domingo, janeiro 09, 2011

328 - "CASA. Propriedades que adquire com o «encasado»”, por Célia Faria e colóquio internacional " Habitar, pensar, investigar, fazer" - Infohabitar 328


Infohabitar, Ano VII, n.º 328
Aos leitores do Infohabitar:
Antes de referirmos a edição da semana, o Infohabitar e o Grupo Habitar manifestam a sua profunda tristeza pelo recente falecimento de Malangatana, um grande Pintor mocambicano e do mundo que fala português, cuja última exposição foi aqui divulgada na passada semana: é mais um daqueles que nos fazem não acreditar na ideia de que não há pessoas insubstituíveis; à família e aos amigos os nossos sinceros sentimentos.
António Baptista Coelho
Editor do Infohabitar, Pres. da Direcção do Grupo Habitar, Chefe do NAU do LNEC



A edição do Infohabitar continua os seus trabalhos, ainda neste início de 2011, com a divulgação de um colóquio internacional intitulado:
"Habitar, pensar, investigar, fazer"Colóquio Internacional - Departamento de Arquitectura da Universidade Autónoma de Lisboa,14/ 15 de Janeiro de 2011Cujo cartaz, programa e elementos de contacto são referidos mais à frente.


E com a edição. já em seguida, de um novo artigo, de uma nova colaboradora do nosso Infohabitar; trata-se do artigo de Célia Faria, intitulado
CASA. Propriedades que adquire com o “encasado”
por Célia Faria (*)

Dir-se-á, fenomenologicamente: “eu sou porque pertenço aqui e o meu ser encontra-se sempre em construção”. E, se a habitação é o suporte da domesticidade, aquilo a que chamamos CASA torna-se assim não apenas uma coisa, um objecto físico material mas, sobretudo, uma CONSTRUÇÃO SIMBÓLICA no espaço.

Enquanto forma construída, a casa acolhe o espaço abrigado, habitável e torna-se o cenário privilegiado da minha existência respondendo de modo eficaz, como dispositivo de uso, aos hábitos, aos desejos, às expectativas, etc., do indivíduo.

Quando o homem habita, está localizado no espaço e exposto a determinado contexto ambiental, conjugando duas dimensões, o ser íntimo de cada um e a forma como este trabalha a sua intimidade com aquilo que de fora a envolve, ou seja, a publicidade.

Apesar de ser produto de uma construção mental, a habitabilidade incorpora, igualmente, uma expressão do uso através do utilizador. Isto acontece porque a Arquitectura, para dar resposta às funções da vida humana, cria condições ao sujeito permitindo-lhe atribuir significado ao espaço em função da interpretação sensível que deste faz.

Por outro lado, assumindo-se como uma arte e uma técnica, a Arquitectura dá forma aos objectos garantindo que estes sejam realizáveis enquanto edificações que proporcionam lugares com habitabilidade.

Para além de exibir imagens não apenas sujeitas à percepção da materialidade dos objectos que a suportam, a Arquitectura fornece, também, ao homem lugares de residência que definem um habitat artificial: ambiente humanizado que serve de cenário à vida quotidiana.




Fig. 01: Rachel Whiteread, "house",1993 - fonte: "The art of Rachel Whiteread", Thames & Hudson, Londres, 2004.

Enquanto, algumas respostas do ser humano a determinados estímulos são consequências de uma aprendizagem cultural ou da relação individual com o meio (subjectiva), outras, pelo contrário, são baseadas em factores biológicos (inatos ou adquiridos) que transcendem culturas e indivíduos em particular.

Assim, o mundo onde o Homem vive, de algum modo essa espécie de mundo mental, não passa de um conjunto de representações significativas que identificam quem as usa, relacionadas com a escala doméstica, a casa, onde o sujeito se expõe totalmente. Há outras, as representações colectivas que se relacionam com as primeiras, as individuais, enquadrando-as, e por esse motivo, conferindo-lhes também sentido: elas pertencem ao espaço onde interagimos com os outros.

A casa resulta então de uma construção no espaço, ligada à apropriação sobre a qual o corpo tem determinado comportamento, tornando-se a forma onde se desenvolve a habitação como acto. Essa habitação não se reduz à materialidade, ao desenho ou a uma lógica de organização, mas, será antes uma espécie de narrativa que se altera através de cada acontecimento na vida dos seus habitantes, porque permanece identificável enquanto forma e identifica quem a habita a partir dos tipos de uso que permite.

Apropriamo-nos da casa dando-lhe o carácter que deve ter de acordo com um programa que não está apenas no objecto casa, mas também na mente do sujeito. O espaço definido pela casa é um espaço qualificado que, na medida dessa qualificação, se torna reconhecível por quem o utiliza enquanto espaço que acolhe a domesticidade.


Fig. 02: Rachel Whiteread, "stairs", 2001 - fonte: "The art of Rachel Whiteread", Thames & Hudson, Londres, 2004.

O que «em casa» implica não é o habitante que descobre a forma na qual inscreve as suas acções mas sim a forma que sugere as acções pelas quais ele descobre um determinado modo de habitar, consequência de uma experiência que envolve todos os nossos sentidos. E esta experiência resulta na atribuição de valor sobre as categorias dos sentidos que formam as nossas reacções ao espaço.

A casa traduz um espaço do desejo, resultante de construções mentais no plano do raciocínio, e que diferem de sujeito para sujeito. Enquanto os raciocínios descritivos, que segundo a psicologia servem para estabelecer a objectividade dos factos, os normativos permitem a justificação de acções.

Deste modo, a arquitectura não é apenas uma estrutura abstracta que podemos adaptar a um determinado dispositivo espacial para conseguirmos habitar o espaço, mas uma modelação de lógicas funcionais e simbólicas do habitar. O sentido passa a ser simbólico. E é a lógica simbólica que origina a função. Dormir, por exemplo, não é só uma função, mas também uma representação (condição antropológica da arquitectura).

E é entre as dimensões do real e da fantasia que a relação do sujeito com a Arquitectura comporta sempre que se encontra o conceito de CASA.


(*) A autora, Célia Joaquina Fernandes faria, é Arquitecta e Mestre em Estudos do Espaço e do Habitar em Arquitectura, pela FA- UTL, passando, a partir de agora, a integrar o corpo de redactores do Infohabitar.


Fig. 00: Cartaz de divulgação do Colóquio Internacional - DA/UAL CEACT: "Habitar, pensar, investigar, fazer"

Habitar
pensar
investigar
fazer

Colóquio Internacional - DA/UAL CEACTAuditório do Departamento de Arquitectura da Universidade Autónoma de Lisboa
14/ 15 Janeiro 2011

Fazer a casa colectiva
Investigar a Habitação
Pensar a Habitação

Metodologia do colóquio
:
O colóquio será composto um dia e meio (sexta todo o dia e sábado de manhã) de debate dedicado ao tema da habitação individual e colectiva na cidade contemporânea, integrando diversas visões, não só do panorama da arquitectura nacional e internacional, mas também de outras disciplinas como a da história, da antropologia e da sociologia. Procurar-se-á uma abordagem centrada na arquitectura que estabeleça pontes com outras linhas de pensamento e de investigação, inclusive com elementos audiovisuais. O modelo do colóquio centra-se na exposição de vários oradores por painel, seguida de debate moderado por Arquitectos.

Programa:

Painel 01 Sexta – 14 de Janeiro de 2011
9h00 às 13h30m

Abertura do ColóquioMiguel Faria (UAL), Flavio Barbini (DA UAL) e Filipa Ramalhete (CEACT)

Fazer a casa colectivaJoão Luís Carrilho da Graça (DA UAL)
Casas
Pensar a HabitaçãoRicardo Carvalho (DA UAL)
Da cidade campo à cidade difusa

Pausa para café

Investigar a HabitaçãoAntónio Baptista Coelho (LNEC)
Investigar e pensar o habitar: o percurso do NAU do LNRC, seguido de algumas notas sobre o habitar da casa e da cidade

Fazer a casa colectivaLopez & Rivera Arquitectos (Espanha)
Adyacencias, paisajes y galerias

Painel 02 Sexta - 14 de Janeiro de 201115h00 às 18h00

Pensar a Habitação
Ana Vaz Milheiro (ISCTE e DA UAL)
Habitação colectiva nos trópicos - casos da África Portuguesa

Investigar a Habitação
Ricardo Agarez (Reino Unido, University College of London)
Pragmática da habitação colectiva modernista. Problemas e soluções em Lisboa nos anos de 1950

Fazer a casa colectivaFrédéric Druot (França)
+ PLUS Large Scale Housing. an excepcional case
Debate moderado por Pedro Campos Costa (DA UAL)

Painel 03 Sábado – 15 de Janeiro de 201110h00 às 13h30

Pensar a HabitaçãoAna Tostões (IST)
Pensar, habitar e construir

Investigar a Habitação
Maria Helena Barreiros (DA UAL)
Unidades de habitação "antes-da-letra": da radicalidade do projecto pombalino

Fazer a casa colectivaManuel Aires Mateus Arquitecto (DA UAL Portugal)
Condições de vida
Debate moderado por Manuel Graça Dias (DA UAL/FAUP)

Auditório do Departamento de Arquitectura da Universidade Autónoma de LisboaCusto da inscrição: 25€
Contactos: Sónia Chaves, Departamento de Arquitectura da Universidade Autónoma de Lisboa
Boqueirão de Ferreiros nº 11, 1200-185 Lisboa
Tel.: 213 929 267
Fax: 213 977 164
dp.arq@universidade-autonoma.pt
www.ual.pt


Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados no Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico, as opiniões expressas nos artigos apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores.
Infohabitar a Revista do Grupo Habitar
Editor: António Baptista Coelho
Edição de José Baptista Coelho
Lisboa, Encarnação - Olivais Norte
Infohabitar, Ano VII, n.º 328, 9 de Janeiro de 2011

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