Infohabitar, Ano X, n.º 486
Nota inicial:
O artigo que se edita
esta semana corresponde a parte da intervenção do autor no Ciclo de
Conferências : “Silêncio”, realizado em conjugação
com a exposição de fotografia e de pintura de Alves Tê e Caterina Ponti,
patente no Museu de Lanifícios da Universidade da Beira Interior (UBI), na
Covilhã, sobre a temática "O Silêncio das Máquinas", de 8 de maio a
29 de junho.
Este Ciclo de
Conferências foi organizado pelo Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura
(DECA) da Universidade da Beira Interior,
nos dias 13 e 20 de maio de 2014, na sala de conferências do Museu de
Lanifícios da UBI.
Organização: Prof. Ana
Martins, Prof.Moreira Pinto, Prof.Susana Santos
Rua Marquês d'Ávila e
Bolama, 6201-001 Covilhã, PORTUGAL
Dia 13 maio
14h30 | Arqto. Bernardo
Carvalho
15h00 | Arqta. Inês Campos
15h30 | Prof. Graça Esgalhado
16h00 | Arqto. Carlos Ganhão
16h30 | Prof. Ana Paula Rainha
17h00 | Prof. Jaceck Krenz
15h00 | Arqta. Inês Campos
15h30 | Prof. Graça Esgalhado
16h00 | Arqto. Carlos Ganhão
16h30 | Prof. Ana Paula Rainha
17h00 | Prof. Jaceck Krenz
Dia 20 maio
14h30 | Prof. António Baptista
Coelho
15h15 | Prof. Ana Martins e Prof. Antónia Conde
16h00 | Prof. Moreira Pinto
16h45 | Prof. Susana Santos
15h15 | Prof. Ana Martins e Prof. Antónia Conde
16h00 | Prof. Moreira Pinto
16h45 | Prof. Susana Santos
O silêncio e a Arquitetura : o silêncio como quadro de de intimidade e socialização, matéria da arquitetura, "assunto" das ruínas
António Baptista Coelho
(nota: no artigo 485 da Infohabitar está editada a primeira parte desta palestra)
O silêncio como veículo de intimidade e de urbanidade
Falou-se,
um pouco, do enquadramento do silêncio como matéria da própria conceção
arquitetónica básica e, em seguida, do mesmo silêncio como qualidade natural,
ou da natureza, associada a múltiplos aspetos do conforto, e por sua vez
matéria da referida conceção arquitetónica; e assim até parece que não nos
conseguimos dele libertar; mas há ainda e naturalmente outras perspetivas a
considerar no silêncio como quadro base de arquiteturas e pano de fundo do
habitat humano, e nestas uma há cuja importância é basilar e que se refere ao silêncio como veículo de intimidade e de
urbanidade.
Nesta
matéria é extremamente interessante, por um lado, encarar a possibilidade de
viver o espaço doméstico com relativa autonomia em termos de vivência acústica,
não prejudicando vizinhos e familiares com os nossos ruídos e músicas e não
sendo muito prejudicados por eles pelas mesma razões, e diz-se relativamente,
mas poderia dizer-se absolutamente, em termos de determinados espaços onde
possa ser realmente possível ouvir música alto ou trabalhar sem limitações de
ruído pela noite fora; e engana-se quem acha ser de pouca importância o fator
do silêncio no quadro mais amplo da essencial privacidade doméstica e entre
vizinhos do mesmo edifício ou de edifícios próximos; e está, por exemplo,
provado que a falta de silêncio, que também se pode dizer falta de isolamento e
conforto acústico, é aspeto que produz problemas graves e/ou frequentes entre
vizinhos e habitantes das mesmas unidades de uso (por exeplo, habitações e
escritórios) e dos mesmos edifícios, podendo chegar a más influências na
respetiva saúde física e psíquica, e indiretamente no bem-estar social dos
respetivos edifícios e vizinhanças.
Ainda
nesta matéria da associação entre silêncio, intimidade e urbanidade, é, por
outro lado, necessário referir que ao nível do espaço urbano também a quietude
e o sossego são sinónimos de bem-estar, de protecção, de uma certa intimidade e
apropriação positiva das vizinhanças que habitamos, e se referem ao
desenvolvimento de espaços urbanos que articulam zonas animadas e relativamente
ruidos, com recintos urbanos estrategicamente localizados e marcados pelo
sossego e pela acalmia do tráfego, recintos estes frequentemente caraterizados
por uma expressiva componente verde e natural, ainda que muito urbana, e que
entre outros aspetos nos proporciona viver mais intensa e prolongadamente o
exterior à porta de casa, de certa forma prolongando usos domésticos sobre
partes desse exterior e permitindo que esse exterior calmo e envolvente, e
mesmo esse silêncio que, de certa forma, "se ouve", preencha as janelas das nossas habitações e
nos entre agradavelmente casa dentro.
Falou-se,
assim, um pouco do silêncio como fator de projeto de arquitectura, algo óbvio
mas raramente lembrado; depois do silêncio natural ou da natureza como elemento
com importância própria e associada ao projeto de arquitetura; e, finalmente,
do silêncio como veículo de intimidade e de urbanidade
Falta
falar de muita coisa, nesta temática do
silêncio como base de preparação e de vital experimentação do espaço que se
projecta e que, depois, se quer vivo, falta sempre falar de muita coisa,
quando começamos a aprofundar estas matérias da conceção arquitectónica, e,
designadamente, falta falar do silêncio
como verdadeira matéria ou motivo da Arquitectura, sem derivações, sem
relações indirectas, pois parece haver obras que capturam um positivo silêncio
local, ou que criam um positivo quadro local de acalmia e de sossego, quadro
que propicia a contemplação e a reflexão sobre essas obras e as suas paisagens
pormenorizadas ou amplas de integração e enquadramento.
Ou
será que tal condição, de certa forma, geradora de um sossego local, de uma
certa acalmia local, grande aliada da boa caraterização de cada obra e de cada
local é caraterística própria de toda a boa arquitectura?
Questões
bem estimulantes, que talvez tenham sido, ou venham a ser, aqui tratadas e que
espero poder aprofundar em outras
oportunidades.
Fig. 02: Casa Pacheco de Melo, Arq.º Pedro Maurício Borges, Canada dos Barões, S. Miguel.Sobre o silêncio das ruínas
No
entanto não poderia terminar esta reflexão sobre arquitetura e silêncio, sem
falar, ainda que apenas um pouco, e mais como apontamento final, do silêncio
das ruínas, um silêncio palpável, que todos sentimos; e de certa forma será
como falar do silêncio libertado pelas ruínas de edifícios e construções quando
estes iniciam o seu retorno ao caos natural originário.
Lembrando
a sequência de reflexão aqui feita será como imaginarmos que o silêncio, que
usámos como meio integrador e caracterizador de uma da obra, e um pouco como
ponte de ligação à sua envolvente natural e urbana, é devolvido ao quadro
prévio local e natural.
Sobre
esta matéria, parece que as ruínas cabam por resgatar o silêncio, de que
tínhamos, nós, embebido algumas construções e espaços, devolvendo-o à natureza,
associando o silêncio das construções abandonadas ao silêncio do meio natural.
Evidentemente
que a nostalgia e até a cenografia são também importantes aspetos nesta
sensibilidade que todos temos para com as ruínas, por vezes até simuladas
estrategicamente em jardins, mas por alguma razão até assim acontece e
realmente as ruínas são verdadeiramente silenciosas; uma matéria interessante e
estimulante, mas que tem contornos bem negativos quando as ruínas se referem a
espaços urbanos abandonados e sem vida.
O silêncio na Arquitetura
E
assim se conclui uma pequena viagem iniciada pela reflexão sobre o silêncio como base de preparação da
obra de arquitectura, continuada por apontamentos das relações entre silêncio e
meio natural e entre sossego, intimidade e urbanidade; considerou-se, depois, o
papel do silêncio como matéria ou motivo da Arquitectura e, finalmente,
apontaram-se as ruínas como quadros privilegiados de um silêncio arquitectónico
fortemente caraterizado.
Tentou-se,
assim abordar, tal como era sugerido, o mundo emotivo do silêncio, em alguns
dos seus aspetos, salientando-se a importância da interiorização e da reflexão
sobre estas verdadeiras bases de reflexão sobre uma arquitectura que está muito
para além das simples cascas visuais mudas e sem carácter.
Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a
caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de
edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões
expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições
individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo
portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se
tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da
Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa
de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a
tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo
GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à
respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas
e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do
teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou
negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi
recebido na edição.
INFOHABITAR Ano X, nº 486
Editor: António Baptista Coelho - abc@lnec.pt
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional
Universidade da Beira Interior (UBI), Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura (DECA)
Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), Núcleo de Estudos Urbanos e Territoriais (NUT)
O silêncio como quadro de socialização e matéria da arquitetura
Editor: António Baptista Coelho - abc@lnec.pt
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional
Universidade da Beira Interior (UBI), Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura (DECA)
Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), Núcleo de Estudos Urbanos e Territoriais (NUT)
O silêncio como quadro de socialização e matéria da arquitetura
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação -
Olivais Norte
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