domingo, dezembro 26, 2010

326 - Boas Festas do Grupo Habitar e um excelente 2011 - Infohabitar 326

Infohabitar, Ano VI, n.º 326

Nesta época festiva o Grupo Habitar e o Infohabitar desejam, a todos os leitores e amigos, que o Natal tenha sido passado em Família e entre amigos, em paz, com saúde e com amor.

Reforça-se a ideia, que se julga ser de todos, que o Novo Ano de 2011 não será fácil, mas que será, também, aquilo que possamos QUERER que ele seja, desde que para isso trabalhemos com vontade e com esperança; juntando-se os desejos sinceros de um Novo 2011 com saúde, força de viver e alegria.

O Grupo Habitar e o Infohabitar irão continuar os seus caminhos de divulgação, diálogo e discussão técnica, humana e socialmente empenhada, nas muito vastas áreas de um habitar que é essencial para essa alegria e força de viver quotidianas. E neste sentido, mais uma vez, se lança o desafio de uma cooperação dos leitores e amigos, seja na edição de textos, seja na participação nas mais diversas actividades, sempre desejáveis e estimulantes.

Este último texto do velho ano de 2010, é também um artigo de calma e de uma relativa paragem e por isso apenas se junta a imagem de uma planície do norte do Alentejo, tão natural como habitada; uma natureza que temos de urgentemente resgatar e gradual e continuamente valorizar, pois a reabilitação, tal como referiu há poucos dias o Arq.º Ribeiro Teles, por ocasião da entrega dos Prémios IHRU 2010, é um desígnio urgente, nacional e que não se pode circunscrever ao espaço urbano, tem de se alargar à paisagem, seja urbana, seja natural; e não tenhamos quaisquer dúvidas que deste desígnio/objectivo de reabilitação e regeneração depende boa parte do nosso futuro.

António Baptista Coelho
Prsidente da Direcção do Grupo Habitar
Editor do Infohabitar



E juntam-se algumas palavras do grande Padre António Vieira do Sermão do nascimento do Menino Deus – Salvador, 1628 (?).

"De todo este discurso se segue que o ser infante e mudo o nosso divino Orador de Belém, não lhe é impedimento para poder ensinar. Ensina e fala agora, enquanto homem, como exercitava e falava enquanto Deus:
Deus ensina, deleita-se e triunfa quando nos fala
interiormente, sem estrépito de palavras, “diz Santo Agostinho, falando da Retórica de Deus.


Assim como Deus, antes de ser homem, ensinava sem estrépito de palavras, porque falava interiormente aos corações, assim, tanto que nasceu Menino, ensina também sem estrépito de palavras, porque fala exteriormente aos olhos:
Vejamos esta palavra que foi feita
– Demóstenes, o sumo orador da Grécia, perguntado qual era a primeira parte do perfeito orador, respondeu: Actio: Ação
– E perguntado qual era a segunda, tornou a responder: Actio: Ação,
– E perguntado qual era a terceira, respondeu do mesmo modo: Actio: Ação.
– Não declarou as perfeições do orador pelas palavras que se ouvem, senão pelas ações que se vêem.

O mesmo responderei eu a quem me perguntar que ensina o nosso Orador infante, e como ensina? Não ensina com vozes, mas ensina com ações; não ensina o que diz, mas prega o que faz; não diz palavras, mas fala obras.

Este mesmo Orador infante, que agora ensina sem abrir a boca, virá tempo em que a abrirá para ensinar:
Abrindo a sua boca os ensinava (Mt. 5, 2).
O mesmo que então falando há de ensinar, com a palavra, é o que, agora, mudo, brada com as obras:
“Brada com obras o que, depois ensinará por palavras”.
– Que é o que há de ensinar este Menino, que agora é de um dia, ou de uma noite, quando depois for de trinta anos? Há de dizer com palavras:
Bem-aventurados os pobres.
Isto é o que já está ensinando, com o desabrigado do portal, com o presépio, com as palhas, e com a falta de todo o necessário:
Não havia lugar para ele na estalagem (Lc. 2, 7).
– Há de dizer com as palavras:
Bem-aventurados os mansos;
Isto é o que já está ensinando o que dantes era leão, feito agora cordeirinho, e com as mãos atadas, sem se queixar da ingratidão e crueldade com que o receberam os seus no mundo, que também é seu:
Veio para o que era seu, e os seus não o receberam (Jo. 1, 11).
Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu (ibid. 10).
– Há de dizer com as palavras:
Bem-aventurados os que choram

Isto é o que já está ensinando com as lágrimas e gemidos de recém-nascido, própria condição da natureza, e não impróprias da miséria e estreiteza do presente estado:

Geme o recém-nascido entre as condições da presente realidade”( Hino: Pange Língua).

Sem outro socorro, contra o rigor de uma noite tão fria, como a de vinte e cinco de dezembro, mais que a quentura das mesmas lágrimas, estiladas da fornalha do coração, como devotamente cantou Sanasário:

Derramando lágrimas quentes na noite úmida
Oh! que exclamações!
Oh! que invectivas!
Oh! que brados estão dando contra o mundo os silêncios deste Orador mudo!

Mas, assim como as suas vozes, depois, não hão de ser admitidas de muitos surdos com ouvidos, assim agora as suas ações são mal vistas, e pior imitadas, de muitos cegos com olhos. Ditosos os olhos dos nossos pastores, que, de tudo o que viram no presépio, souberam tirar proveito para si e glória para Deus:
Glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto (Lc. 2, 20).
Diz o Evangelho não só que viram, senão que ouviram:
“As coisas que ouviram e viram”.

Sendo que no presépio não ouviram palavra alguma, porque as palavras que são feitas, e não ditas, então se ouvem quando se vêem:Vejamos a mensagem que o Senhor nos revelou nos acontecimentos.(Lc. 2,15) "Texto retirado do blog:
http://tribunalusofona.blogspot.com/2009/12/textos-sobre-o-natal.html

Infohabitar a Revista do Grupo Habitar
Editor: António Baptista Coelho
Edição de José Baptista Coelho
Lisboa, Encarnação - Olivais Norte
Infohabitar n.º 326, 26 de Dezembro de 2010

domingo, dezembro 19, 2010

325 - Moradia Ideal: Colaboração para Cidades mais Inclusivas e Sustentáveis - Infohabitar 325

Infohabitar, Ano VI, n.º 325
Breves palavras iniciais
Em resposta a uma solicitação dos respectivos organizadores, é com muito gosto que o Infohabitar edita, em seguida, um texto de divulgação do desafio intitulado "Moradia Ideal: Colaboração para Cidades mais Inclusivas e Sustentáveis" um concurso/desafio organizado pelos Changemakers da Ashoka em parceria com a Fundação Rockefeller e o Departamento de Habitação e Urbanismo dos EUA.

"Moradia ideal: colaboração para cidades mais inclusivas e sustentáveis"

Como poderão verificar ao longo do artigo este concurso irá identificar, premiar e dar visibilidade a modelos de excelência em habitação urbana e em arquitectura urbana socialmente integrada e empenhada, considerando, entre outros, "modelos pioneiros e sustentáveis de construção, uso da terra, planeamento de comunidades, financiamento criativo de habitações, reabilitação habitacional, eficiência energética integrada no desenho da habitação, envolvimento e participação dos habitantes e das respectivas comunidades, influência nas políticas públicas", e naturalmente, outras formas de se procurarem alianças eficazes dos mais diversos parceiros na resolução gradual, mas efectiva, dos problemas do habitar, num sentido amplo e inclusivo; e nada melhor do que consultar o site dos Changemakers e desta iniciativa específica para se ter uma ideia da diversidade de iniciativas que podem concorrer a este concurso/desafio.

Salienta-se que os prazos são já curtos - início de Fevereiro de 2011 - , mas da parte do Infohabitar apenas agora tomámos conhecimento desta iniciativa.

Desde já se salienta o nome e endereço da responsável da organização promotora que contactou o Infohabitar e que referiu estar disponível para os esclarecimentos considerados necessários.

Julia Forlani julia@ashoka.org.br
Changemakers da Ashoka
55 (11) 3085 9190 r. 234
R. Alves Guimarães, 715
São Paulo - Brasil/ 05410-001

O editor do InfohabitarAntónio Baptista Coelho





Fig. 01

APRESENTAÇÃO GERAL
Moradia ideal: Colaboração para Cidades mais Inclusivas e Sustentáveis(Washington DC EUA – 5 de Novembro de 2010) O Changemakers da Ashoka, com apoio da Fundação Rockefeller, e em parceria com o Departamento Americano de Habitação e Desenvolvimento Urbano (HUD), o Departamento Americano de Estado e a Associação Americana de Planejamento (APA), lançam um desafio on-line para encontrar soluções que integrem e desenvolvam moradias urbanas ideais e sustentáveis, inclusivas e acessíveis. Serão bem-sucedidas neste concurso global aquelas iniciativas que engajarem comunidades, empreendedores e instituições chave em colaborações para esse propósito e respeitarem o meio ambiente, culturas e práticas locais.

Em antecipação à Cúpula das Américas de 2012, e em apoio à iniciativa Parceria de Energia e Clima das Américas (ECPA) do presidente dos EUA Barack Obama, o Changemakers da Ashoka lança um desafio global intitulado Moradia ideal: Colaboração para Cidades mais Inclusivas e Sustentáveis. O desafio é financiado pela Fundação Rockefeller.

“Até 2050, mais de três quartos da população mundial estará vivendo em cidades, o que significa dizer que a pobreza mundial terá uma face urbana”, diz o Diretor da Fundação Rockefeller Benjamin de la Peña. “Temos que encorajar soluções e inovações empreendedoras em políticas públicas que acelerem a construção de moradias inclusivas e sustentáveis em larga escala. Nós precisamos de soluções que sejam co-criadas com populações urbanas em situação de pobreza e historicamente marginalizadas.”

Esse desafio busca produtos, políticas e estratégias inovadores que mobilizem recursos da comunidade e a engenhosidade de designers, planejadores, ambientalistas, construtores, banqueiros, engenheiros e líderes da sociedade civil e governo. Os vencedores do Desafio serão responsáveis pela construção de comunidades inclusivas, sustentáveis e acessíveis através de ampla rede de "solucionadores de problemas" com espírito empreendedor e do fortalecimento da participação cidadã que envolve as comunidades de maneira direta.

“Esse Desafio exigirá que soluções promissoras envolvam moradores, líderes inovadores e gestores públicos”, diz Ron Sims, Secretário-Adjunto do HUD. “Sob a liderança do Presidente Obama, os Estados Unidos têm revelado uma nova agenda urbana e metropolitana que promove abordagens integradas para gerar resultados mais inclusivos, sustentáveis e prósperos nos nossos centros urbanos, nossas áreas metropolitanas e nas zonas rurais. Esse Desafio vai promover ainda mais o compartilhamento ‘além das fronteiras’ das melhores ideias para construir progresso social e econômico.”

Esse desafio global tem como foco a América Latina e o Caribe, mas soluções para criar moradias urbanas sustentáveis em qualquer cidade ao redor do mundo são muito bem-vindas. É um desafio aberto a indivíduos, equipes ou organizações (organizações sem fins lucrativos, empresas privadas ou entidades públicas).

“A urbanização representa um imenso desafio, especialmente na América Latina, que será agravado ainda mais por outras tendências como a mudança climática”, diz Maria Otero, Sub-secretária do Departamento Americano para Democracia e Relações Globais. “Esse desafio proporciona uma oportunidade única de colaboração e conexão entre gestores públicos e inovadores ao redor do mundo na busca por soluções para os problemas geopolíticos mais urgentes.”

De 5 de novembro de 2010 a 2 de fevereiro de 2011, você pode indicar ou inscrever uma solução para habitação urbana sustentável. As três melhores inscrições enviadas até as 18h00 (horário de Brasília) de 2 de fevereiro de 2011 receberão um prêmio de 10 mil dólares cada.

Quinze finalistas serão convidados para o evento de encerramento do desafio em junho de 2011 no National Building Museum em Washington, D.C., EUA. Inovadores e seus projetos serão apresentados a parceiros públicos e privados, incluindo potenciais financiadores.

A APA lançou uma de suas iniciativas ECPA de planejamento urbano com o evento "Planejamento Urbano Sustentável e Construções eficientes do ponto de vista energético em Áreas de Baixa Renda das Américas", no Rio de Janeiro de 4 a 5 de Novembro de 2010. O evento atraiu um conjunto diversificado de atores sociais das Américas para catalisar a formação de parcerias e redes locais, nacionais e transnacionais cujo objetivo seja a promoção do entendimento e uso de novas tecnologias e ferramentas de planejamento como forma de mitigar e se adaptar à mudança climática, ao mesmo tempo em que comunidades energeticamente eficientes são construídas. A mistura deliberada de representantes do governo, profissionais de planejamento, organizações não-governamentais, acadêmicos/institutos e fundações visa formar e manter parcerias de longo prazo entre esses profissionais, resultando em intercâmbios técnicos e de ensino e capacitação para funcionários das áreas urbanas.

"Essa é uma oportunidade única de compartilhamento das melhores práticas de planejamento de todas as Américas. Esperamos aprender, mas também colaborar no desenvolvimento da capacidade de planejamento e promoção da participação cidadã”, diz o CEO da APA, W. Paul Farmer, FAICP. "Esse desafio enriquece o processo de planejamento com novas ideias que promoverão a colaboração entre gestores públicos e empreendedores, criando políticas públicas mais inteligentes, eficazes e sustentáveis."

http://www.changemakers.com/competitions/browse/all







Fig. 02

Prazos, informações e prémios
O Changemakers da Ashoka busca por soluções que engajem comunidades, empreendedores e instituições chave em colaborações para integrar e desenvolver moradias urbanas sustentáveis, inclusivas e acessíveis que respeitem o meio ambiente, as culturas locais e práticas.
O desafio será lançado em antecipação ao Encontro das Américas 2012 e em apoio à iniciativa do presidente dos EUA, Barack Obama, a Parceria de Energia e Clima para as Américas (ECPA). Financiado pela Fundação Rockefeller, é uma ação conjunta do Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos EUA, o Departamento de Estado dos EUA, e a American Planning Association.

Inscreva sua iniciativa ou indique um projeto até dia 2 de fevereiro de 2011 neste desafio que colabora com habitações urbanas sustentáveis para cidades mais inclusivas e agradáveis.
Prêmio de inscrições antecipadas: As melhores duas inscrições enviadas até as 18h00 (horário de Brasília) do dia 12 de dezembro de 2010 poderão ganhar um prêmio de 500 dólares cada.

Vencedores on-line: As três melhores inscrições enviadas até as 18h00 (horário de Brasília) receberão um prêmio de 10 mil dólares cada.

As melhores inscrições serão apresentadas e analisadas em um evento de encerramento do desafio em junho de 2011 no National Building Museum em Washington, D.C., EUA onde serão vistas por parceiros públicos e privados, incluindo potenciais financiadores.

http://www.changemakers.com/pt-br/moradiassustentaveis


Para mais informações:
Gaston Wright
Diretor de comunidade
Changemakers da Ashoka
Tel.: 54 11 43220567
E-mail: gwright@ashoka.org







Fig. 03

Orientações e Critérios
O desafio Moradia Ideal: COLABORAÇÃO PARA CIDADES MAIS INCLUSIVAS E SUSTENTÁVEIS é aberto a todos os tipos de indivíduos, equipes ou organizações (organizações sem fins lucrativos, empresas privadas ou entidades públicas). Este desafio global tem foco na região da América Latina e Caribe, mas soluções para criar moradias urbanas sustentáveis em qualquer cidade global do mundo podem participar. Serão consideradas as inscrições que:

- Reflitam o tema do desafio Moradia Ideal: COLABORAÇÃO PARA CIDADES MAIS INCLUSIVAS E SUSTENTÁVEIS. O escopo do desafio é identificar soluções colaborativas que constroem moradias urbanas sustentáveis, seguras, acessíveis e inclusivas, respeitando as culturas, materiais e práticas locais.

- Estejam em fase conceitual, na etapa de ideia: tenham sucesso comprovado em pequena escala, com potencial para crescer em outras cidades do mundo; ou que demonstrem crescimento posterior ao estágio conceitual e tenham já comprovado impacto e sustentabilidade. Algumas inovações atingirão seu potencial de impacto rapidamente, enquanto outras semearão mudanças para longo prazo de forma incremental. Apesar de apoiarmos novas ideias em qualquer estágio de desenvolvimento e estimularmos sua inscrição, os jurados têm mais condições de avaliar programas que estejam em estágios mais avançados do que a fase de concepção e que já tenham comprovado seu impacto.

- Sejam enviadas em inglês, francês, português ou espanhol.

Por favor, preencha toda a ficha de inscrição e a envie até as 18hs (horário de Brasília) de 2 de fevereiro de 2011. Note que as inscrições serão fortalecidas com a adição de materiais visuais. Todas as decisões dos jurados são soberanas.

Critérios de Avaliação
A Fundação Rockefeller, o Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos EUA, a American Planning Association, e o Departamento de Estado dos EUA buscam por soluções relacionadas a diversas áreas do conhecimento e têm interesse particular em identificar soluções, políticas e ideias para moradias urbanas que sejam inclusivas para pessoas de baixa renda em seu planejamento e concepção assim como na forma como crescem e prosperam. O desafio também busca encontrar novos modelos para colaborações efetivas e significativas que integrem o trabalho de líderes comunitários, planejadores urbanos, acadêmicos, especialistas em transportes, instituições financeiras e de crédito, profissionais de arquiteturas e de políticas públicas e governos locais, considerando os planos e modelos existentes que as cidades já estejam utilizando.

Este desafio global, com foco na região da América Latina e Caribe, busca por novos produtos, políticas e estratégias que mobilizem os recursos da comunidade e a genialidade de designers, planejadores, ambientalistas, profissionais do desenvolvimento, banqueiros, engenheiros e líderes civis e do governo. Também busca conectar uma extensa rede de empreendedores e fortalecer a participação cidadã através do envolvimento mais direto das comunidades na criação de soluções de habitação inovadoras, de baixo custo e sustentáveis que ajudem a construir comunidades acessíveis, agradáveis e inclusivas.

Desenvolvimento dos Critérios de Avaliação
Os vencedores do desafio Moradia Ideal: COLABORAÇÃO PARA CIDADES MAIS INCLUSIVAS E SUSTENTÁVEIS serão aquelas inscrições que melhor se adequarem aos seguintes critérios:

Inovação: Este é o critério principal; caso o trabalho não seja inovador, ele não irá receber notas altas dos jurados. Sua inscrição deve descrever a solução de transformação sistêmica em que seu trabalho está focado. A solução inovadora deve ser um modelo único de mudança, demonstrando um diferencial significativo em relação a outras iniciativas existentes e seu potencial de replicação em larga escala.

O desafio Moradia Ideal: COLABORAÇÃO PARA CIDADES MAIS INCLUSIVAS E SUSTENTÁVEIS busca em especial identificar soluções que respondam a necessidades de comunidades, trabalhem com infraestrutura existente, respeitem a cultura, materiais e práticas nativas locais e possam ser aplicadas em um amplo espectro de locais. Os participantes são estimulados a considerar estratégias que incorporem gestão e direitos territoriais, novas tecnologias, transporte, finanças, crédito para populações de baixa renda, e padrões para acessibilidade, equilibrio entre trabalho e vida pessoal, saúde, segurança pública, qualidade ambiental e segurança do cidadão.

Sustentabilidade Ambiental: As inscrições devem incluir ideias e especificações de como suas estratégias irão melhorar e construir habitações urbanas que não provoquem a exaustão de recursos naturais ou causem danos ambientais severos. As melhores inscrições serão aquelas que tiverem planos colaborativos para melhorar o nível de eficiência energética das edificações, reduzir as emissões de gases de efeito estufa através de modelos de desenvolvimento orientados ao trânsito, criar cidades mais caminháveis e aproveitar oportunidades locais de uso consciente da energia. Esses planos devem tornar as casas mais saudáveis e eficientes do ponto de vista energético, ao mesmo tempo em que preparam uma nova geração de profissionais, de trabalhadores da construção a arquitetos e operários, a integrar painéis solares, turbinas eólicas e outras tecnologias e materiais verdes na contrução e renovação de moradias. As estratégias devem também focar no processo de criar políticas e planos que garantam que moradias e infraestrutura urbana são seguras, sanitárias e inovadoras para prevenir danos e desastres ambientas de qualquer extensão.

Impacto Social: É importante que a iniciativa inovadora apresente uma solução de mudança sistêmica para o tema com que se propõe a contribuir. Algumas inovações já terão comprovado sucesso em âmbito local, enquanto outras apresentarão potencial de crescimento para engajar milhões de pessoas. Algumas atingirão seu potencial de impacto rapidamente, enquanto outras semearão mudanças para longo prazo. Os jurados considerarão a capacidade de ser replicada para outras cidades, a clareza da metodologia e a capacidade do participante de formular estratégias para gerar mudança na comunidade.

Nenhuma ideia é pequena ou grande demais - são bem-vindas ideias provocativas. A Fundação Rockefeller e seus parceiros buscam juntar as melhores soluções, sejam ideias em estágios iniciais ou em estágios mais avançados de implantação comprovada, de forma que todos se inspirem mutuamente para solucionar desafios de urbanização em todo o mundo.

Sustentabilidade Operacional: Para que uma inovação seja realmente efetiva é necessário que ela tenha um plano de longo prazo para a obtenção de fontes de apoio financeiro e de outros recursos relevantes. Os participantes devem descrever não só como financiam seu trabalho atualmente, mas também como planejam financiar seu trabalho no futuro. As inscrições devem especificar se irão cobrar ou não por seus serviços e descrever um plano de negócios. Os participantes devem também demonstrar que têm parcerias fortes e redes de apoio para combaterem o problema existente e para ajudarem na replicação da iniciativa e na manutenção de uma estratégia financeira clara.

As inscrições mais competitivas serão as que também considerarem como a incorporação de estratégias ambientais sustentáveis reduzirão os custos de vida de residentes urbanos no longo prazo, para indivíduos, governos locais, negócios, a indústria da saúde e outras organizações.


Júri de Especialistas

Angel Cabrera President,Thunderbird School of Global Management

Eduardo Rojas Principal Specialist in Urban Development,
Inter-American Development Bank

Jane Weru Executive Director and Founding Member, Akiba Mashinani Trust

Jeroo Billimoria Founder, Aflatoun

María Otero Under Secretary of State for Democracy and Global Affairs,
U.S. Department of State

Ron Sims Deputy Secretary, U.S. Department of Housing and Urban Development

William Cobbett Manager, Cities Alliance







Fig. 05

SOBRE AS ENTIDADES ORGANIZADORAS

Sobre o Changemakers da Ashoka
O Changemakers da Ashoka é uma comunidade de ação que conecta empreendedores sociais ao redor do mundo para compartilhar ideias, inspirar e aconselhar uns aos outros. Através de seus desafios colaborativos on-line e de seu processo aberto, o Changemakers.com é um dos espaços mais robustos do mundo para lançar, discutir e financiar ideias que visam solucionar os maiores problemas sociais do mundo. O Changemakers dá continuidade ao histórico de três décadas da Ashoka, cuja crença é de que todos nós temos a capacidade de fazer a diferença. http://www.changemakers.com/


Sobre a Fundação RockefellerA Fundação Rockefeller fomenta soluções inovadoras para a maioria dos desafios mais prementes do mundo, afirmando assim sua missão de "promover o bem-estar" da humanidade, desde 1913. Atualmente, a Fundação trabalha para garantir que mais pessoas possam acessar os benefícios da globalização ao mesmo tempo em que fortalecem a resiliência frente a seus riscos. As iniciativas da Fundação incluem esforços para mobilizar uma revolução agrícola na África Subsaariana, apoiar a segurança econômica de trabalhadores dos EUA, informar políticas de transporte justas e sustentáveis nos EUA, garantir acesso a sistemas de saúde financeiramente acessíveis e de alta qualidade em países em desenvolvimento, acelerar o impacto investindo na evolução da indústria e desenvolver estratégias e serviços que ajudem comunidades vulneráveis a lidar com os impactos das mudanças climáticas. Para mais informações, por favor, visite http://www.rockefellerfoundation.org/


Sobre o Departamento Americano de Habitação e Desenvolvimento Urbano (HUD)A missão do Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos EUA (HUD) é criar comunidades fortes, sustentáveis e inclusivas e moradias de qualidade economicamente acessíveis. O HUD vem trabalhando com o objetivo de fortalecer o mercado de habitação para apoiar a economia e proteger os consumidores; atender a necessidade de moradias de aluguel de qualidade e acessíveis; utilizar a habitação como uma plataforma para melhorar a qualidade de vida; construir comunidades inclusivas e sustentáveis livres de discriminação; e transformar a maneira como o HUD trabalha. http://www.hud.gov/ http://espanol.hud.gov/


Sobre a Associação Americana de PlanejamentoA American Planning Association é uma organização independente e sem fins lucrativos que provê lideranças em desenvolvimento de comunidades vitais. A APA e seu instituto profissional, o American Institute of Certified Planners, dedicam-se a promover o avanço da arte, ciência e a profissão do planejamento - físico, econômico e social - de forma a criar comunidades que ofereçam melhores escolhas para onde e como as pessoas vivem. Os membros da APA ajudam a criar comunidades de valor duradouro e encorajam líderes civis, interesses comerciais e cidadãos a desempenharem um papel em criar comunidades que enriqueçam as vidas das pessoas. A APA tem escritórios em Washington, D.C., e Chicago, IL, nos EUA. http://www.planning.org/


Sobre o Departamento de Estado dos Estados Unidos da América
O Departamento de Estado dos EUA, liderado pela Secretária Hillary Rodham Clinton, desenvolve as políticas externas do Presidente americano Barack Obama em nome do povo dos EUA. O Escritório para Assuntos do Hemisfério Ocidental (Bureau of Western Hemisphere Affairs) é liderado pelo secretário assistente Arturo A. Valenzuela, que é responsável por gerir e promover os interesses dos EUA na região através do apoio à democracia, ao comércio e ao desenvolvimento econômico sustentável e do fomento à cooperação em temas como segurança dos cidadãos, fortalecimento de instituições democráticas e do estado de direito, inclusão social e econômica, energia e mudanças climáticas. http://www.state.gov/


Saiba mais sobre a Parceria de Energia e Clima das Américas (ECPA)
O presidente dos EUA, Barack Obama, convidou todos os países da região para participarem da Parceria de Energia e Clima das Américas (ECPA) na V Cúpula das Américas, realizada em abril de 2009. A participação na ECPA é voluntária, permitindo aos governantes, organizações interamericanas, empresas privadas e sociedade civil liderarem ou participarem de iniciativas com foco em eficiência energética, energia renovável, combustíveis fósseis mais limpos, energia renovável, infraestrutura, pobreza energética, florestas sustentáveis e uso da terra, e adaptação. A ECPA pretende ajudar a fomentar políticas ambientais de governos que encorajem um desenvolvimento de baixo carbono, assim como atuar como uma ferramenta para identificar áreas que precisam de assistência. Qualquer governo no hemisfério pode liderar uma iniciativa, assim como oferecer apoio financeiro próprio para implantar atividades ou buscar financiamento junto a instituições públicas ou privadas e bancos multilaterais de desenvolvimento. O progresso e as informações são compartilhados no espaço da ECPA na Organização dos Estados Americanos em http://www.ecpamericas.org/

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Responsável: Julia Forlanijulia@ashoka.org.br

Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados no Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico, as opiniões e informações expressas nos artigos apenas traduzem o pensamento, as posições e as iniciativas específicas dos respectivos autores individuais e institucionais, sendo de sua exclusiva responsabilidade.

Infohabitar a Revista do Grupo Habitar
Editor: António Baptista Coelho
Edição de José Baptista Coelho
Lisboa, Encarnação - Olivais Norte
Infohabitar n.º 325, 19 de Dezembro de 2010

domingo, dezembro 12, 2010

324 - A Casa dos Sentidos de Sérgio Fazenda Rodrigues - Infohabitar 324

Infohabitar, Ano VI, n.º 324


Brevíssimas palavras iniciais

Edita-se, em seguida, um texto que escrevi como comentário de apresentação ao livro de Sérgio Fazenda Rodrigues, intitulado "A Casa dos Sentidos - Crónicas de Arquitectura", cuja primeira edição se encontra já quase esgotada, mas que poderá ser ainda encontrado nas livrarias. A edição é da arqcoop e os desenhos que se juntam no artigo, que se segue, são apenas alguns daqueles com que o autor abre as suas crónicas.

O editor do Infohabitar
António Baptista Coelho




Fig. 01: a capa de "A Casa dos Sentidos - Crónicas de Arquitectura"

Escreveu Joaquín Arnau que "a soma dos hábitos constitui a habitação" e que "a habitação é a função que propicia e decanta a Arquitectura" ("72 Voces para un Diccionario de Arquitectura Teórica", Celeste Ediciones, 2000). Considera-se, assim, o habitar, provavelmente o tema-base ou central da Arquitectura, mas de uma Arquitectura emocionada.

Esta é uma das perspectivas sobre as quais é possível fazer uma aproximação a este livro de Sérgio fazenda Rodrigues, um livro de um habitante, da casa e da cidade, aliás arquitecto, aliás também alguém que desenha, e que fala sobre esse tema central da Arquitectura que é o habitar, mas exactamente numa perspectiva de habitante, um habitante que marca e é marcado pelos seus entornos, como deve acontecer com todos os habitantes; embora, neste caso, haja que contar com uma sensibilidade e uma base de conhecimentos específicos, que depois acabam por nos ser devolvidos em textos de grande clareza e agradabilidade de leitura; aspecto que considero de grande importância como à frente se explicará.

Nestas áreas da leitura e da interacção com o espaço obrigatoriamente muito amplodo habitar, onde a cidade deve ser uma casa grande e esta uma pequena cidade, não podemos esquecer que, tal como escreveu Christian Norberg-Schulz, "a arquitectura se preocupa com algo mais do que necessidades práticas e economia. Ela trata de significados. Os significados derivam de fenómenos naturais, humanos e espirituais, e são experimentados como ordem e carácter. A arquitectura traduz estes significados em formas espaciais. As formas espaciais em arquitectura não são nem Euclidianas nem Einsteinianas. Em arquitectura as formas espaciais significam lugar, percurso e domínio, isto é, a estrutura concreta do ambiente humano. Por isso a arquitectura não pode ser satisfatoriamente descrita através de conceitos geométricos e semiológicos. A arquitectura deve ser entendida em termos de formas significantes."

E temos assim, aqui, salientada a importância dos múltiplos e ricos sentidos que se podem e devem viver nas casas e cidades bem habitáveis, desde que estas sejam verdadeiras casas de sentidos, de sentimentos e de carácter. E seguindo um ponto de vista complementar há que sublinhar que é tempo de a habitação não ser mais considerada como um bem de consumo que responde a imperativos funcionais, mas, essencialmente, como um bem cultural; pois
o habitar deve deslocar-se, tal como diz Jean Nouvel, “para o domínio dos bens de consumo culturais, domínio para o qual está a evoluir realmente uma parte da sociedade.”
Numa outra perspectiva, de certa forma gémea daquela que foi referida, podemos considerar que habitar melhor casas e cidades marcadas por vizinhanças e sequências de vistas e de espaços estimulantes é uma condição que nos proporcionará, provavelmente, uma relação mais estreita com a expressão artística num sentido amplo, e, como reflexo deste cenário de vida estimulante, muito provavelmente a própria arte urbana, nas suas diversas expressões e presenças bem próximas dos espaços do habitar, é muito provavelmente condição importante para um viver com mais satisfação, com mais sentidos e com mais sentido.

Por tudo isto não devemos ter quaisquer dúvidas de que há muito mais num habitar amplo e bem qualificado para além das matérias racionais e funcionais, e está na hora de aprofundarmos e debatermos esse "muito mais" pois, por um lado já se viu onde essa parcialidade funcional na abordagem do habitar nos levou, às tantas cidades e casas sem sentidos e com muito pouco sentido, e porque se há uma altura adequada para avançarmos nestas matérias, é agora neste nosso novo século das cidades, das grandes cidades e de tanto espaço urbano sem sensibilidade, e sem identidade; caso contrário temos e teremos um presente e um futuro muito complicados.

Importa ainda considerar que numa vida actual marcada pela falta de tempo para quase tudo, pela absurda normalização e descaracterização dos espaços domésticos, e pela vivência autista nesses espaços, de costas viradas à convivência urbana, num século que se iniciou sem ideologias e com a ideia de que certas qualidades, como o convívio, a solidariedade e até a própria capacidade poética, seriam meras perdas de tempo sem sentido; e que afinal acorda para problemas de qualidade de vida diária que muitos pensavam serem já fantasmas do passado, é talvez a boa altura de nos determos sobre o que pode ser uma verdadeira qualidade do nosso habitar no dia-a-dia e nos nossos cenários de vida, um habitar que tem de englobar vizinhança e cidade, e que tem de contar com uma expressiva dimensão qualitativa e extensa, profunda e diversificadamente sensível.



Fig. 02: um dos desenhos de Sérgio Fazenda Rodrigues, que acompanham a sua "Casa dos Sentidos"

Mas como tratar estas matérias sem nos especializarmos em tantos temas do saber ou sem nos transformarmos naquilo que Eduardo Cintra Torres definiu, há poucoss dias, no jornal Público (3 Dez 2010) como "tudólogos" - "especialistas em tudo" e que tantas vezes tão pouco sabem?

Temos por um lado de encontrar os “postos avançados” das diversas áreas de conhecimento que estabeleçam contactos privilegiados com as áreas da arquitectura do habitar, e devemos, nós próprios, arquitectos e interessados por estas matérias artísticas, arquitectónicas e urbanas, identificar as temáticas que mais se ligam a uma ampla, rica e sensível satisfação de quem habita, por um lado, e a uma gradual e consistente construção de uma cidade digna e estimulante, procurando, neste caminho, deixar de lado uma nossa eventual formação disciplinar, mais específica ou especializada, e usar, essencialmente, as ferramentas operacionais de que dispomos em termos de leitura aprofundada de espaços e ambientes, colocando-as ao serviço de habitantes e moradores, para daí retirar ideias, apontamentos e caminhos sobre como avançar nessas cidades e casas dos sentidos de todos e que cumpram um sentido comum de grande qualidade cívica e convivial.

Naturalmente, o livro aqui apresentado - "A Casa dos Sentidos - Crónicas de Arquitectura" - é exemplo do bom uso dessas ferramentas de leitura e de divulgação do bom habitar.

Naturalmente que há franjas de actividade que são privilegiadas neste tipo de abordagem, e nelas há que salientar, seja os ficcionistas e jornalistas que trabalham bem nas áreas do habitar casas e cidades, seja os arquitectos que têm algum à-vontade no construir de crónicas e textos sobre esses temas, mas visando um público o mais amplo possível.

O Sérgio Fazenda Rodrigues encontra-se neste último grupo e junta, ainda, a este perfil de divulgador dos aspectos qualitativos do habitar, o sentido da ilustração destas qualidades; matéria que considero ser de grande valia, pois, por um lado, custa-me sempre muito a entender o divórcio entre arquitectar e desenhar, e tenho ainda a certeza que esta aliança corresponde, neste caso a uma relação forte e genuína.

E assim o autor escreve e desenha sobre a arquitectura e o cinema, museus e cidades, portanto memórias vivas; penumbras e fronteiras do olhar, o cheiro das casas e das cidades, toques sedutores, música e arquitectura, o sentido íntimo das escadas dos muros e dos materias, limites, espaços e comportamentos, o sentido do fogo, coisas guardadas, reunião à volta da mesa, o corpo e a arquitectura, cafés habitados, maquetas e presépios, sótãos caves e memórias, e luz e vistas das cidades.

O autor ajuda-nos, assim, a encarar o habitar numa renovada e urgente perspectiva: como "objecto mais adequado para experimentar ideias e afirmar conceitos," um pouco como apontou Richard Weston (1):

. como coisa/sítio "entre a realidade e o desejo, entre o corpo e o sonho, entre o possível e o desejado", como pormenorizou Vicente Verdú (2);

. e um habitar que nunca deverá ser apenas o que tantos de nós designam como boas casas, mas realidades também caracterizado "pelo seu «poder espacial» e pelos «aspectos arquitectónicos» que coloca e a que respondem”, tal como sugere Kazuhiro Kojima (3).

E tudo isto se liga a uma afirmação de Leonardo Benevolo e Benno Albretch que não consigo deixar de citar nas minhas últimas intervenções e que sublinha que “os desafios a enfrentar no mundo de hoje não dizem apenas respeito às quantidades e aos números, mas também, – e sobretudo – à complexidade e à subtileza.” (4)

Uma afirmação que afinal faz salientar que os bons espaços de habitar têm de aliar aos aspectos básicos de funcionalidade, o desenvolvimento de uma caracterização arquitectónica residencial que os torne de certa forma únicos em termos de imagens e de relações de imagens e em termos de espaços e ambientes e de relações entre espaços e ambientes; casas multisensoriais e casa cheias de sentido! Poderemos concluir.




Fig. 03: outro dos desenhos de Sérgio Fazenda Rodrigues, que acompanham a sua "Casa dos Sentidos"

E, afinal, casas bem distintas daquelas "caixas sobrepostas onde vivem os habitantes da grande cidade" daquelas caixas nas quais "o número da rua e a designação do andar fixam a localização do nosso «buraco convencional»", sem "espaço à volta dela, nem verticalidade...", sem "raiz", todas estas, características daquilo que Gaston Bachelard designou como um "alojamento refugiado num andar" e sem "os princípios fundamentais para distinguir e clarificar os valores da intimidade". (5)

Porque habitar tem de ser, verdadeiramente, sentir, marcar, apropriar e desenvolver um contexto caloroso, exterior e interior, um contexto bem integrado num viver a cidade das proximidades e a cultura expressivamente urbana e diversificada, numa vivência que tem de ser integrada e natural, e em contextos que nos animem através de conjuntos de aspectos que nos falem, em cada sítio, de um habitar “único”, não monótono, não mudo e sempre em relação estreita e dialogante com a cidade. Todos estes, aspectos que são determinantes num habitar multisensorial que verdadeiramente nos entusiasme, porque não deveríamos pedir ao habitar menos que isso: que nos entusiasme! E para tal precisamos de muitas casas dos sentidos!
Notas:
(1) Richard Weston, “A casa no século vinte”, 2002, p.7.
(2) Anatxu Zabalbeascoa, “La casa del arquitecto”, Ed. Gustavo Gili, p.6, 1995.
(3) Kazuhiro Kojima, “What is a «Good House»”, em “Contemporary japanese houses, 1985-2005”, pp. 14 e 16.
(4) Leonardo Benevolo e Benno Albretch, “As Origens da Arquitectura”, 2002, p.9.
(5) G. Bachelard, "La Poétique de l'Espace", p. 30.

Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados no Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico, as opiniões expressas nos artigos apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores.

Infohabitar a Revista do Grupo Habitar
Editor: António Baptista Coelho
Edição de José Baptista Coelho
Lisboa, Encarnação - Olivais Norte
Infohabitar n.º 324, 12 de Dezembro de 2010

segunda-feira, dezembro 06, 2010

323 - Habitação e Arquitectura VIII: a Durabilidade Residencial - Infohabitar 323

Infohabitar, Ano VI, n.º 323

Nota de divulgação
Novos comentários sobre a qualidade arquitectónica residencial
Melhor Habitação com Melhor Arquitectura VIII:
a Durabilidade Arquitectónica ResidencialArtigo de António Baptista Coelho


Nota prévia: retomando uma edição cujo último “capítulo”, sobre a agradabilidade arquitectónica residencial, foi editado com o n.º 320 deste Infohabitar, há três semanas, publicam-se agora algumas reflexões sobre a matéria da durabilidade arquitectónica residencial.

Introdução geralNas páginas seguintes apontam-se alguns aspectos que têm sido constante e sistematicamente ponderados, na sequência da aplicação dos conceitos ligados aos diversos rumos de qualidade arquitectónica residencial. Não se trata, assim, da sua respectiva e clarificada estruturação, mas apenas da sua ponderação cuidada, considerando os anos de prática de análise, que já decorreram desde a sua formulação inicial.

É sempre possível entrar no Infohabitar e aceder, de imediato, ao respectivo catálogo interactivo, onde uma das categorias agrupa todos os artigos dedicados à temática da Melhor Habitação com Melhor Arquitectura (no total serão cerca de 18, sendo 15 sobre as 15 qualidade qualidades consideradas, um de introdução, um de conclusão genérica e outro de conclusão sintetizada e de temas de continuidade).

Regista-se, em seguida, o plano editorial previsto no Infohabitar, que, repete-se, será, descontínuo, alternado por outras edições e realizado à medida da elaboração dos respectivos artigos (a bold os temas já editados):

Infohabitar n.º 290 - Melhor Habitação com Melhor Arquitectura I: Introdução

A matéria da relação e do contacto entre espaços e ambientes é tratada em termos de aspectos de:

Infohabitar n.º 291 - Melhor Habitação com Melhor Arquitectura II: Acessibilidade - facilidade na aproximação ou no trato e desenvolvimento de continuidades naturais por prolongamentos e múltiplas ligações.

Infohabitar n.º 295 - Melhor Habitação com Melhor Arquitectura III: Comunicabilidade - a qualidade daquilo que está ligado ou que tem correspondência ou contacto físico ou visual.

A matéria da caracterização adequação de espaços e ambientes é tratada em termos de aspectos de:

Infohabitar n.º 297 - Melhor Habitação com Melhor Arquitectura IV: Espaciosidade – referida, tanto aos espaços que são extensos e amplos como aos que apresentam desafogo nas suas envolventes.

Infohabitar n.º 316 - Melhor Habitação com Melhor Arquitectura V: Capacidade – que designa e qualifica o âmbito interior (dentro dos limites) ou a aptidão geral, espacial e ambiental, de qualquer elemento residencial.

Infohabitar n.º 318 - Melhor Habitação com Melhor Arquitectura VI: Funcionalidade – referida ao adequado desempenho das várias funções e actividades residenciais.

A matéria do conforto espacial e ambiental é tratada em termos de aspectos de:

Infohabitar n.º 319 - Melhor Habitação com Melhor Arquitectura VII: Agradabilidade – referida ao desenvolvimento de condições de conforto, bem-estar e comodidade, nos espaços e ambientes residenciais.

Infohabitar n.º 323 - Melhor Habitação com Melhor Arquitectura VIII: Durabilidade – qualidade do que dura muito ou, melhor, do que pode durar muito e em excelentes condições de manutenção.

Infohabitar n.º xxx - Melhor Habitação com Melhor Arquitectura IX: Segurança – o acto ou efeito de tornar seguro, prevenir perigos, (tranquilizar).

A matéria da interacção social e da expressão individual é tratada em termos de aspectos de:

Infohabitar n.º xxx - Melhor Habitação com Melhor Arquitectura X: Convivialidade – referida ao viver em comum, ao ter familiaridade e camaradagem, à entreajuda natural ou sociabilidade entre vizinhos.

Infohabitar n.º xxx - Melhor Habitação com Melhor Arquitectura XI: Privacidade – referida à intimidade e capacidade de privança oferecida por um dado espaço num dado ambiente.

A matéria da participação, identificação e regulação é tratada em termos de aspectos de:

Infohabitar n.º xxx - Melhor Habitação com Melhor Arquitectura XII: Adaptabilidade – referida à versatilidade e ao que se pode acomodar e consequentemente apropriar.

Infohabitar n.º xxx - Melhor Habitação com Melhor Arquitectura XIII: Apropriação – referida à capacidade de identificação, à acção de "tomar de propriedade", tornando próprio e a si adaptado.

A matéria do “aspecto” e da coerência espacial e ambiental é tratada em termos de aspectos de:

Infohabitar n.º xxx - Melhor Habitação com Melhor Arquitectura XIV: Atractividade - a capacidade de dinamizar e polarizar a atenção.

Infohabitar n.º xxx - Melhor Habitação com Melhor Arquitectura XV: Domesticidade – referida à expressão mais pública ou doméstica do carácter residencial.

Infohabitar n.º xxx - Melhor Habitação com Melhor Arquitectura XVI: Integração – que é a integração ou integridade de um contexto, e de uma totalidade onde não falta nem um elemento de conteúdo e de relação.





Fig. 01: capa da edição do LNEC " Qualidade Arquitectónica Residencial - Rumos e factores de análise" - ITA 8, da Livraria do LNEC, referindo-se, em seguida, o respectivo link para a Livraria do LNEC
http://livraria.lnec.pt/php/livro_ficha.php?cod_edicao=52319.php

Salienta-se ser possível aprofundar estas matérias num estudo editado pela livraria do LNEC - intitulado " Qualidade Arquitectónica Residencial - Rumos e factores de análise" - n.º 8 da colecção Informação Técnica Arquitectura, ITA 8 - que contém um desenvolvimento sistemático dos rumos e factores gerais de análise da qualidade arquitectónica residencial, que se devem constituir em objectivos de programa e que correspondem à definição de características funcionais, ambientais, sociais e de aspecto geral a satisfazer para que se atinja um elevado nível de qualidade nos espaços exteriores e interiores do habitat humano.

Sublinha-se, no entanto, que a abordagem que se continua a fazer, em seguida, às matérias da espaciosidade, enquanto qualidade arquitectónica residencial, corresponde ao revisitar do tema, passados cerca de 15 anos do seu primeiro desenvolvimento, e numa perspectiva autónoma, diversificada e muito provavelmente suplementar, relativamente a essa primeira abordagem.




Fig. 02: uma ilustração/símbolo que acompanhou o estudo original


Apresentação geral da Durabilidade Arquitectónica Residencial

A durabilidade arquitectónica de espaços e ambientes do habitar é uma qualidade ligada ao desenvolvimento de adequadas condições de conforto (bem-estar) ambiental e espacial, articulando-se nesta ampla temática, quer com os aspectos da agradabilidade no habitar, quer com estimulantes condições de segurança residencial e urbana.

Conjuntamente com a agradabilidade e a segurança, a agradabilidade é responsável pelo expressivo desenvolvimento de adequadas condições de conforto (bem-estar) ambiental e espacial.

A durabilidade arquitectónica residencial pode definir-se como a capacidade de resistência e de fácil manutenção reais e expressivamente evidenciadas, dos espaços e elementos residenciais.

Refere-se ao proporcionar de espaços e elementos residenciais resistentes a a uma grande diversidade e intensidade de usos e fáceis de manter em adequadas condições funcionais e visuais que promovam esses usos.

Cumulativamente a durabilidade arquitectónica residencial deve ainda caracterizar-se por associar a essa resistência e facilidade de manutenção, essencialmente funcionais, uma expressiva persistência em termos de uma aparência positiva, ou mesmo de uma agradável evolução dessa aparência, que marque agradavelmente o passar do tempo e do uso, caracterizando um dado espaço ou elemento residencial com essa marca positiva do tempo que passa.

A durabilidade arquitectónica residencial tem também a ver com aspectos de adequação e diálogo social, que são importantes e que importa desenvolver com cuidado e no confronto com experiências práticas, pois não basta disponibilizar cenários e elementos residenciais muito duráveis, eles têm de ser socioculturalmente adequados e nada substitui um diálogo prévio e um acompanhamento cuidadoso, sensível mas exigentes, destas matérias; assunto este que importa aprofundar.




Fig. 03: ilustrações que acompanharam o estudo original

Introdução à durabilidade arquitectónica residencial
A durabilidade é a qualidade do que dura muito ou do que pode durar muito e em excelentes condições de uso e de aspecto. Mas na qualificação arquitectónica há que abordar, integradamente, e tal como já se apontou, a durabilidade física e a aparência dessa mesma durabilidade.

A boa durabilidade é uma qualidade com uma importância directa no uso do habitat humano e que se reflecte na geração de adequados modos de uso desse habitat. Depende de uma opção inicial positiva em termos de custo-qualidade (considerando condições de desempenho físico e aspecto), que sirva com fidelidade e ampla margem de segurança as condições ambientais mais rigorosas e os usos críticos esperados. E aqui há que ter em conta, especialmente, a durabilidade ao nível dos espaços exterioes públicos e a durabilidade num diálogo sensível com modos de vida e com hábitos de vida e de comportamento que podem ser potencialmente muito agressivos relativamente à manutenção de espaços e elementos residenciais em bom estado funcional e visual.

Naturalmente, é importante sublinhar, desde já, dois aspectos, sen do um mais social e de gestão e outro uma opção estratégica e formal/funcional.

Um primeiro aspecto tem a ver com a necessidade de se ter uma perspectiva integrada física/funcional e social/de gestão da forma como se lida com estes aspectos de durabilidade e manutenção dos espaços residenciais, isto porque, por exemplo, há informações e mesmo formações a facultar a pessoas e famílias que não estão habituadas a viver em espaços residenciais "normalizados", porque antes viviam em situações precárias, mas também porque há um diálogo sistemático a desenvolver em termos do bom uso/mau uso dos espaços residenciais públicos e privados, não sendo de pactuar com o vandalismo; antes pelo contrário há que estruturar e aplicar uma estratégia de gestão local e de proximidade/continuidade que obrigue a que quem vandaliza seja imediata/rapidamente responsabilizado por esse vandalismo.

O segundo aspecto tem a ver com uma opção estratégica e, de certo modo, formal e funcional que não pode privilegiar a criação de ambientes residenciais públicos e privados, caracterizadamente "duros", "maquinais", "simplificados" e "rudes", devido a estar-se em presença de potenciais situações de mau uso residencial, pois a opção básica tem de ser sempre pela positiva, havendo cautela e bom senso nas escolhas que se fazem, acrescentando-lhe eventuais margens de segurança quando as situações são potencialmente críticas, mas nunca nos esquecendo que estamos a tratar de ambientes residenciais e domésticos, portanto de espaços que têm de ser basicamente amigáveis e apropriáveis e que, mesmo em situações potencialmente críticas, a maiorias dos habitantes são excelentes cidadãos; uma situação e uma opção que terá também reflexos ao nível de sinalizações adequadas, informações prévias e acompanhamento periódico e inicialmente reforçado relativamente aos espaços públicos e edifícios, assim como no que se refere ao modo de usar e manter os espaços e elementos domésticos.

Fez-se, desde já, este desenvolvimento pois considera-se que há inúmeros mal-entendidos e aspectos associados a "ideias-feitas", sobre os habitantes e mesmo os citadinos usarem melhor ou pior os seus espaços residenciais e a sua cidade: e, frequentemente, não se usam melhor esses espaços porque não há, de facto, uma informação cuidadosa e sensível nesse sentido.

E a boa durabilidade residencial e citadina depende, evidentemente, e de forma significativa, de uma adequada programação dos processos de manutenção periódicos e especiais, apurados em termos de custo-benefício e de adequadas soluções de "controlo" e gestão correntes (por exemplo, a acção sistemática e diária do Zelador da Cooperativa as Sete Bicas).

Não podemos é realizar um dado conjunto residencial e urbano e esperar que ele se mantenha em boas condições funcionais/formais sem que seja programada a respectiva responsabilização e gestão de todos os seus espaços e elementos: tudo tem de ser programado e com razoáveis alternativas de acção em caso de situações inesperadas.

E os próprios habitantes podem participar nestas matérias da manutenção residencial, seja por estarem claramente informados sobre como devem usar espaços e elementos e sobre quem tem a responsabilidade da respectiva manutenção e em que condições, seja por poderem participar, indirecta e até directamente na manutenção corrente dos espaços públicos e comuns que habitam - por exemplo, através de quotizações para a limpeza e o ajardinamento de determinadas zonas e mesmo por eventual participação directa e devidamente convencionada nessa manutenção (em alguns conjuntos de habitação de interesse social lisboeta há moradores que participam no respectivo ajardinamento, numa acção devidamente convencionada com a respectiva empresa gestora).

E poderá haver, mesmo, a aceitação de uma participação activa e protagonista da intervenção dos moradores no ajardinamento de espaços públicos contíguos às habitações dos próprios, mas que possam ser aceites como de uso privado; situações em que há excelentes exemplos que merecem visita, por exemplo, em Olivais Norte; cujo resultado é claramente positivo para os habitantes que criam esses espaços e para o público em geral, havendo, no entanto, que regrar tais intervenções de modos muito simplificados mas expressivamente impostos, de modo a evitarem-se ou reduzirem-se significativamente as situações de abuso de apropriação e/ou com negativa imagem pública.

Aspectos outros que interagem com a durabilidade são, tal como já se apontou, a capacidade de suportar acções inopinadas, a resistência ou adequação a actos de vandalismo, e, de forma geral, a proximidade relativamente ao uso humano. Naturalmente, em todos estes aspectos prevalece a circunstância de se tratarem de elementos naturais/vivos ou inertes, sendo os primeiros evidentemente muito mais sensíveis e críticos na sua viabilidade (ex. pequenas árvores desprotegidas), enquanto nos segundos também se encontram elementos críticos ao nível do mobiliário urbano (ex. critérios anti-vandalismo mal ponderados).




Fig. 04

Aspectos estruturadores da durabilidade

A durabilidade deve ter uma aplicação efectiva e quilibrada ao meio físico residencial, num equilíbrio tripartido entre: (i) durabilidade específica, (ii) facilidade/adequação de manutenção e (iii) custos iniciais e de manutenção.

Sobre a durabilidade específica há que sublinhar que o fazer-se pequenas partes de cidade exige uma durabilidade maximizada, pois o horizonte temporal tem de ser o de várias gerações; mas tanto há soluções que se mostram positivamente "intocadas" meio século depois de terem sido construídas e habitadas, como outras há que se começam a degradar ainda antes de serem ocupadas.

Sobre a facilidade de manutenção há que salientar que se ela deve ser "regra" no interior doméstico, então o que dizer nos espaços comuns de edifícios e nos espaços públicos, mas, no entanto, tal não acontece! Diria mesmo que a regra é a de pouco se ter em conta essa facilidade de manutenção, num necessário sentido lato de facilidade de usos diários e de limpeza e manutenção correntes. Talvez não haja informação adequada a esse nível, é provável que tal aconteça, mas quem projecta o espaço residencial e urbano e quem promove e/ou licencia esses projectos, designadamente, no âmbito do interesse público, tem de ter e de aplicar tais conhecimentos técnicos. E nesta facilidade de manutenção há que considerar a possibilidade de intervenção de pessoas não especializadas (frequentemente, os habitantes), uma condição que pode ter forte expressão na viabilidade da manutenção ao longo do tempo.

A relação entre durabilidade básica e características da respectiva manutenção é marcada pelos respectivos custos, sendo que cada solução terá perfiis específicos de desempenho funcional/formal(visual) e de custo inicial/períódico; perfis estes que devem ser devidamente considerados no projecto.

Um outro aspecto que tem de estar bem presente quando reflectimos sobre a previsão de uma adequada durabilidade nos espaços residenciais e urbanos é a relação entre tais condições e o bem-estar e a saúde dos habitantes, pois é bem conhecida a relação directa entre espaços e elementos residenciais degradados e acidentes no uso, assim como é bem conhecida a relação entre espaços domésticos degradados e problemas de saúde.

Nesta matéria da "estruturação" da durabilidade arquitectónica residencial há que apontar, ainda, que a durabilidade tem influência directa e positiva no uso adequado do habitat humano. O habitat durável e com boa manutenção estimula o bom uso e a boa manutenção, enquanto o pouco durável e com deficiente manutenção estimula o mau uso e o vandalismo.




Fig. 05

A durabilidade, da habitação, à vizinhança e ao bairro
A durabilidade arquitectónica é uma das marcas fortes e simbólicas da cidade e do bairro, afinal todos nos ligamos a aspectos que caracterizam essas partes da cidade, porque perenes e bem memorizáveis através de gerações. Desta forma chegamos à vizinhança da porta do edifício ou da habitação, isto se estivermos num bairro caracterizado e não num subúrbio rarefeito e/ou sem identidade. Depois será o edifício e designadamente os seus espaços comuns, que devem ser, també, espaços de perenidade e de algumas memórias positivas, que contribuem para um certo e agradável sentido de referências que se mantêm, que não se alteram ao ritmo de tantas outras coisas que mudam: os veículos, as modas, os gadgets, etc.

Quanto ao espaço doméstico já poderemos pensar de outras formas, mais flexíveis, mas mesmo aqui há importantes aspectos de permanência a considerar, porque correspondem, claramente, a matérias qualitativas frequentemente apreciadas como positivas - e apenas como exemplo, apontam-se desde uma dada organização do lar muito caracterizada e que albergou variadas vidas e funções, até aspectos de pormenor de um pano de apanhar de uma lareira, das bandeiras envidraçadas de certas portas, e, naturalmente, tantos aspectos associados à permanência em excelente estado funcional/formal de variados pavimentos e alvenarias aparentes - e ninguém me convence que tais aspectos são apenas funcionais e objectivos.

Estratégias de durabilidade

Exteriormente há que equilibrar condições iniciais de durabilidade e de manutenção corrente com os respectivos custos e a eficácia real dos espaços exteriores residenciais: por escolha entre soluções alternativas; por consideração dos “picos” iniciais de custos de manutenção, designadamente dos espaços e elementos “verdes”; dos cuidados de rectificação das características de uso e mesmo de configuração dos dos diversos espaços (ex., usados por crianças); e por um fundamental combate, sem tréguas, às zonas “mortas”, desapropriadas, desvitalizadas e indefinidas (se forem zonas adequadamente capacitadas serão tendencialmente usadas de forma positiva).

Interiormente, nos espaços edificados, há que equilibrar condições iniciais de durabilidade e de manutenção corrente com os respectivos custos e a eficácia real dos espaços e compartimentos – salientando-se que estas matérias estão mais definidas do que as relativas aos espaços exteriores: através de manutenção programada; por durabilidade acrescida e bem definida dos elementos pouco acessíveis e difilmente substituíveis; por uma cuidadosa relação entre durabilidade e segurança; e pela adequada previsão e divulgação de acções simples de manutenção e face ao uso e à acção dos agentes atmosféricos.

A durabilidade arquitectónica residencial: um mundo de relações que é, afinal, matéria de base da concepção
Quando nos referimos à "estruturação" da durabilidade residencial sob o ponto de vista da concepção arquitectónica, importa ter em conta que estamos a tratar de uma matéria que se pode considerar como básica nessa fase de projecto, pois muitas das opções fundamentais devem ser tomadas na escolha dos materiais e das principais soluções construtivas, aspectos estes que são determinantes na desejável longa e mesmo muito longa durabilidade de edifícios, construções e espaços urbanos; dá vontade de sublinhar que no bom arquitectar do habitar muitas das escolhas essenciais serão feitas nestas matérias da durabilidade e nas que estão associadas à agradabilidade/conforto ambiental - e aliás durabilidade e conforto ambiental têm densas relações mútuas -, numa perspectiva positivamente passiva, portanto não associada a "máquinas" e complementos diversos do espaço construído, pois afinal o mundo das máquinas terá de ser tratado de forma bastante distinta e muito mais dinâmica.

A durabilidade nos espaços públicos versus a espaciosidade nos espaços edificados
A durabilidade cruza toda a sequência de níveis físicos, sendo crítica nos espaços públicos mais animados, e sendo menos crítica mas mais directamente observada nos espaços públicos de vizinhança (portanto, também crítica por que muito directamente sentida), sendo fundamental, designadamente, na “pele” dos edifícios e na caracterização dos seus espaços comuns interiores e fortemente ligada aos usos domésticos no interior das habitações, com destaque para os espaços mais intensa e exigentemente usados (exemplo zonas húmidas e/ou em contacto com o exterior).




Fig. 06

A durabilidade nos espaços públicos
É fundamental estudar soluções adequadas de arranjos de espaços públicos duráveis e com uma adequada escala/caracterização de tratamento (uso da durabilidade como veículo de dignidade e imagem pública), articulando imagem atraente, resistência, facilidade de manutenção e relação directa com outras qualidades, designadamente, de conforto ambiental, socialização e apropriação.

Uma matéria interessante nesta faceta da reflexão sobre a durabilidade no exterior habitado é a questão da harmonização entre tráfego de veículos e movientação e, designadamente, estadia pedonal, pois o primeiro exige condições funcionais e de caracterização física que apenas em velocidades lentas (por exemplo, a cerca de 30 km/h) se tendem a harmonizar com as condições de uso das pessoas a pé; pensa-se em zonas pavimentadas a calçada, equipamentos de estadia com densidade convidativa, árvores com presença efectiva, etc. Apenas misturas como estas terão viabilidade, caso contrário vencerão os mais fortes: os automóveis.

E trabalhar numa dimensão pública implica exigências de resistência a "usos e abusos" que, actualmente, ainda não estão bem caracterizados e clarificados ao nível dos próprios projectistas e promotores. Uma matéria que poderá ter um útil desenvolvimento.

A durabilidade na vizinhança de proximidade e na relação desta com os edifícios
Sendo potencialmente um pouco menos crítica do que a dimensão da durabilidade urbana dos espaços públicos, a situação que se vive na proximidade dos edifícios é extremamente sentida e visível pelos habitantes, sendo directamente observada nos espaços públicos de vizinhança.

A este nível físico urbano e residencial podemos considerar que a disponibilização de excelentes condições de durabilidade e de manutenção corrente e efectiva, aliadas a um partido de arranjo funcional/formal que harmonize dignidade urbana e afinidade e capacidade de apropriação pelos habitantes, resultarão, frequentemente, num sentido de vizinhança residencial como quase extensão do ambiente doméstico de cada um, mas matizado por um sentido de alguma comunidade e/ou de alguma urbanidade.

A durabilidade nos espaços edificados

O edifício deve caracterizar-se por ser um “contentor” extremamente resistente aos efeitos do clima e dos usos e com uma imagem com grande perenidade; há ssim aqui uma dupla matéria de durabilidade funcional/física e de durabilidade formal/visual; uma reflexão que nos poderá levar longe noutras ocasiões, mas não pode haver grandes dúvidas sobre a importância que tem, para todos, um sentido claro de dignidade residencial, de sentido de lugar digno e com identidade, relativamente a onde se habita.

É ainda interessante considerar que o sentido de contentor protector e, de certa forma, auto-protegido do edifício tem de ser compatibilizado com a respectiva, franca e estratégica/condicionada abertura à radiação solar e ao vento, num equilíbrio que põe em evidência a importância da adequada pormenorização dos vãos exteriores e seus elementos de protecção e de filtro, bem como de cuidada pormenorização da capa exterior protectora do edifício e das suas zonas de charneira com os referidos vãos; mais um dos sítios estruturantes onde se trabalha a concepção arquitectónica.

A durabilidade nas habitações
Nos fogos a durabilidade tem quatro caminhos.

Um primeiro reflecte interiormente o trabalho apontado relativamente aos vãos exteriores, sua protecção e aspectos de relação interior/exterior que são fundamentais para o conforto ambiental e que têm de ser perfeitamente compatibilizados com as respectivas condições de durabilidade/manutenção.

Um segundo caminho está ligado a uma estrtégia geral de pormenorização do interior, numa opção por boas ligações entre espaços, elementos e materiais; novamente matéria base da concepção.

Um terceiro caminho liga-se aos elementos com uso directo mais intenso e/ou mecânicos, e também a uma adequada resposta a solicitações ambientais e pontuais mais desfavoráveis (ex. presença de água frequente).

Finalmente, um quarto caminho liga-se à consideração específica de modos de vida/uso da casa e/ou de uso de equipamentos e elementos domésticos muito diversificados e até eventualmente “agressivos”. E aqui poderá haver uma perspectiva de uso corrente intenso e exigente e uma perspectiva, alternativa, de usos especialmente críticos, por exemplo, associados a hábitos domésticos de determinadas minorias étnicas; mas uma alternativa que nunca deverá associar-se a um sentido de tolerância da incivilidade, opção esta que, para tal, terá de estar, necessariamente ligada a cuidados específicos de gestão da habitação, integrando, sempre que necessário, inspecções e responsabilizações por eventuais danos que resultem de evidentes acções de vandalismo.

Sublinha-se que este último tipo de cuidados de acompanhamento e vigilância de usos pouco cívicos terá de abranger os respectivos edifícios e vizinhanças, caso contrário teremos populações obrigadas a conviver localmente com estas situações de incivilidade e vandalismo.

Carácter e importância específica da durabilidade
A durabilidade é, naturalmente, objectiva embora a sua conjugação fortíssima com o binómio uso/manutenção possa introduzir algumas surpresas no processo.

Face à realidade das condições urbanas físicas e vivenciais, com destaque para situações extremamente críticas em condições de habitabilidade e de dignidade urbana, a durabilidade e as suas associadas facilidade de manutenção e garantia de gestão eficiente, evidenciam-se como atributos básicos para o bem-estar residencial e têm lugar na primeira linha da necessária qualificação arquitectónica e, naturalmente, nas tão urgentes acções de requalificação urbana.

Está mesmo na ordem do dia a ponderação do equilíbrio entre reabilitação e demolição; isto resulta de factores reais, até associáveis à valorização de terrenos, há alguns anos marginais e hoje centrais. Mas os resultados finais podem ter uma utilidade ampla, contentando muitos grupos.

Durabilidade e ordenamento, por um lado, flexibilização de arranjos e apropriação, por outro, são faces de uma moeda que muda, de sítio para sítio e consoante a caracterização ou tipificação de cada arranjo, mas sempre com presença obrigatória num habitat humano que se deseja visual e activamente humanizado, logo medianamente participado. Não devendo haver lugar nem a ambientes rígidos e imutáveis, nem a cenários caóticos, sem dignidade pública ou privada e, até, por vezes insalubres e perigosos.

Notas de reflexão e para desenvolvimento sobre a durabilidade arquitectónica residencial
Embora se considere que a durabilidade é uma daquelas qualidades arquitectónicas residenciais cujas características são tão sensíveis como complexas, em termos de reflexão geral, numa perspectiva de futuro desenvolvimento do tema, apuram-se, para já, os seguintes aspectos; futuramente "recicláveis" e refundíveis.

O desejável desenvolvimento de um meio ambiente durável e fácil de manter com bom aspecto deve considerar, por adequados cuidados de programação, a inexistência de barreiras a intervenções de índole muito diversa (ex., acções de emergência com veículos muito pesados, serviço de recolha de lixos, etc.).

A durabilidade arquitectónica e residencial deve ser basicamente conjugada com a facilidade de manutenção e limpeza e em alguns casos de arranjo ou substituição; este aspecto tem especial importância quando se trata de instalações "embebidas" na construção.

A uma desejável resistência em termos de uso, prevista inicialmente, deve aliar-se uma previsão da mutação ou evolução do aspecto, que assinale, de variadas maneiras, o passar do tempo. Esta mutação é enriquecedora para o espectáculo urbano residencial, recheando-o de variadas conotações e mensagens, integradas nos próprios materiais e elementos que o constituem, mas é fundamental que tal mutação esteja adequadamente programada e que de modo algum possa pôr em risco a adequação funcional dos materiais e elementos.

Notas editoriais:(i) Embora a edição dos artigos editados no Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico, as opiniões expressas nos artigos apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores.


Infohabitar a Revista do Grupo Habitar
Editor: António Baptista Coelho
Edição de José Baptista Coelho
Lisboa, Encarnação - Olivais Norte
Infohabitar n.º 323, 06 de Dezembro de 2010
Etiquetas: antónio baptista coelho, informação técnica arquitectura, ita 8, durabilidade, durabilidade residencial, durabilidade arquitectónica residencial, qualidade arquitectónica residencial, qualidades arquitectónicas residenciais