- Infohabitar 116 -
Faz hoje um ano que o nosso companheiro e amigo, José Barreiros Mateus, nos deixou. Homem previdente, atento e responsável, nunca fazia nada de relevante e importante sem antes avisar os seus mais próximos. Faz hoje um ano não o pôde fazer e o efeito foi devastador. Receber a notícia sem aviso, foi pior que levar com o céu na cabeça. A violência foi tal, que a “dor física” ainda perdura. Um ano depois e passado o impacto do choque, outra dor me invade; a saudade. A saudade da amizade, do carinho, da competência, da visão, da gargalhada optimista e do inconformismo arrebatador.
O vazio que deixou no Movimento Cooperativo Habitacional, em Portugal e no Mundo, e a ausência sentida e confessada por tantos dos principais actores das causas da Habitação em geral, são a prova do prestígio granjeado pelo nosso amigo José Mateus, no decurso de duas dezenas de anos dedicados á causa do Cooperativismo, da Habitação e da Solidariedade. Para se concluir do seu valor, era perfeitamente dispensável a sua apressada e prematura partida.
Num tempo de grande dinamismo do Movimento Cooperativo Habitacional, no abraçar de causas que visam a qualificação e a sustentabilidade da habitação cooperativa, que nos colocam na vanguarda da promoção habitacional do futuro, era justo que o nosso caro José Mateus pudesse assistir, em vida, ao reconhecimento público de um percurso de que ele inegavelmente foi um dos principais dinamizadores. A vida não o quis, mas os que cá ficaram, a começar por mim, não esquecem o seu pioneirismo.
Um ano após a sua partida, gostaria de partilhar com todos vós, alguns dos ensinamentos/avisos que mais me marcaram, no convívio dos quase vinte anos que trabalhámos em conjunto nas causas do habitar cooperativo:
os culpados dos nossos insucessos nem sempre são os outros;
trabalhando teremos sucesso, e o melhor será ter a sorte ao nosso lado;
ganharemos muito se banirmos o preconceito de que quem critica é nosso inimigo;
mudando as palavras não mudaremos a realidade;
para sermos modernos não temos de imitar os outros;
e cooperar vale sempre a pena.
trabalhando teremos sucesso, e o melhor será ter a sorte ao nosso lado;
ganharemos muito se banirmos o preconceito de que quem critica é nosso inimigo;
mudando as palavras não mudaremos a realidade;
para sermos modernos não temos de imitar os outros;
e cooperar vale sempre a pena.
Neste ano de tantas mudanças, desafios, surpresas e dificuldades, pude receber o apoio e colaboração de muitos amigos. Desde logo os meus colegas, cooperadores e colaboradores da NHC, mas também dos meus colegas e colaboradores da Fenache e das Uniões de Cooperativas de Lisboa e ainda de todos quantos conviveram profissionalmente com o Dr. Mateus, enquanto Vice-Presidente da Fenache e representante das Cooperativas da Área Metropolitana de Lisboa. Cabe no entanto aqui um parêntesis, para publicamente relevar o especial apoio de duas figuras marcantes para mim, durante este último ano, como já haviam sido anteriormente para o Dr. Mateus; refiro-me ao Presidente da Fenache, Guilherme Vilaverde e ao Presidente do Grupo Habitar e Vice – Presidente da NHC, Professor Arquitecto António Baptista Coelho. A confiança em mim depositada pelo amigo Guilherme Vilaverde, para tentar minimizar a ausência do Dr. Mateus na Fenache, obriga-me a trabalhar diariamente para justificar a sua aposta. Ao aceitar, com humildade, ser o meu Vice-Presidente na NHC, António Baptista Coelho, deu-me uma enorme prova de amizade e sobretudo o privilégio de poder contar na minha equipa com um dos senadores da habitação deste país. Ao agirem desta maneira, um e outro, provaram a amizade e consideração que nutriam pelo Dr. Barreiros Mateus.
Num tempo em que se celebra a paz e a boa vontade entre os homens, conto com a compreensão dos leitores deste espaço, para o teor deste artigo, que não versando o habitar técnico, pretende apenas lembrar alguém que sempre privilegiou as pessoas, os sentimentos e os afectos em detrimento das “obras.”
Um até sempre amigo Mateus.
Manuel TeresoPresidente da NHCDirector da FenacheMembro do Grupo Habitar
Num tempo em que se celebra a paz e a boa vontade entre os homens, conto com a compreensão dos leitores deste espaço, para o teor deste artigo, que não versando o habitar técnico, pretende apenas lembrar alguém que sempre privilegiou as pessoas, os sentimentos e os afectos em detrimento das “obras.”
Um até sempre amigo Mateus.
Manuel TeresoPresidente da NHCDirector da FenacheMembro do Grupo Habitar
Passado um ano, em casa, ao preparar a edição das palavras do amigo Manuel Tereso, que quis acompanhar por esta memória pessoal, fui à estante, para me lembrar da citação que tinha usado e o primeiro livro de Saint-Exupery que encontrei, também por um acaso daqueles que me vai ficar na memória, chama-se “Um sentido para a vida” e foi prefaciado por Ruy Belo, já num longínquo Dia de Reis de 1966.
E nem consegui sair do prefácio, naturalmente, e é dele, de Ruy Belo, que são as palavras que se seguem:
“A grandeza do homem não se esgota integralmente no destino da espécie. Cada indivíduo é um império e não uma formiga num formigueiro ... O homem não é o que se vê, é difícil medi-lo ou delimitá-lo. O homem são as canções nos dias de festa, a sopa quente à noitinha, as ternuras e cóleras, são parentes, amigos. Para o homem, a verdade é aquilo que faz dele um homem. O gesto de um homem é uma fonte eterna, tem repercussão através dos tempos. É impossível medir o império dos homens.”
E um pouco mais à frente o mesmo Ruy Belo diz, citando algumas palavras de Saint-Exupery:
“O problema fundamental do nosso tempo é o sentido do homem... Sentido é «aquilo que liga alguém à comunidade dos homens».”
Poderia ficar por aqui, tendo soltado a afectividade, mas vou ser um pouco prático, também, como foi, e ainda bem, Barreiros Mateus nas suas muitas obras feitas, e continuo a citar, agora do catalão Joaquín Arnau:
“Os homens coabitam porque convivem: vivem em comum. E colaboram: trabalham juntos... Igreja, por exemplo, quer dizer assembleia. Hospital e hospedaria sugerem diversas formas de hospedagem, ambas transitórias. Colégio refere-se aos que lêem juntos. Ayuntamiento quer dizer união... E convento é onde os frades, irmãos, con-vivem no seu retiro....É na convivência e não na simples vivência que Vitruvius centra a origem da cabana primitiva ... Pois bem: então e não antes, quando a comunidade foi estabelecida sobre a base de um entendimento comum, Vitruvius considera que nasceu no homem primitivo a vontade de edificar... A coabitação, consequentemente, é a função própria, material e anímica, psicológica e social, de toda a arquitectura.”
Lembrou-se o bom amigo José Barreiros Mateus, as suas obras vivas e o seu excelente sentido na vida, uma vida em comunidade.
António Baptista Coelho
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