quarta-feira, agosto 10, 2022

Velhice e solidão ou convívio no habitar II – versão de trabalho e base bibliográfica – Infohabitar # 826

Ligação direta (clicar no link seguinte) para aceder à listagem interativa de 800 Artigos editados na Infohabitar – edição de janeiro de 2022 com links revistos em junho de 2022 (38 temas e mais de 100 autores):

https://docs.google.com/document/d/1WzJ3LfAmy4a7FRWMw5jFYJ9tjsuR4ll8/edit?usp=sharing&ouid=105588198309185023560&rtpof=true&sd=true


Velhice e solidão ou convívio no habitar II – versão de trabalho e base bibliográfica – Infohabitar # 826

Infohabitar, Ano XVIII, n.º 826


Edição: quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Devido à grande extensão do tema/artigo este foi dividido em duas partes, editadas nesta e na última semanas.


Artigo XIV da série editorial da Infohabitar “PHAI3C – Programa de Habitação Adaptável e Intergeracional através de uma Cooperativa a Custo Controlado”



Caros leitores da Infohabitar,


Com o presente artigo damos continuidade à série editorial da Infohabitar especificamente dedicada a uma abordagem global e bibliográfica dos amplos, sensíveis e urgentes aspetos associados às necessidades, aos gostos e às potencialidades sociais e urbanas de uma reflexão prática sobre os espaços residenciais dedicados a pessoas idosas e fragilizadas, desejavelmente integrados em quadros intergeracionais, ativamente urbanos e dinamizados e convivializados pelas cooperativas que estão, desde há dezenas de anos, dedicadas à promoção de habitação de interesse social com expressiva qualidade e frequentemente associada a um amplo leque de variadas e vitais atividades vicinais e urbanas – as Cooperativas associadas à Federação Nacional de Cooperativas de Habitação Económica (FENACHE).

Lembra-se, como sempre, que serão sempre muito bem-vindas eventuais ideias comentadas sobre os artigos aqui editados e propostas de artigos (a enviar para abc.infohabitar@gmail.com).

Despeço-me, até à próxima semana, enviando saudações calorosas e desejos de força e de boa saúde para todos os caros leitores,     


Lisboa, em 10 de agosto de 2022

António Baptista Coelho

Editor da Infohabitar


Nota introdutória à temática do Programa de Habitação Adaptável Intergeracional – Cooperativa a Custos Controlados (PHAI3C)

Considerando-se o atual quadro demográfico e habitacional muito crítico, no que se refere ao crescimento do número das pessoas idosas e muito idosas, a viverem sozinhas e com frequentes necessidades de apoio, a actual diversificação dos modos de vida e dos desejos habitacionais, e a quase-ausência de oferta habitacional e urbana adequada a tais necessidades e desejos, foi ponderada o que se julga ser a oportunidade do estudo e da caracterização de um Programa de Habitação Adaptável Intergeracional (PHAI), adequado a tais necessidades e a uma proposta residencial naturalmente convivial, eficazmente gerida e participada e financeiramente sustentável, resultando daqui a proposta de uma Cooperativa a Custos Controlados (3C).

O PHAI3C visa o estudo e a proposta de soluções urbanas e residenciais vocacionadas para a convivência intergeracional, adaptáveis a diversos modos de vida, adequadas para pessoas com eventuais fragilidade físicas e mentais, mas sem qualquer tipo de estigma institucional e de idadismo, funcionalmente mistas e com presença urbana estimulante. O PHAI3C irá procurar identificar e caracterizar tipos de soluções adequadas e sensíveis a uma integração habitacional e intergeracional dos mais frágeis num quadro urbano claramente positivo e em soluções edificadas que possam dar resposta, também, a outras novas e urgentes necessidades habitacionais (ex., jovens e pessoas sós), num quadro residencial marcado por uma gestão participada e eficaz, pela convivialidade espontânea e social e financeiramente sustentável.

Trata-se, tal como se aponta no título do artigo, de uma “versão de trabalho e base bibliográfica” e, portanto, de um artigo cujos conteúdos serão, ainda, substancialmente revistos até se atingir uma versão estabilizada da temática referida no título; no entanto, em virtude da metodologia usada, que se considera bastante sólida, marcada pelo recurso a abundantes referências de fontes, devidamente apontadas e sistematicamente comentadas no sentido da respetiva aplicação ao PHAI3C, e tendo-se em conta a utilidade de se poder colocar à discussão os muitos aspetos registados no sentido da sua possível aplicação prática no PHAI3C, considerou-se ser interessante a divulgação desta temática/problemática nesta fase de “versão de trabalho”, que, no entanto, foi já razoavelmente clarificada – como exemplo do posterior tratamento para passagem a uma versão mais estável teremos, provavelmente, referências bibliográficas mais reduzidas e boa parte delas em português, assim como comentários mais desenvolvidos; mas mesmo este desenvolvimento irá sendo influenciado pelo(s) caminho(s) concreto(s) tomado(s) pelos diversos temas e artigos que integram, desde já, a estrutura pensada para o designado documento-base do PHAI3C, que surgirá, em boa parte, da ligação razoavelmente sequencial entre os diversos temas abordados em variados artigos.

Ainda um outro aspeto que se sublinha marcar, desde o início, o teor do referido documento-base do PHAI3C (a partir do qual serão gerados vários documentos específicos: mais de enquadramento e mais práticos) é o sentido teórico-prático que privilegia uma abordagem mais integrada e exemplificada da temática global da habitação intergeracional adaptável e cooperativa, apontando-se exemplos e ideias concretas logo desde as partes mais de enquadramento da abordagem da temática como as que se desenvolvem neste artigo.

Notas introdutórias ao novo e presente conjunto de artigos sobre habitação intergeracional

O presente artigo inclui-se numa série editorial dedicada a uma reflexão temática exploratória, que integra a fase preliminar e “de trabalho”, dedicada à preparação e estruturação de um amplo processo de investigação teórico-prático, intitulado Programa de Habitação Adaptável Intergeracional Cooperativa a Custos Controlados (PHAI3C); programa/estudo este que está a ser desenvolvido, pelo autor destes artigos, no Departamento de Edifícios do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), e que integra o Programa de Investigação e Inovação (P2I) do LNEC, sublinhando-se que as opiniões expressas nestes artigos são, apenas, dos seus autores – o autor dos artigos e promotor do PHAI3C e os numerosos autores citados no texto.

Neste sentido salienta-se o papel visado para o presente artigo e para aqueles que o precederam e os que lhe darão continuidade, no sentido de se proporcionar uma divulgação que possa resultar numa desejável e construtiva discussão alargada sobre as muito urgentes e exigentes matérias da habitação mais adequada para idosos e pessoas fragilizadas, visando-se, não apenas as suas necessidades e gostos específicos, mas também o papel e a valia que têm numa sociedade ativa e integrada.

Nesta perspetiva e tendo-se em conta a fase preliminar e de trabalho da referida investigação, salienta-se que a forma e a extensão do texto que é apresentado no artigo reflete uma assumida apresentação comentada, minimamente estruturada, de opiniões e resultados de múltiplas pesquisas, de muitos autores, escolhidos pela sua perspetiva temática focada e por corresponderem a estudos razoavelmente recentes; forma esta que fica patente no significativo número de citações – salientadas em itálico –, algumas delas longas e incluídas na língua original.

Julga-se que não se poderia atuar de forma diversa quando se pretende, como é o caso, chegar, cuidadosamente, a resultados teórico-práticos funcionais e aplicáveis na prática, e não apenas a uma reflexão pessoal sobre uma matéria bem complexa como é a habitação intergeracional adaptável desenvolvida por uma cooperativa a custos controlados e em parte dedicada a pessoas fragilizadas.

Solicita-se a compreensão dos leitores para lapsos e problemas de edição que, sem dúvida, acontecem no texto que se segue, mas a opção era prolongar, excessivamente, o período de elaboração de um texto que, afinal, se pretende seja essencialmente prático; as próximas edições serão complementarmente revistas e melhoradas.


Velhice e solidão ou convívio no habitar II – versão de trabalho e base bibliográfica – Infohabitar # 826

António Baptista Coelho

António Baptista Coelho  – com base direta nos textos, ideias e opiniões dos autores referidos ao longo dos documentos que integram a listagem bibliográfica registada no final do artigo.


Resumo

Na primeira parte do artigo referido à temática da velhice e, ou da velhice e convívio no habitar, desenvolveram-se primeiro alguns aspetos relativos ao respetivo quadro físico aplicado e, em seguida, a matéria da diferença entre uma solidão imposta e uma seclusão opcional e acompanhada por um convívio natural (aspetos estes lembrados, em seguida, em corpo reduzido).

No que se refere ao quadro físico de um habitar que se deseja adequado e estimulante de um convívio natural, apontam-se aspetos ligados a uma agradável opção entre solidão e convívio iniciada no espaço público envolvente, passa-se, em seguida, para o favorecimento de condições naturais de convívio residencial, aborda-se o privilegiar de espaços e ambientes residenciais que favoreçam o convívio espontâneo e, finalmente, comenta-se o que se deseja que seja uma agradável opção entre privacidade e convívio doméstico.

Na segunda parte do artigo, dedicada à diferenciação entre uma solidão imposta e uma seclusão opcional e acompanhada por um convívio natural, aborda-se, em primeiro lugar, o que se julga ser uma situação atual muito marcada por uma solidão imposta (não desejada), avança-se, em seguida, para uma comparação entre o prazer de viver só e o convívio desejado e aponta-se, finalmente, o que se deseja possa ser a construção de um quadro social e físico « de companhia » (que favoreça um sentimento de « companhia » natural).

Na presente segunda parte editorial do artigo continua a abordar-se a matéria da diferença entre uma solidão imposta e uma seclusão opcional e acompanhada por um convívio natural, tratando-se, sequencialmente as seguinte subtemáticas: poder estar sozinho, mas sempre estrategicamente, acompanhado; a importância de um espaço habitacional adaptado às necessidades dos mais frágeis e consequentemente promotor do seu bem-estar e da sua saúde ; a importância dos espaços exteriores residenciais como promotores do bem-estar e da saúde dos mais frágeis ; e os aspetos associados ao viver juntos em edifícios funcionalmente mistos e estimulantes.

O artigo conclui-se com uma abordagem dos problemas conjugados associados à solidão e à prestação de cuidados pessoais.

Introdução (geral ao artigo)

Avança-se, em seguida, neste item, para algumas considerações, bastante gerais, sobre as questões que, por si próprias, obrigam a um desenvolvimento especializado e muito cuidadoso.

Referimo-nos à problemática de uma velhice habitacional marcada pela solidão e por um encerramento, quase sem saída, nos nossos mundos pessoais, ou, alternativamente, pontuada e dinamizada por um convívio natural e sempre totalmente voluntário.

E não podemos esquecer que esta problemática acaba por se constituir numa espécie de antecâmara antecipadora dos críticos problemas de demência que afetam a velhice humana. Evidentemente que não haverá aqui uma relação de causa e efeito direta, nem esta matéria pode ser abordada por um leigo em medicina e gerontologia, como é o caso presente, mas parece evidente poder haver grandes diferenças no bem-estar e na saúde global de um idoso que vive isolado e sozinho, praticamente em continuidade, e num espaço por vezes pouco adequado, e outro idoso que viva na sua habitação, ainda que pequena, mas próximo de outras pessoas e alguns amigos, num ambiente intergeracional que suscite um convívio natural, sempre que desejado, e que proporcione uma companhia securizadora e envolvente, para além de atividades físicas e mentais que ocupem o tempo e exercitem o corpo e o espírito.

Nesta perspetiva e sempre com o cuidado prévio de sublinhar sermos leigos em gerontologia, apontam-se e comentam-se, brevemente, em seguida, algumas reflexões de diversos autores que trataram esta matéria da velhice residencial em solidão ou em convívio.

Matérias registadas na primeira parte do artigo (Infohabitar # 825, editado na semana passada)

1. O quadro físico

a) A agradável opção entre solidão e convívio inicia-se no espaço público

b) Favorecer condições naturais de convívio residencial

c) Privilegiar espaços e ambientes residenciais que favoreçam o convívio espontâneo

d) Uma agradável opção entre privacidade e convívio doméstico

2. Da solidão imposta a uma seclusão opcional e acompanhada por um convívio natural

a) A situação atual muito marcada por uma solidão imposta (não desejada) 

b) Entre o prazer de viver só e o convívio desejado

c) Construir um quadro social e físico « de companhia » (que favoreça um sentimento de « companhia » natural)


(segue-se a segunda parte e última do presente artigo)


d) Poder estar sozinho, mas sempre estrategicamente, acompanhado

Tudo o que se tem estado a apontar resume-se a uma ideia de poder estar « sozinho mas acompanhado », um conceito julgado estruturante na defesa do PHAI3C e que é abordado, concretamente, no estudo de Susan Harrow, intitulado Living Alone Together: Barthes, Zola and the Work of Letters. (9)

Considera-se o estudo que acabou de ser referido como  estratégico, em termos de objetivo clarificado de investigação, podendo mesmo constituir-se esta ideia de um habitar « sozinho mas acompanhado » como um dos conceitos básicos que podem fundamentar e justificar o PHAI3C.

Mas como habitar sozinho e acompanhado ? A solução está, naturalmente, no proporcionar, paralelemente a excelente condições de vivência isolada e autonomizada,  viáveis condições de vivência residencial e urbana em comunidade, tal como se tem vindo a defender, porque a existência de comunidade conta para a boa vivência residencial, sempre contou, mesmo quando o desejo é o isolamento pessoal e a estratégica « diluição » no bem conhecido anonimato urbano, pois trata-se, neste caso, de um isolamento desejado e bem próximo de múltiplas relações de comunidade e de convívio « à la carte », não de um isolamento imposto e quase sem saída.

Nesta perspectiva podemos então avançar, alternativamente, (i) para a ideia residencial de uma vivência premeditamente isolada, mas funcionalmente apoiada por um conjunto de serviços de apoio residencial que tornem a nossa vida mais simples e autónoma, libertando-nos até de atividades que consideramos menos interessantes e mais fastidiosas (ex., limpeza e arrumação domésticas), ou (ii) no limite, para uma ideia residencial de vivência em afirmada comunidade, naturalmente, também apoiada num espaço privatizado, pessoal e apropriado, mas privilegiando todo um conjunto de ambientes e de atividades comunitárias, conviviais e partilhadas ; e entre estas duas posições muito distintas haverá, sem dúvida, soluções mistas que ambiental, física e funcionalmente proporcionem e apoiem diversos modos de viver mais isolados ou mais comunitários e em tudo isto a iniciativa cooperativa de habitação de interesse social pode apoiar com uma experiência consolidada de promoção residencial e urbana com variadas valências desse tipo.

Neste sentido há que lembrar os designados « anos dourados » da cooperação habitacional portuguesa, logo no pós 25 de Abril, marcados por experiências tão diversas como estimulantes e onde surgiram múltiplas atividades comuns e de dinamização local, muitas delas ainda hoje bem ativas.

Realmente, em termos urbanos e residenciais a « comunidade », naturalmente assumida, conta muito para a vitalidade local, sempre contou, tal como tem sido registado em múltiplos estudos como é o caso do que é, em seguida, citado e comentado, realizado pelo The International Longevity Centre , e intitulado, exatamente: Community Matters: at home: (10) (negrito e sublinhado nossos)

The home environment is an important factor in the wellbeing of people of all ages. For older people who are likely to be spending a substantial proportion of their time at home, the significance of a home environment that supports their wellbeing and an active lifestyle within their communities is of amplified importance. Housing issues impact on independence, personal choice, prevention, and joined-up cross-sector services impact substantially on health and wellbeing - with subsequent repercussions on community engagement. (pg. 2) …

Hoje em dia estamos a assistir a uma « releitura » da tradição habitacional cooperativa de habitação económica numa perspetiva que parece querer acentuar o sentido premeditadamente comunitário das intervenções, designada por « cohousing », e que tal como as antigas tradições de habitação cooperativa para o maior número teve origem no Norte da Europa e que marca, designadamente, em aspetos de entreajuda, combate efetivo à solidão e apoio eficaz ao convívio natural e uma positiva integração nas respetivas comunidade e vizinhança urbana.

Matérias estas cuja caraterização geral e potenciais benefícios são salientados no estudo que acabou de ser referido e que se cita em seguida: (negrito nosso).

Co-housing is a further alternative housing tenure that can provide a different community for older people, one that is potentially more socially inclusive. On a conceptual level, co-housing units are intentional communities, in that they are formed by a group of individuals who wish to manage a shared community in which mutual support is at hand if needed. For older people, co-housing can represent a living arrangement to combat isolation and loneliness, through a supportive and neighbourly environment. (pg. 7)

Ainda ligadas a estes aspetos de dinamização do convívio natural e de integração social e urbana da habitação especialmente dedicada a pessoas idosas, mas também com presença e importância próprias e associadas ao sentido de desenvolvimento pessoal e de investimento claro numa nova fase de vida, temos as matérias da  formação e informação considerando especificamente a frequência por pessoas idosas, mas também aqui desejavelmente integradas num quadro intergeracional e vicinal amplo, pois desta forma acabam por assumir um papel dinamizador desmultiplicado.

Nesta perspetiva importa aprofundar as preferências e os hábitos dos idosos em termos de formação/informação e neste sentido apontam-se, em seguida, alguns aspetos citados do estudo do The International Longevity Centre, intitulado Ensuring communities offer what older people want: (11) (negrito nosso)

Figures from the National Institute for Adult Continuing Education suggest that there is a decline with age in adults describing themselves as current or recent learners, although according to their definition of learning (which includes public, private, voluntary and informal sector based learning), participation in learning for those aged over 75 has risen (figures for the decade up to 2006) (McNair 2007). 

Organisations such as the University of the Third Age also play a role in providing educational and leisure opportunities for older people and are seeing success – with over 900 U3As in the UK at the end of 2013 (pg. 4)

Naturalmente que entre nós é possível estabeler paralelismos com a nossa Universidade da 3.ª IdadeComentário, salientando-se que, de modo algum, os aspetos formativos e informativos se esgotam com essa colaboração.


e) A importância de um espaço habitacional adaptado às necessidades dos mais frágeis e consequentemente promotor do seu bem-estar e da sua saúde

As exigências de qualidade residencial global têm de integrar o desenvolvimento, básico ou adaptado, de um ambiente residencial adequado e salutar e especificamente amigo dos habitantes mais fragilizados, matéria esta que tem vindo, aqui, a ser defendida e que é também apontada no já referido estudo do The International Longevity Centre , intitulado, Community Matters: at home, tal como se cita em seguida: (negrito e sublinhado nossos)

Quantitative evidence has shown that housing adaptations are the joint most important factor (alongside tenure type) in determining whether older people opt to remain living in their communities. Results from qualitative enquiry indicate that housing adaptations can contribute to an enhanced perception of security and belonging for older people.

The empirical link between housing and health is well established and it is for older people that this association is most pronounced. Among the negative health outcomes that can be associated with poor quality housing are: rheumatism, arthritis and mental ill-health. Research has shown that poor quality housing can take a mental toll on our health through various guises, including anxiety and sense of identity. Poor housing can also exacerbate the pressures of fuel poverty which results in many deaths among older people. (pg. 2)

Realmente, se adequadas condições habitacionais são fundamentais para todos nós, como é para quem lá passa muito tempo ? E dá que pensar, por exemplo, em possiveis reconversões de casas com muitos compartimentos para outras menos compartimentadas mas com compartimentos mais espaçosos. E dá que pensar no âmbito do PHAI3C, realmente, no desenvolvimento de excelentes condições espaciais e ambientais domésticas e para-domésticas.

E nestes aspetos não haja dúvida de que a boa qualidade arquitetónica é essencial, tal como se aponta no mesmo estudo:

… ‘good design works well for cognitive impairments it can make the difference between independent living and social exclusion’ (DCLG 2008). (pg. 4)

The housing design experienced by older people living with dementia will come to influence their ability to remain independent. Better design, housing adaptations and the use of technology can all contribute to this independence

While dementia friendly homes remains an under-researched topic, there are some guides that have been produced that outline simple steps that a carer can take to better prepare a home environment host for someone living with dementia, including fitting smooth floor coverings and open or glass covered cupboards (Warner 2000). (pg. 5)

Importa registar aqui a existência de um crescendo duplo de alguma complexidade e de influência na saúde global, aplicados ao habitar e às suas condições de integração e pormenorizadas, à medida que sobre a idade dos seus habitantes adultos e crescem os seus habituais problemas físicos e mentais, culminando no que se consideram ser, ainda, os tópicos pouco estudados de uma habitação amiga de pessoas idosas com demências, tal como acima se apontou.

Importa aqui sublinhar este crescendo de complexidade e de influência na saúde que é assumido pelo habitar à medida que envelhecemos ; matéria esta que evidencia a grande confusão e/ou mesmo crítica falta de estudo e de conhecimentos sobre como melhor fazer a habitação para os mais idosos e fragilizados, sendo que a sua frequente « hospitalização » e « institucionalização » nada tem a ver com tais cuidados residenciais, mas sim apenas com uma espécie de simplificação de um período que realmente marca e, muito provavelmente, antecipa o final de vida – e hoje em dia estão a chegar ao período de aposentação grupos sociais muito esclarecidos sobre estas matérias e que, felizmente, não irão contemporizar com tais simplificações.

Intervir no existente, dotando-o de melhores condições para os mais idosos e fragilizados ou oferecer novas formas de habitar intergeracionais e com um equilibrado e positivo sentido comunitário, são caminhos adequados e bem distintos dos caminhos « institucionais » que poderão ser adequados e desejados por alguns, mas nunca por todos e cada vez por menos idosos.

E, evidentemente, terá de haver sempre lugar para intervenções habitacionais muito marcadas pelas exigências de apoios e cuidados pessoais – a habitação com apoios especiais (extra care housing) –, o que não deve implicar que mesmo aqui se esqueçam cuidados de suavização ambiental e de « domesticação » e devendo, ainda, haver cuidados de boa integração de tais equipamentos numa estimulante e variada continuidade urbana ; sendo que até certo ponto tais cuidados deverão poder ser « embebidos » e estar « latentes » em habitações integradas em agrupamentos intergeracionais, sendo ativados apenas quando necessários e nunca prejudicando o ambiente global da respetiva intervenção.

Haverá, ainda, lugar, em termos de condições ideais de habitação para os mais idosos e fragilizados, para equipamentos específicos que integrem o objetivo residencial, sempre primário, com um objetivo assistencial já muito exigente e elaborado ? Julgamos, naturalmente, que sim, mas há que « revolucionar » tais equipamentos de modo a que eles se caraterizem por evidentes condições residenciais/domésticas, naturalmente harmonizadas com as respetivas e exigentes condições funcionais (ex., limpeza, conforto ambiental, apoio a cuidados de enfermagem, apoio cuidados pessoais elaborados, etc.). 

E uma tal opção, mais institucional, deverá ser, sempre, harmonizada com (i) o desenvolvimento dos cuidados pessoais ao domicílio, (ii) sendo estes articulados com intervenções específicas dirigidas para a realização de adaptações específicas das habitações no sentido de se facilitarem e apoiarem esses cuidados (ex., largura de vãos, peças sanitárias especiais, barras de apoio, mobiliário especial, etc.), e (iii) com o funcionamento de equipamentos de apoio diário e multifuncional (ex., um pouco o que se faz com os nossos Centros de Dia).

Matérias estas que poderão e deverão ser articuladas com o desenvolvimento de intervenções do PHAI3C, mas sem « beliscar » o seu fulcral caráter residencial, tal como se tem feito no Reino Unido, é apontado no referido estudo do The International Longevity Centre , intitulado, Community Matters: at home e , em seguida, se cita:

Programme of All-Inclusive Care for the Elderly (PACE) … enables older people living in California, who have been have been deemed in need of nursing home care, to remain in their own homes and remain within their communities’.

Within the PACE service area are On Lock Lifeways Centres, which represent the hub of the programme and at which participants have access to medical care, social activities, exercise and meals. (pg. 8)

The campaign uses healthy home advocates who visit targeted areas of the city to carry out assessments of the health needs of residents’, as well as the condition of their housing.

The programme has proved very successful. Since it began, 500 home risk assessments have identified 3,300 serious housing hazards that have been remedied or are in the process of being remedied. The programme’s overall benefits to society, including savings to the NHS are estimated at £11 million over ten years … (pg. 9)


Este último tipo de ações de análise das condições de habitabilidade de idosos está muito ligado a programas que foram já realizados entre nós pela Direção Geral da Saúde.

Naturalmente que os novos meios informáticos, ultimamente cada vez mais aplicados à gestão doméstica e ao acompanhamento da saúde das pessoas em tempo real, assim como, evidentemente, as TIC que continuam em franca e rápida expansão são e serão aliados de peso no apoio ao bem-estar residencial do idosos e fragilizados e designadamente ao adequado acompanhamento dos mesmos, em termos da evolução da sua saúde, na opção que possam fazer por continuar a viver nas suas habitações de há longa data. Matérias estas que, no entanto, implicam para além de despesas específicas nas referidas tecnologias, despesas correntes na gestão dos respetivos dados e na articulação com meios de intervenção ; condições estas que, para além dos resultados muito positivos na saúde dos residentes serão, provavelmente, ainda assim, mais económicas do que a opção baseada em intervenções mais desfasadas relativamente à ocorrência de problemas graves de saúde e suas sequelas.


f) A importância dos espaços exteriores residenciais como promotores do bem-estar e da saúde dos mais frágeis

Assim como há cerca de 40 anos estudámos e publicámos, no LNEC, as questões ligadas à influência muito positiva de adequados espaços exteriores residenciais, bem desenvolvidos, equipados e mantidos, na vivência diária e na satisfação habitacional global dos respetivos habitantes e especificamente de pessoas que habitam fogos espacialmente pouco folgados, fica por demais evidente a importância que tem um cuidado semelhante e, eventualmente, até mais apurado, com os espaços exteriores na contiguidade e continuidade dos edifícios habitacionais multigeracionais, mas concebidos com uma atenção especial aos seus habitantes mais idosos e fragilizados.

Num estudo intitulado Community Matters: Getting out and about , realizado também pelo The International Longevity Centre, aborda-se a importância salutar e convivial das saídas e dos passeios a pé por parte de idosos no exterior envolvente dos espaços residenciais onde vivem, tal como se cita em seguida: (12) (negrito nosso)

Getting out and about is of vital importance if older people are to remain healthy, happy and active members of the communities they live in.

Getting outdoors benefits older people socially, by allowing them to visit friends and interact with members of the community, and practically, by allowing them to access local amenities and services. These activities also help older people to become more integrated into their local community.

Despite these benefits, research has shown that as older people age they make fewer trips outside of their home. This seminar will explore the different physical and emotional barriers affecting older people’s ability to leave their house and engage with the community, with a focus on three key areas- transport, the local environment and fear of crime.(pg. 2)

Salienta-se, portanto, a diferença entre intervenções residenciais muito dedicadas a idosos e fragilizados, sensivelmente idênticas nas suas caraterísticas edificadas e construtivas, mas estando algumas bem integradas em espaços exteriores seguros e motivadores, bem ligados a uma vitalizada continuidade urbana local e com boas acessibilidades em transportes públicos a várias zonas urbanas, enquanto outras estão mal integradas e equipadas em termos de espaços públicos envolventes e têm reduzidas ou mesmo nulas relações urbanas de proximidade e em transportes públicos.


g) Viver juntos em edifícios funcionalmente mistos e estimulantes

Muito do que se tem abordado em termos da desejada convivialidade e atratividade de um habitar intergeracional adaptável e participado também depende da respetiva opção tipológica e arquitetónica, pois, por um lado, « novas » formas de habitar poderão exigir novas ou renovadas formas edificadas e construídas, visual e volumetricamente estimulantes, enquanto, por outro lado, a vital sobriedade e integridade urbana parece exigir, pelo contrário, « regra » e « calma », mesmo no « novo » que seja feito : uma aparente contradição só resolúvel com qualidade arquitetónica. 

O sempre incontornável Luis Fernández-Galiano, fala-nos um pouco sobre estas matérias no editorial de um número da AV Monografias, significativamente intitulado Vivir juntos (13) (negrito nosso), texto este que podemos intitular « viver juntos com total autonomia » e que se cita em seguida: (negrito nosso)

Los europeos necesitamos vivir juntos: vivir juntos en alojamientos colectivos y ciudades compactas, y vivir juntos en países solidarios y un continente común…

Desde el limitado campo de la arquitectura apenas podemos hacer otra cosa que subrayar la importancia crítica de los tipos edificatorios y los modelos urbanísticos en el consumo de energía — condicionante esencial de la dependencia exterior — y la trascendencia del ámbito público de la ciudad en la formación del espíritu cívico y la voluntad colectiva: vivir juntos es económica, ecológica y socialmente saludable. Los dos congresos internacionales convocados por la Fundación Arquitectura y Sociedad [14] en 2010 y 2012 lo hicieron bajo lemas complementarios —‘Más por menos’ y ‘Lo común’— que acaso resumen bien las opciones en este momento de crisis: suministrar más utilidad y belleza consumiendo menos recursos, y dar prioridad a todo aquello que compartimos; frente al despilfarro y al individualismo, la austeridad y la solidaridad. El significado de vivir juntos tal vez no sea otro que ese. (pg. 3)

A outra « face da moeda » de edifícios intergeracionais e funcionalmente mistos está muito ligada à integração na mesma intervenção de atividades aparentemente muito distintas, mas, até, na prática, mutuamente dinamizadoras e ligadas, em boa parte, aos mesmos problemas.

Um exemplo desta condição, tão urbana como integradora e estimulante de usos, encontra-se na conjugação entre atividades de idosos e de crianças, tal como é apontado por Sandra Edmonds Crewe e Anita Stowell-Ritter, no relatório intitulado Grandparents raising grandchildren in the district of columbia: focus group report: (15) 

District of Columbia grandparent caregivers face a myriad of challenges. Many caregivers were retired or were anticipating retirement when they assumed responsibility for their grandchildren. A majority of the focus group participants are low-income.(pg. 36)


3. Problemas conjugados associados à solidão e à prestação de cuidados pessoais

Para além de ser assunto de saúde pública, a solidão associa-se, na prática e por regra à problemática, ela própria crítica, da prestação de cuidados pessoais a idosos e fragilizados

Dylan Kneale escreveu sobre esta matéria um excelente relatório,  que em seguida se cita extensamente e se comenta brevemente, abordando-se um tema considerado « central » no assunto global de uma habitação amplamente adequada a pessoas idosas e fragilizadas; o relatório  intitula-se What role for extra care housing in a socially isolated landscape? : (16) (negrito nosso)

(nota : foram retiradas as notas existentes no texto original)

 “Loneliness is a major health issue. An effective measure of isolation and loneliness is an important step to improving the lives of the hundreds of thousands of older people who are chronically lonely. This national measure can only help those making local health and care decisions to prioritise loneliness as a health issue, and one that they will tackle.” (pg. 2)

Loneliness as a public health issue and extra care housing as a public health intervention?

If loneliness impacts physical health, and vice versa, then at its most basic level extra care housing could help to alleviate loneliness through its impact in decelerating the diminution of physical health usually associated with the ageing process…; however, as we outline below, there is also a growing body of evidence that extra care housing also impacts in other ways to reduce the risk of social isolation and loneliness…

Extra care housing can be summarised as ergonomically designed independent housing units that usually feature common spaces, facilities and care services. Defining extra care housing according to its constituent features is something of an inexact science, and the model is perhaps best summarised through three key tenets defined by some as: (i) flexible care, (ii) self-contained dwellings and (iii) homeliness.

One of the most distinctive features, and indeed a key tenet itself, of extra care housing is the availability of 24 hour on-site care, something that is generally unavailable in the community care provided by Local Authorities.Thus, extra care housing is marked out as constituting independent … (pg. 3) 

Sublinha-se a afirmação, que inicia a última citação, sobre a solidão constituir um problema de primeira linha em termos de saúde pública e considera-se que esta condição é, frequentemente, ainda muito agravada, porque em muitos casos de pessoas idosas e fragilizadas à solidão acresce uma condição de reduzida mobilidade e/ou de grande dependência relativamente à prestação de cuidados pessoais e mesmo no apoio a atividades correntes da vida diária.

Teremos, então, assim, pessoas sozinhas e desvalidas, que potencialmente poderão ficar abandonadas à sua sorte, acabando, por vezes por falecer e serem encontradas só depois de mortas.

Não temos qualquer dúvida de que o habitar rem conjuntos residenciais adaptáveis, participados e intergeracionais, será uma forma de obstar a essas desumanas situações, pois nestes quadros haverá companhia muito mais próxima e natural, existirão cuidados pessoais prestados de acordo com as respetivas necessidades e a contiguidade com espaços comuns e pontualmente animados irá, praticamente, impossibilitar tais situações, pelo menos em grande parte dos casos.

Não tenhamos, no entanto, dúvida de que conciliar privacidade doméstica, convivalidade nos espaços comuns, prestação de cuidados pessoais por vezes bastante elaborados e exigentes e manter, global e pormenorizadamente, um ambiente doméstico, digno e atraente, garantindo tudo isto a custos razoáveis e portanto viáveis para muitas pessoas – condição esta também essencial para uma convivência salutar – é uma condição complexa que exige excelentes e sensíveis projetos de arquitetura e de especialidades e uma apurada e também sensível gestão, quase que obrigatoriamente cooperativa e marcada por objetivos muito humanos e sociais.

E naturalmente a já aqui referida manutenção dos idosos nas suas habitações, desde que minimamente intervencionadas, apoiados por serviços domicilários será também um caminho a seguir, designadamente, bem articulado e gerido a partir das referidas intervenções residenciais novas intervenções ; garantindo-se, assim, fundamentais opções de escolha no modo de habitar, assim como importantes economias de escala na prestação dos cuidados pessoais e domésticos.

Ficará para uma reflexão posterior a questão de haver, ou não, uma linha limite no que se refere à prestação dos referidos cuidados pessoais, que marque a fronteira a partir da qual seja recomendada a instalação de uma pessoa num equipamento residencial com apoios e cuidados especialmente elaborados – quase hospitalares – ainda que , tal como se tem defendido, mesmo nestes equipamentos é vital revolucionar domesticamente os respetivos ambientes.  Nesta matéria importa no entanto referir, desde já, que um tal possível  « limite » não se colocará em boa parte dos casos, quando estamos em presença de intervenções intergeracionais, habitadas, portanto, por um leque muito amplo de níveis etários ; e ainda nesta matéria importa lembrar que a existência de adequadas condições residenciais, privadas, conviviais e dinamizadoras de variadas atividades, constitui uma condição que, está provado, estar muito frequentemente, associada a um significativo prolongamento da vida dos idosos em condições razoáveis de mobilidade e de relacionamento, e reduzindo a sua necessidade de apoio médico e medicamentoso – condição excelente em termos da sua saúde e, suplementarmente, levando a poupanças significativas nos custos públicos associados .

Considerando, no entanto, a relevância, cada vez maior, do grupo de pessoas idosas a exigirem cuidados pessoais e de saúde complexos, só possíveis em instalações específicas, citam-se, a partir do referido Relatório de Dylan Kneale, e comentam-se (brevemente), em seguida, diversos aspetos a ter em conta nesses equipamentos residenciais – que, repete-se, não são os visados no âmbito do PHAI3C, mas cuja previsão e caracterização merece, também, urgente atenção; inclusivamente numa reflexão sobre a possibilidade da sua articulação com intervenções do PHAI3C: (negrito nosso)

This framework only outlines the potential role of extra care in lowering social isolation (and consequent loneliness).We group the potential mechanisms under the main headings of: (i) ethos; (ii) design; (iii) activities; (iv) community; and (v) improved health and mobility; and recognise that there is substantial overlap between these.

The absence of these factors has been linked with isolation and loneliness by gerontologists for a number of years; … 

Design: Design factors, here, refer to the way in which extra care housing units are constructed, to the presence of facilities onsite, to the presence of communal areas within schemes, and also the way in which the immediate environment is designed, including the incorporation of new technology.The design of extra care housing can be thought of as providing the tools and space for residents to develop social relationships…

For example, incorporating features such as grab rails, motion detectors and easily accessed alarms, or telecare, can help to lower the incidence of falls among older residents, which in turn can ensure that residents are better able to maintain and develop their social connections.New technology may be an increasingly important means of lowering social isolation and loneliness and may be integrated to the design of extra care housing schemes.

Ainda antes de avançar um pouco na caraterização de tais equipamentos residenciais « com cuidados extra » - que  não são, repete-se, visados, especificamente, no âmbito do PHAI3C – importa sublinhar, aqui, o que parece ser um seu significativo conjunto de benefícios em termos de redução do isolamento social, do sentimento de solidão e, consequentemente, de melhor saúde física e mental dos respetivos residentes ; uma condição que sendo associada a um apurado projeto arquitetónico, designadamente, em termos de amigabilidade ambiental, capacidade de apropriação e « camuflagem » dos aspetos mais funcionais e « hospitalares », poderá, sem dúvida, resultar em termos de significativas condições de adesão e satisfação residencial e relativa à prestação de cuidados pessoais e de saúde. 

Importará salientar, aqui, que um tal novelo de equipamentos « automatizados » e de relacionamento, no âmbito das TIC e especializados em termos de apoio doméstico e de vigilância da saúde, como o que é acima apontado, está em rápida evolução e pode ser já aplicado em muitos espaços residenciais, frequentemente numa relação direta com o utente, não sendo necessário para a sua eficácia a sua integração num ambiente caracterizadamente « hospitalar ».

E considera-se que, tal como aponta Dylan Kneale no relatório que está a ser referido e que a seguir, novamente, se cita, é essencial nestas matérias refletir sobre como apoiar múltiplas atividades, sentido comunitário natural e apoios específicos à saúde dos respetivos habitantes:

Activities: Activities are a crucial way that older people can build and maintain social networks with other residents, staff, and others beyond extra care.In extra care schemes, these can include daily activities such as arts and crafts, ceramics, computer, internet and email training (IT), gardening, woodwork, health & well-being advice, Tai Chi, wheelchair aerobics, social events and entertainment such as karaoke and bingo, as well as less frequent events such as a ‘Festival of Choirs’, ‘Garden in Bloom’ competitions, ‘Come Dance with Me’ competitions, sponsored walks, talent shows and fashion shows. However, even more mundane activities can become important sources of social interaction for residents. (pg. 6)

A substantial body of literature on social isolation and loneliness among older people, regardless of type of housing, finds that activity based interventions are often the most effective in reducing isolation and loneliness.29

Community: We group factors pertaining to the diversity of residents and staff, and the roles of staff and residents in creating and maintaining harmonious, inclusive and vibrant schemes under the grouping of ‘community’ factors.‘Community’ factors have obvious implications for the quality and density of older resident’s social interactions and relationships – virtually all studies on social wellbeing in extra care and similar developments describe the way in which staff in particular take steps to support residents to develop and strengthen social relationships.

Improved Health/ Functional Ability: Here we group factors that describe the way in which living in extra care housing can help support better health outcomes, such as a lower levels of hospitalisation or slower functional decline, which can in turn enable residents to better maintain (and build) their social connections… (pg. 7)

Evidentemente que tais condições de interação social serão mais facilmente garantidas quando dinamizadas e geridas por entidades cooperativas, cuja razão de ser é ela mesma basicamente marcada por essa interação social, visando a ajuda mútua e o convívio; como também sublinha Dylan Kneale:

Maintaining balance of care needs

Challenge: Due to an overall shortage of extra care housing, many providers and managers are facing challenges in maintaining a balance of care needs across schemes.Schemes may find increasing levels of conflict, isolation and loneliness for those with higher support needs in environments where other residents are unhappy with the profile of residents’ needs. Schemes may also find it difficult to replicate the peer caring relationships that develop between those with higher and lower support needs without sufficient numbers of residents with lower support needs.(pg. 14)

Affordability and tenure mixes

Challenge: Many housing providers aim to provide a mixture of units of different tenures within schemes to ensure that extra care housing communities are representative of the diversity of wider general purpose housing … (pg. 15)

Uma condição essencial nos equipamentos residenciais com « cuidados extra », mas também nas intervenções do PHAI3C, consiste na constante procura (arquitetónica e gestionária) de uma boa « convivência » espacial e de atividades entre  «mundos » marcadamente privatizados, apropriados, agradáveis e protetores e « mundos » comuns e naturalmente conviviais, com elevado potencial de atividades, mas onde, ainda assim, seja possível alguma relativa, mas marcada, privacidade – estar isolado, mas perto de outros e estar bem perto de outros mas relativamente isolado ; matéria esta claramente do foro de uma excelente e sensível arquitetura. E fazer tudo isto para uma grande diversidade sociocultural caracterizando os potenciais residentes; como também salienta Dylan Kneale, no estudo que está a ser referido, e se cita em seguida:

In this report we outlined some potential ways in which living in extra care housing could help to lower levels of social isolation (reducing the risk of loneliness) and summarised these under the broad categories of: (i) ethos; (ii) design; (iii) activities; (iv) community; and (v) improved health/mobility.We illustrated the way in which all of these factors can come together to improve resident outcomes in terms of social isolation through case studies.Matthew’s story, for example, highlighted the way in which the extra care housing environment: (i) enabled him to better access facilities and maintain social relationships through incorporating design features that help facilitate older people’s mobility, (ii) enabled him to maintain his autonomy but not at the risk of social isolation, through an ethos that includes independence (iii) helped him to improve his health and mobility allowing him to better maintain his social relationships and develop new social ties (iv) offered a range of activities that allowed him to develop new social networks (v) offered a supportive community where staff were experienced in helping to broker social relationships, particularly among those who might usually have difficulty in ‘fitting in’. (pg. 19)

Não se tratando do « foco » do nosso estudo, que é a habitação intergeracional, adaptável e participada, considera-se, desde já, mas não excluindo um essencial e posterior desenvolvimento, que muitos dos aspetos que foram aqui apontados, nas últimas citações e seus comentários, terão evidente importância na programação do PHAI3C, pois até podemos considerar que o conceito de adaptabilidade do PHAI3C poderá incluir a integração prévia e a préinstalação (« embebida » e « camuflada ») de um amplo conjunto de elementos de apoio funcional a cuidados pessoais e de saúde razoavelmente elaborados, que ficarão « latentes » e que só serão ativados e complementados quando necessários.

No que se refere à dinamização de atividades e da interação social julga-se que a perspetiva de uma habitação participada e dinamizada pela iniciativa cooperativa constitui um caminho excelente e, portanto, o PHAI3C tem aqui também boas referências.



Notas bibliográficas

(9) Harrow, Susan. "Living Alone Together: Barthes, Zola, and the Work of Letters." L'Esprit Créateur, vol. 55 no. 4, 2015, pp. 21-38. Project MUSE.  

(10) The International Longevity Centre – UK (ILC-UK) 2014 - Community Matters: at home - ILC-UK and Age UK Seminar Series.

(11) The International Longevity Centre – UK (ILC-UK)  - Ensuring communities offer what older people want, ILC-UK and Age UK Seminar Series, 2014.

(12) The International Longevity Centre – UK (ILC-UK) - Community Matters: Getting out and about - ILC-UK and Age UK Seminar Series, 2014.

(13) Luis Fernández-Galiano - Vivir juntos (Editorial), AV Monografias n.º 156, Madrid,  2012 

(14) A Fundación Arquitectura y Sociedad tem sedes em Pamplona e Madridsedes, foi criada em 2008 pela iniciativa do Arq.º  Francisco Mangado Beloqui, baseada no interesse de uma arquitectura ligada à vida em sociedade.

(15) Sandra Edmonds Crewe; Anita Stowell-Ritter - Grandparents raising grandchildren in the District of Columbia: focus group report, AARP 2003.

(16) Dylan Kneale, Head of Research, International Longevity Centre, Housing LIN - What role for extra care housing in a socially isolated landscape? 2013.

http://mediacentre.dh.gov.uk/2012/11/22/loneliness-measure-to-boost-care-for-older-people



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Velhice e solidão ou convívio no habitar II – versão de trabalho e base bibliográfica – Infohabitar # 826

Infohabitar, Ano XVIII, n.º 826

Edição: quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Artigo XIV da série editorial da Infohabitar “PHAI3C – Programa de Habitação Adaptável e Intergeracional através de uma Cooperativa a Custo Controlado”

Infohabitar – a revista da GHabitar

Editor: António Baptista Coelho

Arquitecto/ESBAL – Escola Superior de Belas Artes de Lisboa –, doutor em Arquitectura/FAUP – Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto –, Investigador Principal com Habilitação em Arquitectura e Urbanismo no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), em Lisboa


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abc@lnec.pt


Revista da GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar – Associação com sede na Federação Nacional de Cooperativas de Habitação Económica (FENACHE). 

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