- Infohabitar 118
Lisboa adormeceu já se acenderam
Mil velas nos altares das colinas
Guitarras pouco a pouco emudeceram
Fecharam-se as janelas pequeninas
Lisboa adormeceu já se acenderam
Mil velas nos altares das colinas
Guitarras pouco a pouco emudeceram
Fecharam-se as janelas pequeninas
(letra de fado antigo de Lisboa)
Depois do esplendor da luz total no céu metilene habitado de montanhas brancas de cúmulos e do calor do pino de verão, cai devagar rasando todo o céu, a luz doirada de outono (o sono do Inverno), preparando a terra e os homens para o silêncio do inverno em que até a terra tem de descansar e por isso se re-veste de manto branco de neve e adormece, adormecendo com ela os animais que irão hibernar e as plantas que entrarão no seu repouso-vegetativo.
A Terra dorme mas não descansa, escondendo protegidamente as sementes caídas no outono que na terra ainda quente e amaciada pela chuva ficam quebrando lentamente a sua dormência espreguiçando raízes à espera do tempo de aparecer à luz visível na primavera a vir.
A Terra dorme mas não descansa, escondendo protegidamente as sementes caídas no outono que na terra ainda quente e amaciada pela chuva ficam quebrando lentamente a sua dormência espreguiçando raízes à espera do tempo de aparecer à luz visível na primavera a vir.
CANCIÓN DE INVIERNO
Cantan. Cantan.
¿Dónde cantan los pájaros que cantan?
Ha llovido. Aún las ramas
están sin hojas nuevas. Cantan. Cantan
los pájaros. ¿En dónde cantan
los pájaros que cantan?
No tengo pájaros en jaulas.
No hay niños que los vendan. Cantan.
El valle está muy lejos. Nada...
Yo no sé dónde cantan
los pájaros -cantan, cantan-
los pájaros que cantan.
Juan Ramón Jiménez
¿Dónde cantan los pájaros que cantan?
Ha llovido. Aún las ramas
están sin hojas nuevas. Cantan. Cantan
los pájaros. ¿En dónde cantan
los pájaros que cantan?
No tengo pájaros en jaulas.
No hay niños que los vendan. Cantan.
El valle está muy lejos. Nada...
Yo no sé dónde cantan
los pájaros -cantan, cantan-
los pájaros que cantan.
Juan Ramón Jiménez
Fig. 00: ABC
Acabaram as chuvas e as trovoadas e as folhas das espécies vegetais caducas jazem na terra decompondo-se em húmus para a fertilizar e alimentar. E volta o céu azul limpo e sem nuvens e com luz de “sol-de-inverno”, deixando para trás perdas materiais em bens e animais depois de enxurradas devastadoras em que o nível da água subiu mais de seis metros em vários locais, desta vez também destruindo património natural com aluimentos de encostas devido à implantação em declives indevidos ou em leitos de cheia, ou como sucedeu em 2001 com a queda da Ponte Hintze Ribeiro, mas também património arquitectónico como o caso de Tomar e o deslizamento de parte de muralhas de Valença, o que já havia sucedido em 2001 às muralhas de Santarém, devido à incúria dos homens com esquecimentos difíceis de aceitar e à impermeabilização com equipamento indevido intra-muros, e à ausência de vegetação nas encostas das colinas que facilmente deslizam quando desprotegidas, pois que sempre que a ameaça surgia com as chuvadas (desde anos 80), optou-se por solução exclusiva de engenharia com utilização de betão e cimento, sendo que era óbvio que poria em perigo irreversível, destruindo apenas ou tornando, quantas vezes, a reparação excessivamente onerosa.
A Água não aprecia o cimento para a domesticar para além de certos limites e não esqueçamos nunca Houston e New Orleans cuja catástrofe é irreparável para sempre.
A estes graves acidentes que se repetem anualmente mas cada vez mais perigosamente desde 2001, tão gravosos para as populações atingidas cujas economias são inutilizadas para repor a vida, acresce a destruição das paisagens cuja dinâmica não se quis interpretar para evitar e minimizar o que não é óbvio só para quem aprova a construção do que quer que seja nos locais que pertencem por lei natural, à natureza, apesar da repetição do mesmo fenómeno todos os anos, como se a fatalidade não fosse dos agentes-naturais mas apenas dos agentes-humanos a quem cabe a decisão.
Não esqueçamos ainda a destruição das dunas em S. João da Caparica em Novembro 2006, que apenas com poucas ondas do mar onde as correntes de mar e estuário do rio se interceptam, desapareceram, tendo levado muitos anos a construir e consolidar com a eolo-hidro-dinâmica natural e que num minuto desapareceram por incúria e ignorância dos que autorizam construção urbana onde só há lugar para os cordões dunares (lembremos que é área protegida por alguma razão com critério ecológico), a par dos parques de campismo que terão de desaparecer mas que, curiosamente, já foi anunciado que serão deslocados para local ainda mais frágil como a Arriba Fóssil de arenitos argilosos da Caparica, o que devia ser completamente proibido dada a fragilidade da Arriba, ela também fazendo parte de Área Protegida, assim classificada não apenas pela sua beleza específica mas também fragilidade.
O país vai desmoronando nos centros urbanos e nas áreas protegidas do interior ou litoral por pura ignorância e inobservância das leis que governam a natureza e arrogância de quem tem o poder de decisão, da qual resulta pura destruição, por mais do que suficiente legislação sobre o ambiente que exista, mas que se ignora porque não é para cumprir mas sim para “ultrapassar”, estranhando-se até porque razão muitas autarquias do país têm no pelouro do ambiente um advogado, talvez para facilitar “dar a volta” à aprovação de construção nos locais onde a natureza mais tarde ou mais cedo reclama de forma sem possibilidade de qualquer argumentação humana.
A Água não aprecia o cimento para a domesticar para além de certos limites e não esqueçamos nunca Houston e New Orleans cuja catástrofe é irreparável para sempre.
A estes graves acidentes que se repetem anualmente mas cada vez mais perigosamente desde 2001, tão gravosos para as populações atingidas cujas economias são inutilizadas para repor a vida, acresce a destruição das paisagens cuja dinâmica não se quis interpretar para evitar e minimizar o que não é óbvio só para quem aprova a construção do que quer que seja nos locais que pertencem por lei natural, à natureza, apesar da repetição do mesmo fenómeno todos os anos, como se a fatalidade não fosse dos agentes-naturais mas apenas dos agentes-humanos a quem cabe a decisão.
Não esqueçamos ainda a destruição das dunas em S. João da Caparica em Novembro 2006, que apenas com poucas ondas do mar onde as correntes de mar e estuário do rio se interceptam, desapareceram, tendo levado muitos anos a construir e consolidar com a eolo-hidro-dinâmica natural e que num minuto desapareceram por incúria e ignorância dos que autorizam construção urbana onde só há lugar para os cordões dunares (lembremos que é área protegida por alguma razão com critério ecológico), a par dos parques de campismo que terão de desaparecer mas que, curiosamente, já foi anunciado que serão deslocados para local ainda mais frágil como a Arriba Fóssil de arenitos argilosos da Caparica, o que devia ser completamente proibido dada a fragilidade da Arriba, ela também fazendo parte de Área Protegida, assim classificada não apenas pela sua beleza específica mas também fragilidade.
O país vai desmoronando nos centros urbanos e nas áreas protegidas do interior ou litoral por pura ignorância e inobservância das leis que governam a natureza e arrogância de quem tem o poder de decisão, da qual resulta pura destruição, por mais do que suficiente legislação sobre o ambiente que exista, mas que se ignora porque não é para cumprir mas sim para “ultrapassar”, estranhando-se até porque razão muitas autarquias do país têm no pelouro do ambiente um advogado, talvez para facilitar “dar a volta” à aprovação de construção nos locais onde a natureza mais tarde ou mais cedo reclama de forma sem possibilidade de qualquer argumentação humana.
Fig. 01: MCOR-Área Protegida do Litoral de Armação de Pera
Fig. 02: MCOR-Área Protegida do Litoral de Armação de Pera
Fig. 02 cont.: MCOR-Área Protegida do Litoral de Armação de Pera
O país vai empobrecendo na beleza das paisagens construídas e naturais, empobrecendo ano a ano com o fogo de verão e a chuva de Inverno, as populações são afectadas material e psiquicamente e por fim advém empobrecimento intelectual e cultural, já que saber “ler as paisagens” é preciso, num país que se tornou feio e mutilado.
Num planeta tão rico e de grande variabilidade cultural, e bio-diversificado, o actuar contra a natureza e o pactuar com o empobrecimento das paisagens conduz em linha recta ao empobrecimento dos habitantes e, neste tempo de Natal e de solidariedade, neste tempo em que os homens dizem “ser iguais” vale a pena pensar na pobreza de um mundo desertificado, já que 50% da população mundial vive com menos de dois dólares por dia, 990 milhões de iletrados no mundo são do sexo feminino e em África não se vive subnutrido: em África morre-se de fome, de doença e de abandono; um continente que ainda é explorado na sua riqueza natural para que a Europa tenha a população mais rica do mundo como se o mundo tivesse a alma desertificada.
Solstício de Inverno – nascer de novo Sol, quem sabe se também no coração dos homens?
O INVERNODeus está no seu palácio de cristal. Quero dizer que chove, Platero.
Chove. E as últimas flores, que o Outono deixou teimosamente presas
nos ramos exangues, carregam-se de diamantes. Em cada diamante, um
céu, um palácio de cristal, um Deus. Olha esta rosa; tem dentro uma
outra rosa de água; e ao sacudi-la, vês?, cai-lhe a nova flor
brilhante, como alma sua, e ela fica murcha e triste, como a minha.In Platero Eu, de Juan Ramon Jimenez
Desde tempos imemoriais que a humanidade festeja o nascimento do Sol como o fenómeno mais importante da Terra.
Festa da relação eterna com a fonte emanadora da energia global do planeta. Luz do planeta Terra, tão ávida, que dos 100% de energia que recebe, 50% fica absorvida pelas várias camada da estratosfera e dos restantes 50%, 40% são utilizados na formação e continuidade da vida, sendo que os 10% restantes são devolvidos à atmosfera por irradiação
De acordo com o ciclo solar de cada ano (360-365 dias) o solstício acontece entre 17 e 25 de Dezembro, geo-instante da posição do planeta em que os pólos estão no limite das distâncias ao sol, no máximo do seu afastamento a 21-22 de Junho no solstício de verão e no mínimo de afastamento no de Inverno, sendo que, assim, do eixo solsticial o solstício de verão se revela no hemisfério sul e o de Inverno no hemisfério que habitamos pelo que, quem pode “perseguir” o Sol e calor, sabe onde fazê-lo ou, opostamente, procurar a neve nas latitudes mais altas do hemisfério norte na Europa fria, sendo 21 de Dezembro também o dia mais longo e a noite mais curta no hemisfério sul, e a noite mais longa e mais fria do ano onde estamos agora a celebrar o “Natal” como se o NADA da escuridão fosse necessário para se ver “nascer a luz”
Com a já nítida alteração das condições climáticas mundiais de efeitos devastadores não só nos locais onde os homens as provocam, como em locais “inocentes,” porque a natureza não tem fronteiras, fruto das respostas do planeta ser-vivo-sensível que se repercutem por quase todo o planeta, acontece que o frio a que estamos habituados pelo menos no hemisfério norte, faz com que no entanto se assista à deriva e ao desmoronamento de gigantescos blocos dos icebergs dos pólos sul e norte, bem como à diminuição da população dos ursos polares, como se assiste igualmente à derrocada das neves eternas do Monte Kilimanjaro do Quénia ou dos Alpes suíços, onde para além do recuo, há anos, dos seus milenares glaciares, neste Inverno (Dezembro) tendo perdido 2/3 da neve habitual levou a que fossem fechadas as estâncias de turismo de esqui e de neve, conduzindo ao enfraquecimento das economias daí derivadas, pois que a des-responsável actuação do homem dá, opostamente, origem a mais frio e mesmo quedas de neve em locais não habituais, e por vezes fora da estação do frio, como aconteceu em Portugal pelo menos em Torres Novas e em Lisboa e mesmo no Alentejo, em Fevereiro deste ano de 2006.
Quando está frio no tempo do frio, para mim é como se estivesse
agradável,
Porque para o meu ser adequado à existência das cousas
O natural é o agradável só por ser natural.
Aceito as dificuldades da vida porque são o destino,
Como aceito o frio excessivo no alto do Inverno —
Calmamente, sem me queixar, como quem meramente aceita,
E encontra uma alegria no facto de aceitar —
No facto sublimemente científico e difícil de aceitar o natural
inevitável.
Alberto Caeiro, in Poesia, ed Assírio & Alvim, Lisboa, 2001:p.131
Tudo isto faz, assim, pensar em como estas situações denominadas “globais” são apenas de origem local, nos vários locais do mundo de menor consciência global, e que o planeta com todos os seus habitantes do reino animal e vegetal é vítima-global como resultado do somatório das atitudes perfeitamente localizadas e identificáveis, porque o mundo rico se tornou autista.
Das distâncias limite de ambos os pólos da terra em relação ao sol, posição que se alterna nos dois hemisférios nos tempos solsticiais, segue-se o movimento do planeta na direcção das estações equinociais em que em ambos os hemisférios o dia se iguala à noite durante três dias e em que também o calor do dia se iguala ao da noite, com um dos hemisférios protegido pela sombra da noite, enquanto o outro fica iluminado de dia, já que os raios do sol incidem na perpendicular no equador, tempo de calor e de luz para toda a terra nesses breves instantes para de novo voltarem a declinar e repetir condições solsticiais resultantes do movimento conjunto de rotação e de translação da terra à volta do Sol e da posição do seu eixo e plano da elíptica relativamente ao plano do equador-celeste.
A festa milenar de comemoração do nascimento do Sol, ou da Luz, no dia do solstício de Inverno, foi aproveitada pela civilização romana e adaptada mudando a celebração para o dia 25 de Dezembro, fixando esta data até aos nossos dias e fazendo-a coincidir com a do nascimento do Menino Jesus, O Messias, que marca, no império de Roma, o abraçar da religião por Ele pregada nesse império que era antes de deuses pagãos.
O império de Roma tornou-se assim monoteísta e, por isso, os habitantes do império se denominaram católicos, apostólicos romanos, do império que fora de guerra de expansão territorial e de comércio entre os povos conquistados de este a oeste deste lado do Atlântico até aos confins da Europa mais a norte, elegendo Roma como centro e sede da religião que nascia e ainda perdura, depois de Constantino I.
Da celebração do nascimento da Luz passou-se a celebrar o nascimento do filho-Deus no mesmo dia, depois do Concílio de Niceia (ano 336 d.C.), que reuniu os maiores sábios da Igreja que já tinham o conhecimento de toda a tradição e conhecimento da informação dos livros e objectos sagrados, assim como da civilização da Índia e do Egipto, nascendo um novo livro religioso, facto que mudaria a história da Humanidade até com um novo Calendário referido ao nascimento do Filho de Deus que ainda usamos mesmo para datar todos os acontecimentos mundiais da história da Terra e do Homem, incluindo muitas das descobertas arqueológicas, que se referem a Cristo muito simplesmente a.C e d.C; embora “seja dito” que Jesus, que daria lugar a toda a situação histórica e à nossa actual cultura judaico-cristã, poderia ter nascido não em 25 de Dezembro mas sim a 1 de Março no ano V a.C., o que geraria muitas interpretações do Livro dos Livros sendo mais do que 2500 as religiões que o fazem, nessa eterna procura do homem pela origem das coisas que se perdem no tempo mas vão perdurando.
As civilizações mais antigas consideravam o Sol como o filho da Luz e esta representava Deus em vida.
Entre o Druidas esse era o dia da fertilidade sendo que muitas mulheres escolhiam a data para mais tarde “darem à luz.” Para os asiáticos o solstício era um velho de barbas no alto da montanha vestido de vermelho e branco (talvez origem do pai-natal), ser que representava deus na terra e trazia para os homens o seu filho-sol, mas já os egípcios festejavam o solstício com rituais de magia que envolviam o cultivo de sementes e as fecundações.
Os Maias elaboraram um perfeito calendário usando o solstício como início do ciclo do Sol e da Lua na terra – em 21 de Junho e 21 de Dezembro a radiação do sol atinge o seu momento máximo – tendo feito essa projecção até 2012. No hemisfério sul os Incas mais tradicionalistas e outros indígenas das Américas celebram 21 de Junho e 21 de Dezembro, pois que a celebração do “Natal” só foi para as Américas exportada com a catequização feita pelos europeus, na renascença, com os “descobrimentos.”
Com ou sem verdade histórica as “trocas” culturais geram trocas comercias (e vice versa) e o nascimento de novos fluxos de indústrias e serviços, e lucros para quem agarra as ideias e as faz espalhar e comerciar, por vezes acabando com antigas tradições sem pudor pela deformação de culturas e saberes ancestrais mais próximos da “alma” das gentes, uniformizando-se o mundo, talvez em demasia, no que se denomina de “civilizar” e fazer evoluir, até que “um dia” outros homens, desejavelmente, irão recuperar tradições, aproximando-se, assim, da sua essência e procurando não a desvirtuar.
O dia 21 de Dezembro é, porém, o dia do Sol planetário, com ou sem religiões, com ou sem bom ou mau aproveitamento.
É o solstício da Luz-da luz do Sol e da Lua e do nascimento da VIDA na Terra. Fim de um ano para que outro comece.
Todos os homens precisam de datas para os ritmar, festejando na terra os ritmos do céu e sempre foi assim com menor ou maior fidelidade.
Mas vejamos ainda por outros ângulos: Solstício, de sol que nasce, é Zhi no calendário chinês (chegada do Inverno), data de extrema importância e de celebração da passagem do ano em que, igualmente, se celebra o Sabbath neo-pagão Yule.
No oposto, no solstício de Verão e ao pôr-do-sol ao meio dia em Stonehenge, os raios do Sol são perpendiculares ao plano da terra e, portanto, sem sombra.
Embora toda a vida da terra e dos reinos animal e vegetal tenham manifestações derivadas das quatro estações toda a vida depende da energia e da luz do Sol e da Lua, incluindo os ritmos diários do homem e dos mares (marés) – Sol a energia global, Lua o planeta morto e fóssil, sem luz própria, filtro da energia do Sol para com a terra de que é satélite na sua rotação de um dia sobre si mesma e de translação de 28 dias à volta do sol –, macro e micro do planeta e seu satélite a comandar a nossa vida.
O homem tem de encontrar explicação para todas as coisas e em todas as coisas vê sinais e símbolos; agarra-os e usa-os de acordo com o seu tempo e história e dá-lhes a forma mais apetecível.
Quando está frio no tempo do frio, para mim é como se estivesse
agradável,
Porque para o meu ser adequado à existência das cousas
O natural é o agradável só por ser natural.
Aceito as dificuldades da vida porque são o destino,
Como aceito o frio excessivo no alto do Inverno —
Calmamente, sem me queixar, como quem meramente aceita,
E encontra uma alegria no facto de aceitar —
No facto sublimemente científico e difícil de aceitar o natural
inevitável.
Alberto Caeiro, in Poesia, ed Assírio & Alvim, Lisboa, 2001:p.131
Tudo isto faz, assim, pensar em como estas situações denominadas “globais” são apenas de origem local, nos vários locais do mundo de menor consciência global, e que o planeta com todos os seus habitantes do reino animal e vegetal é vítima-global como resultado do somatório das atitudes perfeitamente localizadas e identificáveis, porque o mundo rico se tornou autista.
Das distâncias limite de ambos os pólos da terra em relação ao sol, posição que se alterna nos dois hemisférios nos tempos solsticiais, segue-se o movimento do planeta na direcção das estações equinociais em que em ambos os hemisférios o dia se iguala à noite durante três dias e em que também o calor do dia se iguala ao da noite, com um dos hemisférios protegido pela sombra da noite, enquanto o outro fica iluminado de dia, já que os raios do sol incidem na perpendicular no equador, tempo de calor e de luz para toda a terra nesses breves instantes para de novo voltarem a declinar e repetir condições solsticiais resultantes do movimento conjunto de rotação e de translação da terra à volta do Sol e da posição do seu eixo e plano da elíptica relativamente ao plano do equador-celeste.
A festa milenar de comemoração do nascimento do Sol, ou da Luz, no dia do solstício de Inverno, foi aproveitada pela civilização romana e adaptada mudando a celebração para o dia 25 de Dezembro, fixando esta data até aos nossos dias e fazendo-a coincidir com a do nascimento do Menino Jesus, O Messias, que marca, no império de Roma, o abraçar da religião por Ele pregada nesse império que era antes de deuses pagãos.
O império de Roma tornou-se assim monoteísta e, por isso, os habitantes do império se denominaram católicos, apostólicos romanos, do império que fora de guerra de expansão territorial e de comércio entre os povos conquistados de este a oeste deste lado do Atlântico até aos confins da Europa mais a norte, elegendo Roma como centro e sede da religião que nascia e ainda perdura, depois de Constantino I.
Da celebração do nascimento da Luz passou-se a celebrar o nascimento do filho-Deus no mesmo dia, depois do Concílio de Niceia (ano 336 d.C.), que reuniu os maiores sábios da Igreja que já tinham o conhecimento de toda a tradição e conhecimento da informação dos livros e objectos sagrados, assim como da civilização da Índia e do Egipto, nascendo um novo livro religioso, facto que mudaria a história da Humanidade até com um novo Calendário referido ao nascimento do Filho de Deus que ainda usamos mesmo para datar todos os acontecimentos mundiais da história da Terra e do Homem, incluindo muitas das descobertas arqueológicas, que se referem a Cristo muito simplesmente a.C e d.C; embora “seja dito” que Jesus, que daria lugar a toda a situação histórica e à nossa actual cultura judaico-cristã, poderia ter nascido não em 25 de Dezembro mas sim a 1 de Março no ano V a.C., o que geraria muitas interpretações do Livro dos Livros sendo mais do que 2500 as religiões que o fazem, nessa eterna procura do homem pela origem das coisas que se perdem no tempo mas vão perdurando.
As civilizações mais antigas consideravam o Sol como o filho da Luz e esta representava Deus em vida.
Entre o Druidas esse era o dia da fertilidade sendo que muitas mulheres escolhiam a data para mais tarde “darem à luz.” Para os asiáticos o solstício era um velho de barbas no alto da montanha vestido de vermelho e branco (talvez origem do pai-natal), ser que representava deus na terra e trazia para os homens o seu filho-sol, mas já os egípcios festejavam o solstício com rituais de magia que envolviam o cultivo de sementes e as fecundações.
Os Maias elaboraram um perfeito calendário usando o solstício como início do ciclo do Sol e da Lua na terra – em 21 de Junho e 21 de Dezembro a radiação do sol atinge o seu momento máximo – tendo feito essa projecção até 2012. No hemisfério sul os Incas mais tradicionalistas e outros indígenas das Américas celebram 21 de Junho e 21 de Dezembro, pois que a celebração do “Natal” só foi para as Américas exportada com a catequização feita pelos europeus, na renascença, com os “descobrimentos.”
Com ou sem verdade histórica as “trocas” culturais geram trocas comercias (e vice versa) e o nascimento de novos fluxos de indústrias e serviços, e lucros para quem agarra as ideias e as faz espalhar e comerciar, por vezes acabando com antigas tradições sem pudor pela deformação de culturas e saberes ancestrais mais próximos da “alma” das gentes, uniformizando-se o mundo, talvez em demasia, no que se denomina de “civilizar” e fazer evoluir, até que “um dia” outros homens, desejavelmente, irão recuperar tradições, aproximando-se, assim, da sua essência e procurando não a desvirtuar.
O dia 21 de Dezembro é, porém, o dia do Sol planetário, com ou sem religiões, com ou sem bom ou mau aproveitamento.
É o solstício da Luz-da luz do Sol e da Lua e do nascimento da VIDA na Terra. Fim de um ano para que outro comece.
Todos os homens precisam de datas para os ritmar, festejando na terra os ritmos do céu e sempre foi assim com menor ou maior fidelidade.
Mas vejamos ainda por outros ângulos: Solstício, de sol que nasce, é Zhi no calendário chinês (chegada do Inverno), data de extrema importância e de celebração da passagem do ano em que, igualmente, se celebra o Sabbath neo-pagão Yule.
No oposto, no solstício de Verão e ao pôr-do-sol ao meio dia em Stonehenge, os raios do Sol são perpendiculares ao plano da terra e, portanto, sem sombra.
Embora toda a vida da terra e dos reinos animal e vegetal tenham manifestações derivadas das quatro estações toda a vida depende da energia e da luz do Sol e da Lua, incluindo os ritmos diários do homem e dos mares (marés) – Sol a energia global, Lua o planeta morto e fóssil, sem luz própria, filtro da energia do Sol para com a terra de que é satélite na sua rotação de um dia sobre si mesma e de translação de 28 dias à volta do sol –, macro e micro do planeta e seu satélite a comandar a nossa vida.
O homem tem de encontrar explicação para todas as coisas e em todas as coisas vê sinais e símbolos; agarra-os e usa-os de acordo com o seu tempo e história e dá-lhes a forma mais apetecível.
Fig. 04: ABC
Passou o Outono já, já torna o frio...
- Outono de seu riso magoado.
Álgido Inverno! Oblíquo o sol gelado...
- O sol, e as águas límpidas do rio.
Camilo Pessanha, in Clepsidra-ed. Amar Arte, Coimbra, 1994: p.17-2006 centenário de nascimento.
Tudo o que se passa no céu se reflecte em manifestações de festa, pagã ou religiosa, inspirando-se nas celebrações celestes.
Eterna inspiração do homem com a cabeça nas estrelas e os pés na terra, festejando os deuses ou um só Deus com oferendas e sacrifícios, pois que parece essa é, também, a sua condição de ligar sempre o céu e a terra.
- Outono de seu riso magoado.
Álgido Inverno! Oblíquo o sol gelado...
- O sol, e as águas límpidas do rio.
Camilo Pessanha, in Clepsidra-ed. Amar Arte, Coimbra, 1994: p.17-2006 centenário de nascimento.
Tudo o que se passa no céu se reflecte em manifestações de festa, pagã ou religiosa, inspirando-se nas celebrações celestes.
Eterna inspiração do homem com a cabeça nas estrelas e os pés na terra, festejando os deuses ou um só Deus com oferendas e sacrifícios, pois que parece essa é, também, a sua condição de ligar sempre o céu e a terra.
Fig. 05, in: www.acasadeavalon.hpg.ig.com.br
Os homens governam os homens e o seu destino, fazem a guerra e a paz, governam a terra e os seus recursos mais valiosos, desde os minerais mais escondidos desmontando montanhas para encontrar o oiro ou escavando gigantescas cavernas para lhes sacar diamantes, celebram em obras literárias os duendes da floresta mas dizimam-na para explorar as madeiras preciosas e os seus frutos e animais que abrigam e dela dependem, arrastando também para a “morte” e o silêncio os mais variados e complexos ecossistemas, que dão lugar ao deserto e, na sua ânsia de mais riqueza material, despovoam os mais longínquos territórios e os ecossistemas-humanos interdependentes; e chamam-se de civilizados e evoluídos, exibindo e ostentando a sua capacidade de “vencer a natureza hostil,” daí resultando apenas pobreza da terra e dos Homens.
É ainda notável a forma como Portugal guarda e celebra a tradição ligada a festas pagãs ancestrais e religiosas que as assimilaram, sendo que a Festa do Presépio será, nesta época, das mais importantes e únicas no mundo sendo que, exactamente em 2006, foi desencaixotado depois de séculos arrumado a um canto, certamente um dos maiores e mais belos do mundo, o Presépio renascentista devolvido ao local original – o actual Museu de Ajulejaria de Lisboa – o Convento da Madre Deus, sendo interessante assinalar que pela primeira vez no nosso tempo democrático está aberta no Palácio de Belém uma exposição de Presépios, de iniciativa da mulher do Presidente da República, e a visitar gratuitamente.
E talvez porque a situação económica do país está “em baixa,” tem havido diversas iniciativas da parte de várias entidades privadas e de solidariedade social, incluindo a TV que dia 17 fez uma bela festa arrecadando donativos para os meninos internados no IPO (e UNICEF), parecendo assim haver menos autismo para com aqueles a quem a vida não dá a mão como seja uma festa de pré-natal com almoço e distribuição de roupa para os sem-abrigo, para além da habitual festa dos Hospitais e tantas certamente de que não teremos conhecimento.
Celebremos o Presépio e a Sagrada Família da nossa Tradição Portuguesa.
Maria Celeste d’Oliveira Ramos
Lisboa – Bairro de Santo Amaro
Iniciado a 01 Dezembro de 2006, acabado a 18 Dezembro de 2006.
Nota final: 2006, ano de comemoração de centenários
- Agostinho da Silva (1906-2006).
- Camilo Pessanha (1867-1926) – único livro: Clepsidra.
- Amadeo Sousa Cardoso (1887-1918).
É ainda notável a forma como Portugal guarda e celebra a tradição ligada a festas pagãs ancestrais e religiosas que as assimilaram, sendo que a Festa do Presépio será, nesta época, das mais importantes e únicas no mundo sendo que, exactamente em 2006, foi desencaixotado depois de séculos arrumado a um canto, certamente um dos maiores e mais belos do mundo, o Presépio renascentista devolvido ao local original – o actual Museu de Ajulejaria de Lisboa – o Convento da Madre Deus, sendo interessante assinalar que pela primeira vez no nosso tempo democrático está aberta no Palácio de Belém uma exposição de Presépios, de iniciativa da mulher do Presidente da República, e a visitar gratuitamente.
E talvez porque a situação económica do país está “em baixa,” tem havido diversas iniciativas da parte de várias entidades privadas e de solidariedade social, incluindo a TV que dia 17 fez uma bela festa arrecadando donativos para os meninos internados no IPO (e UNICEF), parecendo assim haver menos autismo para com aqueles a quem a vida não dá a mão como seja uma festa de pré-natal com almoço e distribuição de roupa para os sem-abrigo, para além da habitual festa dos Hospitais e tantas certamente de que não teremos conhecimento.
Natal, festa de solidariedade ao menos uma vez num ano inteiro.
Celebremos o Presépio e a Sagrada Família da nossa Tradição Portuguesa.
Maria Celeste d’Oliveira Ramos
Lisboa – Bairro de Santo Amaro
Iniciado a 01 Dezembro de 2006, acabado a 18 Dezembro de 2006.
Nota final: 2006, ano de comemoração de centenários
- Agostinho da Silva (1906-2006).
- Camilo Pessanha (1867-1926) – único livro: Clepsidra.
- Amadeo Sousa Cardoso (1887-1918).
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Gostei da ousadia deste texto, da sua ética ecológica radical, pois em Portugal não temos movimentos ecológicos mas associações de ambientalistas subsidiadas pelo Estado. Contudo, não sou ecologista neste sentido depurado e panteísta (nem sequer no outro). Releio o texto (2 de Janeiro de 2007) num momento em que na Costa da Caparica se reivindica (autarcas, moradores e comerciantes da zona) uma intervenção mais dura e tradicional da Engenharia Civil contra as soluções provisórias e de «emergência» mandadas por um Instituto Nacional da Água constrangido por figuras de ordenamento do território traçadas a régua e esquadro e por regras de «preservação da natureza» que não têm em consideração as populações locais, a sua «tradição» de uso e ocupação do solo e as suas expectativas de desenvolvimento. E não sei se é tão correcto (nem se o texto faz isso) dividir o «mundo rico» do «mundo pobre» como se dividem hemisférios: também os Países ricos têm as suas bolsas de pobreza, o seu «terceiro-mundo interior», e os Países pobres têm elites enriquecidas às custas da exploração de matérias-primas quando não envolvidas no negócio das armas e no tráfico de «carne humana», que o «mal» não divide hemisférios (mas talvez a autora tenha incluído as elites de governantes dos dois hemisférios nessa mesma designação: «porque o mundo rico se tornou autista»). Precisamente (voltando a um exemplo dado no texto) na Costa da Caparica serão os «mais pobres» a ter que sair... assim como na «área protegida» da Arrábida quem está a mais são os pescadores, e não a cimenteira que até viu prolongado o seu licenciamento e a autorização (vandalizando-se a consulta pública de instrumentos de gestão da área do Parque) para a co-incineração de resíduos perigosos e industriais (há quem queira mudar o nome a estes resíduos, por conveniência semântica). E que dizer de um Instituto da Conservação da Natureza que autoriza que os motores e as vaidades de um Lisboa-Dakar invadam áreas costeiras e paisagens protegidas???? A natureza não pode transformar-se num discurso de circunstância variável... Por isso este é um texto corajoso, radical como poucos «defensores da natureza» portugueses terão autoridade moral para o subscrever.
(Comentário de João L. Craveiro).
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