quarta-feira, março 27, 2024

Morfologia urbana em Braga-Portugal e em Aracaju-Brasil; Braga: morfologia urbana e integração no sistema urbano português – Infohabitar # 895

Ligação direta a documento pdf com links para 888 artigos e 39 temas do Infohabitar :

https://drive.google.com/file/d/1zUJ1nEuWwaaA6KEXQ9XXdWMwFE3C8cJY/view?usp=sharing


Morfologia urbana em Braga-Portugal e em Aracaju-Brasil; Braga: morfologia urbana e integração no sistema urbano português – Infohabitar # 895 

Infohabitar, Ano XX, n.º 895

Edição: quarta-feira, 27 de março de 2024 

Artigo XV da série editorial da Infohabitar “Segregação sócio-espacial em contexto urbano. Um estudo comparativo entre Braga - Portugal e Aracaju-Brasil”. A presente série editorial integra uma sequência de capítulos da tese de doutorado de Anselmo Belém Machado intitulada “Segregação sócio-espacial em contexto urbano, através de um estudo comparativo entre Braga - Portugal e Aracaju-Brasil”, adaptada, pelo respetivo autor, especificamente, para esta iniciativa editorial na Infohabitar.

Atualidades: Notícias do 5.º CIHEL

Lembramos o leitor de que tem ainda quase uma semana para enviar resumos com propostas de artigos a submeter ao 5.º CIHEL; referindo que a temática D ligada aos importantes aspetos da promoção habitacional e a temática C, ligada aos vitais aspetos da qualidade construtiva são temáticas onde seria interessante que houvesse novos resumos.

 


Editorial

Caros leitores da Infohabitar,

Com o presente artigo continuamos uma pequena secção de “atualidades”, que nos irá acompanhar semanalmente e que, com frequência, divulgará matérias ligadas ao desenvolvimento do 5.º Congresso Internacional da Habitaçao no Espaço Lusófono – 5.º CIHEL – que decorrerá em Lisboa entre 2 e 4 de outubro de 2024; e que também irá focar aspetos ligados à atual reativação das atividades da GHabitar-APPQH.

Também com o presente artigo asseguramos a continuidase da série editorial dedicada à temática geral da “Segregação sócio-espacial em contexto urbano”, através de um estudo comparativo entre Braga - Portugal e Aracaju-Brasil e que agora, e nas próximas semanas, abordará mais especificamente,um conjunto de subtemas ligados ao tema da Morfologia urbana em Braga-Portugal e em Aracaju-Brasil.

Informa-se que a matéria editorial ligada ao estudo da habitação intergeracional participada está agora suspensa, em princípio, até ao início de 2024, altura em que a retomaremos numa fase que se julga muito interessante e de divulgação de bases editoriais e de referência de soluções e casos habitacionais intergeracionais.

O presente conjunto de artigos sobre Segregação sócio-espacial em contexto urbano”, que agora continuamos a editar, abordando especificamente a temática da morfologia urbana, foi desenvolvido pelo Professor Anselmo Belém Machado um dos mais assíduos articulistas da nossa Infohabitar, e que, assim, e com base na adaptação da sua tese de doutoramento a uma sequência de artigos, nos tem já acompanhado, ao longo de algumas semanas.

Saudamos, então, e sempre, o colega e amigo Anselmo Belém Machado, por esta excelente e substancial contribuição editorial para a Infohabitar.

Recorda-se que serão sempre muito bem-vindas eventuais ideias comentadas sobre os artigos aqui editados e propostas de novos artigos (a enviar, ao meu cuidado, para abc.infohabitar@gmail.com).

Com as melhores saudações a todos os caros leitores,     

Lisboa, Encarnação, Olivais Norte, em 27 de março de 2024

António Baptista Coelho

Editor da Infohabitar


Morfologia urbana em Braga-Portugal e em Aracaju-Brasil; Braga: morfologia urbana e integração no sistema urbano português – Infohabitar # 895

Anselmo Belém Machado

 

Resumo curricular de Anselmo Belém Machado

Doutor em geografia Humana pela Universidade do Minho (Portugal). Com mestrado em Organização do Espaço Rural no Mundo Subdesenvolvido, licenciado e bacharel em geografia na Universidade Federal de Sergipe (Brasil). O autor tem experiência profissional em ensino, pesquisa e extensão nas seguintes Universidades: Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Atualmente é professor associado no Departamento de Geografia da Universidade Federal de Sergipe (UFS). O autor tem as seguintes áreas de interesse: Geografia Humana, Geografia Urbana e em Estudos de Segregação Sócio Espacial (Portugal e Brasil). 


Série Editorial sobre Segregação Sócio-espacial em Contexto Urbano: Texto de apresentação

Face ao contexto actual de urbanização acelerada, são vários os desafios que se colocam ao desenvolvimento das cidades contemporâneas, de entre os quais aqueles que se relacionam com a urgência de novas políticas de gestão urbana, capazes de promover um urbanismo inclusivo que contribua para o surgimento de cidades socialmente mais coesas, integradas e justas. Assim, importa reforçar o conhecimento existente em torno das dinâmicas urbanas de segregação sócio- espacial. Este trabalho contribui para esta reflexão a partir de uma investigação que se singulariza por uma abordagem comparativa desenvolvida a dois níveis. Por um lado, trata-se de um estudo de geografia urbana que privilegia a comparação entre duas cidades (Braga em Portugal e Aracaju no Brasil), que embora se enquadrem em países diferentes e com culturas e realidades sócio- econômicas específicas, enfrentam ambas processos de segregação sócio-espacial no interior das suas malhas urbanas. Por outro lado, trata-se de um estudo que confronta simultaneamente a análise de dinâmicas espaciais distintas, quer a concentração de cidadãos de baixo nível sócio- económico (segregação imposta), quer a realidade oposta onde a homogeneidade sócio- económica de algumas bolsas territoriais se faz sentir pela presença exclusiva de cidadãos de altos rendimentos (auto-segregação).


Morfologia urbana em Braga-Portugal e em Aracaju-Brasil; Braga: morfologia urbana e integração no sistema urbano português – Infohabitar # 895


Nota editorial: a presente temática da Morfologia urbana em Braga-Portugal e em Aracaju-Brasil é aqui apresentada em cinco partes/artigos, editados em semanas subsequentes na Infohabitar, e correspondentes aos cinco subtemas em seguida apontados, estando marcada a negrito/bold a subtemática desenvolvida no artigo atual:

(i) Portugal: desigualdades e morfologia urbana

(ii) Braga: morfologia urbana e integração no sistema urbano português

(iii) Brasil: desigualdades e morfologia urbana

(iv) Aracaju: morfologia urbana e integração no sistema urbano brasileiro

(v) Breve análise comparada de Braga e Aracaju e dos espaços de segregação sócio- espacial analisados no estudo empírico

 

 

(ii) Braga: morfologia urbana e integração no sistema urbano português

Neste ponto procura-se apresentar uma breve análise sobre a morfologia urbana da cidade de Braga - a população de Braga é de 181,2 mil habitantes, com base na estimativa de 2016, realizado pelo INE -, com o intuito de enquadrar a problemática da segregação sócio-espacial nesta cidade que é considerada a terceira cidade de Portugal, pela sua importância económica, diversidade cultural e extenso registro histórico com elementos patrimoniais desde a antiguidade. Tida como a cidade


 mais antiga de Portugal (mesmo antes de Portugal existir como país), foi fundada ainda na antiguidade, durante o Império Romano, denominada então de Bracara Augusta. Assim, Braga assumiu desde cedo um papel central na organização do sistema urbano do noroeste peninsular. “A implantação de Bracara Augusta como capital provincial romana, marcou uma forte condição de centralidade que foi posteriormente reforçada com a sua elevação a capital da nova província da Galaecia.” (Brito et al, 2015, p.9).

Por esta importância histórica compreende-se que a cidade de Braga tenha passado por várias transformações no seu espaço construído, sendo muitas vezes reformada, com parte da cidade destruída e posteriormente reconstruída, adquirindo assim com o tempo várias morfologias resultantes da acção de vários povos que foram habitando o seu espaço urbano. Vários sinais resistiram até hoje dessas diferentes morfologias, particularmente vários monumentos históricos e religiosos, como por exemplo a presença de várias igrejas que datam do período medieval e que revela a importância do clero na região, o que lhe confere o título de cidade dos arcebispos.

 

“Braga inclui-se no conjunto de cidades europeias que possui uma longa tradição histórica. Nos seus mais de 2000 anos de existência, a cidade conheceu um processo de formação específico que determinou muitas das suas características morfológicas actuais. Na realidade, a cidade de Braga é hoje resultado de um percurso complexo, onde “distintas” cidades se foram edificando ao longo dos tempos, num espaço em que se encontram e se entrelaçam diferentes marcas e vestígios materiais dos seus sucessivos períodos de ocupação.” (Ribeiro, 2009/10, p.179)

Outro desses sinais relaciona-se com o papel das vias romanas na formação e desenvolvimento periférico da cidade de Braga. Ribeiro e Martins (2016) desenvolveram um estudo com o qual procuraram analisar precisamente o impacto que as vias romanas tiveram na morfologia que caracterizou a periferia urbana desta cidade, desde a sua fundação, no período romano, até à atualidade. Segundo esses autores:

“Estrategicamente implantada no território, a cidade possuía um plano ortogonal e encontrava-se ligada a outras importantes cidades hispânicas por um conjunto de itinerários principais, que começaram a ser construídos ainda no tempo de Augusto. (Ribeiro e Martins, 2016, p.29).”

O plano ortogonal resultante do traçado dessas vias e a articulação da cidade com a sua envolvente é visível na planta da malha urbana de Braga na época do Império Romano (Figura 4). Pela análise desta planta observa-se o traçado quadricular da cidade no período romano, que foi posteriormente sofrendo alterações variadas com o passar dos séculos.

Assim, a cidade desde a antiguidade já possuía um certo tipo de registo previamente planeado, visível na construção das ruas e estradas, com traçados que a interligavam a outros aglomerados. Sendo que na perspectiva da evolução da sua morfologia este foi um dos aspectos que mais condicionou a sua transformação nos séculos seguintes.

 

Figura 4. Planta da malha urbana de Braga na época do Império Romano

 

 Fonte: Ribeiro, 2009/10, p.186

 

“Assim, foi possível constatar que a rede viária romana desempenhou um papel estruturante na organização da cidade alto medieval, bem como das suas áreas periféricas, algumas das quais foram posteriormente incluídas na cidade tanto medieval, moderna e contemporânea. A urbanização dos antigos caminhos romanos foi progressiva e resultou de um complexo conjunto de fatores que resultou na sua conversão em ruas.” (Ribeiro e Martins, 2016, p.36).

 

Ribeiro e Martins (2016, pp.28-29) reforçam a importância de se utilizarem documentos históricos para a análise da morfologia urbana de Braga, tais como desenhos e indícios de “mapas” que existiam tanto na antiguidade quanto na idade média, assim como posteriormente plantas topográficas, nos séculos XVIII e XIX. Nesse sentido também Bandeira (2001) reforça a importância de se utilizarem os documentos históricos da cidade de Braga, para entender melhor a evolução da sua morfologia, após as transformações recente ocorridas no espaço urbano. É o caso por exemplo da planta de Braga do século XVI (Figura 5), onde se observa o formato circular da malha urbana, com uma muralha ao redor evidenciando a necessidade de proteção contra os invasores, que eram comuns na época. Na parte externa do círculo central, existiam plantações e certamente servos que cuidavam dessas plantações e colheitas, para atender às elites do Antigo Regime.

 

Figura 5. Planta de Braga no século XVI

 

Fonte: Urbivisão de Braunio (1594) em Ribeiro e Martins, 2016, pp-29.

 

Não é objectivo deste trabalho apresentar uma análise detalhada da evolução da morfologia urbana desta cidade, que ao longo dos séculos foi sendo condicionada por acontecimentos muito diversos e múltiplas decisões, tomadas pelos mais diversos agentes governamentais de épocas passadas com responsabilidades na transformação deste espaço urbano, cuja expansão territorial esteve durante largos séculos limitada e condicionada pelas características dos meios de transporte existentes. 

“Continuamente o processo de urbanização fazia-se sentir. Contudo, devido à ausência de recursos e meios de transporte, continuavam a não existir condições para as cidades passarem um determinando limiar. Isto porque os transportes são um factor fundamental no que diz respeito à concentração nas cidades, tornando possível a deslocação das pessoas. Sem meios de transportes à altura, uma cidade está limitada na extensão da ocupação do território.” (Rodrigues, 2009, p.11).

Nesse sentido, nota-se que os meio transporte, existentes em cada época, influenciaram a dimensão e a forma urbana. Por exemplo, no século XIX existiam várias vias de acesso à área central de Braga (Figura 6), rodovias que possibilitavam o deslocamento dos residentes em Braga para outras localidades assim como a chegada de visitantes à cidade, facilitando o deslocamento das pessoas e o comércio existente na época. Vias essas que se percebe terem sido determinantes no desenvolvimento urbano, económico e cultural da cidade.

Sendo que é a partir da presença mais forte do automóvel nas cidades, que estas passaram a ter a necessidade de ruas e avenidas mais largas, ocorrendo múltiplas transformações para adequar as suas ruas e avenidas à presença e fluxo dos automóveis. Assim e nas palavras de Maricato (2011, p.171) o automóvel passou a determinar o espaço construído das cidades à medida em que se tornava mais popular e ia se generalizando, interferindo diretamente na definição da forma urbana. Este é um processo que foi ocorrendo mundialmente e a cidade de Braga não escapou a esse contexto histórico e tecnológico, que revelou uma expansão territorial considerável com o aumento contínuo da taxa de motorização da sociedade.

 

Figura 6. Cidade de Braga no Século XIX


 Fonte: Ribeiro, M. do C. (2009/2010).

 

Outro aspecto relevante que interferiu com a evolução da cidade de Braga relaciona-se com a importância que esta foi assumindo no processo de controlo e organização administrativa do território, assumindo-se como um aglomerado urbano relevante na estruturação do sistema urbano nacional e regional, o que se expressa no facto de Braga se ter assumido como uma cidade de grande influência regional ao nível económico, político, cultural e religioso. Este papel estratégico foi sobretudo reforçado com a reorganização administrativa do país que em meados do século XX vai constituir os distritos, assumindo Braga o papel de capital de um dos mais importantes distritos da região noroeste de Portugal (Figura 7). O distrito de Braga agrega um total de 14 concelhos: Amares, Barcelos, Braga, Cabeceiras de Basto, Celorico de Basto, Esposende, Fafe, Guimarães, Póvoa de Lanhoso, Terras de Bouro, Vieira do Minho, Vila Nova de Famalicão, Vila Verde e Vizela.

Assumindo-se como capital de distrito Braga aglomerou um conjunto de serviços desconcentrados do poder central sedeado em Lisboa, que passaram a localizar-se nas capitais de distrito não com qualquer propósito de descentralização mas apenas para fins de facilitação da organização e gestão administrativa do território nacional. A concentração desses serviços e equipamentos em Braga reforçou a sua atractividade e motivou também o crescimento e expansão da sua mancha urbana.

Actualmente a divisão distrital perdeu importância na organização administrativa do país, sobretudo após a sua integração na União Europeia, mas apesar disso Braga tem conseguido manter e atrair equipamentos e serviços públicos relevantes e de influência regional, pelo que tem conseguido manter esse papel de aglomerado urbano de importante referência estratégica regional, a nível económico, político, religioso e cultural. 

 

Figura 7. Distrito de Braga e seus concelhos


 

0                   20Km

Fonte:http://www.espiritoviajante.com/mapa-de-portugal-geografia-turismo/ (14/10/2018).


Este papel de cidade de influência regional tem feito com que em termos funcionais Braga aglomere um conjunto de actividades (públicas e privadas) que reforçam a sua atractividade e impulsionam o seu crescimento demográfico com reflexo na grande expansão da sua mancha urbanística. Contudo importa frisar que este processo foi ocorrendo a par de um êxodo rural que afectou as localidades vizinhas.

Analisando o sistema urbano português, Mendes (2014) em seu livro “O Futuro das Cidades” refere que um dos principais desafios que se colocam às cidades portugueses, é a necessidade do aumento da sua massa crítica, defendendo para isso três vias possíveis. 

“Portugal precisa de cidades maiores, com dimensões que viabilizem a ignição frequente dos processos espontâneos, típicos da cidade incubadora. Para este propósito de crescimento, vejo três caminhos possíveis: a fusão de cidades, a constituição de redes e o crescimento estratégico de cada cidade. A fusão aplica-se às cidades adjacentes, situadas nas áreas metropolitanas, que apresentam tecidos urbanos contínuos e contíguos, e fortes relações funcionais. (Mendes, 2014, p.110).

Na estratégia associada à constituição de redes, Mendes (2014) destaca a importância destas terem uma cidade dominante, mas capaz de garantir uma coesão articulada entre os diferentes nós urbanos dessa rede. No caso de Braga o seu futuro passará pela afirmação desse seu papel na rede urbana regional em que está inserida, nomeadamente o Quadrilátero Urbano composto por Braga, Guimarães, Vila Nova de Famalicão e Barcelos. Sendo que segundo o site oficial da Câmara Municipal de Braga (13) uma das principais prioridades estratégicas para esta rede urbana relaciona-se com a melhoria da mobilidade entre os quatro municípios, que fazem parte do quadrilátero urbano. O papel de cidade dominante na organização dessa rede urbana regional é necessariamente de Braga, pois Mendes (2014) considera-a posicionada num nível superior de organização do sistema urbano nacional. Referindo que para além de Lisboa e Porto existem em Portugal um conjunto de cidades que apresentam um potencial assinalável, embora pareçam estar adormecidas do ponto de vista da visão estratégica. À cabeça deste grupo estão Braga e Coimbra.

Braga assume este protagonismo por ser

“uma cidade em crescimento contínuo, que começa já a aproximar-se dos 200 mil habitantes, com a particularidade de ter uma população muito jovem. Dispõe de uma universidade de investigação, que cobre todas as áreas do conhecimento e que está já fortemente internacionalizada. Ainda no domínio da produção de conhecimento, está em fase de arranque o Instituto Internacional Ibérico de Nanotecnologia (INL), uma iniciativa dos governos de Portugal e da Espanha, que albergará algumas centenas de cientistas de todo mundo. Por outro lado, a cidade e sua envolvente têm dado mostra de grande apetência para o empreendedorismo de base tecnológica.” (Mendes, 2014, pp. 117).

De acordo com o plano estratégico para o desenvolvimento económico de Braga, que foi definido para o período de 2014 a 2016 (CMB, 2013), esta cidade foi reconhecida como uma cidade inovadora, com grande dinâmica empreendedora e base tecnológica, para o que muito contribui a Universidade do Minho, em que um dos seus pólos se localiza na cidade de Braga. Reforçando essas virtudes, Braga continua ampliando a qualidade de vida pela quantidade de obras nos projetos de regeneração urbana realizados nos últimos anos, o que a torna uma cidade, intitulada como feliz, sustentável, de forte dinâmica social, cultural e religiosa. Para além da importância da Universidade na qualificação dos recursos humanos e no estímulo à inovação e ao desenvolvimento e transferência de tecnologia e criatividade para o sistema produtivo regional, Mendes (2014) destaca também a importância significativa da cidade enquanto pólo de atração turística. Atractividade esta associada ao seu potencial no turismo religioso, pelo património diverso que possui nesta temática, de que se destaca o seu Centro Histórico, com as suas muitas igrejas, edifícios públicos, praças e prédios medievais e ruas estreitas (Fotografia 1) e o complexo religioso do Bom Jesus, recentemente classificado como Património da Humanidade pela UNESCO, que afirma Braga como importante pólo de atração de cidadãos portugueses, europeus e de muitos outros países.

 

Fotografia 1. Centro Histórico da Cidade de Braga e seu enquadramento urbanístico

 

Fonte: https://cidadesemfotos.blogspot.com/2013/06/fotos-de-braga-portugal.html (29/10/19).

 

Para este reconhecimento e atractividade turística da cidade de Braga tem também contribuído um esforço assinalável na regeneração urbana do seu centro. As melhorias vão desde a conservação do património histórico e cultural, investimentos em novas calçadas para pedestres (Fotografia 2 e 3), novos acessos para cadeirantes e idosos, medidas de gestão e controle do tráfego de veículos no interior do centro histórico, assim como medias de incentivo ao uso de bicicletas nos percursos de mobilidade intra-urbana (Fotografia 4).

 

Fotografia 2. Requalificação do espaço público da Avenida da Liberdade centro de Braga

 

Fonte: Acervo de Anselmo Belém Machado. Avenida da Liberdade - Centro de Braga-Portugal. 19-10-2012.

 

 

Fotografia 3. Exemplo dos investimentos contínuos na requalificação do espaço público de Braga

 

Fonte: Acervo de Anselmo Belém Machado. Ruas próximas ao centro sendo restauradas. Braga-Portugal. (19-10-2012).

 

Fotografia 4. Ponto de aluguer de bicicletas no centro de Braga

 

Fonte: Acervo de Anselmo Belém Machado. Centro da cidade de Braga- Portugal. (19-08-2012).

 

Resultante da acção destes múltiplos elementos que pontuam a atractividade da cidade de Braga, a sua mancha urbana tem crescido significativamente nos últimos anos e de modo contínuo, de tal forma que actualmente a malha urbana de Braga alcançou uma dimensão considerável estruturada por uma renda densa de circulação (avenidas, ruas, viadutos…), envolvendo no conjunto várias freguesias (Figura 8).

 

Figura 8. Imagem de satélite da malha urbana de Braga na actualidade

 

Fonte: https://www.google.com/maps/@41.5518212,-8.4496372,12608m/data=!3m1!1e3 (12/19/2019).

 

Na sequência deste processo de expansão urbana têm também surgido vários problemas, muitos dos quais associados a fenómenos de segregação socio-espacial. A este respeito Martins (2017) refere que em Braga, a partir de década de 1980 foi sendo agravado a segregação sócio-espacial, decorrente sobretudo da construção de bairros sociais destinados ao alojamento da população economicamente mais carenciada. Segundo o Diagnóstico Social do Conselho de Braga (BRAGAHABIT; 2003), são destacados como principais cinco bairros sociais em Braga (Enguardas, Andorinhas, Ponto dos Falcões, Santa Tecla e Complexo Habitacional do Picoto). São bairros com altos custos de manutenção segundo o Presidente da BRAGAHABIT, e que necessitam de investimentos de forma continuada.

 

“Bairros sociais saem caros, Braga ainda mantém quatro bairros sociais, que alojam 471 famílias. Santa Tecla, Andorinhas, Enguardas e Ponte dos Falcões têm mais de 30 anos e precisavam urgentemente de obras de reabilitação quando, há seis, foram comprados ao Instituto de Gestão e Administração Pública. Melhorar as condições de habitabilidade e minimizar a possibilidade de fricções sociais eram os objectivos.” (Nogueira, 2009).

Martins (2017) efectuou um inquérito a uma amostra representativa de residentes na cidade de Braga com o propósito de conhecer as percepções destes em relação aos bairros sociais que consideram mais problemáticos na sua cidade. Foram referenciados 7 bairros sociais como áreas problemáticas na cidade de Braga (Figura 9), sendo que se destacam 3 principais. O Bairro de Santa Tecla construído em 1979 e localizado na freguesia de São Vítor, referido como sendo uma área problemática da cidade de Braga por quase 2/3 dos residentes de Braga (64%). Este bairro tem um total de 181 habitações que alojam cerca de 500 indivíduos, sendo o maior do município e o que revela uma maior diferenciação de base cultural, uma vez que 52% da população que nele reside é de etnia cigana (Ribeiro, 2015; Fernandes, 2015). Na perceção dos residentes da cidade, a segunda área mais problemática é o bairro social das Enguardas, situado na freguesia de São Vítor, com cerca de 180 habitações. Por fim, o bairro social das Andorinhas, que será analisado no estudo empírico desta tese, assume o terceiro lugar na hierarquia das áreas mais problemáticas da cidade de Braga na perspetiva dos seus residentes.


Figura 9. Bairros sociais considerados mais problemáticos na perspectiva dos habitantes de Braga

 

Fonte: Martins (2017, p. 83)

 

No âmbito destas políticas urbanas de habitação social, investimentos públicos realizados na cidade de Braga vieram a atribuir um tecto a população que enfrentava problemas habitacionais graves, mas, por outro lado, estas ações reforçaram o aprofundamento da separação física dos menos favorecidos em relação aos economicamente mais privilegiados, contribuindo assim para o problema da segregação sócio-espacial que se faz sentir nesta cidade. No estudo acerca destes bairros sociais em Braga, Martins (2017) identificou alguns do principais factores que levam a que a população que neles reside não se sinta integrada na cidade de que faz parte, nomeadamente a imagem negativa que sobre esses bairros se criou associada a ações ilícitas que neles ocorrem, tais como uso de drogas e desentendimentos entre moradores. Este processo de estigmatização reforça o isolamento destes bairros em relação à restante cidade. Assim, a cidade de Braga que revela uma crescimento urbanístico muito dinâmico, com uma população jovem na demografia nacional, e onde se detectam importantes apostas de inovação tecnológica em grande parte decorrente da presença nesta cidade de um dos campus da Universidade do Minho, é simultaneamente uma cidade onde estão presentes vários problemas de segregação sócio- espacial, para cujo conhecimento este trabalho procura contribuir.

 

Notas:

(13) https://www.cm-braga.pt/pt/0201/comunicacao/noticias/item/item-12197?q=quadril%C3%

 A1tero+urbano (09-10-19).

 

Notas editoriais gerais:

(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.

(ii) No mesmo sentido, de natural responsabilização dos autores dos artigos, a utilização de quaisquer elementos de ilustração dos mesmos artigos, como , por exemplo, fotografias, desenhos, gráficos, etc., é, igualmente, da exclusiva responsabilidade dos respetivos autores – que deverão referir as respetivas fontes e obter as necessárias autorizações. 

(iii) Para se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.


Morfologia urbana em Braga-Portugal e em Aracaju-Brasil; Braga: morfologia urbana e integração no sistema urbano português – Infohabitar # 895

Infohabitar, Ano XX, n.º 895

Edição: quarta-feira, 27 de março de 2024

Infohabitar

Editor:

António Baptista Coelho, Arquitecto (ESBAL), doutor em Arquitectura (FAUP), Investigador Principal com Habilitação em Arquitectura e Urbanismo (LNEC)

abc.infohabitar@gmail.com

Edição:

Olivais Norte,  Encarnação, Lisboa;  e Casa das Vinte, Casais de Baixo, Azambuja.

A Infohabitar é uma Revista da GHabitar Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar – Associação atualmente com sede na Federação Nacional de Cooperativas de Habitação Económica (FENACHE) e anteriormente com sede no Núcleo de Arquitectura e Urbanismo do LNEC.

Apoio à Edição: José Baptista Coelho - Lisboa.

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