Infohabitar, Ano XVI, n.º 758
Edição: terça-feira, 7 de dezembro de 2020
Caros
leitores da Infohabitar,
Continuando em um dos temas “centrais” da nossa
revista: os espaços do habitar, vamos aprofundando, semana a semana, esta
matéria, neste caso específico no âmbito de um global e adequado
desenvolvimento dos espaços e ambientes domésticos.
Esta viagem pelos espaços do habitar continuará a
ser feita nas próximas semanas editoriais da Infohabitar, apenas com eventuais
intervalos mais dedicados à divulgação de iniciativas julgadas especialmente
interessantes ou a outras matérias mais ligadas a datas específicas.
Lembra-se,
novamente, que serão sempre muito bem-vindas eventuais ideias comentadas sobre
os artigos aqui editados e propostas de novos artigos (a enviar para abc.infohabitar@gmail.com
, ao meu cuidado).
Considerando a atual e ainda muito crítica evolução
da pandemia, voltar a sublinhar-se a vital importância do distanciamento
social, conseguido, designadamente, pelo cumprimentos das obrigações legais
agora definidas, através do teletrabalho e do confinamento obrigatório em
determinados períodos do dia e da semana e de todas as medidas de proteção
própria e dos outros, que são muito favorecidas com o uso sistemático,
maximizado e cuidadoso de máscara – seja no interior seja nos espaços públicos
– e por um reforço dos cuidados de higiene próprios e relativamente à sistemática higienização dos ambientes e dos objetos que
usamos no dia-a-dia.
Não tenhamos dúvida de que boa parte do combate à
pandemia passa por estes nossos esforços pessoais e familiares, que terão de se
enraizar nos nossos hábitos diários, mesmo quando no horizonte temos já,
finalmente, as vacinas; não será agora que vamos “baixar a guarda”.
Despeço-me, até à próxima semana, enviando saudações
calorosas e desejos de força e de boa saúde para todos os caros leitores e seus familiares,
Lisboa, Encarnação, em 7 de dezembro de 2020
António Baptista Coelho
Editor da Infohabitar
Uma habitação globalmente bem integrada, espaçosa, funcional, acessível e segura (Bons espaços e ambientes domésticos II) - Infohabitar # 758
António Baptista Coelho
(texto e imagens)
Resumo
No artigo
desenvolve-se uma reflexão aspetos que caraterizam o que podemos considerar
como "bons espaços e ambientes domésticos", abordando-se as matérias espaço-funcionais,
também “quase-básicas” na concepção e na vivência habitacional.
Essas
matérias espaço-funcionais são consideradas em termos da relação da habitação
com os seus espaços exteriores envolventes, tendo em conta os aspetos
recorrentes da espaciosidade doméstica, diversas facetas da funcionalidade, e
as matérias ligadas à acessibilidade e à segurança.
1. Relação da habitação com os espaços exteriores envolventes
Em uma outra reflexão sobre o que pode ajudar a
caracterizar um bom espaço urbano-doméstico regista-se a sua relação com os espaços
exteriores envolventes.
De certa forma trata-se aqui de um aspecto
duplo, pois tem a ver:
·
quer com o aproveitamento
arquitectónico doméstico, espaço-funcional direto, das relações entre espaços
interiores e exteriores, e a este tema voltaremos pois a sua importância é tal
que pode fundamentar boa parte da qualidade de uma dada solução residencial
(ex., espaços de transição, pátios, varandas, janelas estratégicas, etc.,
etc.);
·
quer com o aspecto,
associado, de aproveitamento doméstico da variedade e do interesse visual e
funcional das vistas sobre o exterior (ex., poder acompanhar com a vista uma
criança a brincar na rua, assistir ao movimento urbano junto a uma paragem de
autocarro, ver o automóvel estacionado, desfrutar, ao máximo, as vistas urbanas
e paisagísticas disponíveis no local etc.) e do ambiente natural e de conforto
ambiental que aí pode ser criado (ex., sombreamento, ruído de folhas,
encaminhamento de brisas frescas, etc.).
De uma forma global podemos mesmo referir que
“no limite” uma adequada concepção urbana e residencial, que se queira marcada
pela natureza e/ou por espaços públicos com variadas funcionalidades e
espacialidades, pode proporcionar, praticamente, uma expressiva
complementaridade entre interiores e exteriores, entre espaços domésticos e
espaços de uso público, levando para estes espaços algumas funções também
eventualmente possíveis nos espaços domésticos, por vezes, até com eventuais
problemas de conforto e/ou de uso (ex., o simples fruir maios ou menos
prolongado do espaço exterior, fazer e ver crescer variados tipos de vegetação,
usar grelhadores a carvão, etc.).
No entanto uma tal possibilidade de forte e
caraterizadora complementaridade entre usos interiores domésticos e usos
exteriores mais comuns, harmoniza-se mais com conjugações entre exteriores e
edifícios globalmente caracterizados por uma expressiva escala humana (ex.,
edifícios relativamente baixos, com espaços comuns servindo reduzidos grupos de
fogos e conjugados com espaços
exteriores de uso público dimensionalmente “recintados” e também,
relativamente, pouco extensos e formalmente bem definidos).
Fig. 01: é sempre essencial considerar a importância que tem a relação com o "exterior habitacional", ou de vizinhança próxima, ou exterior mais diretamente "habitável"; nunca é excessivo chamar a atenção para este condicionalismo, que pode constituir um dos aspetos "chave" na qualificação positiva de uma da intervenção de construção nova ou de reabilitação urbana e habitacional; na imagem, inspirada diretamente, numa excelente integração natural/edificada de uma zona naturalizada (estruturada e pormenorizada numa perspectiva de simulação de um espaço naturalmente arborizado) e edificada do bairro de Olivais Norte em Lisboa, de certa forma a referida envolvência naturalizada é verdadeiramente protagonista, seja pela extensão de usos domésticos que é proporcionada (ex., mesas e grelhadores exteriores) de uma forma bem ligada a espaços comuns plenamente abertos sobre o exterior, seja pela expressiva caracterização de um espaço edificado e residencial quase “embebido” na natureza.
2. Espaciosidade doméstica e desafogo espacial
Depois do conforto ambiental, da imaginação na
organização doméstica e da relação entre interior e exterior passemos a um
primeiro aspecto, sempre mais objectivo; referimo-nos à qualidade da espaciosidade,
aqui considerada na sua perspectiva de desafogo espacial, um aspecto que, como bem
sabemos, está sempre presente na apreciação que sempre se faz de uma habitação:
a casa é espaçosa, a sala é espaçosa, etc.
A esta matéria voltaremos, quando pensarmos
mais um pouco sobre como fazer quartos, salas e outros espaços domésticos globalmente
mais agradáveis, mas para já importa, talvez, ter a noção de que:
·
há limiares de
espaciosidade/desafogo espacial que são fundamentais na própria apreciação que
se faz dessa espaciosidade – e, neste sentido, desde já se refere que, é
habitualmente considerado que a existência de compartimentos com áreas iguais
ou superiores a cerca de 25m², ajudam a qualificar a respectiva habitação como
“espaçosa”; (7)
·
há dimensões e
configurações interiores cuja incoerência funcional e/ou de versatilidade e/ou
de imagem anulam até as suas eventuais boas condições de espaciosidade (ex.,
salas alongadas e estreitas, quartos pequenos e altos, vãos interiores e
exteriores que prejudiquem a capacidade de mobiliar/arrumar dos respetivos
compartimentos, etc.);
·
que a existência de
desníveis (de pavimento e diferenças de alturas nos tectos dos compartimentos) pode
contribuir, quando bem concebida, para uma leitura atraente do espaço interior,
produzindo uma impressão de espaço alargado/dilatado e apoiando a sua
diversificação funcional e ambiental (8); embora possa ser, por vezes, pouco
funcional e afectando, por regra, condições básicas de acessibilidade;
·
e que, pelo
contrário, a distribuição de uma habitação em vários níveis distintos (ex., dúplex,
triplex ...) pode reduzir o sentimento de desafogo espacial; isto desde que se
esteja a considerar condições de espaciosidade global habituais, ou mesmo
condições especiais mínimas.
Fig. 02: sobre as questões associadas à espaciosidade doméstica muito se escreveu, mas talvez falte ainda pensar bastante, designadamente, sobre os aspetos de verdadeira adequação dos diversos sub-espaços da habitação às suas diversas sub-funções e sobre como isto tudo tem a ver com um projeto de arquitetura verdadeiramente qualificado e sensível aos modos como habitualmente se habitam, ocupam e apropriam os espaços domésticos, considerando-se, aqui, uma espécie de “reinvenção” da funcionalidade doméstica, para uma sua positiva redução a “microfuncionalidade” doméstica; e talvez em tudo isto a questão mais "objetiva" das áreas perca, eventualmente, um pouco da sua importância, em favor das questões ligadas aos dimensionamentos, à flexibilidade de uso das diversas zonas, à adaptabilidade geral da habitação e, evidentemente, à essencial qualidade arquitectónica da concepção.
3. Funcionalidades domésticas
Chegamos, então, à matéria das funcionalidades
domésticas, mas, mesmo aqui não iremos fazer uma abordagem corrente dos
diversos espaços pois concorda-se com o arquitecto Loïc Julienne, quando este afirma que:
"A
organização da habitação pouco se modificou, enquanto a intrusão do telefone,
do computador pessoal (ou doméstico) e, essencialmente, da televisão provocam a
justaposição do espaço denso das comunicações directas no espaço de estar
familiar. Esta situação, não sendo traduzida na estrutura e na composição do
fogo, pode contribuir para o enfraquecimento da coesão do grupo familiar".
(9)
Segundo o referido autor, o novo factor na
harmonização entre casa e modo de vida é o tempo-livre, que pode ser gozado em
casa, actualmente, de variadíssimos modos; e assim lá ficamos nós com a ideia
que, talvez, para servir a criação de espaços domésticos mais indutores de
felicidade devamos organizar habitações estruturadas no sentido de uma
verdadeira harmonização e mesmo dinamização mútua entre:
(i) as “tradicionais” actividades domésticas;
(ii) o trabalho profissional em casa (seja
teletrabalho ou outro);
(iii) e as múltiplas atividades e
subactividades amplamente associáveis ao lazer doméstico – onde se incluam as
“segundas actividades” ;
só assim poderemos ultrapassar boa parte da
estrutura doméstica funcional que se pode considerar “clássica”, excessivamente
rígida, hierarquizada e rudemente uniformizada, que precisa de ser ainda muito
mais profundamente escalpelizada em estudos teórico-práticos.
E se juntarmos a esta perspectiva de uma
habitação desenvolvida como centro de amplo lazer doméstico, a ideia,
igualmente coerente e exigente de uma habitação sede de vários tipos de
trabalho não doméstico, teremos as tradicionais funções da habitação a
retirarem-se para uma expressão minimizada, isto desde que estejamos numa
lógica espacial equilibrada, em que devamos harmonizar e distribuir com
parcimónia uma totalidade de metros quadrados.
Mas não tenhamos qualquer dúvida de que esta
renovada perspectiva de estruturação e de conteúdos domésticos
espaço-funcionais, que se diga ficou bem evidenciada com o “super-uso” da
habitação nos meses da pandemia, pode e deve levar a expressivas inovações à tradicional-funcional
habitação, direcionando-as para estruturações muito mais marcadas por uma
versátil e dinâmica microfuncionalidade, ela própria caracterizada por “velhas”
e novas misturas e alianças funcionais, por vezes estranhas “à primeira vista”,
mas depois agradavelmente adequadas e estimulantes – e um exemplo , entre
muitos possíveis, deste desenvolvimento é dado por uma cozinha ligada à sala e
contígua a uma pequena zona de trabalho profissional e/ou de estudo (exemplo
este que foi observado num programa de televisão).
Fig. 03: as "velhas" questões da(s) funcionalidade(s) domésticas podem ter (i) uma consideração básica associada a entender-se serem ainda raras as situações em que há uma previsão verdadeiramente eficaz de tais funcionalidades e não numa perspetiva de uma funcionalidade "parada no tempo" e muitas vezes ligada aos estudos funcionais rígidos e incompletos do passado século, e (ii) deve ter uma "nova" consideração, flexível e "aberta", devidamente harmonizada com novos modos de vida e de relação entre casa e diversos trabalhos; isto para lá dos aspetos associados à exigência de um excelente projeto de arquitetura como único elemento que poderá verdadeiramente validar uma organização doméstica que deverá vir a ser muito marcada por uma versátil microfuncionalidade.
3.1. Novas funcionalidades habitacionais
Naturalmente que novas funções residentes no
espaço doméstico obrigarão, provavelmente, a um acréscimo de compartimentos,
ou, em alguns casos, a algum acréscimo de área e a um acréscimo de zonas e
recantos específicos no leque corrente dos espaços domésticos, gerando-se
soluções habitacionais que se poderão caracterizar, objectivamente, por
tipologias intermédias (ex., sala que se prolonga por um espaçoso recanto,
relativamente autónomo, com cerca de 6m²); estaríamos, assim, em presença, por
exemplo, de um T3+.
E sublinha-se que esta possibilidade teria
grande interesse na diversificação da oferta de soluções domésticas, pois este
tipo de incremento poderia recair na sala, na cozinha, em um dos quartos, numa
varanda que assim se transformaria em terraço e, até, numa casa de banho que
assim seria promovida ao estatuto de uma verdadeira “sala de banhos”; e nada
disto é criticável pois poderemos assim aproximarmo-nos muito mais fielmente do
modo de querer habitar de muitas pessoas.
E em todo este desenvolvimento fica cada vez
mais evidenciada a necessidade de existir um excelente projecto de arquitectura,
que é a única possibilidade de se avançar neste sentido de uma forma racional e
espacialmente equilibrada; e podemos mesmo defender que este caminho está apenas
aberto à boa Arquitectura.
3.2. Funcionalidade doméstica básica e facilidade de manutenção
E nesta pequena viagem pelo modo de fazer
melhores habitações, mais diversificadas e adequadas a mais pessoas, deixámos
para o fim algumas referências à funcionalidade e à segurança nos espaços
domésticos; e deixámos estas notas para o final, porque consideramos que há já
muitos estudos sobre estas matérias e porque, existindo tais estudos, e sendo
os seus aspectos fácil e, por vezes, obrigatoriamente implementados não faria
sentido estar aqui a fazer qualquer síntese de tais assuntos.
Segundo Claude Lamure, a facilidade de
manutenção deveria estruturar, tanto a disposição relativa entre paredes e
equipamentos, deixando livres espaços mínimos para que a limpeza se faça com
facilidade, como a escolha dos tipos específicos de pavimentos e revestimentos,
de acordo com critérios de facilidade de limpeza e de não evidenciação da
sujidade (ex., uma má solução é a escolha de um revestimento de piso com
acabamento "branco brilhante" para "zonas húmidas" e/ou
muito usadas, porque têm sempre uma aparência suja e, mais tarde, “riscada”
devido à frequência das limpezas e tipo de acabamento superficial). (10)
Já escrevi este último parágrafo há alguns anos
(“Do bairro e da vizinhança à habitação”, LNEC, ITA 2) e ele continua a
encerrar todo um conjunto de ideias fundamentais para podermos ter habitações
que verdadeiramente nos satisfazem, porque são simples de usar. Mas devo fazer
aqui uma referência para a necessidade imperiosa de, nos dias de hoje, conceber
habitações em que as funções domésticas “obrigatórias” (cozinhar, tratar a
roupa, limpar e arrumar a casa) possam ser realizadas com um mínimo de esforço
e com uma eficácia máxima durante uma vida útil da habitação que seja muito
extensa; isto é, hoje em dia, fundamental e não pode haver quaisquer
transigências nesta matéria, pois não há desculpas para um técnico não conhecer
todo o completo compêndio de soluções e de alternativas de soluções que
descrevem, pormenorizadamente, como cumprir este pacote de exigências
funcionais; quando muito, entre o corpo regulamentar e recomendativo e o mundo
de informação editado em papel e disponível na www, a relativa dificuldade
estará na escolha da melhor informação.
4. Acessibilidade doméstica
Outras duas matérias obrigarão a uma atitude
técnica em boa parte idêntica à que acabou de ser referida para os aspectos funcionais,
mas são merecedoras, já de seguida, de uma atenção específica: trata-se dos
aspectos de acessibilidade e uso doméstico por pessoas condicionadas na sua
mobilidade e dos aspectos de segurança.
No que se refere à previsão das condições
domésticas específicas para pessoas condicionadas na sua mobilidade elas estão
regulamentadas, mas poderão ser desenvolvidas de uma forma mais elaborada:
·
Seja em todos os
aspectos que facilitem as condições de melhor funcionalidade doméstica, para
todos nós e especificamente para idosos com eventuais deficiências na
respectiva autonomia, tal como foram acima apontadas (super-eficácia no
conjunto de funções “obrigatórias” e suplementares, mas ligadas a uma adequada
caracterização da solução); e considera-se ser esta a opção a aprofundar e
aplicar de forma o mais generalizada possível.
·
Seja em habitações e
intervenções habitacionais concebidas objectivamente para pessoas com problemas
de mobilidade, ou outros problemas (ex., mentais), e onde será possível levar a
concepção a um apuro de pormenor capaz de poder fazer um pouco mais felizes as
pessoas que têm a infelicidade de serem portadoras dessas deficiências;
dimensões, tipos de mobiliário e de equipamentos, texturas, capacidade de
limpeza rápida, cores, vistas interiores e exteriores estratégicas, nível de
“inteligência” e de automatismo na gestão do interior doméstico e nas
tecnologias de comunicação, são todas áreas onde é possível intervir para fazer
melhores habitações para muitas pessoas.
5. Segurança doméstica
Finalmente, no que se refere aos aspectos de
segurança doméstica e utilizando, em boa parte, um conjunto de notas elaboradas
para um trabalho do LNEC, há que contemplar as seguintes áreas de trabalho:
·
Segurança contra
riscos de incêndio no interior da habitação; por previsão da sua evacuação
(segundo a regulamentação existente).
·
Segurança
relativamente aos riscos de queda através dos vãos exteriores e em espaços
exteriores privados e elevados; utilizando bases de referência existentes na
documentação e no corpo regulamentar de diversos países europeus.
·
Segurança contra
intrusões, sem que se converta a imagem da habitação na de uma fortaleza,
fechada e gradeada; o que seria uma situação muito pouco congruente com a
índole acolhedora e firmemente selectiva, mas aberta, que deve caracterizar o
aspecto exterior de uma habitação. É de considerar, ainda, que os pisos
térreos, sendo aqueles que têm de ser mais protegidos, são os mais directamente
observados por grande número de habitantes; e logo, uma sua imagem gradeada ou
entaipada afectará muita gente.
·
Segurança doméstica
por boa adequação funcional aos vários tipos de utentes. É importante
considerar que os cuidados de espaciosidade suplementar, de clarificação e
facilitação funcional e de segurança suplementar com as crianças têm também
utilidade para os adultos com deficiências físicas e psicológicas e para os
idosos; que também têm dificuldade em alcançar e levantar objectos, tendência
para escorregar em escadas, etc. Por outro lado os idosos também exigem, em
princípio, espaço suplementar e zonas amplas e desimpedidas, de certo modo para
substituir as faculdades de reacção mais rápidas e o vigor que foram perdendo.
E nesta matérias é importante ter em conta que tais cuidados devem ir até um
elevado nível de pormenor (ex., a simples mudança de cor de um pavimento pode
constituir uma barreira traiçoeira para uma pessoa com deficiência na visão,
que pode julgar que se trata de uma diferença de nível).
Mas, repete-se, que estes tipos de matérias
estão devidamente apresentados em estudos e em regulamentos específicos, cuja
consulta e cumprimento são, naturalmente, essenciais para quem projecta
habitação.
Aqui, a ideia é apenas registar a sua
existência, pois aqui estamos concentrados nas muitas matérias que se têm
deixado, essencialmente, ao livre arbítrio e á maior ou menor capacidade de
projectar Arquitectura de quem tem a responsabilidade de conceber uma dada
habitação.
E afinal não se trata apenas de tratar um pouco
daquilo que poucos têm tratado, mas também, tal como aponta Gilles Barbey:
"de
prestar mais atenção aos aspectos menos evidentes e mais afectivos da
habitação, porque eles podem incluir os significados mais profundos e as
influências mais fortes sobre o nosso comportamento". (11)
Algumas notas “pré-conclusivas”
Pensou-se, assim, um pouco, sobre a importância
do conforto ambiental e da integração paisagística de proximidade, assim como da
força imaginativa dos nossos mundos domésticos, numa dupla perspectiva que nos
poderá garantir uma habitação agradável e imaginativa.
Em tudo isto não nos podemos limitar aos aspetos
habitacionais que se podem caraterizar como específica e
"exclusivamente" funcionais, que serão, sempre, afinal, aqueles mais
fáceis de considerar, pois podemos até já imaginar ferramentas informáticas de
apoio ao projeto de arquitetura em que estas matérias estritamente
funcionais/dimensionais, eventualmente associadas a matérias regulamentares
ligadas, por exemplo, a aspetos de acessibilidade e segurança, possam ser já
contempladas de forma relativamente "automatizada".
O que será sempre mais difícil, mas também mais
estimulante é associar tais aspetos de "funcionalidade" e
"espaciosidade" aos outros múltiplos aspetos de concepção arquitectónica, visando-se a satisfação ampla e diversificada de quem habita e
usa os espaços projetados.
Notas:
(7) Jacqueline Palmade; Manuel Perianez,
"Des HLM à la Conquete de l'Espace", pp. 46 e 47.
(8) Claire e Michel Duplay, "Methode
Ilustrée de Création Architecturale", pp. 141 e 142.
(9) Julienne Loic, "Du Logement Consolidé
à d'autres Habitats", p. 43.
(10) Claude Lamure, "Adaptation du
Logement à la Vie Familiale", pp. 194 e 195.
(11) Gilles F. Barbey, "Man-Environment Interactions, Evaluations and Applications-Part3, Anthropological Analysis of the Home Concept: Some Considerations Based on the Intrepretations of Childrens' Drawings", p. 149.
O presente artigo corresponde a uma edição ampliada, modificada e
revista do artigo que foi editado na Infohabitar, em 29/06/2014, com o n.º 489.
Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar
seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar
assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e
científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o
pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e
comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) No mesmo sentido, de natural responsabilização dos
autores dos artigos, a utilização de quaisquer elementos de ilustração dos
mesmos artigos, como , por exemplo, fotografias, desenhos, gráficos, etc., é,
igualmente, da exclusiva responsabilidade dos respetivos autores – que
deverão referir as respetivas fontes e obter as necessárias autorizações.
(iii) Para se tentar assegurar o referido e adequado nível
técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma
quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou
que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na
Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição
dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se
circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é
pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser
de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado
tal e qual foi recebido na edição.
Infohabitar, Ano XVI, n.º 758
Uma habitação
globalmente bem integrada, espaçosa, funcional, acessível e segura (Bons
espaços e ambientes domésticos II) - Infohabitar # 758
Infohabitar
Editor: António Baptista
Coelho
Arquitecto/ESBAL – Escola
Superior de Belas Artes de Lisboa –, doutor em Arquitectura/FAUP – Faculdade de
Arquitectura da Universidade do Porto –, Investigador Principal com Habilitação
em Arquitectura e Urbanismo no Laboratório Nacional de Engenharia Civil
(LNEC), em Lisboa.
Revista do GHabitar (GH)
Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar –
Associação com sede na Federação Nacional de Cooperativas de Habitação
Económica (FENACHE).
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