Ligação
direta (clicar) para: 725 Artigos Interactivos, edição revista, ilustrada
e comentada - 38 temas e mais de 100 autores.
Infohabitar, Ano XVI, n.º 738
Requalificar a cidade: imagem urbana e habitação – Infohabitar # 738
por António Baptista Coelho (texto e imagens)
Edição: terça-feira, 14 de
julho de 2020
Editorial
Caros leitores da Infohabitar, estimados
amigos,
Na sequência dos últimos artigos, aqui
editados, em que refletimos sobre uma paisagem urbana bem pormenorizada com
base em misturas diversificadas de tipologias edificadas e respetivas estratégias
de acessibilidade,
abordamos neste artigo as áreas da imagem
urbana de proximidade e os seus essenciais contornos relativos aos aspetos de
identidade, apropriação e escala humana, que devem estar bem presentes e marcar
os espaços que habitamos interior e exteriormente.
Esperando que estes artigos agradem aos
nossos estimados leitores e lembrando-se, sempre, que serão muito bem-vindas
eventuais ideias comentadas a propósito destes artigos e propostas de novos
artigos (a enviar para abc.infohabitar@gmail.com ao meu
cuidado),
despeço-me, até à próxima semana, com saudações
calorosas e desejos de muita força e de boa saúde,
Lisboa, Encarnação, em 6 de julho de 2020
António Baptista Coelho
Editor da Infohabitar
Requalificar a cidade: imagem urbana e
habitação – Infohabitar
# 738
António Baptista Coelho
Cidade reabitada e requalificada
As intervenções na cidade central e na cidade periférica são,
evidentemente, distintas na respetiva natureza, mas podem e devem estar
unificadas por um objetivo geral que concilie o reabitar e o reimaginar dos
espaços urbanos.
Num tempo em que obrigatoriamente descobrimos as virtudes de um uso mais
intenso dos nossos espaços domésticos, e que, de tal forma, também pusemos a nu
muitas das suas deficiências, deveremos, também, aproveitar para repensar como
tudo fazer para podermos viver a cidade mais intensa e prolongadamente, e assim
reconquistaremos as três dimensões do habitar – do espaço doméstico ao espaço
bem urbano e de permeio o espaço da vizinhança de proximidade.
Uma tal perspetiva faz realçar, entre tantos outros aspetos, a ideia de
que “a cidade”, no sentido do espaço urbano global, ter de ser, cada vez mais,
de pequena escala, isto é um espaço urbano feito de continuidades e sequências,
bem cadenciadas, de outros mais pequenos espaços urbanos; e assim,
sucessivamente, até às soleiras e aos peitoris das janelas e das portas
domésticas ou para-domésticas.
Tal perspetiva vive, evidentemente, de uma excelente pormenorização,
muito bem qualificada no seu desenho de arquitectura e muito sensível aos
respectivos habitantes/utentes e aos próprios sítios que são habitados,
preenchendo-se e reconstruindo-se continuidades urbanas, densificando-se
estrategicamente para melhor vitalizar, mas também abrindo-se espaço público
quando tal é aconselhável, e resgatando-se e recuperando-se uma atraente e
motivadora imagem urbana, que passa por uma bem fundamentada escolha tipológica
de conjuntos de edifícios e espaços públicos.
E desta forma, cumprindo-se um tal processo, que, repete-se, só é
possível com excelente e humanamente empenhada Arquitectura, poderemos
(re)construir um espaço urbano tão útil e tão globalmente sustentável, como
visualmente estimulante e lúdico, pois de tal sorte as ferramentas de criação
formais e funcionais terão enorme variedade em si mesmas e nas múltiplas
possíveis e inesperadas combinações possíveis.
E em tudo isto fica evidenciado o grande interesse e a oportunidade do
refazer cidade, reabitando-a e reimaginando-a nas suas imagens e funções.
Fig. 01: os variados, estimulantes e sempre excelentes ambientes urbanos
e residenciais de Alvalade, em Lisboa – urbanismo (verdadeira Arquitectura
urbana) de Faria da Costa; uma malha tão citadina quanto residencial e que se
reinventa, continuamente, com novos habitantes/utentes e até novas atividades.
Passear numa cidade de proximidades e
vizinhanças
Fazer cidade ou refazer cidade tem tudo a ver com a “tentação de andar só
mais cem metros, e depois mais outros cem”, devido ao encanto inesperado de
edifícios históricos, mas também de simples lojas em esquinas e pracetas
acolhedoras; escreveu-o Edmund White sobre Paris (1), mas podia tê-lo
feito sobre qualquer cidade viva e à escala do homem, pois uma cidade deve
proporcionar um complemento funcional mas também um verdadeiro suplemento de
alma ao habitante.
Para além de ser funcional, no respeito de variados processos
urbanísticos essenciais e muito ligados aos fluxos urbanos e de transportes
públicos, a cidade deve estimular o passeio, a pé, pausado e agradável por
sequências urbanas amigáveis, vivas, estimulantes e culturalmente
enriquecedoras, e para tal há que saber fazer ou, frequentemente, refazer tais
qualidades urbanas; e evidentemente tais aspectos dependem de uma verdadeira
qualidade arquitectónica e urbanística, uma qualidade que vá além do desenho e
que toque as pessoas, o que não é fácil, mas é hoje em dia essencial, neste
século das cidades.
Interessa, já agora, referir aqui que uma tal aliança entre
funcionalidade global urbana e uma respetiva, profunda e global humanização pedonal não é mais do
que harmonizar duas faces de uma mesma moeda, que têm estado, por sistema,
apartadas: a funcionalidade urbana, tantas vezes mal servida por um planeamento
muito pouco ligado a uma verdadeira satisfação dos habitantes/utentes, em que
os equipamentos são previstos em termos de m2/habitante, sem se considerarem,
quase por regra, vitais aspetos de continuidade e densidade urbanas; e uma
visualidade limitada e apenas “turística”, onde se reconhecem e sobrevivem, à
conta essencialmente dos chamados bairros históricos, aspetos de verdadeiro
desenho urbano ou de arquitetura urbana considerados e tantas vezes criticados
como “pitorescos”.
Mas não tenhamos dúvida de que uma boa cidade é tão funcional como
visual, tão eficaz como estimulante e tão prática como passeável; e isto desde
o centro às vizinhanças residenciais mais ou menos “secretas”, porque estrategicamente
aproximadas dos pólos urbanos.
E é importante sublinhar que esta ampla e fundamental perspectiva de
qualidade arquitectónica urbana e residencial – funcional e visual, funcional e
formal – é frequentemente encontrada em muitos dos nossos bairros históricos e
patrimoniais, mais coerentes e estimulantes.
Na prática, não tenhamos qualquer dúvida de que necessitamos de uma
cidade, de bairros, de vizinhanças e de ruas mais passeáveis, mais
amigáveis, mais habitáveis; e tudo isto tem a ver com a possibilidade que o
habitante a pé tenha de viver intensa e prolongadamente esses espaços urbanos,
usando e gozando a cidade em paz e com tempo, a pé, num quadro de base que
promove, entre outros aspetos, uma fundamental calma no viver, a relação com a
natureza e ocasiões e cenários mais conviviais e mais positivos em termos de
segurança pública.
Uma cidade cujos remansos habilitem uma sua fruição prática e fluída, ou
gostosa e vagarosa, ficando a opção para o habitante; e uma cidade que se
ofereça ao seu habitante/utente com variadas opções de uso de proximidades e de
sequências, proporcionando variados “estares” perto de casa, a uma escala quase
doméstica ou pré-urbana, que serão extremamente úteis no equilibrar tanto do
uso doméstico como do urbano.
E esta sempre libertadora opção pela cidade do vagar, evidentemente, não
é inimiga, mas sim aliada de uma adequada estrutura de transportes públicos e
de pólos de estacionamento, encontra bons modelos na cidade histórica e bem
planeada (Alvalade/Areeiro está sempre presente) e liga-se a uma fundamental
cidade diferenciada e de usos mistos, pontuada por bairros e pequenas
vizinhanças que apetece habitar e que, para além desse prazer de habitar são
verdadeiras fontes de vitalidade urbana.
(fig. 02) Um exterior de uso público para todos e bem vivo, que estimule
a permanência e o vagar no seu uso e bem adequado aos habitantes mais sensíveis
às condições de conforto – tão adequada como urbanamente sóbria reabilitação de
uma rua do Porto; uma base “cinza” sobre a qual se evidenciam variados
exemplares de simples e boa Arquitectura urbana.
Cidade do pormenor e da imagem urbana
Por variadas razões, a cidade tem de se reconciliar com a escala humana e
com os usos pedonais, seja porque precisamos de reduzir as emissões de CO2,
seja porque é urgente reconquistarmos o uso individual e convivial de ruas e
pracetas. Não por qualquer razão nostálgica e eventualmente turística de se
recuperar e eventualmente reinterpretar um espaço urbano marcado pelo arranjo
espacial das portas de entrada e dos outros vãos e dos estimulantes espaços de
transição entre interior e exterior; mas sim por ser desejável que a cidade
volte “a ter como medidas de planeamento o peão e o utente do transporte
público. Tal corresponderia, segundo penso, a uma ligação mais epidérmica com o
espaço, à possibilidade de se instalar durabilidade” (e talvez verdadeira
sustentabilidade) “no tempo de gozo da cidade” – escreveu-o António Pinto
Ribeiro. (2)
Isto é possível em cidades e em espaços urbanos que associem nos mesmos
espaços de proximidade diversas atividades compatíveis, que se ativem
mutuamente – habitação, comércio, serviços e lazer – e cujos espaços urbanos se
caraterizem por imagens estimulantes e que sirvam uma cidade do vagar e do
pormenor, para além de cumprirem, naturalmente, os respetivos aspetos de
funcionalidade e acessibilidade.
Misturas funcionais estas que atualmente serão cada vez mais possíveis e
estimulantes com os mundos da virtualidade e da comunicação, com a livre e
estimulante dimensão do trabalho em casa ou fora do escritório, com a variada
disponibilidade de novos meios e plataformas de transporte urbano
“individualizados”, com a libertação das entregas dos mais variados bens ao
domicílio, com as mais variadas e imaginativas misturas funcionais em termos de
pequenos equipamentos conviviais e, afinal, com o desenvolvimento da sociedade
do lazer e da cultura. Tudo isto harmonizando-se muito bem com uma cidade da
imagem urbana e, potencialmente (opcionalmente) do vagar e muito mal com a crua
megacidade das zonas funcionais quase estanques e descaraterizadas.
Esta é uma das ideias-base defendidas neste texto: há critérios básicos
de funcionalidade, acessibilidade e segurança que têm de ser cumpridos nas
intervenções de construção e reabilitação de espaços públicos urbanos, mas a
qualidade de uso global destes espaços depende não só destes aspetos mas de
todo um outro conjunto de matérias de projeto, ligadas à humanização e
qualificação dos respetivos usos e imagens urbanas, que são verdadeiramente
vitais para o êxito destas intervenções; num verdadeiro “resgate” da
importância vital que tem a boa “imagem urbana”, ou a verdadeira Arquitectura
Urbana – e nesta matéria nunca será de mais lembrar o incontornável Gordon Cullen
e o seu essencial livro “A Paisagem Urbana - Tratado de Estética
Urbanística” (tradução do título, bem adequado, da edição espanhola de
1974, pela Editorial Blume).
E chegamos assim ao que se julga ser o atual interesse estratégico no
desenvolvimento de uma boa imagem urbana, matéria que passa pela boa prática do
desenho urbano ou de uma verdadeira Arquitectura Urbana, sensível, bem
qualificada/dirigida e adequadamente pormenorizada; uma Arquitectura Urbana que, julga-se, obrigaria a uma adequada revisão curricular de algumas escolas de
Arquitectura.
(Fig. 03) Uma boa intervenção numa vizinhança residencial bem viva no
Centro Histórico de Tavira; e até nem parece difícil desenhar ou redesenhar um
espaço público verdadeiramente habitável; que apetece habitar tanto quanto
fotografar. E valeria a pena elaborar um pouco sobre esta imagem, por exemplo,
onde se pressente um exterior abrigado e quase ao mesmo nível dos interiores
contíguos, exteriores estes que, em conjunto com o teto arbóreo, definem um
verdadeiro e grande, mas não “enorme”, “compartimento” exterior de vizinhança.
Imagem urbana, paisagem urbana
No entanto, e tal como escreveu Dina De Paoli, “o desenho urbano é pouco
valorizado no cotidiano das pessoas, que apenas o valorizam quando percebem a sua
ausência, uma vez que já tenham vivenciado espaços de qualidade.
[e] Até mesmo os profissionais responsáveis por projetar e construir espaços,
por vezes, o ignoram, sem reconhecer que o desenho urbano, além de agregar
valor financeiro, agrega sustentabilidade e valores sociais, culturais e
ambientais.” (3)
As matérias associadas ao desenho urbanos são múltiplas - espaciais,
temporais, sociais, funcionais, estéticas e perceptivas – e, temos de o reconhecer,
são de difícil aplicação, porque não é possível reduzi-las a regras e a
regulamentos, e isso é difícil pois obriga a que as intervenções sejam
fortemente baseadas em termos culturais e sociais, para além de dependerem
de uma sensibilidade e qualidade projectuais que não estão ao alcance de todos
e que se melhora claramente com uma prática continuada de intervenções.
E voltamos a citar Dina De Paoli, quando esta arquiteta salienta que
Gordon Cullen (1961) não tinha a intenção de ditar regras para as cidades, mas
sim manipulá-la dentro de certo grau de tolerância e, para isso, buscou novos
valores e novos padrões. Propôs três maneiras de trazer vida ao ambiente
construído. A primeira é o movimento através dos espaços (visão serial); a
segunda, a percepção do lugar; e por fim, a terceira diz respeito à morfologia
e ao conteúdo da cidade”, desenvolvendo-se “a constante atenção do ser humano
sobre sua posição no espaço, seu sentimento de pertencimento ao lugar e a sua
identidade, junto com a percepção de outros lugares.” (4)
E a mesma autora salienta que assim se evidencia “o objetivo de
manipular, jogar com os elementos da cidade para que exerçam sobre as pessoas
um impacto de ordem emocional, uma vez que o cérebro humano reage ao contraste,
à diferença entre coisas, e, ao ser estimulado por duas imagens, ele percebe a
existência desse contraste. Assim, a cidade torna-se visível num sentido mais
profundo, animada de vida pelo vigor e drama dos seus contrastes, quando isso
não acontece, ela passa despercebida, é uma cidade amorfa. Ao se desenhar a
cidade segundo a ótica da pessoa que se desloca (pedestre ou de carro), a
cidade passará a ser uma experiência eminentemente plástica.” (5)
Afinal, como escreveu Kevin Lynch, “a paisagem urbana é, para além de outras
coisas, algo para ser apreciado, lembrando e contemplado” (LYNCH, 1960, p.09);
e, podemos juntar: algo para nos emocionar, que dinamize a identidade e a
apropriação em relação aos espaços urbanos que mais usamos ou que visitamos.
Naturalmente que todo este leque de potencialidades da imagem urbana,
em termos da sua capacidade de moldar a paisagem da cidade tem aplicações
diretas e muito efetivas nas intervenções de reabilitação de velhos espaços
públicos mal-usados e arruinados, mas que integram em si excelentes qualidades
de Arquitetura Urbana, por vezes realizada com relativa espontaneidade, mas
sempre numa estreita relação com a cultura e a cidade, ao longo de séculos, e
de outros espaços urbanos recentes e descaraterizados, que foram concebidos, praticamente,
na ignorância desta disciplina urbanística, sem pontes de ligação quer com a
cidade, quer com as suas próprias habitações e os seus próprios equipamentos –
feitos estes no respeito de regras estritamente funcionalistas.
(fig. 04): A excelente intervenção de reabilitação urbana e de espaços
públicos, integrada no Programa POLIS, no centro de Castelo Branco; este Programa
tem, sem dúvida, interessantes intervenções ao nível dos espaços públicos
disseminadas por Portugal e que se julga nunca terem sido devidamente
“avaliadas” no sentido de bem percebidas e divulgadas nos seus diversos
aspetos; e importa sublinhar que fazer intervenções como estas, em que o espaço
público é verdadeiramente o “sujeito” evidenciado, é ainda matéria a salientar
em Portugal.
Melhorar a urbanidade de espaços
atualmente ditos “urbanos”
Atuar de tal forma correponde ao desenvolvimento de uma reabilitação
urbana com influência direta na qualificação da cidade, designadamente, se uma
tal intervenção em termos de imagem urbana estiver aliada a ações sustentadas
de re-habitação e revitalização das zonas intervencionadas.
Visando-se uma cidade mais estimulante e habitada, uma cidade integrada
por vizinhanças cuja imagem urbana seja requalificada ao serviço de uma melhor
habitabilidade local e relacional, em espaços públicos que sejam, naturalmente,
mais: defensáveis; conviviais e privatizados; eficazmente geridos; apropriáveis
e verdadeiramente humanizados ou amistosos.
Fig. 05: Um bom exemplo de introdução de um moderno pequeno edifício de
habitação de interesse social de promoção municipal num velho bairro de Lisboa,
junto ao Largo do Conde Barão, edifício com projeto de Eugénio Castro caldas e
Nuno Távora (2005).
Cidade e Habitação Apoiadas
Um aspeto que importa sublinhar é que recuperar a cidade para o cidadão a
pé é assegurar boa parte do re-habitar da cidade; a outra parte refere-se à
re-introdução estratégica, ao longo dessas desejáveis continuidades de espaços
urbanos, de unidades residenciais diversificadas e de pequenos equipamentos
conviviais.
De certa forma é uma opção por viver em habitação apoiada pela
cidade e em habitação que apoia a cidade, e esta é, também e complementarmente,
uma forma de desmistificar a “habitação social que é (a mais) apoiada”, abrindo
lugar para a sua total integração com a restante habitação e com a cidade.
Nesta perspectiva e para além dos grupos sociais economicamente
desfavorecidos há que pensar, especificamente, nos idosos, favorecendo-lhes a
continuidade da boa vivência da sua cidade, mas também em novos habitantes
especialmente disponíveis para participar na vitalização urbana local, como é o
caso de jovens adultos e pequenos agregados familiares; e há que pensar seja
nos apoios funcionais destas pessoas em termos de acessibilidades e
equipamentos, seja no estímulo da sua vivência direta do exterior contíguo às
suas habitações.
E as escolhas tipológicas dos novos e renovados edifícios pode
privilegiar a mistura cuidadosa de vários tipos de níveis etários e de
agregados familiares e pessoas sós, de vários tipos de soluções de
acessibilidade, de vários tipos de fogos, de vários tipos de conjuntos de fogos
e mesmo de vários tipos de pequenos quarteirões; e sempre numa adequada e dupla
perspectiva de espaços edificados e exteriores.
Pois, afinal, será, em boa parte, nos espaços de transição entre
habitação e cidade que se irão encontrar soluções estimulantes marcadas pela
escala humana e que atuam, duplamente, seja no edificado que fica mais próximo
e caraterizado pela vida da cidade, seja nos espaços públicos de proximidade,
que se tornam mais sensíveis a um conteúdo que para além de urbano é
residencial.
E aqui encontramos outro nível de intervenção da reabilitação urbana, que
integra a intervenção nos espaços exteriores públicos com a melhoria, mais ou
menos radical, dos respetivos edifícios envolventes, em ações integradas que
maximizem as vantagens do mundo doméstico e urbano, do interior e exterior,
estendendo o sentido de habitar para além da porta de entrada de cada
habitação, mas garantindo, no exterior, segurança, conforto, legibilidade e
identidade; afinal caraterísticas muito associadas ao interior e que assim se
prolongam pelo exterior.
(Fig. 06) A ainda relativamente recente e excelente intervenção de
pedonalização e reabilitação dos espaços públicos urbanos promovida pela Câmara
Municipal de Lisboa no eixo da Av.ª Duque de Ávila, em Lisboa; agora
estrategicamente estendida por outras microzonas contíguas da cidade de Lisboa.
Muito breves e sempre relativ
Conclui-se então esta reflexão com duas “préideias” básicas:
As ações de reabilitação dos espaços citadinos devem privilegiar boas
soluções de imagem urbana, marcadas por continuidades afirmadas, atraentemente
diferenciadas, funcionalmente mistas, que levem a cidade até à porta de muitas
casas; e nestas continuidades urbanas há que integrar uma estimulante diversidade
de oferta habitacional e de equipamentos conviviais.
Notas:
(1) Edmund White – “O Flâneur – Um passeio
pelos Paradoxos de Paris. São Paulo, Companhia das Letras, Colecção “O Escritor
e a Cidade”, 2001. O excerto foi retirado do artigo de Andréia Azevedo Soares,
intitulado “O Flâneur – Um passeio pelos Paradoxos de Paris – Passear por uma
Paris menos óbvia”, saído no suplemento “Fugas” do jornal “ Público” de
2002/09/28. Este mesmo livro foi, entretanto, editado entre nós pela editora
ASA na Colecção “O Escritor e a Cidade.”
(2) António Pinto Ribeiro, “Abrigos:
condições das cidades e energia das culturas”, 2004, p. 18.
(3) Dina De Paoli, “O Valor do desenho
urbano na construção de bairros habitacionais e comunidades”, Tese de
Doutoramento em Arquitetura, apresentada e discutida/aprovada na Universidade
Estadual de Campinas- Unicamp, Campinas, SP, Faculdade de Engenharia Civil,
Arquitetura e Urbanismo, 2014, pp. 22 e 23.
(4) Ibid. p. 27.
(5) Ibid. p. 28.
Nota final: a versão inicial
deste artigo correspondeu a uma das intervenções do autor no âmbito
da Semana da Reabilitação Urbana Lisboa 2014, e designadamente nos Workshops
Reabilitação e Conservação do Espaço Construído, que tiveram lugar no Cntro de
Congressos do Laboratório Nacional de Engenharia Civil - LNEC - em 26 de março
de 2014. Em 30 de março de 2014 esta versão foi publicada no n.º 478 da
Infohabitar.
O presente
artigo corresponde a uma versão profundamente revista e aumentada do referido
Notas editoriais: (i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada,
caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha
de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões
expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições
individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto
da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores. (ii) No mesmo sentido, de natural responsabilização dos autores dos
artigos, a utilização de quaisquer elementos de ilustração dos mesmos
artigos, como , por exemplo, fotografias, desenhos, gráficos, etc., é,
igualmente, da exclusiva responsabilidade dos respetivos autores – que deverão
referir as respetivas fontes e obter as necessárias autorizações. (iii) Para se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e
científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito
significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver
com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo
GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à
respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas
e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do
teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou
negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido
na edição. Infohabitar, Ano XVI, n.º 738 Requalificar a cidade: imagem urbana e
habitação – Infohabitar
# 738 Infohabitar Editor: António Baptista Coelho Arquitecto/ESBAL – Escola
Superior de Belas Artes de Lisboa –, doutor em Arquitectura/FAUP – Faculdade de
Arquitectura da Universidade do Porto –, Investigador Principal com Habilitação
em Arquitectura e Urbanismo no Laboratório Nacional de Engenharia Civil
(LNEC), em Lisboa. Revista do GHabitar (GH) Associação Portuguesa para
a Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar – Associação com sede na
Federação Nacional de Cooperativa de Habitação Económica (FENACHE).
Sem comentários :
Enviar um comentário