitação de
baixo custo, iniciadas no Porto e majoradas no Arco do Cego em Lisboa.
Em
Ramalde valorizaram-se excelentes pequenos blocos multifamiliares , através de um projeto inovador, muito qualificado e extremamente bem pormenorizado (outro dos
mistérios da melhor HIS), e também através de uma sua excelente integração num amplo jardim
urbano pouco formal. E revelou-se, assim, entre nós, uma nova forma de fazer
cidade em íntima relação com o verde urbano, bem dentro da ligação com a
doutrina modernista; mas atenção, com uma qualidade arquitectónica muito
elevada e marcada por uma escala humana fortíssima, numa mistura que também
marca um dos mistérios revelados de Alvalade e muito aprofundados, depois, em
Olivais Norte.
Em
finais dos anos de 1950 e início dos anos de 1960 voltamos, então, a Lisboa e,
provavelmente, ao mais amplo e completo exemplo residencial modernista que
existe em Portugal: o bairro de Olivais Norte. Aqui se fez excelente urbanismo
e óptima arquitetura, diferentes dos também excelentes exemplos próximos de
Alvalade, mas igualmente muito positivos seja em termos de uma promoção
concluída nos prazos mais adequados, seja na já várias vezes referida aliança
entre qualidade arquitectónica e satisfação residencial aplicada à HIS, matéria
esta que é, afinal, o tema central desta série editorial.
O
excelente bairro de Olivais Norte (2500 fogos e cerca de 10. 000 habitantes em
40 ha) decorre da criação, em 1959, do Gabinete Técnico de Habitação (GTH) da
Câmara Municipal de Lisboa, e foi projetado, no âmbito do Gabinete de Estudos
de Urbanização (GEU) da CML, pelo arquiteto-urbanista José Rafael Botelho, que
dirigiu toda a concepção do bairro (de 1955 a 1958), “articulando o Plano com
os projetistas dos edifícios e dos espaços livres” (9). Faz-se notar ainda que
no Plano de Pormenor do GEU houve intervenção dos arquitetos P. Falcão e Cunha,
Bartolomeu da Costa Cabral, J. Reis Machado e A. Alves Mendes (10); e
perdoem-me, mas dá vontade de comentar que se reuniu um verdadeiro “dream team” para projetar um bairro, o
que julgo deveria ser um processo recorrente e obrigatório.
E
fez-se esta referência, porque o urbanismo de Olivais Norte, um bairro onde
ainda hoje, passados portanto cerca de 60 anos, é um verdadeiro prazer viver,
respeitou, à altura, regras, bem atuais, de durabilidade e coerência urbana e
natural, caracterizando-se:
- pela organização de grandes blocos “soltos” num verde quase natural;
- pela
qualidade do projeto de espaços exteriores de Ponce Dentinho (zonas verdes e zonas
pavimentadas);
- pela grande dimensão de zonas verdes residenciais onde todos os edifícios se dispõem em total relação com o movimento aparente do Sol;
- pela
pioneira e nunca igualada integração de tipos de tráfego (peões e veículos);
- pela adequada escolha de excelentes projetistas para a Arquitectura dos edifícios, onde pontuam verdadeiras referências da Arquitectura moderna Portuguesa, que é essencial conhecer melhor e recuperar urgentemente;
- e provavelmente mais importante do que tudo isto pela harmonizada integração de diversos grupos sociais; integração esta com a qual é urgente aprender, tal como sucedeu em Alvalade.
É certo que, tal como foi apontado por vários autores, a preexistência da Encarnação, que semi-envolve Olivais Norte, terá ajudado e, na altura, não havia realojamentos críticos; mas há que fazer justiça a uma ação física e socialmente muito bem integrada, realizada com grande eficácia e “em tempo útil”; afinal tal como aconteceu, imediatamente antes, em Alvalade. Afinal, e pensando, agora, apenas na integração física a preexistência lá estava, mas foi essencial entendê-la, aproveitá-la e valorizá-la.
Fig. 10 – Olivais Norte, Lisboa – os grandes blocos sobre pilotis projetados por Artur Pires Martins e Cândido Palma de Melo, integrados num grande jardim, que enquadra uma preexistência. Estes grandes “edifícios/pontes” merecem, também, um estudo e divulgação específicos, tratando-se, simultaneamente de excelentes ”peças urbanas” e óptimas soluções domésticas, desenvolvidas numa malha estrutural sempre igual e perfeitamente regular de uma ponta à outra de cada bloco; estamos aqui em presença de edifícios que deixam a vista da natureza e as brisas atravessarem os seus níveis térreos, edifícios interessantemente entremeados por jardins urbanos e cujas grandes e fundas varandas reforçam ainda mais essa ligação entre edifício e natureza.
O
modernista e muito humano bairro de Olivais Norte e a sua envolvente direta bem
ligada ao Bairro da Encarnação, em Lisboa, uma pérola urbana que muito merece
em termos de adequada divulgação e reabilitação global, também tem os seus
mistérios, fazendo-se, em seguida, apenas referências rápidas e julgadas úteis
a alguns dos seus elementos constituintes:
- As longas e populares/rústicas correntezas em tijolo aparente, de Braula Reis e João Matoso.
- O grande e depurado bloco de Abel Manta.
- Os blocos alongados com fogos duplex sobrepostos, ou com fogos simplex, e uma excelente escala humana de Pedro Cid e Fernando Torres.
- Os “únicos” blocos de 11 pisos sobre pilotis e totalmente integrados num amplo jardim, de Pires Martins e Palma de Melo; o verde e o vento “passam” por baixo deles.
- Os muito sóbrios e muito humanizados blocos de Vasconcelos Esteves; marcados por uma escala humana e uma capacidade de ligação com a natureza que são únicas e não perdendo modernidade.
- As belíssimas bandas de Nuno Teotónio e António Pinto de Freitas, que ligam edificado, espaço público, apropriação (marcação de espaços e intervenções artísticas) e funcionalidade (arrumações exteriores), e que constituem um exemplo de real adequação a modos de vida com áreas reduzidas, bem como um exemplo de uma muito adequada e extensa pormenorização, que se vai descobrindo sequencialmente em cada visita.
- E, finalmente, as torres, também de Nuno Teotónio Pereira, Nuno Portas e António Pinto de Freitas, que são Prémio Valmor e constituem um exemplo de aliança entre riqueza formal global e conjugação de arte, integração pormenorizada e paisagística, privilegiar da convivialidade e da representatividade nos espaços comuns e espaços domésticos orgânicos e adaptáveis. “ A ideia era dar certa dignidade ao ambiente das construções económicas, quer pela largueza dos espaços de acesso, quer pelo tratamento artístico.” (11)
- E é ainda muito interessante considerar a bela ligação formal e urbana entre aquelas bandas e estas torres.
Da
pequena e ainda hoje bem viva e atraente “cidade” de Alvalade feita para cerca
de 45.000 habitantes, e organizada em células para cerca de 4.000 a 5.000
pessoas, passou-se para um bairro/grande unidade de vizinhança com cerca de
8.500 a 10. 000 residentes, no tão estimulante como, ainda, desconhecido
Olivais Norte.
Logo
depois em Olivais Sul voltar-se-ia à escala anterior com mais de 35.000
habitantes, mas talvez sem o forte quadro regulador e bem urbano de Alvalade e
talvez sem a aplicação de outros necessários “mistérios”; uma situação que se
julga ter-se prolongado, depois, no tempo, embora, naturalmente, com honrosas
exceções.
Sublinha-se,
no entanto, que em certas zonas de Olivais Sul e designadamente em grande parte
da sua extensa “Célula C”, uma zona cuja dimensão é idêntica à de Olivais
Norte, o conjunto das várias equipas de projectistas que aqui interveio –
Bartolomeu Costa Cabral e Nuno Portas em diversos conjuntos; Leopoldo Leal;
Gomes da Silva, Octávio Rego Costa e Sebastião Samfins; Jorge Manuel Viana;
Frederico George e Alzina de Menezes; Duarte Castelo Branco e Rui Pimentel; e
Calvet da Costa – conseguiu desenvolver uma malha urbana muito positivamente
marcada por espaços conviviais, sequências espaciais motivadoras, excelentes
aspectos de integração topográfica e paisagística, e condições muito bem
conseguidas de integração das diversas “Categorias” de habitação de interesse
social então existentes – e há aqui quarteirões exemplares a este nível.
Fig. 11 – O Bairro Económico da Chamusca; projeto
de Bartolomeu Costa Cabral e Vasco Croft de Moura.
Em
termos de realizações de HISP mais pequenas e longe dos grandes centros há
excelentes casos sensivelmente contemporâneos de Olivais Norte e regista-se,
aqui, a título de exemplos muito significativos as intervenções das HE-FCP com
projeto de Bartolomeu Costa Cabral e Vasco Croft de Moura na Chamusca – o
Bairro Económico da Chamusca (1960) –, e os conjuntos também muito
positivamente integrados em contextos rurais, projetados por Victor Figueiredo
em Benavente, Torres Novas e Santo Estevão. (12)
E
salienta-se que muitas destas intervenções merecem, hoje, um novo destaque,
pois até parece terem, frequentemente, uma agradável novidade arquitectónica,
tendo provado uma excelente e flexível ligação aos seus sítios e aos seus
moradores.
Cabe
ainda aqui uma referência específica ao trabalho que foi continuamente
desenvolvido por Nuno Teotónio Pereira nas HE-FCP, designadamente, no que se
refere à promoção de concursos para projetos de habitação de interesse social
(13), processo este que, realmente, ao longo dos tempos tem produzido, quase
sempre, excelentes resultados seja em aspectos de inovação, seja numa forte
relação com as características dos sítios e os modos e gostos de viver dos
respectivos habitantes – mas julga-se que para serem verdadeiramente efetivos
no seu êxito deverão ser objeto de uma pormenorizada e bem qualificada
estruturação.
Aliás
esta estratégica preocupação foi também perfilhada por Nuno Teotónio e
continuou presente nas suas intervenções escritas, em que destaca, por um lado,
os aspectos negativos, associados à frequente má qualidade dos projetos de
arquitectura ligados aos concursos de concepção-construção, em que o projecto é
feito pelos respectivos empreiteiros, enquanto, por outro lado, salienta os
excelentes resultados finais que são, frequentemente, obtidos através de
concursos prévios de projetos bem organizados (14). E aqui não parece haver uma
ligação mais directa a determinados promotores, pois há excelentes casos
passados com concursos municipais, cooperativos e mesmo realizados a nível
nacional; o segredo parece estar, sim, na boa organização dos mesmos concursos.
A identificação dos principais problemas com a HISP posterior a Olivais Norte obrigariam, pelo menos, a toda uma outra e longa série editorial e terão, sem dúvida, tantos conjuntos de justificações como o número dos seus respetivos autores; mas entre eles constarão, provavelmente, os seguintes:
- não se ter cuidado suficientemente das necessidades e exigências urbanas suscitadas pela dimensão geral do bairro – que voltou à escala numérica mais citadina de Alvalade;
- deficiências ao nível de uma vital articulação com a cidade e com eventuais preexistências;
- deficiências ao nível de uma estruturação global da malha que optou por privilegiar o veículo – não proporcionando um quadro de referências urbano adequado a quem aí se desloca a pé ou mesmo de veículo;
- problemas ao nível de um faseamento global que “se esquece” durante demasiados anos de elementos fulcrais em termos de animação e de equipamentos;
- deficiências ao nível de uma imagem global que peca, provavelmente, por ser um excessivo “mostruário de morfologias urbanas, de tipologias habitacionais e de linquagens arquitectónicas” (15) – uma análise neste caso específico centrada em Olivais Sul, mas que podemos generalizar;
- e, finalmente, problemas ao nível de uma integração social que, em alguns casos, passou a ser muito menos natural e equilibrada do que Olivais Norte e em Alvalade e que passou a ter de dar resposta
- a grupos socioculturais a “realojar” e que foram sendo gradualmente mais numerosos, complexos e sensíveis.
Antes
de concluir esta breve referência à essencial atividade, no domínio da HISP,
das HE-FCP e do GTH da CMLisboa, não poderia deixar de registar o
desenvolvimento de uma tese de doutoramento em Arquitectura na FAUP, que é
incontornável no conhecimento desta atividade e que foi desenvolvida na sequência
de uma tese de mestrado em Arquitetura, dirigida também para o processo de
trabalho das HE-FCP; trata-se da tese da Arq.ª Maria Tavares, concluída em
2016, intitulada “Habitações Económicas.
Federação de Caixas de Previdência. Arquitectura e modos de actuação no
exercício do projecto”; e cita-se, em seguida, uma pequena parte do resumo da
mesma:
“a compreensão da arquitectura
produzida por e para as «Habitações Económicas» - Federação de Caixas de
Previdência (HE), enquanto organismo promotor de habitação durante 26 anos, e
dos modos de actuação dos seus principais actores, tanto no processo de
concepção do exercício de um projecto alicerçado nos ideais modernos, como no
vigoroso trabalho das equipas que souberam transformar esses mesmos ideais em
ferramentas de valorização social, no seio de um país carenciado.”
4. Dos Olivais Norte a Abril de 74 – a Habitação de Interesse Social Portuguesa no final dos anos de 1960 e início dos anos de 1970
Tal
como escreveu Nuno Teotónio Pereira em 1998: (16)
“o dimensionamento das três malhas
que foram sendo planeadas – Olivais Norte, Olivais Sul e Chelas – terá ditado a
sorte de cada uma delas. Efectivamente, se a reduzida dimensão do primeiro
permitiu uma operação-relâmpago completa e por isso bem sucedida, já Olivais
Sul ficou amputado da sua indispensável área central de serviços e Chelas
arrasta-se ainda num processo de edificação desesperadamente lento e
traumático. Verifica-se assim que faltou a esta ambiciosa sucessão de
intervenções no território uma programação faseada que se tivesse traduzido em
unidades de planeamento adequadamente dimensionadas.”
No
grande bairro de Chelas, em Lisboa, extrema e quase criticamente
“monodirecionado” para HIS ao longo de décadas verifica-se, tal como escreve
Francisco Barata, “a procura de uma nova definição de espaço público, de uma
nova relação entre edificado, traçado viário e áreas verdes”. (17)
Uma
procura que (i) parece não ter tido uma razão objectiva face a um qualquer
fracasso, inexistente, dos espaços públicos antes projetados e desenvolvidos
com excelentes resultados em circunstâncias com alguma semelhança,
designadamente em Alvalade e Olivais Norte, que (ii) parece não ter estado
associada a um faseamento eficaz do respetivo desenvolvimento urbano, tal como
acima indicado, e que tanto era necessário, designadamente, numa área com tão
grande dimensão, e que (iii) acabou por se conjugar, criticamente, com uma
substancial maior complexidade sociocultural e quantitativa dos respetivos
realojamentos.
A
esta reflexão, e voltando a usar o excelente texto de Francisco Barata, acresce
que em Chelas “se pretende que a forma arquitectónica de cada conjunto
edificado assuma, por si só, um papel preponderante na caracterização da
cidade” (18), o que aliado à “dificuldade no tratamento e gestão de áreas de
espaço público que não constituam vias, condiciona soluções de transição e cria
situações de confronto entre distintas propostas arquitectónicas”. (19)
Outro
aspecto que é fundamental numa aproximação da explicação do que se passa, de
mal, em Chelas e infelizmente noutros locais, e que tem de ser devidamente
salientado é a questão básica da perigosa inadequação entre os aspectos físicos
da arquitetura das habitações, dos edifícios (grande dimensão, elevadores,
etc.) e das vizinhanças residenciais e as características socioculturais dos
respectivos habitantes.
E
sobre esta situação problemática acrescem as matérias críticas da concentração
e da perigosa homogeneidade sociocultural e as lições, parece que raramente
aprendidas, sobre a problemática criada por misturas sociais feitas de uma
esmagadora maioria de habitantes com carências económicas e sociais, por vezes
críticas, e uma minoria de habitantes de uma designável classe média/baixa de
“remediados”, que, evidentemente, nunca terão a capacidade de funcionarem como
alavanca social geral do bairro.
Dá
vontade de dizer que tudo isto, que se passou e, em grande parte, ainda se
passa em Chelas, foi um triplo problema de dimensão, gestão e concepção que se
estendeu, embora com contornos diversos e, frequentemente, menos críticos, a
outras intervenções urbanas de HIS com dimensão significativa que, desde então,
têm vindo a ser desenvolvidas no País.
Atuou-se
numa zona com dimensão excessiva, de forma muito pouco conseguida em termos de
gestão – basta comparar com as eficazes simultaneidades de conclusão de
edifícios e sequências de espaços públicos para diversos grupos socioculturais
em Alvalade e nos Olivais – e, provavelmente, sem um adequado enquadramento
global da concepção das várias “células”, o que foi muito bem corrigido no
desenho do bairro de Telheiras, também em Lisboa.
Sobre
Chelas, assim como sobre Planos (supostamente) “Integrados” e sempre em boa
parte desintegrados – seja daquilo que possa ser a estruturante continuidade
urbana envolvente (e não existindo tal continuidade haveria que a reconstruir
na medida do possível), seja da vital continuidade urbana interna (desagregada
pelas mega intervenções arquitectónicas como “ilhas”) –, salienta-se que parece
ser ainda tempo de trabalhar na sua profunda, afirmada e renovada integração e
reconfiguração em termos de vitais continuidades e talvez que a introdução, a
curto prazo, do novo grande Hospital de Todos os Santos, possa ser motivo de
tal reestruturação ainda que parcial; a cidade e o bairro muito ganhariam com
isso e os respectivos habitantes também.
Sobre
tudo isto não tenhamos dúvida de que os verdadeiros “planos integrados”, física
e socialmente, foram, por exemplo, os de Alvalade e Olivais Norte em Lisboa, o
primeiro marcando cidade com continuidades físicas motivadoras e equipamentos
colectivos em total ligação com as ruas e com a habitação, e o segundo
proporcionando uma exemplar integração de vários grupos sociais, uma adequada
ligação entre malhas urbanas bem distintas (o “velho” bairro de moradias da
Encarnação e o modernista novo bairro), uma estratégica integração de
equipamentos, uma excelente fusão entre natureza e edificado e o privilégio de
se habitar boa arquitectura, funcional e bem desenhada. E, afinal, foram
também, realmente, planos integrados porque foram eficaz e totalmente
desenvolvidos em períodos bem definidos.
Voltando
um pouco atrás no tempo e considerando ainda o final da década de 1960 e início
da década seguinte, parece que a qualidade arquitectónica e residencial vai
começando a privilegiar as experiências com escala mais humana e
urbanisticamente integrada. Assim, salienta-se aqui, apenas a título de
exemplo, embora considerando-se muito significativo, o belíssimo conjunto das
Caixas de Previdência, concebido por Chorão Ramalho no centro do Funchal (1964
a 1969) e que integra uma torre orgânica e alguns blocos mais baixos,
conjugados por uma praceta residencial, numa ação de grande sensibilidade de
integração topográfica, plástica e de imagem e sequências urbanas bem
radicadas.
Nesta
perspectiva de conjuntos residenciais bem integrados na cidade e caracterizados
por elevada qualidade arquitectónica e alguma inovação há que destacar dois
casos no Porto.
Fig. 12 – O conjunto do Campo do Luso, no Porto, projecto de José Carlos Loureiro e Pádua Ramos, constitui uma exemplar intervenção ao nível da ligação entre qualidades de desenho de arquitectura e urbano, e qualidade de uso, designadamente, ao nível de um excelente trabalho de pormenorização dos espaços comuns e domésticos, bem como de um sóbrio e belíssimo tratamento da imagem urbana.
O
primeiro caso é o conjunto do Campo do Luso com cerca de 150 fogos, projectado
por José Carlos Loureiro e Luís Pádua Ramos, desenvolvido entre 1960 e 1974, e
que não sendo embora de habitação apoiada pelo Estado, foi realizado pela Santa
Casa da Misericórdia do Porto, constitui uma exemplar intervenção ao nível da
ligação entre qualidades de desenho de arquitectura e urbano, e qualidade de
uso, designadamente, ao nível de um excelente trabalho de pormenorização dos
espaços comuns e domésticos, bem como de um sóbrio e belíssimo tratamento da
imagem urbana.
O
segundo caso que se destaca, também no Porto, e é posterior ao conjunto do
Luso, é constituído por alguns edifícios na Pasteleira, projectados por Sérgio
Fernandez e Pedro Ramalho, em que houve inovação, designadamente, quanto a uma
maximização e reforço da convivialidade dos espaços comuns dos edifícios (20);
de certa forma na boa tradição dos grandes e cuidados espaços comuns das torres
de HIS de Nuno Teotónio em Olivais Norte e de Nuno Portas em Olivais Norte.
Nesta
pequena viagem pelo que foi uma sequência de casos significativos da promoção
residencial de interesse social em Portugal chegamos ao final dos anos de 1960
e início da década de 1970, período em que, tal como se refere no Livro Branco
sobre a Política da Habitação em Portugal, coordenado por Fonseca Ferreira, “a
habitação ganha direitos de cidadania”, e no qual se processa um forte
intervencionismo do Estado no Sector da Habitação, sendo criados: o Fundo de
Fomento da Habitação (FFH), a Empresa Pública de Urbanização de Lisboa (EPUL),
uma Secretaria de Estado da Habitação, e após Abril de 74 um Ministério da
Habitação. (21)
Antes de passar para a fase seguinte desta pequena síntese histórica,
é, ainda, de elementar justiça referir o importante e continuado trabalho de
investigação, debate e divulgação que foi realizado, durante um longo período
temporal, quer pelas HE-FCP, trabalho este que culminou com a redação, pela
Federação, do capítulo da Habitação e Urbanismo do Plano Intercalar de Fomento
para 1965/67 (22), quer no âmbito do Gabinete Técnico de Habitação (GTH) da CML
– é aqui essencial sublinhar a importância que tem, por exemplo, a edição dos
excelentes Boletins do GTH, cujo diversificado e altamente qualificado conteúdo
foi e é de grande utilidade.
É
também oportuno referir que a colaboração entre esta fileira de estudos
habitacionais e a atividade do LNEC nas áreas da edificação, da habitação, da
habitação de interesse social e da própria Arquitetura, é uma longa história,
que importaria fazer, mas que se inicia logo em apoios prático à racionalização
da construção dos edifícios de Alvalade, portanto em meados da década de 1950,
numa cooperação com as HE-FCP e com Nuno Teotónio, tendo depois um significativo
reforço da atividade com a criação do Núcleo de Arquitectura (NA) no LNEC em 24
de novembro de 1969, coordenado primeiro por Nuno Portas e depois por Reis
Cabrita, desenvolvendo-se, sequencialmente uma colaboração estreita entre o
LNEC e os seus Departamento de Edifícios e Núcleo de Arquitectura com o FFH e,
finalmente, com o INH/IHRU, com o qual se desenvolveram grandes e
diversificados estudos teórico-práticos visando a melhoria da qualidade da
HISP.
Mas
voltando à nossa pequena sequência histórica e ainda antes de Abril de 1974,
importa salientar os estudos de Raúl da Silva Pereira, que fizeram uma análise
fundamentada das carências habitacionais portuguesas, cerca de 1963,
contabilizando o que era, então, o nosso deficit habitacional no impressionante
número de 500.000 fogos em falta. (23)
Concluindo
as referências a este período temporal salienta-se, portanto, a já referida
criação, em 1969, do Fundo de Fomento da Habitação (FFH), que, em 1972, iria
concentrar, tal como indica Nuno Teotónio Pereira, as atribuições e meios
técnicos das HE-FCP (24), assim como de outros organismos que, anteriormente,
tinham estado ligados à promoção de habitação de interesse social em Portugal.
Faz-se
notar que os grandes empreendimentos habitacionais, estudados e promovidos pelo
FFH, ligados a importantes zonas urbanas, previstos nos Planos de Fomento, e
desejavelmente, integrados em termos de habitação e outras atividades urbanas
(designados por “Planos Integrados”), não se iniciaram antes de 1974.
5. De Abril de 74 à criação do INH – entre meados das décadas de 1970 e 1980
Chegados
então ao 25 de Abril de 1974, pouco depois inicia-se um breve mas motivador
período de participação entre jovens arquitetos e moradores, na produção dos
seus espaços de habitar, considerando-se um quadro habitacional marcado por
grandes carências. É interessante salientar, a este título, que nestas
promoções de realojamento, no próprio local em que havia pessoas a viverem em
situações precárias, realizadas no âmbito do Serviço de Apoio Ambulatório Local
(SAAL), estavam presentes os agentes mais apropriados para assegurar uma
aliança entre qualidade arquitectónica e satisfação residencial.
O
contexto e as condições, frequentemente críticas, em que muitas destas ações se
desenvolveram não proporcionaram, por vezes, os resultados por todos desejados,
tendo-se prolongado as respectivas obras, em alguns casos, até ao início da
atividade do Instituto Nacional de Habitação em 1984. Mas ainda assim muitos
casos ficaram que atestam o potencial dessa aliança entre desenho e respeito
dos modos de habitar, protagonizada por vários arquitetos, muitos dos quais
hoje consagrados.
Um
potencial que, entre outros aspetos, foi marcante em termos de investigação
tipológica ao nível dos conjuntos edificados e dos próprios edifícios,
privilegiando-se, muitas vezes, espaços de uso público e espaços comuns
conviviais e uma expressiva escala humana, que é natural veículo de
apropriação.
A
história deste período da HISP está, como se sabe, devidamente registada no estudo/livro
de José António Bandeirinha, intitulado “ Processo SAAL e a
Arquitectura no 25 de Abril de 1974”; editado pela Imprensa da Universidade de
Coimbra em 2007.
Como
referência destas promoções destaca-se, no Porto, o projeto do conjunto da
Bouça, de Siza Vieira, iniciado ainda antes de 1974 para uma Associação de
Moradores e que foi, finalmente, concluído (nova fase e equipamentos diversos)
e construtivamente reabilitado (no que se refere à sua fase inicial) através da
iniciativa cooperativa habitacional da FENACHE, pela Cooperativa Águas Férreas,
com projeto dos arquitetos Siza Vieira e António Madureira, em 2006.
Neste
conjunto, tal como sublinha, Francisco Barata, desenvolve-se uma “estratégia
subtil e complexa de articulação com a cidade tradicional e compacta.” (25)
Afinal uma atitude de projeto que foi pouco depois aprofundada, também por Siza
Vieira, na alentejana Malagueira, em Évora; conjunto este em que as densas
aglomerações de casas-pátio geram ricas continuidades urbanas e se relacionam com
aspectos atuais e históricos da cidade preexistente.
Na
Malagueira aplicam-se soluções domésticas unifamiliares evolutivas centradas em
pátios privativos e formando ruas estreitas e densas, mas com baixa altura do
edificado. Salienta-se que esta grande intervenção se vai arrastar também
durante alguns anos sendo acabada já após 1984, com apoio do INH.
Fig. 13 – O Bairro das Fonsecas e Calçada, Lisboa, projecto coordenado por Raúl Hestnes Ferreira é uma obra com interessantes características de escala humana ao nível da conjugação edifícios/espaços públicos, de adequação dos fogos a diversos modos de vida e em termos de ligação entre os fogos com aqueles espaços públicos e entre si.
Em Lisboa, desenvolvido no âmbito do SAAL para duas Cooperativas de Habitação, em 1974, mas com obras que decorreram até 1986, e mesmo há pouco tempo rematadas em termos de requalificação e melhoria dos respetivos espaços exteriores, há que salientar o grande conjunto do Bairro das Fonsecas e Calçada, projectado por Raúl Hestnes Ferreira com a colaboração de Vicente Bravo, Jorge Gouveia, Castro Caldas e Manuel Samora.
Trata-se
de uma obra com interessantes características de escala humana ao nível da
conjugação edifícios/espaços públicos, de adequação dos fogos a diversos modos
de vida e em termos de ligação entre os fogos com aqueles espaços públicos e
entre si.
Sublinha-se
que toda a política habitacional (incluindo portanto o SAAL) dependia então do
Fundo de Fomento da Habitação (FFH), criado em 1969 e que, passados cerca de
dez anos, se encontrava com significativos problemas funcionais. Nesta matéria
há testemunhos díspares sobre as virtudes e os problemas que então iam
caracterizando o FFH, que, então, geria cerca 40.000 fogos do parque
habitacional público e assegurava a promoção direta e indireta da HISP.
Fig. 14 – O grande edifício/quarteirão das Lameiras em Vila Nova de Famalicão, projecto de Noé Diniz, marcando, apesar da dimensão geral, uma interessante escala humana e uma forte ligação com o espaço exterior público e equipado - vê-se muito céu, o quarteirão é muito aberto/amplo.
A
história pormenorizada da promoção de HISP nos tempos do FFH está, talvez, por
fazer, mas para além do que já foi referido importa dar aqui relevo, a título de exemplo no que se refere a
intervenções com grande dimensão urbana
e com projetos bem caraterizados, que de certo modo marcaram os tempos do FFH,
ao edifício/quarteirão das Lameiras em Vila Nova de Famalicão, que integra 256
fogos e foi projetado por Noé Diniz em 1977, concluído em 1980 e recentemente
objecto de uma profunda ação de requalificação; considerando-se que este
edifício constitui uma obra marcante do período de promoção de habitação
apoiada, imediatamente anterior ao INH e poderá basear um interessante caso de
estudo sobre a relação entre a escala global da intervenção, a marcação
estratégica da escala humana, a regularidade da integração urbana, o adequado
acabamento do exterior e a satisfação residencial.
Na
mesma linha de intervenção da EPUL e da Câmara Municipal de Lisboa no Restelo,
as mesmas entidades promoveram, entre 1976 e o início dos anos 80, com desenho
urbano pormenorizado (projecto de 1973/74) de Pedro Vieira de Almeida e Augusto
Pita, um significativo conjunto de intervenções residenciais em Telheiras
(Telheiras Sul tem 63,5 ha para 3.600 fogos) (26), em Lisboa; desenvolvendo-se
um bairro que, no entanto, se julga nunca ter sido verdadeiramente acessível ao
grade grupo social “remediado” da “classe média/baixa”, mas carenciado de
habitação razoavelmente localizada e a um custo equilibrado.
Foi
sendo assim criada, um pouco por todo o País,
uma situação de verdadeira carência habitacional para uma parcela muito
significativa da população, que acabou por encontrar, em muitos casos, na
iniciativa cooperativa de habitação económica (ligada à FENACHE) a única saída
possível para o seu problema habitacional.
Em
Telheiras aponta-se como exemplo significativo, a rua residencial projetada por
Duarte Nuno Simões e Maria João Cardoso, onde altos edifícios integram
tipologias habitacionais diversificadas e com áreas limitadas – estava-se já no
tempo da “Categoria habitacional única”– e dialogam intensamente com um verde
urbano muito expressivo, criando-se agradáveis condições de caracterização
urbana e natural.
Provou-se
em Telheiras Sul, considerando a globalidade das suas intervenções
arquitectónicas, ser possível diversificar arquiteturas, mas harmonizando-se o
respectivo efeito de conjunto e assegurando-se continuidade urbana, e
provou-se, também, ser possível humanizar edifícios com grande dimensão. Mas
note-se que este êxito de harmonizar a diversidade resultou de um trabalho
específico ao nível de indicações pormenorizadas que integravam o referido plano
de arquitetura urbana.
Ainda
em Telheiras, mas agora na zona de Telheiras Norte destaca-se o grande conjunto
de 300 casas pátio com carácter evolutivo, forte integração topográfica e
predominância pedonal, projetadas por Pedro Vieira de Almeida e Augusto Pita.
6. breve Nota final ao artigo
Naturalmente que ainda neste período temporal de promoção de HISP, que vai de Abril de 74 à criação do INH, haverá, ainda, que abordar, e com merecido desenvolvimento, os chamados “anos dourados” da promoção cooperativa de habitação económica, de 1974 a 1984, mas esta matéria fica para o próximo e terceiro artigo desta série editorial
Notas
(1)
Câmara Municipal do Porto (CMP); Pelouro de Habitação e Acção Social
(coordenação geral de Manuel Pimenta) – Estudo socioeconómico da habitação
social, Porto, 2001, pp.16, 17.
(2)
CMP, ibid, p.17.
(3)
Associação dos Arquitetos Portugueses (AAP), Guia Urbanístico e Arquitectónico
de Lisboa (GUAL), 1987, p. 147.
(4)
AAP, ob. cit., p. 193.
(5)
Fátima Fernandes, Michele Cannatà – Guia da Arquitectura Moderna, Porto,
1925-2002, 2002, p. 70.
(6)
Teotónio Pereira – As casas económica 1947 – 1969. Jornal Arquitetos n. 16, 17
e 18, Março/Abril de 1983, p. 11.
(7)
Francisco Barata Fernandes – As formas da casa na forma da cidade. Palestra
proferida nos Encontros da Associação dos Arquitectos Portugueses – Habitação,
Construir Cidade com Habitação, AAP, 1998, p. 11.
(8)
Francisco Barata, ob. cit., p.12.
(9)
Nuno Teotónio Pereira – Os Olivais – experiência colectiva de uma geração,
Palestra proferida nos Encontros da Associação dos Arquitetos Portugueses –
Habitação, Construir Cidade com Habitação, AAP, 1998, p. 6.
(10)
Teresa Valsassina Heitor – A vulnerabilidade do espaço em Chelas, uma abordagem
sintáctica. p. 134.
(11)
Tal como refere Nuno Teotónio Pereira, citado por Ana Tostões – A. Tostões, Os
Verdes Anos na Arquitectura Portuguesa dos Anos 50, p. 77.
(12)
Id. Ibid.
(13)
A. Tostões (1997), ob. cit., p. 71.
(14)
Teotónio Pereira (96), ob. cit., p.37.
(15)
Teotónio Pereira (98), ob. cit., p. 10.
(16)
Nuno Teotónio Pereira – Os Olivais – experiência colectiva de uma geração.
Palestra proferida nos Encontros da Associação dos Arquitetos Portugueses –
Habitação, Construir Cidade com Habitação, AAP, 1998, p. 3.
(17)
Francisco Barata, ob. cit., p.10.
(18) Id. ibid.
(19) Id. ibid.
(20) Fernandes, Cannatà, ob. cit, p.174.
(21)
António Fonseca Ferreira (coord.) – Livro Branco sobre a Política da Habitação
em Portugal, pp. 31 e 32.
(22)
Teotónio Pereira – As Casas Económicas, 1947-1969, p. 12.
(23)
Teotónio Pereira – As Casas Económicas, 1947-1969, p. 13.
(24)
Ibid., p.11.
(25)
Francisco Barata– As formas da casa na forma da cidade, p.11.
(26)
GUAL, ob. cit., p. 224.
(27)
Fonseca Ferreira (coord.), ob. cit., p. 33.
Nota complementar bibliográfica: em termos práticos lembra-se que no
primeiro artigo desta série editorial são devidamente salientados os principais
documentos e publicações, de minha autoria, utilizados como fontes mais diretas
destes artigos, registando-se, ainda, a autoria própria de quase todas as
imagens utilizadas.
Agradecimentos no âmbito
dos diversos estudos que basearam direta e indiretamente a
presente série editorial
Agradece-se
ao Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU), então Instituto
Nacional de Habitação (INH), que apoiou, sistematicamente, o desenvolvimento
dos principais estudos que basearam esta série de artigos e faz-se uma
referência específica e alfabética à constante disponibilidade de vários
responsáveis do então INH, hoje IHRU, para apoiar esses estudos, designadamente, o Arq.º Clemente Ricon,
o Eng.º Defensor de Castro, o Eng.º Hermano Vicente, o Arq.º
Rogério Pampulha, o Eng.º Teixeira Monteiro e
o Arq.º Vasco Folha, bem como das excelentes equipas técnicas do
Instituto em Lisboa e no Porto, e agradece-se, também, aos inúmeros
responsáveis e projetistas dos muitos empreendimentos de Habitação a Custo
Controlado (HCC) – a nossa Habitação de Interesse Social (HIS – que foram
visitados e estudados no decurso dos estudos aprofundados de análise urbana e
habitacional retrospectiva e multidisciplinar, coordenados pelo autor, e das
metódicas visitas do Júri do Prémio INH/IHRU em que o autor participou.
Agradece-se,
muito especialmente, o inestimável trabalho, no âmbito das referidas análises
retrospectivas, dos técnicos que integraram as respectivas equipas multidisciplinares
e que pertenciam ao Departamento de Edifícios (DED) do Laboratório Nacional de
Engenharia Civil (LNEC) e a vários Núcleos do DED, com destaque para os então Núcleo de Arquitectura e
Urbanismo (NAU), Núcleo de Ecologia
Social (NESO) e Núcleo de Tecnologia da Construção (NTC) do DED, e entre eles
faz-se uma especial menção (alfabética) à continuada e preciosa participação do
Eng.º António Leça Coelho (NAU), do Arq.º João Branco Pedro (NAU), da Eng.ª Fernanda Carvalho (NTC), da saudosa
Arq.ª Isabel Plácido (NAU) e da Dr.ª
Marluci Menezes (NESO); fazendo-se uma menção especial à participação pontual,
mas muito significativa, da Arq.ª Sheila Walbe Ornstein.
Agradece-se,
ainda, no LNEC, todo o apoio no âmbito das referidas análises retrospectivas,
ao Eng.º José Vasconcelos Paiva, então Diretor do DED do LNEC, à Técnica
Superior Anabela Manteigas, e, finalmente, mas nunca por último, ao Arq.º
António Reis Cabrita, que numa fase de passagem de testemunho da chefia do
NAU, teve ainda a oportunidade de apoiar de forma ampla a aprofundada as mesmas
análises retrospectivas.
Novamente
fora do LNEC importa aqui fazer um agradecimento especial e muito bem
justificado ao sempre importante e presente apoio, no âmbito dos estudos que
basearam a presente série editorial, de
um amplo e bem merecedor conjunto de responsáveis e companheiros da Federação
Nacional de Cooperativas de Habitação Económica (FENACHE), que o autor tem
também a honra de integrar, com um natural destaque para o saudoso Dr. José
Barreiros Mateus, e para os grandes Guilherme Vilaverde, Manuel Tereso e Orlando Vargas, não
esquecendo o também saudoso Carlos Coradinho.
Faz-se,
em seguida, uma referência amiga e muito agradecida ao constante apoio e
incentivo nestas “lutas” da habitação e do “habitar” aos associados da GHabitar
Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional (GHabitar
APPQH), anteriormente Grupo Habitar
APPQH e, muito especialmente, aos atuais responsáveis da GHabitar APPQH,
entre os quais se encontram alguns dos acima designados e no texto sublinhados,
mas havendo que acrescentar (alfabeticamente) o Arq.º António Carlos Coelho, o
Arq.º Carlos Nuno Lacerda Lopes, o Dr. Dâmaso Silva, o Arq.º Duarte Nuno
Simões, o Dr. João Lutas Craveiro, o Arq.º Manuel Correia Fernandes, e o Arq.º
Paulo Tormenta Pinto.
Lembra-se,
finalmente, e agradece-se a múltipla participação nestas matérias habitacionais
aos membros do Secretariado Permanente do Congresso Internacional da Habitação
no Espaço Lusófono (Secretariado
Permanente do CIHEL), e de outros responsáveis mais diretos pelo
desenvolvimento dos quatro congressos internacionais CIHEL, abordando,
frequentemente, o habitar de interesse social no âmbito da lusofonia e entre os
quais há que salientar (alfabeticamente), para além de uma série de colegas
e amigos já atrás referidos noutros contextos ( e com as minhas prévias
desculpas por algum “imperdoável” esquecimento), a Arq.ª Angelica Benatti
Alvim, o Arq.º António Gameiro, o Arq.º Anselmo Cani, a Arq.ª Camila
D’Ottaviano, o Arq.º Carlos de Almeida Marques, a Arq.ª Denise Antonucci, o
Eng.º Fernando Pinho, o Arq.º Ilidio Daio, a Arq.ª Inês Daniel de Campos, o
Arq.º Jaime Comiche, o Dr. João Carvalhosa, o Eng.º José António Ferreira, o
Arq.º Khaled Ghoubar, a Arq.ª Lúcia Zanin Shimbo, o Arq.º Miguel Amado, o Arq.º
Pedro Baptista Coelho, o Arq.º Rogério Galante, o Arq.º Rui Leão, a Arq.ª
Silvia Mikami, a Arq.ª Teresa Madeira, a Arq.ª Teresa Valsassina Heitor
(PDA-IST) e o Arq.º Victor Leonel.
Bibliografia cronológica
Apresenta-se
em seguida, organizada cronologicamente, e acompanhará os restantes artigos
desta série editorial, a bibliografia cronológica utilizada direta e
indiretamente, no presente estudo, sobre a matéria da Habitação de Interesse
Social Portuguesa (HIS) e sobre qualidade arquitectónica residencial.
- ONO, R. (Org.)
; ORNSTEIN, Sheila Walbe (Org.) ; Villa, Simone Barbosa (Org.) ; FRANÇA, ANA
JUDITE GALBIATTI LIMONGI (Org.) ; LEITNER, A. D. (Org.) ; BARBOSA, Maria
Beatriz (Org.) ; SARAMAGO, R. C. P. (Org.) ; ABATE, Tania Pietzschke (Org.)
; ROMÉRO, Marcelo de Andrade (Org.)
- Avaliação Pós-Ocupação na arquitetura,
no urbanismo e no design: da teoria à prática. 1. ed. São Paulo: Oficina de
Textos, 2018. v. 1. 302p .
- TAVARES, Maria - Habitações Económicas. Federação de Caixas de Previdência. Arquitectura e modos de actuação no exercício do projecto, Porto: Faculdade de Arquitectura da Universidade do Portoi, tese de doutoramento em Arquitectura, 2016.
- PORTAS, Nuno (coord. cient.) e AAVV - Habitação para o Maior Número. Portugal, os Anos de 1950-1980. IHRU e CML, Lisboa, 2013 – lançamento em 2014, 214 p., ISBN 978-972-98508-8-2; António Baptista Coelho redigiu o capítulo ilustrado intitulado "Sobre os “anos dourados” dos conjuntos cooperativos de habitação económica: 1974-1984" (20 p ilustradas., 12 fig., pp. 133 a 153 do livro).
- National Crime Prevention Council – NCPC (autoria); Direção Geral de Administração Interna – DGAI (edição); Ana Verónica Neves e Filipe Teodorico (tradução) - CPTED – Prevenção Criminal Através do Espaço Construído: Guia de boas práticas, Lisboa: DGAI, 2013, 66 p., ISBN: 978-989-8477-04-0; edição revista e adaptada para a versão portuguesa por uma equipa que integrou o autor desta listagem - versão original disponível em < http://www.veilig-ontwerp-beheer.nl/publicaties/cpted-prevencao-criminal-atraves-do-espaco-construido-guia-de-boas-praticas >
- MENDES, Maria Manuela; MAGANO, Olga - Ciganos Portugueses: Olhares Plurais e Novos Desafios numa Sociedade em Transição. Editora Mundos Sociais, Lisboa, 2013, 253 p., ISBN 978-989-8536-26-6. António Baptista Coelho redigiu o capítulo intitulado "Habitação e vizinhança para famílias de etnia cigana: algumas reflexões práticas" (9 p., 4 fig., pp. 239 a 247 do livro).
- COELHO, António Baptista - Qualidade Arquitectónica e Satisfação Residencial na Habitação de Interesse Social em Portugal no final do Século XX”, Lisboa, LNEC, Relatório 176/2011-NAU, Maio 2011, 93 pp., ilustrado
- COELHO, A. Baptista;
PEDRO, J. Branco; COELHO, A. Leça – 2.ª Análise retrospectiva do parque financiado pelo Instituto Nacional
de Habitação nos anos de 1989-2005.
Análise arquitectónica. Lisboa
: LNEC, 2011. (Relatório
Confidencial 115/2011 – NAU).
- DIAS, Jorge Miranda; LOPES, Grandão (coord.) - Conservação e reabilitação de edifícios recentes. Cadernos Edifícios N.º 5, LNEC, Lisboa, 2010, 218 p., ISBN 978-972-49-2197-6. António Baptista Coelho redigiu o capítulo intitulado "Critérios a aplicar na requalificação arquitectónica do exterior residencial" (25 p., 6 fig., pp. 37 a 62 do livro).
- DGS e AAVV - Planos Locais de Ação em Habitação e Saúde – Manual para projetos: Fichas Técnicas sobre Habitação e Saúde . Direcção Geral da Saúde (DGS), Plano nacional de Ação Ambiente e Saúde (PNAAS), Lisboa, Novembro de 2009, ISBN: 978-972-675-191-5; António Baptista Coelho participou na organização do livro e elaborou os seguintes quatro capítulos: (i) "Bem-estar na envolvente residencial" (8 p., item 2.4); (ii) "Bem-estar e tipos de soluções habitacionais (7 p., item 2.5)"; (iii) "Problemas sociais na habitação" (7 p., item 2.6); e (iv) "Bem-estar e conforto ambiental no interior habitacional" (7 p., item 3.3) download em:
- http://www.dgs.pt/?cn=552055525576AAAAAAAAAAAA
- COELHO, António Baptista - Entre casa e cidade, a humanização do habitar. dafne editora, opúsculos - Pequenas Construções Literárias sobre Arquitectura, opúsculo 18, Porto, Julho 2009, 20 p., 4 fig., ISSN 1646–5253, www.dafne.com.pt/pdf_upload/opusculo_18.pdf
- COELHO, António Baptista - Habitação Humanizada, Lisboa, LNEC, Tese e Programas de Investigação TPI n.º 46. Lisboa: LNEC, Livraria do LNEC, 2007. 574 p., 121 fig., ISBN 978-972-49-2120-4
- LOPES, Carlos Nuno Lacerda – Projecto e modos de habitar. Dissertação de doutoramento, Porto: Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP), 2007.
- COELHO, António Baptista – Instituto Nacional de Habitação, 1984 – 2004: 20 anos a promover a construção de habitação social, Lisboa, INH, LNEC, 2006 (456 pp., muito ilustrado) – disponível por consulta ao IHRU, Depósito Legal n.º 242704/06.
- COELHO, António Baptista; COELHO, Pedro Baptista - Habitação de Interesse Social em Portugal: 1988 – 2005. Livros Horizonte, Horizonte Arquitectura Lisboa, 2009, 327 p., muito ilustrado, ISBN 978-972-24-1655-9 .
- COELHO, António Baptista (coord.) – Humanização e vitalização do espaço público. Cadernos Edifícios n.º 4, LNEC, Lisboa, Livraria do LNEC, Outubro de 2005 (Março 2006), 268 p., muito ilustrado, ISBN 972-49-2058-5.
- COELHO, António Baptista; COELHO, António Leça; MENEZES, Marluci; CARVALHO, Fernanda Rodrigues; PLÁCIDO, Isabel – 3.ª Análise Retrospetiva do Parque Habitacional Financiado pelo INH, Anos de 1995 a 1998. Lisboa: LNEC, 2004. Relatório Confidencial 239/04-NAU. 402 p. 178 fig. 10 quad., 8 gráf.
- INSTITUTO NACIONAL DE HABITAÇÃO; PAMPULHA, Rogério (Coord.) – Habitação a Custos Controlados, Projectos de Referência n.º 1 a n.º 8. Lisboa: INH, Projecto de Referência, 2001 a 2004.
- COELHO, António Baptista; CABRITA, António Reis; PEDRO J. Branco – A Qualidade Arquitectónica e a Satisfação Residencial – Qualité Architectonique et Satisfaction Résidentielle – Projeto de Investigação Conjunta LNEC/CSTB sobre Qualidade Arquitectónica e a Satisfação Residencial. Relato de sntese 1998-2000. Lisboa: LNEC, 2001. Relatório 149/01-NA. 60 p.
- HEITOR, Teresa Valsassina – A vulnerabilidade do espaço em Chelas, uma abordagem sintáctica. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, Textos Universitários de Ciências Sociais e Humanas, 2001, 421 p.
- FERNANDES, Fátima; CANNATÀ, Michele – Guia da Arquitectura Moderna, Porto, 1925-2002. Porto: ASA Editores, 2002, 335 p.
- CABRITA, António Reis; COELHO, António Baptista; FREITAS, M. João – Gestão Integrada de Parques Habitacionais de Arrendamento Público – guião recomendativo, MES - Secretaria de estado da Habitação, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Intervenção Operacional Renovação Urbana, Lisboa, Dezembro de 2000 (240 p.), ISBN 972-981133-6-1; António Baptista Coelho redigiu os Capítulos 4 (Enquadramento global da gestão), 5 (Dimensões fundamentais da gestão), 6 (Métodos e instrumentos de gestão do parque habitacional de arrendamento público), 7 (Requalificação urbana), 8 (Integração da requalificação e da gestão e notas conclusivas), a Bibliografia e o Anexo III (Ação e estrutura organizativa dos Zeladores).
- CABRITA, António Reis (coord.), “A Futura Habitação Apoiada”. Proc. 086/01/13758. Relatório Confidencial 75/00 – NA, 299 pp. 2000.
- COELHO, A. Baptista – Qualidade arquitectónica residencial. Rumos e factores de análise. Lisboa: LNEC, Livraria do LNEC, 2000. 500 p. (Informação Técnica de Arquitectura, ITA 8). ISBN 972-49-1857-2.
- AAVV e MEPAT , “Habitat II, Plano Nacional de Ação – Habitação”, MEPAT e Secretaria de Estado da Habitação e Comunicações, MEPAT e SEHC, 1999, 76 p., Dep. Legal 141975/99.
- BERNARDO, Jorge Almeida – INH 15 Anos a Apoiar Quem Precisa. Lisboa: Instituto Nacional de Habitação, 1999, 124 p.
- PEDRO, J. Branco – Programa habitacional. Espaços e compartimentos. Lisboa : LNEC, 1999. 270 p. (Informação Técnica de Arquitectura, ITA 4).
- PEDRO, J. Branco – Programa habitacional. Habitação. Lisboa : LNEC, 1999. 270 p. (Informação Técnica de Arquitectura, ITA 5).
- PEDRO, J. Branco – Programa habitacional. Edifício. Lisboa : LNEC, 1999. 226 p. (Informação Técnica de Arquitectura, ITA 6).
- PEDRO, J. Branco – Programa habitacional. Vizinhança Próxima. Lisboa : LNEC, 1999. 174 p. (Informação Técnica de Arquitectura, ITA 7).
- PEREIRA, Nuno Teotónio (colaboração de António Baptista Coelho) – Os Olivais – experiência colectiva de uma geração, Palestra proferida nos Encontros da Associação dos Arquitetos Portugueses – Habitação, Construir Cidade com Habitação. Lisboa: AAP, 1998, 8 p.
- FERNANDES, Francisco Barata – As formas da casa na forma da cidade, Palestra proferida nos Encontros da Associação dos Arquitetos Portugueses – Habitação, Construir Cidade com Habitação. Lisboa: AAP, 1998
- FERNANDES, Manuel Correia – Anos 80 As Cooperativas de Habitação e o Desenho da Cidade, a Senhora da Hora em Matosinhos, Palestra proferida nos Encontros da Associação dos Arquitetos Portugueses – Habitação, Construir Cidade com Habitação. Lisboa: AAP, 1998, 8 p.
- COELHO, António Baptista (colaboração de Nuno Teotónio Pereira) – Alvalade de Faria da Costa uma cidade na cidade – o mistério de Alvalade, Palestra proferida nos Encontros da Associação dos Arquitetos Portugueses – Habitação, Construir Cidade com Habitação. Lisboa: AAP, 1998, 30 p.
- COELHO, A. Baptista; PEDRO, J. Branco – Do
bairro e da vizinhança à habitação.
Tipologias e caracterização dos níveis físicos residenciais. Lisboa : LNEC, Livraria do LNEC, 1998. 546 p.
(Informação
Técnica de Arquitectura, ITA 2). ISBN
972-49-1756-8.
- COELHO, António Baptista; PEDRO J. Branco; CABRITA, A. Reis - Três Conjuntos Residenciais Meritórios de Habitação de Custos Controlados – 1991, Coleção Edifícios nº 6, Lisboa, LNEC, Livraria do LNEC, 1998, 92 pp, ilustrado, ISBN 972-49-1758-4
- ELEB, Monique; CHATELET, Anne Marie – Urbanité, sociabilité et intimité des logements d’aujourd’hui. Paris : Éditions de l’Épure, 1997. 350 p. (Col. Recherche d’Architecture).
- MATEUS, Barreiros – As Cooperativas de Habitação na Europa. Comunicação apresentada no Fórum Nacional de Cooperativas de Habitação, CHASA, Alverca, 1997.
- FERREIRA, Fonseca – 20 Anos de Cooperativismo Habitacional. Comunicação apresentada no Fórum Nacional de Cooperativas de Habitação, CHASA, Alverca, 1997.
- TOSTÕES, Ana – Os Verdes Anos na Arquitectura Portuguesa dos Anos 50. Porto: Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, FAUP Publicações, Série 2 Argumentos, N.º 14, 1997, 351 p.
- PEREIRA, Nuno Teotónio – Escritos (1947 – 1996, selecção). Porto: Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, FAUP Publicações, 1996.
- ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU) – Declaração de Istambul sobre Estabelecimentos Humanos e Agenda Habitat. Conferência das Nações Unidas sobre Estabelecimentos Humanos – HABITAT II, Turquia, Istambul, 3 a 14 de Junho 1996.
- CABRITA, A. Reis – O Homem e a
Casa. Definição individual e social da
qualidade da habitação. Lisboa :
LNEC, Livraria do LNEC, 1995. 196 p.
(Colecção Edifícios, CED 2). ISBN
978-972-49-1631-6.
- COELHO, A. Baptista; FREITAS, M. João; FARIA, M. Paulina; CABRITA, A. Reis;
-
PEDRO, J. Branco; MENEZES, Marluci; REIS, Susana; COELHO, A. Leça – 1.ª
Análise Retrospectiva do Parque Financiado pelo INH nos anos de 1985/87. Lisboa : LNEC, 1995. (Relatório Confidencial n.º 347/95-NA).
- FERREIRA, António Fonseca (coord.) – Livro Branco sobre a Política da Habitação em Portugal. Lisboa: Associações Organizadoras do I Encontro Nacional da Habitação, 1993.
- ORNSTEIN, Sheila Walbe; ROMERO, Marcelo de Andrade . Avaliação Pós-Ocupação do Ambiente Construído. 1. ed. São Paulo: Studio Nobel e Editora da Universidade de São Paulo, 1992. v. 1. 223p
- Instituto Nacional de Defesa do Consumidor; AAVV (COELHO, A. Baptista, co-autor) – Guia do Comprador de Habitação. Pré-Publicação. Lisboa : Ed. Instituto Nacional de Defesa do Consumidor, 1991.
- HERTZBERGER, Herman – Lições de Arquitetura. Tradução de Eduardo Lima Machado. São Paulo : Martins Fontes, 1996 (1991).
- ASSOCIAÇÃO DOS ARQUITETOS PORTUGUESES (AAP), Guia Urbanístico e Arquitectónico de Lisboa (GUAL). Lisboa: AAP, 1987, 311 p.
- NORBERG-SCHULZ, Christian – Habiter. Éssais et Documents. Paris: Electa-Moniteur, Electa France, 1985.
- COELHO, A. Baptista; CABRITA, A. Reis – Espaços exteriores em novas áreas residenciais. Lisboa : LNEC, 1999 (1985). 154 p. (Informação Técnica de Arquitectura, ITA 3). ISBN 972-49-1411-9.
- Instituto Nacional de Habitação/Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana; PAMPULHA, Rogério (coordenação habitual, por vezes partilhada) – Catálogos do Prémio INH e do Prémio IHRU (Ano de referência), entre 1989 e 2013, Lisboa: INH, 1989 a 2013.
- DESPACHO n.º 41/MES/85. “D.R. II Série”. 38 (85-02-14) 1520-(80)-1520-(100) [Recomendações Técnicas para Habitação Social], 1985.
- SOCZKA, Luís – Espaço Urbano e
Comportamentos Agressivos. Da Etologia à
Psicologia Ambiental. Lisboa :
LNEC, 1984. 18 p. (Informação Técnica Informática, ITI 37).
- PEREIRA, Nuno Teotónio – As Casas Económicas, 1947 – 1969, em Jornal Arquitetos n.º 16, 17 e 18. Março/Abril. Lisboa, 1983, 4 p.
- DUPLAY, Claire; DUPLAY, Michel – Methode Illustrée de Création Architecturale. Paris : Le Moniteur, 1982. 448 p. (Col. CEP Moniteur).
- ALEXANDER, Christopher; ISHIKAWA, Sara; SILVERSTEIN, Murray [et al.] – A pattern language. Barcelona : Editorial Gustavo Gili, 1980 (1977). (Colecção Arquitectura Perspectivas).
- GREATER LONDON COUNCIL – An Introduction to Housing Layout. Londres: Architectural Press, GLC Study, 1978.
- Fundo de Fomento da Habitação; AAVV – Instruções para Projectos de Habitação Social Promovida pelo Estado (IPHPE/FFH), Lisboa: editadas pelo Fundo de Fomento à Habitação (FFH),1977.
- CULLEN, Gordon – El Paisaje Urbano. Tratado de estética urbanística (The Concise Townscape). Barcelona: Editorial Blume, 1977 (1961).
- LAMURE, Claude – Adaptation du logement à la vie familiale. Paris : Ed. Eyrolles, 1976. 237 p.
(Collection I.C.I., Institut de la Construction Industrialisée). ASIN B0014KRHVA.
- MOORE, Charles Moore; ALLEN, Gerald; LYNDON, Donlyn Lyndon – La Casa: Forma y Diseño. Barcelona, Editorial Gustavo GILI, 1976 (1974).
- PORTAS, Nuno – Funções e exigências de áreas da habitação, Lisboa, LNEC, 1969, ilustrado.
- FARIA, António – O problema das casas económicas (esboço de estudo), Lisboa: Edições Cosmos, Biblioteca Cosmos, N.º 140/141, 7.ª Secção – problemas do nosso tempo n.º 26/27, 1948, 195 p.
Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar
seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar
assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e
científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o
pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e
comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) No mesmo sentido, de natural responsabilização dos
autores dos artigos, a utilização de quaisquer elementos de ilustração dos
mesmos artigos, como , por exemplo, fotografias, desenhos, gráficos, etc., é,
igualmente, da exclusiva responsabilidade dos respetivos autores – que
deverão referir as respetivas fontes e obter as necessárias autorizações.
(iii) Para se tentar assegurar o referido e adequado nível
técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma
quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou
que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na
Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição
dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se
circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é
pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser
de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado
tal e qual foi recebido na edição.
Infohabitar, Ano XVII, n.º 764
Pequena viagem pelos cerca de 70 anos de Habitação de Interesse Social Portuguesa (HISP) antes do INH/IHRU (série editorial: artigo 2/8) – infohabitar # 764
Infohabitar
Editor: António Baptista
Coelho
Arquitecto/ESBAL – Escola
Superior de Belas Artes de Lisboa –, doutor em Arquitectura/FAUP – Faculdade de
Arquitectura da Universidade do Porto –, Investigador Principal com Habilitação
em Arquitectura e Urbanismo no Laboratório Nacional de Engenharia Civil
(LNEC), em Lisboa.
Revista do GHabitar (GH)
Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar –
Associação com sede na Federação Nacional de Cooperativas de Habitação
Económica (FENACHE).
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