(chama-se a atenção para notas importantes sobre o 4.º CIHEL, que são apresentadas no final deste artigo)
Infohabitar, Ano XIII, n.º 600
De 1980 a 2016: um percurso nos estudos sobre Habitat Humano e Arquitetura
António Baptista Coelho
Em primeiro lugar há
que referir que o principal objetivo deste artigo é a aproximação à
identificação da linha condutora temática que atravessa e carateriza os principais estudos e trabalhos,
realizados pelo autor deste texto, todos eles na área do habitat humano e na
respetiva relação com as matérias da arquitetura urbana. É também essencial
registar, desde já, que muitos dos trabalhos e estudos que são, em seguida,
apontados, foram realizados em cooperação com vários colegas e amigos, entre os
quais há que destacar o excelente e “único” trabalho que, tantas vezes, foi
realizado em estreita e ótima cooperação com o grande amigo e grande
especialista nessas áreas, António Reis Cabrita (coautor de vários dos estudos
em seguida apontados).
Racionalização do uso do espaço na habitação
Este relato de um
conjunto de temas de investigação na área do habitat humano, desenvolvidos pelo
autor deste artigo, inicia-se cerca de 1980 com a participação em estudos que
visaram a avaliação
da qualidade na habitação e a racionalização das soluções de uso do espaço na
habitação, através da definição de conceitos de medição de áreas e
da fixação de coeficientes relacionando os referidos conceitos, com o objetivo
de se apoiar a elaboração das "Recomendações Técnicas para Habitação
Social".
Alguns anos mais tarde
estas matérias e outras, mais qualitativas, foram retomadas com a participação
na edição do "Guia do Consumidor de Habitação”, promovido pelo Instituto
Nacional de Defesa do Consumidor. O Guia teve uma "Pré-Publicação" em
setembro de 1991; e sublinham-se neste estudo os seguintes temas: importância
da habitação e da sua escolha; ideia de habitação alargada ao exterior
residencial; adequação da casa à vida familiar; qualidade do sitio onde está a
casa; e principais características desejáveis dos espaços e equipamentos da
habitação.
Alguns anos depois,
esta temática teve continuidade com a participação na elaboração do ”Habitat II
Plano Nacional de Ação - Habitação”, concluído em 1998 e no qual se salientam
os seguintes temas: bases para uma política de habitação;
promoção
de habitação; mercado da habitação;
aspetos institucionais; política
de solos; gestão do parque habitacional;
habitação
e urbanismo, qualificação dos conjuntos residenciais; avaliação
da política de habitação; articulação da política
de habitação com as políticas do desenvolvimento sustentável
e da coesão social; casos exemplares.
Espaços exteriores urbanos
Focando-se, agora, o
habitat humano numa sua essencial perspetiva referida ao exterior, foram desenvolvidos
os estudos
sobre espaços exteriores urbanos – designados por “Estudos sobre
espaços exteriores em novas áreas residenciais”, essencialmente entre 1983 e
1986, mas retomados em 1998 e atualmente (estudo em curso); estando editado,
pelo LNEC, o livro “Espaços exteriores
em novas áreas residenciais”.
Estes estudos visaram a
definição de um leque de elementos de conceção ligados ao urbanismo de pormenor
numa altura em que, em Portugal, havia ainda muito pouca informação técnica e
científica sobre esta matéria, razão que levou o então Núcleo de Arquitetura (NA)
do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) a dirigir a investigação
para esta área; e julga-se que esta abordagem mantém toda a atualidade passados
mais de trinta anos sobre o arranque do estudo, pelo que se está a preparar o
retomar editorial do tema.
Os estudos
traduziram-se na preparação de um conjunto de documentos de apoio à análise e
conceção de espaços exteriores urbanos e habitacionais, tendo-se em vista a
criação de uma plataforma geral de conhecimentos sobre o tema, capaz de
informar, essencialmente na perspetiva arquitetónica, posteriores estudos mais
pormenorizados que incidam sobre o mesmo tema. Os estudos desenvolveram-se de
modo a privilegiar-se uma perspetiva humana e urbanística relacionada com
empreendimentos residenciais completos e integrados nas suas envolventes.
Os estudos abrangeram,
nomeadamente, as seguintes áreas:
- Os elementos e
fatores que estruturam uma Nova Área Residencial (NAR).
- As relações mútuas
entre os espaços exteriores de uma Nova Área Residencial e os comportamentos
humanos.
- As necessidades
humanas e as exigências funcionais dos espaços exteriores de uma Nova Área
Residencial.
- A malha exterior,
dominante ou predominantemente, pedonal de uma Nova Área Residencial.
Mais tarde esta
temática foi retomada com a edição de uma publicação monográfica do LNEC
(Cadernos Edifícios n.º 4) sobre a “Humanização
e vitalização do espaço público”, considerando-se ser de grande interesse que
as edições do LNEC continuem a desenvolver esta temática, eventualmente,
privilegiando a referida divulgação de boas práticas.
Considera-se que os
estudos sobre espaços exteriores residenciais foram extensamente desenvolvidos
no NA do LNEC e salienta-se que se considera, hoje em dia, muito oportuna a
realização de estudos de caso comentados sobre esta temática, especialmente
dedicados à realidade portuguesa, e que possam servir como elementos
disseminadores de boas práticas. Paralelamente a esta linha de trabalhos
julga-se ser de grande interesse promover a discussão e a divulgação de ideias
sobre os conceitos de estruturação do exterior residencial e urbano,
considerando, quer as novas intervenções, quer as ações de requalificação e
regeneração.
E convém ter aqui
presente que estávamos em 1983, portanto, muito antes das atuais e essenciais
preocupações com a estruturação e regeneração de espaços públicos urbanos.
Autoconstrução e evolução habitacional
Entre 1987 e 1989 iniciou-se uma linha de estudos de apoio ao processo de autoconstrução de edifícios unifamiliares evolutivos em Cabo Verde – então designada “Habitação Popular Evolutiva” - , retomando-se a tradição dos estudos de habitação evolutiva que tinham marcado o início da atividade do NAU do LNEC e, por outro lado, antecipando-se variados aspetos de enquadramento da conceção arquitetónica dirigidos para o apoio a intervenções em zonas urbanas e habitacionais informais.
Nesta temática:
caracterizaram-se os tipos de lotes de terreno que servem de base à
concretização dos referidos edifícios; definiram-se as várias funções da
habitação e os seus espaços próprios de realização, relativamente às suas
respetivas prioridades e ao faseamento da construção; explicitaram-se, para
cada tipo de espaço ou compartimento habitacional, as funções que nele podem
ser exercidas ao longo das três fases de construção previstas; e desenvolveu-se
uma estratégia de faseamento, mais adequada ou mais provável, de espaços,
elementos de construção, instalações e equipamentos.
Sublinha-se que se
julga que esta temática da habitação popular evolutiva e por autoconstrução
deveria ser dinamizada, seja em estudos de caso, seja em estudos propositivos,
uns e outros bem ligados às realidades específicas dos países de língua oficial
portuguesa e que ainda se debatem com problemas habitacionais críticos; e
sublinha-se, também, que o LNEC, através da sua eficaz multidisciplinaridade e
da sua prática, pode ser um agente privilegiado nestes trabalhos.
Adaptabilidade residencial e urbana
Sequencialmente, cerca
de 1990 (e pontualmente retomado em 2014), desenvolveu-se, de forma ampla, o
estudo da temática da adaptabilidade residencial e urbana, que deu origem a um livro editado pelo LNEC, intitulado “Habitação evolutiva e adaptável”.
O estudo fundamentou-se
no entendimento da habitação como um processo em contínua evolução e adaptação,
porque devendo conciliar, mediante determinadas soluções de habitat, os desejos
e as preferências das famílias e das pessoas ao longo das suas fases de
evolução/desenvolvimento, respetivamente, como agregados e como indivíduos.
Neste estudo
procurou-se aprofundar as diversas modalidades e tipos de evolução e de
adaptabilidade que são possíveis em agrupamentos de habitações, tanto ao nível
do exterior como do interior residencial, e passaram-se "em revista"
os principais aspetos e preocupações básicas desta área temática, os critérios
urbanísticos e económicos aplicáveis e, ainda, os critérios arquitetónicos que
podem estruturar o desenvolvimento de programas habitacionais evolutivos,
adaptáveis e participados.
Salienta-se,
finalmente, nesta matéria, a enorme importância que se considera poder ser
assumida pela adaptabilidade residencial, no presente e no futuro próximo, seja
em aspetos ligados a uma ampla perspetiva de sustentabilidade, seja na
associada vertente da satisfação dos moradores.
Qualidade arquitetónica do habitat humano
Entre 1994 e 2000, no
LNEC, desenvolveram-se uma série de estudos teórico-práticos que resultaram
numa temática de doutoramento em Arquitetura, na Faculdade de Arquitectura da
Universidade do Porto, no sentido de se procurar avançar na possível aproximação entre a
essencial qualidade arquitetónica urbana e
residencial e a, associada, liberdade de conceção arquitetónica
residencial e as matérias, igualmente importantes, de uma adequada e sensível
satisfação dos moradores e habitantes e, também, de uma adequada construção
e “reconstrução” de um espaço urbano e de uma cidade formal e funcionalmente
dignos, amplamente adequados (considerando uma renovada e verdadeira noção de
funcionalidade) e, consequentemente, estimáveis e protagonistas de um meio
urbano e natural que contribua positivamente para o nosso património cultural.
Neste sentido foram
elaborados dois “manuais”, que deram continuidade a uma linha de investigação,
do então Núcleo de Arquitetura e Urbanismo (NAU) do LNEC, e que proporcionaram,
diretamente, a continuidade de outros estudos sobre o tema no mesmo NAU.
Passados alguns anos sentiu-se a necessidade de se revisitar a temática, agora
de uma forma talvez ainda mais “pessoal”, o que deu origem à edição de um novo
livro e a uma atual dinâmica relativamente à edição de dois novos livros (em
fase de preparação).
Salienta-se, assim, que
esta temática deu origem a três livros editados pelo LNEC: “Qualidade Arquitectónica Residencial -
Rumos e fatores de análise”; “Do bairro e da vizinhança à habitação -
Tipologias e caracterização dos níveis físicos residenciais”; e finalmente,
já em 2012, o livro “Habitação e
Arquitetura: Contributos para uma habitação e um espaço urbano com mais
qualidade”.
Gestão do parque habitacional
Cerca de 2000 foi desenvolvido um amplo estudo, que deu origem a um guião recomendativo para orientação da gestão dos parques habitacionais públicos, privilegiando-se os parques habitacionais de arrendamento público, bem como um processo integrado de requalificação e gestão do mesmo parque.
Neste estudo abordam-se
aspetos de conhecimento clarificado da situação existente, sob a forma de um
diagnóstico esquemático, e desenvolvem-se, depois, os aspetos relativos ao
adequado enquadramento geral e pormenorizado do tema e consequentes
tipificações das soluções ou instrumentos práticos que poderão ser aplicados no
desenvolvimento de um processo, que se deseja integrado, de requalificação e de
gestão desse Parque, que vise esta gestão ao nível físico, social e económico,
no respeito de uma fundamental perspetiva de auto-sustentatibilidade
participada pelos respetivos moradores.
Avaliação Pós-Ocupação - APO
Entre 1995 e 2004 e com o objetivo de se atingirem as melhores soluções de habitação de interesse social, foram estudados os programas residenciais existentes, através de processos de análise retrospetiva ou de “Avaliação Pós-Ocupação” (APO) multidisciplinares e visando variadas situações residenciais. Este tipo de estudos constitui, hoje em dia, provavelmente o tipo de abordagem mais avançada que se realiza no domínio da averiguação da qualidade e da satisfação residencial, sendo desenvolvido em instituições de renome como a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e em diversos outros centros de estudos americanos e europeus com os quais o NA/NAU desenvolveu múltiplos contatos.
Foram realizadas pelo
LNEC para o Instituto Nacional de Habitação (atual Instituto da Habitação e da
Reabilitação Urbana, IHRU), estruturadas e coordenadas pelo autor deste texto,
três APO que proporcionaram um adequado conhecimento de um período de promoção
de habitação de interesse social com cerca de 10 anos (análise pormenorizada de
cerca de 30 bairros).
A metodologia de APO
desenvolvida no LNEC (NAU e NESO) aprecia a arquitetura urbana, o comportamento
da construção e a satisfação residencial dos moradores através de uma forte
integração interdisciplinar entre a Arquitetura/Urbanismo, as Ciências Sociais
e a Engenharia/Construção, tendo-se em conta a análise dos projetos, mas também
a análise local; constituindo, assim, uma aproximação aprofundada à satisfação
dos habitantes de conjuntos residenciais desenvolvidos com controlo de custos e
segundo as indicações qualitativas e dimensionais das Recomendações Técnicas
para Habitação Social (RTHS).
Habitação de Interesse Social em Portugal (HIS)
Entre 2004 e 2009 e,
depois, há pouco anos, foram realizados diversos estudos e livros sobre a
promoção de habitação de interesse social portuguesa nos últimos decénios - vinte a trinta
anos de habitação de interesse social (HIS) em Portugal.
Nesta temática foram
editados quatro livros, um pelo LNEC, outro pelo INH, outro pela editora Livros
Horizonte e outro (mais recente, pelo IHRU): “Apresentação de 3 Empreendimentos Habitacionais Meritórios
Financiados pelo INH e Concluídos em 1991” (LNEC); “Instituto Nacional de Habitação, 1984 – 2004: 20 anos a promover a
construção de habitação social” (INH);
“Habitação de Interesse Social em Portugal: 1988 – 2005” (Livros Horizonte);
"Sobre os «anos dourados» dos
conjuntos cooperativos de habitação económica” - capítulo no livro “Habitação
para o Maior Número. Portugal, os Anos de 1950-1980” (IHRU e CML, 2014).
Esta matéria corresponde
a um dos principais campos disciplinares/temáticos desenvolvidos pelo autor
deste artigo, que acompanhou praticamente toda a principal produção de HIS
portuguesa nos últimos 25 anos (representante do LNEC no Júri do Prémio INH e
IHRU entre 1990 e 2013), e ainda com importantes incursões de investigação na
promoção cooperativa habitacional entre 1975 e 2004, pela sua relação direta com
o cooperativismo habitacional (integra a Comissão Técnica da Federação Nacional
de Cooperativas de Habitação Económica).
Atualmente parece
interessante e muito útil tentar verter a rica experiência da HIS portuguesa em
documentos de divulgação alargada e, até eventualmente, “simplificada” (no
âmbito de uma sua adequada capacidade de comunicação), que possam ser úteis em
outros sítios do mundo e designadamente no âmbito da lusofonia.
Habitação humanizada ou humanização do habitar
Depois, entre 2006 e
2009, avançou-se para a matéria designada como Habitação humanizada ou “habitar
humanizado”; e nesta temática foram editados três livros; dois pelo LNEC e um na editora Dafne.
Esta matéria do
“habitar humanizado”, pois trata-se do habitar espaços domésticos e urbanos,
corresponde a um trabalho de “habilitação em arquitetura e urbanismo” realizado
e discutido no LNEC, considerando-se que o tema decorreu, quase diretamente, da
necessidade sentida de se aprofundarem aspetos ainda considerados menos
objetivos e que, no entanto, caraterizam, claramente, pela sua existência ou
ausência, múltiplas situações domésticas e urbanas. Trata-se de um trabalho
amplo, que se considera ter sido positivamente estruturado, mas cujo adequado
aproveitamento, designadamente em termos editoriais e formativos/de divulgação,
não foi ainda devidamente desenvolvido.
Trata-se, assim, de um
tema cuja importância se julga ser evidente numa altura em que o “mal habitar”
casa e cidade marca elevadíssimo números de famílias e as periferias e os
vazios urbanos de grandes cidades, uma importância que resulta, tanto da
necessidade de se considerarem, diretamente, os múltiplos aspetos de uma
sensível humanização dos quadros do habitat humano, como da importância de se
estar alerta relativamente às recorrentes simplificações relativas a áreas
mínimas habitacionais mal concebidas (“cegamente” funcionalizadas), e à doentia
repetição de projetos-tipo mal concebidos e mal aplicados em termos urbanos.
Trata-se, assim de uma matéria em que se visa avançar, em breve, em termos
editoriais e de divulgação/formação.
As subtemáticas do
“habitar humanizado”, ainda pouco exploradas são as seguintes: escalas e tempos
do habitar; humanidades e habitar; habitar cidades amigas; história e
tipologias do habitar; desenho do habitar; habitar integrado; natureza, cidade
e lugar habitados.
E registam-se os
títulos dos três livros já editados: “Habitação
humanizada” (LNEC); “Habitação
Humanizada: Uma apresentação geral” (LNEC); e “Entre casa e cidade, a humanização do habitar” (Dafne).
Disponível em: http://dafne.pt/pt/coleccoes/opusculos
Nos anos de 2009 e 2010
foi realizado um estudo em cooperação com a Direcção Geral da Saúde (DGS),
integrado no Plano nacional de Ação Ambiente e Saúde (PNAAS), e que foi
concluído com a elaboração do livro “Manual para projetos: Fichas Técnicas sobre Habitação e
Saúde”, tendo sido desenvolvidos, pelo autor deste texto, os
seguintes capítulos/fichas do livro: "Bem-estar
na envolvente residencial"; "Bem-estar
e tipos de soluções habitacionais"; "Problemas sociais na habitação"; e "Bem-estar e conforto ambiental no interior habitacional".
Fichas Técnicas sobre Habitação e Saúde
Análise das condições de habitabilidade
Entre 2010 e 2012 foi estruturado e coordenado o estudo prático intitulado “Análise das condições de habitabilidade do edificado existente no Bairro do Alto da Cova da Moura (BACM)”, uma ação de preparação da intervenção urbana, arquitetónica e construtiva numa malha urbana informal/”clandestina” situada próximo de Lisboa (cerca de 1000 edifícios e 2000 habitações).
Desenvolveu-se uma
caraterização pormenorizada do edificado do BACM, procurando-se englobar o
maior leque de situações habitacionais e urbanas existentes e tendo-se passado
de uma consideração, inicial, relativamente “isolada” da caracterização de cada
edifício, quase como se ele estivesse implantado num “plano de trabalho”
teórico que não contava para a sua análise; para a devida consideração de
alguns elementos, considerados como críticos, de proximidade e de vizinhança,
seja relativos a aspetos de conforto ambiental, seja ligados a aspetos de
segurança contra risco de incêndio; mas sempre numa opção de associação
complementar entre estes elementos e os restantes elementos de análise
considerados edifício/lote a edifício/lote e tendo-se em conta uma análise do
existente muito diretamente associada às respetivas propostas de reabilitação.
Cidade Informal
Em anos subsequentes e aproveitando-se, quer o conhecimento obtido neste último estudo/trabalho prático (BACM), quer diversas deslocações ao Brasil, a Angola/Luanda e a Moçambique/Maputo, foram estudados os aspetos associados à temática da Cidade Informal do Século XXI; uma matéria que foi, sequencialmente prosseguida no âmbito da organização dos Congressos CIHEL e que se conta vir a desenvolver em breve.
De certa forma, hoje em
dia, a sociedade é a cidade e, portanto procurar compreender a cidade
contemporânea será sempre fator vital no caminho da melhor qualidade de vida,
sendo que, infelizmente, não podemos ter certezas sobre como atuar, pois a
história urbana é curta; e, como é sabido, em África e na América do Sul
continua o enorme êxodo de famílias que não encontram trabalho em zonas rurais
para aos assentamentos precários em zonas suburbanas de megacidades, que têm
continuado a crescer prodigiosamente mesmo numa altura que já anunciava a crise
económica que temos estado a viver. É, portanto, tema vital e urgente, que
acaba por retomar boa parte das matérias estudadas quase 30 anos antes para
Cabo Verde, tal como foi apontado neste texto (e, aliás, retomadas em recentes
missões a cabo Verde).
Importância do espaço público
É interessante considerar que, por esta altura, e por diversas razões, aconteceu um retomar do estudo da importância do espaço público, qualificado e requalificado para que seja mais e melhor habitado e, sendo mais habitado, poder ser mais estimado e qualificado; matéria que se baseia numa reconstrução da coesão urbana marcada pela escala e uso humanos, pelo desenvolvimento de adequados estímulos visuais e funcionais, em termos de imagem urbana, por uma cuidadosa e vitalizada densificação e pela adequada reinvenção de novas tipologias habitacionais, mistas e urbanas; estando todos estes aspetos integrados num objetivo de verdadeira reabilitação da paisagem urbana local, que há que preservar e reconstruir, designadamente, nos seus aspetos orgânicos e ligados ao respetivo caráter do lugar e na criação de uma cidade mais amiga e mais passeável; matérias estas que poderão ser, em breve, vertidas numa publicação – embora já amplamente editadas na revista na WWW Infohabitar.Novas e renovadas tipologias habitacionais e urbanas
Outras matérias que nos preocupam e motivam há muito tempo, e que têm sido igualmente editadas na Infohabitar, são as associadas às novas e renovadas tipologias habitacionais e urbanas, adequadas à disponibilização de condições habitacionais apropriadas para um amplo leque de necessidades, de hábitos habitacionais e de tipos de agregados familiares e de pessoas sós; numa busca e reanálise de soluções de arquitetura urbana: (i) que podem ser também muito apropriadas para se contribuir, estrategicamente, para a vitalização da cidade com novos habitantes e, especialmente, com habitantes muito disponíveis para participar nessa vitalização; (ii) e que são, frequentemente, muito estimulantes em termos das respetivas imagens urbanas.Cidades afetivas
Naturalmente que este tipo de reflexões se ligam, intimamente, a uma estruturação e reestruturação urbana e paisagística que privilegie uma cidade mais coesa, mais estruturada, mais vicinal e mais imagética (uma cidade, globalmente, mais afetiva); matéria que volta a colocar bem presente a grande importância de se abordar, de forma bem adequada, a matéria do exterior urbano, um exterior que engloba o edificado e que deve ser uma espécie de “interior” no que se refere à essencial dinamização de usos.
Lembram-se, assim, aqui,
os estudos sobre espaços exteriores realizados no LNEC há mais de 30 anos e
aqui já apontados e que se julga, portanto, merecerem adequado e urgente
desenvolvimento, que tenha em conta, quer os mais atuais desenvolvimentos
temáticos e projetuais, quer as suas essenciais raízes históricas, mais
longínquas (sobre a origem das povoações/cidades), e mais recentes e
“revolucionárias”, associadas à “explosão” das megacidades e das megaperiferias
informais.
A arquitetura nos países em desenvolvimento
Este é, afinal, um novelo
temático que tem estado presente, sequencialmente, neste relato, que foi já
abordado, pelo autor deste texto, num recente livro partilhado, intitulado “Que arquitetura nos países em
desenvolvimento?” (Escolar Editora, 2014) e, nele, através do tema/capítulo específico “Arquitectura e
habitação em países em desenvolvimento”; e um tema que será, em breve,
desenvolvido na mesma editora, agora relativamente à matéria da “sociedade do
futuro: cidades do futuro” (título aproximado).
Desenho livre e arquitetura urbana qualificada
Uma matéria “paralela”, mas naturalmente essencial, quando se abordam estas temáticas de uma cidade mais amiga, mais sensível e mais humana é o papel da imagem urbana e arquitetónica na obtenção desses resultados e, sequencialmente, o papel do próprio “desenho”, esboçado e livre, nas análises e nos processos de projeto arquitetónico e urbano, na interpretação do que de melhor temos e na proposta de bons novos e renovados espaços de arquitetura urbana; e é nesta perspetiva e neste quadro de intenções que se integram as mais recentes produções do autor deste artigo, a saber: a “Pequena Sebenta de Desenho Livre para estudantes de Arquitetura e outros que queiram desenhar melhor: 100 Notas práticas para quem quer aprender a desenhar melhor à mão livre (e com a mente bem dirigida)” (edição de autor, setembro, 2016); e o artigo “Desenho livre e ensino de Arquitetura” (revista, Branca 01, dezembro 2016).
Congresso Internacional da Habitação no Espaço Lusófono CIHEL
Paralelamente a estes
últimos desenvolvimentos temáticos foram estruturados quatro Congressos
Internacionais da Habitação no Espaço Lusófono (CIHEL), que trataram muitos dos
temas abordados neste artigo: o primeiro no ISCTE, Lisboa, em 2010, sobre o
tema da “qualidade
do habitat residencial para populações com baixos rendimentos e mobilizando
recursos modestos” (60 comunicações); o segundo no LNEC, Lisboa, em
2013, sobre a temática “habitação, cidade, território e desenvolvimento”
(140 comunicações); o terceiro na FAU-USP e na FAU-Mack, São Paulo, em 2015,
sobre o tema “habitação:
urbanismo, cultura e ecologia dos lugares” (100 comunicações); e o
quarto (em preparação final), na UBI/Covilhã e iniciado no Porto/Domus Social e
CMPorto, em 2017 (4.º CIHEL), sobre o tema geral “a cidade habitada” (cerca de 180
comunicações entregues); e ficam, naturalmente, bem evidentes o paralelismos
temáticos, e o enorme potencial associado aos temas que têm sido apresentados
no CIHEL (que se considera ser trabalho a fazer proximamente).
E desde já se considera que o CIHEL está, neste momento, numa fase de viragem clara no sentido de poder tornar-se uma plataforma técnico-científica bastante útil no âmbito dos vitais temas do habitat humano no crescente mundo da lusofonia.
E desde já se considera que o CIHEL está, neste momento, numa fase de viragem clara no sentido de poder tornar-se uma plataforma técnico-científica bastante útil no âmbito dos vitais temas do habitat humano no crescente mundo da lusofonia.
Breves notas finais
Um relato em forma de
síntese é sempre demasiado curto e demasiado longo, assim aconteceu com este,
que, no entanto, parece poder abrir ideias em termos da aproximação a uma clara identificação da linha
condutora temática que atravessa e carateriza os principais estudos e trabalhos
realizados pelo autor deste texto e que foram aqui apontados, parecendo ser
também bastante útil no apoio à desejada continuidade dessa linha de trabalhos
e de temas todos eles na área do habitat humano em relação íntima com as
matérias da arquitetura urbana; mas esta reflexão de continuidade, baseada
neste texto, deverá ser feita daqui a algum tempo, amadurecendo-se a anotação
dos diversos aspetos aqui registados.
Outra utilidade deste
relato é disponibilizar aos leitores da Infohabitar o conhecimento destes
estudos e reflexões pois é a falar que nos entendemos e a falar poderemos
cooperar melhor e fazer avançar mais estas apaixonantes matérias.
E, naturalmente, com
este artigo procurou-se “comemorar”, com alguma dignidade, a Edição n.º 600 da
nossa Infohabitar, que será a primeira de 2017; aproveitando-se para agradecer
aos leitores toda a paciência e a continuidade do interesse (ainda esta última semana
houve dias com mais de 800 acessos diários).
Lisboa e Encarnação, 1 de Janeiro de 2017
António Baptista Coelho
Editor da Infohabitar
PS: os livros editados pelo LNEC estão disponíveis na Livraria do LNEC
Notas sobre o 4.º CIHEL:
Comunica-se
a todos aqueles interessados em inscreverem-se no 4.º CIHEL e, designadamente, aos
autores de comunicações enviadas ao 4.º CIHEL, que terão, obrigatoriamente, de
realizar as respetivas inscrições no Congresso, conforme indicações constantes
do site do Congresso,
e que a plataforma informática na qual são feitas as inscrições está já disponível,
com acesso a partir do site do 4.º CIHEL.
Nota importante: esclarece-se que os membros da Comissão Dinamizadora Internacional do 4.º CIHEL, do Secretariado do CIHEL e da GHabitar estão integrados na categoria de inscrição designada "Autor de Comunicação de Entidade Apoiante", e devem, portanto inscrever-se nesta categoria mesmo que não sejam autores de comunicação.
Nota importante: esclarece-se que os membros da Comissão Dinamizadora Internacional do 4.º CIHEL, do Secretariado do CIHEL e da GHabitar estão integrados na categoria de inscrição designada "Autor de Comunicação de Entidade Apoiante", e devem, portanto inscrever-se nesta categoria mesmo que não sejam autores de comunicação.
www.4cihel2017.ubi.pt
Lembra-se
que 26 de dezembro de 2016 foi a data limite para receção das
comunicações completas; posteriormente, poderão ser, ainda, solicitadas
algumas correções de pormenor aos respetivos autores, correções estas que terão
de ser realizadas em prazo muito curto – chamando-se a atenção para a
obrigatoriedade de inscrição de, pelo menos, um dos autores.
Sobre a
Semana CIHEL 2017 e designadamente sobre:
· - e sobre os palestrantes que integram das Mesas-Redondas do Congresso, na
Covilhã,
serão muito
em breve disponibilizadas informações (no site do 4.º CIHEL e aqui na
Infohabitar); as Mesas-Redondas estão já praticamente “fechadas” e as
Conferências encontram-se numa fase avançada de organização.
Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos
artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo
editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um
significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e
comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos
respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva
responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o
mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e
científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito
significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver
com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo
GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à
respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas
e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do
teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou
negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi
recebido na edição.
Infohabitar, Ano XIII, n.º 600
De 1980 a 2016: um percurso nos estudos sobre Habitat Humano e Arquitetura
Editor: António Baptista
Coelho
–abc@ubi.pt, abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade
Habitacional
Mestrado Integrado em Arquitectura da Universidade da Beira Interior - MIAUBI
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação -
Olivais Norte.
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