Infohabitar, Ano XV, n.º 674
Tipologia dos pequenos espaços exteriores e
interiores/exteriores privados - Infohabitar 674
Artigo da Série “Habitar e Viver
Melhor”
por António Baptista Coelho (texto e imagens)
Sobre uma habitação feita mais por sítios
específicos do que por espaços ditos de/para actividades e funções domésticas.
Aproveitando para lembrar, entre outros autores
Arquitectos, o grande Christopher Alexander e a sua incontornável “linguagem de
padrões”, que tanto influenciou tanta gente e é tão poucas vezes citada ou
referenciada, podemos referir que uma habitação, um mundo doméstico que, para o
ser, tem de integrar, potencialmente, os vários mundos domésticos específicos
dos respectivos habitantes, mais o respectivo agregado comum e convivial, muito
mais do que um “simples” complexo funcional – e ainda assim o número de funções
é extenso – deveria ser constituído e constituível por uma potencial e muito
extensa diversidade de “cantos”, “recantos” e “sítios” adequados a uma enorme
variedade de misturas funcionais e apropriações pessoais e de grupo específicas
e dinâmicas.
Sobre a previsão destes tipo de “cantos”, “recantos”
e “sítios” domésticos, que são, em boa
parte, os grandes responsáveis pela criação de um grande mundo pessoal e
familiar, destacam-se alguns aspectos muito variados e, designadamente, de
agradabilidade e de conforto ambiental, de adaptabilidade, de funcionalidade
com sentido lato e de adequada, rica e apropriável pormenorização
arquitectónica, que, em seguida, muito brevemente se apontam – não
exaustivamente (trata-se de um texto naturalmente dinâmico).
Pequena tipologia dos pequenos espaços exteriores e interiores/exteriores privados
Nota preliminar
Depois de se ter desenvolvido um quadro de
caracterização e qualificação do que pode e deve ser a grande diversidade de pequenos
espaços exteriores e interiores/exteriores privados, considerando-se,
designadamente, os seguintes aspectos:
. relação com as janelas domésticas,
. relação com as vistas,
. criatividade volumétrica e pormenorizada,
. usos reais,
. aspectos de segurança,
. relação com o conforto,
. relação com a natureza,
. relação com a acessibilidade,
. e equilíbrio de aéreas domésticas interiores e
exteriores,
Avança-se, em seguida, para o que se pode designar
como de uma pequena tipologia desses pequenos
espaços exteriores e interiores/exteriores privados, sublinhando-se alguns
tipos mais correntes destes espaços e apontando-se, em cada caso, algumas das
suas características consideradas mais significativas.
Fig. 01: importância dos espaços exteriores privados
Realidade e importância da grande diversidade tipológica dos pequenos espaços exteriores e interiores/exteriores privados
Antes de avançar numa reflexão exploratória sobre o grande
leque tipológico que caracteriza, de facto, a extensa família de pequenos
espaços exteriores e interiores/exteriores privados, importa referir:
(i) que esta diversidade é extremamente ampla e
dificilmente “capturável” neste e em qualquer outro elenco tipológico, pois
remete, basicamente, para a dimensão da criatividade do projecto e, portanto,
para a fundamentada e potencialmente muito rica imaginação do respectivo
projectista;
(ii) que esta mesma extensa e imaginativa diversidade,
aplicada aos pequenos espaços exteriores e interiores/exteriores privados, pode
e deve ser elemento crucial e estruturador de uma grande variedade de
tipologias de habitações, de edifícios habitacionais e mistos e mesmo de
vizinhanças habitacionais e mistas;
(iii) que esta diversidade é ferramenta privilegiada
no desenvolvimento de soluções de vizinhança próxima e de edifícios caracterizadamente
privatizadas e/ou conviviais; e recomenda-se, vivamente, sibre esta matéria a
consulta da essencial obra de Serge Chermayeff e Christopher Alexander, intitulada “Community and Privacy: Toward a New
Architecture of Humanism”; onde fica evidenciado o papel dos pequenos e
médios espaços privados exteriores na configuração volumétrica de tipologias de
vizinhança, edicadas e de habitações bem marcadas por tais aspectos de
comunidade/convívio e privacidade;
(iv) que esta diversidade tipos de pequenos espaços
exteriores e interiores/exteriores privados, assumindo o também referido
potencial gerador de variadas tipologias de vizinhança, edifícios e fogos, o
faça no fundamental respeito das melhores condições de integração local e de
respeito e valorização da respectiva paisagem urbana e natural;
(v) e, finalmente, que este mesmo potencial de
grande diversidade de tipos de pequenos espaços exteriores e
interiores/exteriores privados, se prolonga e é desmultiplicada por uma
respectiva grande diversidade de espaços e elementos pormenorizados, sendo,
globalmente, este grande potencial de diversidade – dimensional, visual,
funcional, etc. – no desenvolvimento de exteriores e interiores/exteriores privados,
elemento fulcral da capacidade de apropriação que cada habitação pode e deve
proporcionar aos seus habitantes específicos e mesmo a grupos de habitantes
agregados em vizinhanças específicas e bem caracterizadas.
Fig. 02: variedade de espaços exteriores privados
Proposta introdutória para uma pequena tipologia dos pequenos espaços exteriores e interiores/exteriores privados (os títulos optados no texto são seguidos das suas designações mais correntes)
Sítios-floreira
Floreiras
Provavelmente, a menor tipologia que pode ser
considerada como integrando esta família dos pequenos espaços exteriores e
interiores/exteriores privados, é a que poderá designar-se como “sítios-floreira”;
espaços mínima ou razoavelmente dimensionados e pormenorizados no sentido de
poderem integrar plantas, directamente, ou em vasos.
Os sítios-floreira têm, naturalmente, inúmeras
configurações, mas, quando adequadamente projectados, integrando a imagem pública
dos respectivos edifícios, são, sempre, elementos muito enriquecedores dessa
imagem, gerando-se, frequentemente, soluções com expressivo carácter doméstico
e/ou de integração entre natureza e edifício/construção.
Frequentemente os sítios-floreira associam-se aos sítios-varanda
e aos sítios-alpendre na criação e configuração pormenorizada de várias
subzonas de estar e com diversas funcionalidades; sendo, ainda, elementos
protagonistas e muito expressivos nas respectivas imagens exteriores conjuntas.
Aspectos fundamentais e que têm de estar sempre presentes
na concepção destes “sítios-floreira” são: a sua funcionalidade em termos do crescimento
de plantas; a sua adequada impermeabilização, tendo em conta as regas
frequentes; e a segurança contra queda no uso/manutenção corrente das plantas aí
existentes – aspectos estes que condicionam totalmente a sua viabilidade.
Fig. 03: variedade de tipos de varandas.
Sítios-varanda
Varandas
Os sítios-varanda para o serem ou são pequenos
espaços, pouco mais do que janelas de sacada onde se pode ir lá fora, por
exemplo para ver a rua, em plenitude, ou então devem ser sítios onde se pode
estar sentado, em sossego e a conviver; espaços intermediários entre estas duas
situações-limite e onde não é possível "estar" são realmente pouco úteis.
Os sítios-varanda podem ter inúmeras configurações,
sendo estas, estruturantes das respectivas soluções domésticas e edificadas,
quando estamos a considerar uma adequada solução de Arquitectura; pois nunca
será de mais sublinhar que uma varanda não é um “adereço” que se junta ao
projecto do edifício, é algo que o integra plenamente e que pode ser, mesmo,
elemento fundamental da sua caracterização pública.
Globalmente e como é bem sabido há duas grandes “famílias”
de varandas: as mais abertas e talvez possamos dizer convexas e abertas à
paisagem, porque nela entrando; e as mais fechadas e talvez possamos dizer côncavas
e “retiradas” da paisagem, porque entrando no corpo do edifício, habitualmente
designadas de “balcões”; isto, embora, esta designação de “balcão”, também se
possa referir a um tratamento mais aberto ou mais fechado da relação/separação
entre o espaço habitável da varanda e o espaço “vazio”/paisagístico que lhe é
contíguo.
Os usos possíveis das varandas são múltiplos, mas
naturalmente favorecendo o estar e o lazer no exterior ou em espaços de transição
interior/exterior; e mesmo as questões de conforto ambiental poderão ter
adequado tratamento, caso se opte por uma adequada valorização de um uso
intenso e prolongado do exterior doméstico proporcionado pelas varandas.
Um aspecto frequentemente mal considerado no
desenvolvimento de varandas domésticas, refere-se à respectiva solução de
fenestração não permitindo adequadas condições de uso integrado da varanda e do
compartimento doméstico contíguo.
Outro aspecto frequentemente mal considerado no
desenvolvimento de varandas domésticas, refere-se à sua reduzida contribuição
para o conforto ambiental da respectiva habitação (ex., ventilação natural,
sombreamento, aproveitamento solar passivo, etc.)
Ainda outro aspecto que é muito sensível no
desenvolvimento de varandas domésticas, refere-se à sua frequente vandalização,
através de instalação de marquises inexistentes no projecto original e, por
regra, aplicadas sem qualquer harmonização em cada edifício e, também por
regra, totalmente dissonantes e destruidoras da respectiva imagem pública.
Finalmente e rematando esta pequena reflexão sobre
os sítios-varanda sublinha-se a essencial/vital questão da solução de relação/separação
entre o espaço habitável da varanda e o espaço “vazio”/paisagístico que lhe é
contíguo, em termos de segurança contra quedas, designadamente, de crianças;
uma matéria que se liga, designadamente, com a configuração pormenorizada de guardas
(ex., altura, espaçamento de elementos verticais, ausência de elementos que
possibilitem o escalamento, etc.) e que exige atenção específica e urgente.
Mas esta matéria dos sítios-varanda é, naturalmente,
merecedora de outros desenvolvimentos.
Sítios-jardim de Inverno
Jardim de Inverno
Os sítios-jardim de Inverno correspondem,
essencialmente, ao que tem de ser um adequado desenvolvimento, de raiz, de
grandes marquises envidraçadas e bem estruturadas em termos de ventilação
natural e protecção da radiação solar, de modo a que para além de
proporcionarem a criação de pequenos jardins de Inverno, muito adequados a
diversas actividades domésticas possam ser utilizadas numa estratégia de
aproveitamento passivo da energia solar, em termos da climatização da restante
habitação, considerando as condições de conforto de Verão e de Inverno.
Sítios-alpendre
Alpendres
Os sítios-alpendre correspondem, habitualmente, aos
espaços que poderiam ser de amplas varandas, mas prolongando ou sequenciando os
espaços domésticos térreos de edifícios unifamiliares.
Neste sentido eles integram, naturalmente, todos os
conteúdos funcionais e imagéticos das grandes varandas domésticas e,
designadamente, daquelas mais “profundas” e imbricadas na orgânica do respectivos
lar, mas juntando-lhes factores de espaciosidade, adaptabilidade e liberdade de
usos que se ligam à sua posição térrea e num espaço privado frequente e
relativamente amplo, podendo haver, assim, aqui, integração de outros usos mais
complexos de associar em varandas (ex., grelhadores, diversificados espaços de
estar, etc.).
Um outro aspecto que importa ter em conta no
adequado desenvolvimento dos sítios-alpendre é a sua relação ambivalente ou
multilateral, tanto com o interior doméstico, como com a continuidade do espaço
exterior privado; qualidade esta que é, habitualmente, garante de um adequado
projecto global e que vive, naturalmente, tanto de aspectos globais de
estruturação, como de uma adequada e sensível pormenorização.
Ainda um outro aspecto crucial no desenvolvimento
dos sítios-alpendre é, naturalmente, o seu expressivo protagonismo na criação
de excelentes espaços de transição entre interior e exterior.
Pequenos pátios interiores ou "poços" de luz natural
Pátios interiores
Os pequenos
pátios interiores ou "poços" de luz natural são elementos polarizadores
e estratégicos na organização de uma habitação, levando luz natural
inopinadamente a sítios onde ela não é expectável e criando verdadeiras
atmosferas em que a respectiva interiorização é ainda acentuada por essas
pontuais e marcantes presenças da realidade exterior; numa marcação que pode
ser acentuada por plantas que povoem esses pequenos pátios interiores.
Mais do que lugares, estes pequenos pátios
interiores criam lugares domésticos nas suas envolventes e por contraste nos
compartimentos que pontuam e perfuram.
Sítios-pátio
Pátios
Os sítios-pátio, podem e devem ser verdadeiros
compartimentos domésticos exteriores, plena e intensamente vividos durante boa
parte do dia e do ano, proporcionando uma qualidade vivência únicas, seja nos
seus próprios espaços, seja nas suas envolventes.
Podem ser mais ou menos naturalizados e pouco têm a
ver com a sua posição no edifício pois podem integrar-se tanto junto ao nível
térreo, estruturando e expandindo os respectivo embasamentos em zonas muradas e
com acessos alternativos ao espaço público, como podem desenvolver-se nos pisos
sobre este nível térreo em soluções muito encerradas ou parcilamente abertas em
terraços, e também nos níveis superiores junto à cobertura.
Os sítios-pátio são elementos fundamentais na
aproximação das habitações em edifícios multifamiliares a uma caracterização
unifamiliar; associando-se vantagens de uma e outra tipologia e
proporcionando-se grande diversidade de soluções edificadas formais e
funcionais.
Podem por vezes caracterizar expressivamente tipologias
densas e de baixa altura proporcionando como que uma geminação entre bandas
edificadas e bandas de pátios expressivamente murados (muros altos e
atraentes).
Sítios-jardim ou sítios-horta
Jardins e hortas
Os sítios-jardim podem ser considerados, quer como
uma opção a desenvolver nos sítios-pátio, quer como soluções específicas de
jardins privados marcando essencialmente as envolventes dos pisos térreos, ou,
mediante condições especiais, em outros níveis dos edifícios.
Os sítios-jardim são também elementos fundamentais
na aproximação das habitações em edifícios multifamiliares a uma caracterização
unifamiliar; associando-se vantagens de uma e outra tipologia e
proporcionando-se grande diversidade de soluções edificadas formais e funcionais.
Quanto aos jardins/hortas ou mesmo a espaços
exclusivamente dedicados à horticultura, importa considerar que a sua
visibilidade pública deverá ser especialmente cuidada, em termos da sua
localização e tipo de vedação, podendo optar-se, mesmo por muros ou outras
vedações visualmente bem cuidadas e opacas até à altura da vista pedonal contígua;
uma solução que procura equilibrar e reservar vistas sobre espaços hortícolas que
poderão estar, frequentemente, com aparência menos agradável. No entanto pode
haver mesmo interesse estratégico em proporcionar continuidades de vistas sobre
sequências significativas de talhões de pequenas hortas com uso privado,
constituindo estas vistas elementos protagonistas de desejáveis extensos
percursos pedonais estruturadores de vizinhanças.
Sítios-arrumação
Arrumações
Os sítios-arrumação no exterior são, por um lado,
frequentemente, responsáveis pela funcionalidade desse mesmo exterior, no
sentido de lhe proporcionarem a arrumação rápida de uma grande diversidade de
elementos de apoio ao recreio, lazer e a trabalhos vários (desde passatempos mais
“sujos” aos frequentes trabalhos de jardinagem e horticultura); e, são, também,
infeliz e frequentemente, responsáveis pelo desenvolvimento de imagens e
ambientes muito desagradáveis, porque expressivamente desarrumados e tantas
vezes dissonantes, isto sempre que não há o cuidado de assegurar uma prévia e
adequada harmonização das suas arquitecturas pormenorizadas – que podem ter,
frequentemente, um carácter relativamente provisório (ex., construções em
madeira), mas que nem por isso devem deixar de ser marcadas por uma adequada integração
e dignidade de imagens.
“Sítios-porta” e “sítios-vedação”
Portas e vedações
Talvez não fosse necessário fazer, aqui, esta referência
específica aos “sítios-porta” e aos “sítios-vedação”, quando se aborda esta matéria
dos pequenos espaços exteriores e interiores/exteriores privados, isto porque a
respectiva pormenorização deveria ser algo extremamente cuidado no respectivo
projecto de arquitectura.
No entanto, porque tal por vezes não acontece,
dando-se um pouco a ideia (errada) que é matéria pouco importante para ser
adequadamente considerada, aqui se regista esta necessidade, lembrando-se que a
sua boa e bem pormenorizada Arquitectura será responsável por grande parte do impacto
visual térreo, diariamente sentido pelos respectivos habitantes, e
lembrando-se, ainda, que há aqui que harmonizar aspectos expressivamente distintos
e, portanto complexos na sua integração, como são as questões de: segurança,
vista exterior mais pública, vista interior mais doméstica, privacidade em
determinadas zonas e convivialidade noutras, aberturas visuais mais profundas
ou mais fechadas do interior sobre o exterior, e relacionamentos entre natureza
e interior doméstico.
Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos
artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo
editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um
significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e
comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos
respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva
responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo
sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e
científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito
significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver
com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo
GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à
respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas
e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do
teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou
negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi
recebido na edição.
Infohabitar, Ano XV, n.º 674
Tipologia dos pequenos espaços exteriores e
interiores/exteriores privados - Infohabitar 674
Artigo da Série “Habitar e Viver
Melhor”
Infohabitar
Editor: António Baptista Coelho
abc.infohabitar@gmail.com
Revista do GHabitar (GH) Associação
Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar,– Associação
com sede na Federação Nacional de Cooperativa de Habitação Económica (FENACHE).
Apoio à Edição: José Baptista Coelho -
Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.
Sem comentários :
Enviar um comentário