sexta-feira, abril 29, 2005

“As cidades são os locais mais desejáveis para viver e trabalhar” - Infohabitar 21

 - Infohabitar 21

European Construction Technology Platform (ECTP)
FA – Cities and Buildings
WORKING GROUP 1 – URBAN ISSUES (temas/assuntos urbanos)
Challenges and Draft Strategic Agenda on URBAN ISSUES


Texto de síntese dos Challenges/desafios

Nota prévia sobre a importância que tem, nesta matérias, a EU Council Resolution 2001/C73/04 sobre qualidade arquitectónica em zonas urbanas e rurais e a sequência que lhe foi dada pelos ministros da cultura sob a presidência luxemburguesa. Nesta resolução afirma-se, designadamente, que a arquitectura constitui um aspecto fundamental da história e da substância da vida nos países da União Europeia, que é um meio essencial de expressão artística no quotidiano dos cidadãos e que assegura herança/património para o futuro; a Resolução do Conselho solicita à Comissão que assegure que a qualidade arquitectónica e a natureza específica dos serviços de arquitectura sejam considerados em todas as políticas, medidas e programas.
Nota de ABCoelho: este parágrafo foi aqui inserido de forma a explicitar a importância da breve mas importante referência à referida Resolução 2001/C73/04, que consta da parte inicial do texto que aqui se apresenta.

Temas/assuntos urbanos – os desafios

(tradução parcial e livre a partir do texto original por António Baptista Coelho)


1. As cidades são entidades dinâmicas em constante mutação nos níveis físicos e de percepção. Há necessidade de examinar e compreender as forças subjacentes que lhes dão forma …

2. As cidades consubstanciam/concretizam as aspirações daqueles que as constroem e através dessas acções as cidades desenvolvem uma identidade. Há necessidade de compreender como essa identidade se desenvolve e como os seus habitantes, os visitantes e outros estranhos à cidade se relacionam com essa identidade …

3. As cidades ocupam espaço e têm um impacto significativo tanto no solo que ocupam como no solo que as rodeia. Há necessidade de estudar padrões de uso do solo e desenvolver estrtégias de sustentatbilidade para o futuro uso do solo…

4. As cidades são constituídas por edifícios, ruas, praças, jardins, e pelos espaços entre eles, e são suportadas por infra estruturas de serviços e de transportes. As relações mútuas, ou a arquitectura, destes vários elementos dá carácter à cidade. A qualidade da sua arquitectura tem um impacto fundamental no bem-estar daqueles que vivem e trabalham nas cidades. É necessário perceber melhor essas relações e os diversas formas em que os seus impactos são sentidos em situações urbanas. O desfio será então integrar as conclusões resultantes em políticas de desenvolvimento, decisões de ordenamento e no próprio desenho das cidades e dos seus componentes.

5. O sangue vital das cidades é a mobilidade e os transportes. É a natureza e o desenho do ambiente construído que determina as necessidades de mobilidade e de infra estruturas de transporte… Para a criação de sociedade urbana globalmente inclusiva tais condições de mobilidade e de transporte devem caracterizar-se por facilidade, confiança, segurança, rapidez razoável e acessibilidade por todas as pessoas e partes da sociedade …

6. O desenho/design da cidade tem um impacto crucial na concretização de uma sociedade equitativa. De forma a proporcionar-se aos cidadãos uma vivência autonomizada e, consequentemente, o desenvolvimento de vidas sociais e económicas activas, a concepção das cidades deve garantir segurança, acessibilidade e adaptabilidade. O desafio será encontrar caminhos para tornar as novas e as existentes áreas urbanas acessíveis e usáveis por todos os cidadãos, quaisquer que sejam as suas capacidades, o seu grupo social e a sua idade.

7. As cidades e as áreas urbanas exercem uma forte atracção sobre as pessoas. Como centros de vida económica, social e educacional muitas pessoas são “levadas” a mudarem-se para as cidades e para estabelecerem as suas vidas num ambiente urbano. Nas décadas recentes houve uma significativa migração de áreas envolventes e de outros países. Na União Europeia este fenómeno tornar-se-á ainda mais significativo nas décadas futuras…

8. As cidades são melhor conhecidas por aqueles que as usam. Somos todos utentes das cidades …, mas nem todas as secções da sociedade são capazes de exprimir os seus pontos de vista acerca do lugar onde vivem. É necessário estudar este fenómeno e avançar para formas de dar poder a todas as secções da sociedade, reflectindo tais “inputs” no ordenamento, na edificação e na manutenção citadina. O desafio é inventar novos modelos de gobernância/…gestão…com o objectivo fundamental de criar os mais desejáveis locais para viver e para trabalhar; …melhorando-se a capacidade organizativa das cidades, necessária numa política dinâmica de diversos actores que lida com interesses contrários/opostos.

9. As cidades consomem recursos de todos os tipos com significativos impactos na qualidade de vida e na infraestrutura física… O desafio é encontrar formas de as cidades e áreas urbanas “poderem implantar-se de forma ligeira na terra”, mantendo a sua vitalidade e viabilidade sem esgotamento de recursos de que dependam e sem acumulação de efeitos negativos no ambiente.

10. As cidades do amanhã estão já connosco em cerca de 80% dos seus edifícios e estruturas. Isto representa um desafio fundamental relativamente às aspirações apontadas nos parágrafos anteriores. Será essencial assegurar que as inovações são igualmente aplicáveis às edificações, aos espaços e às infraestruturas que constituem as nossas cidades.

11. As cidades do amanhã serão cidades com um grande grupo populacional criador e fortes funções de incubação de inovação, de novas pequenas empresas e de novas oportunidades de emprego. O desafio será desenvolver uma concepção urbana que apoie esta nova situação em termos de densidade, mistura de funções e diversidade.

12. O resultado do trabalho de investigação recomendado pela ECTP será implementado por pessoas… É necessário desenvolver cursos de formação… O desfio será ganhar aceitação destes curricula inovadores nas escolas e profissões envolvidas…

13. As cidades são os centros de excelência da nossa cociedade nas quais as universidades, as escolas e os centros de investigação, geralmente, estão sediados. As suas populações constituem os recursos em que o progresso se baseia. O desfio será assegurar que isto assim se mantém … (através de educação e treino) para toas as partes da sociedade durante o período de grande mudança que se prevê.

14. As cidades, através do uso optimizado de recursos e da maximização da qualidade de vida, podem funcionar como sedes/hubs de desenvolvimento de novos modelos de preservação, regeneração e gestão total/integrada… Por outro lado, através de redes urbanas, as cidades podem estimular uma distribuição equitativa da actividade económica e o desenvolvimento territorial sustentável dirigido para uma crescente coesão territorial e para a competitividade regional. O desafio é o desenvolvimento de caminhos em que as cidades possam actuar, simultaneamente, seja como pólos/hubs, seja como redes, para que se crie verdadeiro valor económico, integração social e sustentatbilidade cultural.

Texto preparado por Adrian M. Joyce,
Presidente do grupo de trabalho
Bruxelas 21 de Fevereiro de 2005

(Texto baseado nos trabalhos que decorreram em duas reuniões e nos respectivos e múltiplos comentários escritos)

terça-feira, abril 12, 2005

Mundos citadinos que é urgente conhecer/fazer melhor – II - Infohabitar 20

 - Infohabitar 20

Mundos citadinos que é urgente conhecer/fazer melhor – II 


Será que já se perguntou aos habitantes dos bairros históricos e outros bem planeados se eles aí vivem felizes e, em caso afirmativo, que razões são capazes de apontar para essa felicidade?
Será que já se perguntou? E será que já se levou em conta tais respostas quando se projectam novas partes de cidades?
E, por outro lado, será que, de forma sistemática, se entende verdadeiramente a enorme responsabilidade e a enorme complexidade que é fazer uma parte de cidade habitada e multifuncional? Será que se entende que para tal há que desenhar muito com grande pormenor e com grande coerência e como todo o desenho é, antes de tudo, um acto de reflexão, de observação e de síntese, será que se faz realmente desenho urbano e habitacional ou será que, frequentemente, ficamos por desenhos mal traçados fisicamente e pouco ou nada sustentados em termos de coerência e reflexão?
No primeiro texto sobre os mundos citadinos que é urgente conhecer e fazer melhor falou-se, ainda que apenas ao de leve, sobre as arquitecturas felizes e que são suporte da felicidade de quem as habita, neste texto colocam-se questões fundamentais sobre como nos dirigirmos para essas perspectivas de felicidade, seja a partir de uma observação serena dos espaços citadinos e habitados onde ela parece existir, seja seguindo um caminho de rigorosa exigência de concepção e desenho.
A estes temas se voltará em próximos pequenos textos desta série, mas para já fica a ideia que talvez não seja tão difícil unir desejos e imaginários de quem habita e caminhos de concepção de quem projecta.
Talvez realmente o problema esteja em não se ligar muito a esses desejos e a esses imaginários e em não se ter a devida exigência, que tem de ser muita, para com esses projectos urbanos que vão marcar cidades e gerações.
Talvez que a boa arquitectura a tal que induz felicidade seja um caminho bom de percorrer pelos habitantes e talvez os desejos dos habitantes sejam excelentes temas de concepção.

Este é o segundo de uma série de textos curtos sobre o tema e a ilustração continua a ser a excelente pequena cidade de Alvalade, projectada, entre outros, por Faria da Costa.

Lisboa, Encarnação, 12 de Abril de 2005

António Baptista Coelho

segunda-feira, abril 11, 2005

Mundos citadinos, mundos desconhecidos que é urgente conhecer melhor e fazer melhor – I - Infohabitar 19

 - Infohabitar 19

Mundos citadinos, mundos desconhecidos que é urgente conhecer melhor e fazer melhor – I


Este é o primeiro de uma série de textos curtos sobre o tema.
Estamos ainda a aprender a viver em grandes cidades e a importância da qualidade residencial e urbana, numa perspectiva verdadeira/ampla é algo que está longe de ter sido verdadeiramente assumida, seja pelos diversos responsáveis, seja pelos próprios habitantes e, entre uns e outros, pelos respectivos projectistas.
Muitos dos problemas que, hoje em dia, fazem as primeiras páginas dos jornais, como a insegurança urbana e a desocupação dos jovens e dos outros, apenas para referir dois entre tantos que contribuem para as actuais doenças citadinas, ou melhor será dizer sociais, pois cada vez mais o universo urbano é quase tudo, são problemas de uma sociedade urbana desequilibrada seja em termos sociais, seja em aspectos físicos e ambientais, e também culturais até num sentido mais restrito e bem aplicável.
Nesta primeira volta sobre o tema fico por um pensamento que foi há pouco tempo lançado pelo presidente do RIBA – a Ordem dos arquitectos inglesa – e que afirma que boas arquitecturas, sejam elas quais forem, fazem os seus habitantes felizes.
Há cerca de dois anos num excelente artigo/entrevista Alcino Soutinho afirmava que o belíssimo e tão humano edifício por ele projectado para a Câmara Municipal de Matosinhos era um edifício feliz; e com tal edifício feliz fez-se um pedaço feliz de cidade.
Ficamos então hoje neste contraponto entre edifícios e espaços urbanos felizes que fazem e, por vezes, refazem boas partes de cidades vivas e edifícios que fazem os seus habitantes felizes, seja em habitações que além de bem desenhadas proporcionam alegria e vontade de viver, seja em partes de cidade que estimulam o seu uso, que seduzem os seus utentes, que os trazem até à rua, de dia e de noite, fazendo cidade habitada e feliz.
Talvez seja este um dos segredos que há que compreender para lutar contra as tais doenças da cidade de hoje, afinal a única cidade que tivemos possibilidade de conhecer.
E para outro texto ficará a continuação destas ideias.

Lisboa, Encarnação, 11 de Abril de 2005

António Baptista Coelho