Infohabitar,
Ano XII, n.º 585
Trabalhar em casa, escritório doméstico, home office (I) - Infohabitar n.º 585
António Baptista Coelho
Artigo
CII da Série habitar e viver melhor
Atualidade:
(4.º
CIHEL, lançado aqui na Infohabitar, na próxima semana)
4.º
Congresso Internacional da Habitação no Espaço Lusófono,
desta vez associado a uma série de atividades, e a diversas cidades, decorrerá
novamente em Portugal, entre 5 e 10 de março de 2017; na próxima semana,
aqui na Infohabitar, terá início o lançamento do 4.º CIHEL.
Neste artigo da “Série habitar e viver melhor”, abordamos
a atual realidade, em tantas habitações e ainda tantas vezes pouco ou nada
considerada, do trabalho em casa – numa perspetiva de trabalho muito associado a
um posto de trabalho “em mesa” e atualmente muito informatizado; portanto o que
podemos designar por escritório doméstico – em inglês home office (matéria que já proporcionou teses de arquitetura).
E dá vontade de dizer, desde já, que sendo embora uma
realidade atualmente presente em grande número de famílias e habitações não
encontrou ainda força programática específica – afinal, o programa
funcionalista da “máquina de habitar” acaba por ser frequentemente muito rígido
e pouco favorável às necessárias atualizações; ou será esta uma situação que
carateriza uma parte significativa e menos sensível/atualizada da oferta habitacional?
Escritórios e espaços de trabalho profissional em casa
Esta
temática do trabalho profissional ou não-doméstico em casa – habitual e
globalmente designado por home-office
– poderia inaugurar um outro grande capítulo desta série editorial, o que não
se pretende, pensando-se no tema numa perspectiva suplementar às actividades
mais directamente ligadas à habitação.
Os
espaços para trabalho profissional ou não-doméstico em casa devem ser razoavelmente
separados dos restantes espaços da casa e estarem próximos do vestíbulo de
entrada, tanto porque podem apoiar actividades que exigem algum sossego e
isolamento (escrita, estudo e leitura) ou porque podem ser pouco compatíveis
com a habitação (produzem ruídos e lixos), ou porque essas actividades podem
incluir a recepção de estranhos à família.
Considera-se
ainda que uma opção por uma habitação que integra um pequeno espaço de home-office pode inverte-se em situações
em que a actividade profissional assume uma importância determinante, e que se
ligam a interessantes formas específicas de habitar e de viver. Lembra-se, por
exemplo, o habitar e trabalhar de algumas pessoas idosas e com deficiências
físicas ou sensoriais, mas ainda profissionalmente activas, e que transformam a
sua habitação num espaço quase unificado em que vivem, descansam, convivem e
trabalham, conjugando um máximo de actividades num único grande espaço
multifuncional – uma situação que muito ganhará com a possibilidade de se
desenvolver um amplo espaço vivencial, muito agradável, funcional e que seja
usável com autonomia relativamente a outras zonas domésticas.
E,
naturalmente, haverá, sempre, o exemplo, “clássico”, do profissional que
integra o seu espaço de trabalho na sua habitação e que, nesse sentido,
tentará, na medida do possível separar, ao máximo, as duas funções, para que
qualquer delas possa ser desempenhada com a máxima autonomia e eficácia – e
neste caso é clara a necessidade de uma acessibilidade o mais possível autónoma
relativamente aos espaços comuns ou públicos e de um apoio o mais possível
autónomo em termos de serviços sanitários.
De qualquer
forma não parece ser fácil a integração de espaços profissionais em habitações
rigidamente hierarquizadas em zonas chamadas “funcionais”, de estar e de
quartos, assim como não parece ser fácil a integração de espaços profissionais
em habitações cujas dimensões estão directamente associadas a um reduzido leque
de ocupações habitacionais próximas de áreas e dimensões consideradas mínimas.
Podemos mesmo sublinhar a grande dificuldade de integração de um home-office numa pequena habitação em
que se entra directa ou quase directamente para uma pequena sala-comum e desta
sala se passa para uma rígida zona de quartos – e sublinha-se o potencial de
adaptabilidade e de apropriação e liberdade doméstica que se perde com tais
opções.
Fig. 01: o espaço de trabalho profissional doméstico exige condições específicas, seja integrado com outras funções domésticas (como é o caso na imagem), seja com condições de localização, espaciais e de certa autonomia particularizadas; e não tenhamos dúvidas de que muitas dessas condições dependem de um bom projeto de arquitetura, que as propicie, mesmo em condições de espaciosidade mínimas, como acontece na imagem – habitação integrada no conjunto urbano "Bo01 City of
Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em
2001 (ver nota final) - Arquitetura: Tina Wik.
Escritório doméstico, home office - associações interessantes
A
associação mais corrente é assegurada entre zonas de trabalho e zonas de
entrada na habitação, uma solução que proporciona o funcionamento praticamente
independente da referida zona de trabalho, um funcionamento que se caracteriza
por total autonomia caso esta zona tenha uma casa de banho privativa ou muito
próxima.
As
associações mais interessantes são feitas entre as zonas de trabalho e as zonas
de estar, seja numa perspectiva de forte associação em continuidade espacial,
seja numa associação que permita o funcionamento dos espaços de estar e de
trabalho independentemente ou de forma unificada.
Escritório doméstico, home office - hábitos interessantes
As zonas para trabalho não doméstico e para recreio podem ser muito variadas, apontando-se as seguintes:
·
Salas, saletas e quartos de trabalho e/ou de
lazer e recreio.
·
Varandas e anexos (variados tipos de trabalhos
manuais e oficinais).
·
Quintal ou pátio privado (especialmente para
horticultura e floricultura).
·
Quartos de trabalho e escritórios, que são
quartos específicos e relativamente especializados, ou, pelo menos,
autonomizados nos seus acessos.
·
Sítios para trabalhar
·
Sítios para ler, para ouvir música, para ver
televisão
·
Associação de conjuntos de pequenos espaços ou
sítios, como os que acabaram de ser referidos, em "suites", compostas
por diversos desses espaços, além das zonas de dormir/repousar e dos apoios em casas de banho; uma solução
muito ligada a casais e pessoas isoladas que queiram conciliar a convivência
familiar com a manutenção e o desenvolvimento dos seus "universos
pessoais" – uma possibilidade associada aos mais diversos grupos etários,
embora com evidente aplicação no caso da habitação de pessoas idosas e de
jovens adultos. No limite esta solução poderá dispor de acesso independente e
mesmo de alguns apoios mínimos para preparação de refeições, numa solução que
dá à habitação um enorme potencial de adaptabilidade e versatilidade.
Naturalmente que esta solução deve ser adequadamente tratada em termos de
privacidade visual e acústica relativamente ao resto da habitação, bem como da
sua máxima autonomização em termos de acesso ao exterior da habitação.
Escritório doméstico, home office - aspectos motivadores
As zonas de trabalho são
marcadas, idealmente, por uma forte apropriação seja em termos de ocupação por
mobiliário, seja em termos de elementos funcionais.
Escritório doméstico, home office - problemas correntes
Os principais problemas
referem-se, frequentemente, a intrusões mútuas, em termos de ruído e de
privacidade, entre as zonas de estar e as zonas de trabalho em casa.
E esta é matéria que exige muito trabalho de investigação teórico-prático e urgente.
E esta é matéria que exige muito trabalho de investigação teórico-prático e urgente.
Escritório doméstico, home office - questões levantadas (dimensionais e outras)
As questões levantadas com
mais frequência terão a ver, como se referiu, com aspectos de isolamento ou
separação relativamente aos ruídos domésticos e de privacidade relativamente às
actividades que se desenrolam em casa. No entanto é fundamental a existência de
condições adequadas ao desenrolar das várias actividades com destaque para os
outros aspectos de conforto ambiental, e designadamente com aspectos de
iluminação natural, ventilação e temperatura.
Os aspectos dimensionais
parecem não levantar problemas críticos, acontecendo, frequentemente, que os
espaços para trabalho profissional ou não-doméstico em casa decorrem em
pequenos compartimentos, recantos e partes de compartimentos espacialmente
exíguas. (1)
Notas:
(1) Alexander
refere que um recanto para trabalho deve ter um mínimo de 6m2 de área e ser
encerrado por paredes e janelas ao longo de 50% a 75% do seu perímetro; a
posição ideal para trabalho deve permitir vistas para fora do recanto, frontais
ou laterais – Christopher Alexander; Sara Ishikawa; Murray Silverstein; et al,
"A Pattern Language/Un Lenguaje de Patrones", pp. 744 a 747.
·
Nota importante sobre as
imagens que ilustram o artigo:
As imagens que acompanham este artigo e que irão,
também, acompanhar outros artigos desta mesma série editorial foram recolhidas
pelo autor do artigo na visita que realizou à exposição habitacional
"Bo01 City of Tomorrow", que teve lugar em Malmö em 2001.
Aproveita-se para lembrar o grande interesse desta
exposição e para registar que a Bo01 foi organizada pelo “organismo de
exposições habitacionais sueco” (Svensk Bostadsmässa), que integra o Conselho
Nacional de Planeamento e Construção Habitacional (SABO), a Associação Sueca
das Companhias Municipais de Habitação, a Associação Sueca das Autoridades
Locais e quinze municípios suecos; salienta-se ainda que a Bo01 teve apoio
financeiro da Comissão Europeia, designadamente, no que se refere ao
desenvolvimento de soluções urbanas sustentáveis no campo da eficácia
energética, bem como apoios técnicos por parte do da Administração Nacional
Sueca da Energia e do Instituto de Ciência e Tecnologia de Lund.
A Bo01 foi o primeiro desenvolvimento/fase do novo
bairro de Malmö, designado como Västra Hamnen (O Porto Oeste) uma das
principais áreas urbanas de desenvolvimento da cidade no futuro.
Mais se refere que, sempre que seja possível, as
imagens recolhidas pelo autor do artigo na Bo01 serão referidas aos respetivos
projetistas dos edifícios visitados; no entanto, o elevado número de imagens
de interiores domésticos então recolhidas dificulta a identificação dos
respetivos projetistas de Arquitetura, não havendo informação adequada sobre os
respetivos designers de equipamento (mobiliário) e eventuais projetistas de
arquitetura de interiores; situação pela qual se apresentam as devidas
desculpas aos respetivos projetistas e designers, tendo-se em conta, quer as
frequentes ausências de referências - que serão, infelizmente, regra em relação
aos referidos designers -, quer os eventuais lapsos ou ausência de referências
aos respetivos projetistas de arquitetura.
·
Notas
editoriais:
(i) Embora a edição dos
artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo
editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um
significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e
comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos
respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva
responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o
mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e
científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito
significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver
com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo
GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à
respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas
e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do
teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou
negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi
recebido na edição.
Infohabitar, Ano XII, n.º 585
Artigo
CII da Série habitar e viver melhor
Trabalhar
em casa, escritório doméstico, home
office (I) - Infohabitar n.º 585
Editor: António Baptista
Coelho
– abc@ubi.pt, abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade
Habitacional, Mestrado Integrado em Arquitectura da Universidade da Beira Interior - MIAUBI
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação -
Olivais Norte.
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