domingo, fevereiro 28, 2016

571 - Repensar os espaços exteriores privados – Infohabitar n.º 571

Estamos agora a abordar, com algum detalhe, os espaços que constituem os nossos “pequenos” mundos domésticos e privativos, refletindo sobre as diversas facetas que os qualificam; e passamos, agora, a uma reflexão sobre a importância das zonas de refeições domésticas, considerando matérias diversas que lhes estão associadas

 

Repensar os espaços exteriores privados – Infohabitar n.º 571

Artigo LXXXVIII da Série habitar e viver melhor

António Baptista Coelho

Relação do espaço exterior privado com o restante espaço doméstico

Num estudo de Claude Lamure conclui-se que a utilização da varanda é, frequentemente, considerada como uma espécie de paliativo à ausência de um pequeno quintal privado, possibilidade esta que terá alguma relação com a própria dimensão e organização da varanda e que é provada pelo frequente arranjo da varanda como "pseudo-jardim".
Esta matéria tem relações com outros aspectos tratados nesta série editorial, e essencialmente com a vontade de naturalização e apropriação da habitação tão frequentemente expressada desde os espaços comuns ou públicos, na vizinhança de portas de entrada, às varandas e janelas e às floreiras que marcam paredes; é como se a natureza fosse a eleita para marcar o habitar, num sentido contrário ao movimento que levou da natureza ao abrigo “artificial”; e poderá haver boas respostas para esta situação, respostas que harmonizem a força da apropriação privada com a atractividade da imagem comum que é produzida, tudo dependendo, por exemplo, da boa previsão dos espaços e da harmonização dos suportes (vasos e floreiras) para essa naturalização.

Fig. 01:  - Edifícios multifamiliares com forte escala humana e em que a vegetação envolvente e própria proporciona excelente efeito de integração - exterior de habitações do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - Arquitetura: Moore, Ruble, Yudell, Bertil Öhrström.

Integrar a natureza nos edifícios  

Estas matérias ligam-se, também, a uma perspectiva de verdadeira naturalização, quase “integral” ou muito expressiva da globalidade de edifícios uni e multifamiliares, numa opção por uma espécie de camuflagem natural dos espaços edificados, e para esta opção são fundamentais todos os tipos de espaços exteriores privativos diversificadamente associados e configurados – dos quintais e pátios, às pequenas jardinetas de remate da construção, às varandas, balcões e terraços, às simples floreiras elevadas e associadas aos referidos espaços ou simplesmente penduradas de paredes ou associadas a janelas de sacada, janelas estas que facilmente são transformadas em pequeníssimas varandas de assomar.
A questão da “linguagem” de Arquitectura usada e da eventual dificuldade de compatibilização de um desenho depurado com este tipo de soluções é uma questão que se remete, exactamente, para um esforço específico de desenho.



Fig. 02:  - Pátios privados que cooperam integralmente no "fazer" do espaço doméstico - interior e exterior de habitações do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - Arquitetura: Nils-Olof Ljunggren, Kristofer Swahn, Mima.

Tipologias habitacionais e espaços exteriores privados

Ainda no que se refere a associações privilegiadas desta extensa família de espaços e elementos de exterior privado com tipos habitacionais específicos, salienta-se o facto, provado em numerosos inquéritos (1), de que a preferência por edifícios unifamiliares é, muitas vezes, associada à existência de um espaços exterior privativo e, muito especificamente, de um pequeno jardim privado, que possa ser, em parte, utilizável para fins utilitários; e sobre este facto salientam-se duas ideias de âmbito genérico, e muito curiosas:
. a primeira que não é, evidentemente, necessário fazer edifícios unifamiliares “correntes” para se disponibilizar um pequeno espaço ajardinável a cada habitação, pois há múltiplas soluções multifamiliares e de transição uni-multifamiliar densificada que podem disponibilizar condições deste tipo e com elas caracterizarem atraentes soluções urbanas pormenorizadas;
. e a segunda ideia é que, mais uma vez, a faceta “utilitária” aparece, aqui em segundo plano na concepção doméstica.
Aborda-se a relação entre pátios ou pequenos jardins privativos e uma estimulante diversificação tipológica residencial e urbana e importa sublinhar que é esta ampla e muito diversificada virtualidade associativa e fortemente caracterizadora que marca um extenso leque de soluções multifamiliares e de transição uni-multifamiliar densificada, seja pelo evidenciar de tais espaços e do seu conteúdo em termos de naturalização (árvores, grandes e pequenos arbustos, trepadeiras, coberturas de solo, plantas rasteiras), seja também pelo evidenciar da ausência estratégica dessa mesma naturalização – pois o desenho irá marcar cada solução e sítio específicos. Mas não haja dúvidas sobre o protagonismo de tais elementos na geração de diversificadas e estimulantes tipologias habitacionais.



Fig. 03:  - Interessantes acessos realizados através de quintais privados em que a vista pública é razoavelmente permitida, contribuindo a vedação para a dignididade e o interesse dos espaços públicos contíguos - exterior de habitações do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - Arquitetura: Greger Dahlström.

Relação entre acessos e espaços exteriores privados

Um protagonismo que se associa a um outro fundamental elemento de composição tipológica residencial e urbana, de pormenor, que é a estruturação, associação, e evidenciação ou camuflagem de acessos comuns e privativos, relativamente aos referidos espaços exteriores privativos. Uma matéria que fica evidente pelo interesse que sempre terá poder-se entrar “em casa” através de um espaço exterior privativo, que pode ser um quintal ou pátio privativo em soluções unifamiliares e de transição uni-multifamiliar densificada, mas que pode ser até, por exemplo, um pequeno pátio/terraço alongado em soluções multifamiliares densificadas e em altura, associando-se, neste caso, uma estimulante ambiguidade entre o “viver em altura” e a vivência “natural” mais ligada ao solo. E não se pense que tais diversificações de soluções são, necessariamente, caras ou luxuosas, pois são, sim e obrigatoriamente soluções extremamente bem desenhadas e pormenorizadas.

Exterior privado e adequação climática ou sustentabilidade ambiental doméstica

E em todas estas reflexões importa sublinhar que é urgente privilegiar, cada vez mais, o exterior e, neste caso, especificamente, o exterior privativo no desenvolvimento de soluções habitacionais num sul da Europa, climaticamente agradável em boa parte do ano.
Mas mesmo mais a norte na Europa têm sido desenvolvidas soluções marcadas por espaços exteriores privativos associados às entradas principais de habitações incluídas em grandes condomínios verticalizados, numa opção que, desta forma, pretende caracterizar estas habitações como se fossem “moradias” agregadas num conjunto em altura, reforçando-se os respectivos aspectos de individualidade e de apropriação, através de plantas e outros arranjos do exterior. A ideia que se quer deixar é que se isto é possível e tem sido praticado, com êxito, a caminho do norte da Europa, será muito adequado quer em países mais a sul, quer em soluções menos altas e densificadas, proporcionando-se um muito amplo leque de resultados formais e funcionais, que serão, também, muito estimulantes nas suas imagens urbanas.


Fig. 04:  - O exterior doméstico e prolonga o respetivo interior e que tem, mesmo, presença/força própria ( e atenção, que estamos no Norte da Europa) - exterior de habitações do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - Arquitetura: Stella Eriksson, Ellica Stare, Sven Gustafsson.

Associações preferenciais entre espaços domésticos interiores e exteriores

Considerando agora as associações preferenciais entre espaços domésticos interiores e exteriores sublinha-se que as varandas e os terraços podem privilegiar o desenvolvimento de  entradas principais ou de serviço na habitação, e também o “prolongamento” das salas, e, numa gradação de relações preferenciais, os quartos de dormir e as saletas; tais relações entre espaços domésticos interiores e exteriores, podem também assumir um carácter de varanda ou terraço de serviço, junto da cozinha e da zona de tratamento de roupa. A ideia é, naturalmente, de se poder servir melhor todos os habitantes e apoiar, eventualmente, reuniões e convívios mais alargados. E há soluções que compatibilizam espaço mais social e mais de serviço, naturalmente, com uma mais desafogada disponibilidade de espaço.
Uma outra associação funcional que pode ser muito explorada, designadamente, em zonas com microclimas mais amenos é a existência de espaços privativos exteriores do tipo varandas, pátios e alpendres que constituam ligações activas entre vários compartimentos da habitação, podendo constituir ligações alternativas, que são sempre úteis, por exemplo, quando se realizam festas em casa, ou que poderão constituir elas próprias as únicas circulações disponíveis, essencialmente em soluções habitacionais muito caracterizadas e desde que estes espaços de circulação tenham uma protecção climática reforçada.
Uma associação funcional que começa a ser frequente noutras zonas do mundo é o desenvolvimento no exterior privativo de uma verdadeira e espaçosa sala de estar e de refeições aberta ao exterior, habitualmente associada, por exemplo, a condições para grelhar alimentos; uma possibilidade que estará naturalmente mais associada a condições de espaciosidade acima da média ou de fácil desenvolvimento em piso térreo e sem se prejudicar, ambientalmente, habitações vizinhas.
·         Notas
(1) M. Imbert, "Mission d'Études de la Ville Nouvelle du Vaudreil", p. 18.

·          Nota importante sobre as imagens que ilustram o artigo:
As imagens que acompanham este artigo e que irão, também, acompanhar outros artigos desta mesma série editorial foram recolhidas pelo autor do artigo na visita que realizou à exposição habitacional "Bo01 City of Tomorrow", que teve lugar em Malmö em 2001.
Aproveita-se para lembrar o grande interesse desta exposição e para registar que a Bo01 foi organizada pelo “organismo de exposições habitacionais sueco” (Svensk Bostadsmässa), que integra o Conselho Nacional de Planeamento e Construção Habitacional (SABO), a Associação Sueca das Companhias Municipais de Habitação, a Associação Sueca das Autoridades Locais e quinze municípios suecos; salienta-se ainda que a Bo01 teve apoio financeiro da Comissão Europeia, designadamente, no que se refere ao desenvolvimento de soluções urbanas sustentáveis no campo da eficácia energética, bem como apoios técnicos por parte do da Administração Nacional Sueca da Energia e do Instituto de Ciência e Tecnologia de Lund.
A Bo01 foi o primeiro desenvolvimento/fase do novo bairro de  Malmö, designado como Västra Hamnen (O Porto Oeste) uma das principais áreas urbanas de desenvolvimento da cidade no futuro.
Mais se refere que, sempre que seja possível, as imagens recolhidas pelo autor do artigo na Bo01 serão referidas aos respetivos projetistas dos edifícios visitados; no entanto, o elevado número de imagens de interiores domésticos então recolhidas dificulta a identificação dos respetivos projetistas de Arquitetura, não havendo informação adequada sobre os respetivos designers de equipamento (mobiliário) e eventuais projetistas de arquitetura de interiores; situação pela qual se apresentam as devidas desculpas aos respetivos projetistas e designers, tendo-se em conta, quer as frequentes ausências de referências - que serão, infelizmente, regra em relação aos referidos designers -, quer os eventuais lapsos ou ausência de referências aos respetivos projetistas de arquitetura.
·        Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.

Infohabitar, Ano XII, n.º 571
Artigo LXXXVIII da Série habitar e viver melhor

Repensar os espaços exteriores privados – Infohabitar n.º 571


Editor: António Baptista Coelho
abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.


domingo, fevereiro 21, 2016

GHabitar - APPQH, Convocatória da 2.ª Assembleia Geral da GHabitar - 2016, 10 março 2016 - Infohabitar n.º 570


A Infohabitar, revista da GHabitar divulga a todos os associados da GHabitar - ex-Grupo Habitar

 Infohabitar, Ano XII, n.º 570

GH APPQH

GHabitar - Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional

Rua Armandinho, nº3 – Loja A, 1950-446, Lisboa (Freguesia de Marvila) N.I.P.C. n.º –  513 040 625


Convocatória da 2.ª Assembleia Geral da GHabitar - 2016


2.ª Assembleia-geral ordinária da GHabitar (GH), a realizar na quinta-feira, dia 10 de março de 2016, em Matosinhos, na Sede da Cooperativa de Habitação Económica As Sete Bicas, situada na Rua António Porto, n.º 42, 4460-353 Senhora da Hora, Matosinhos.

Em cumprimento do disposto nos artigos 18º e 23º a 30 dos Estatutos da GHabitar, convoca-se a 2.ª Assembleia-geral,  em sessão ordinária, para reunir pelas 19h.30, numa sala da Sede da Cooperativa de Habitação Económica As Sete Bicas, situada na Rua António Porto,n.º 42, 4460-353 Senhora da Hora, Matosinhos,

A 2.ª Assembleia-geral ordinária da GHabitar decorrerá na morada e hora acima indicadas, com a seguinte Ordem de Trabalhos:

1. Apreciação e aprovação das contas de 2015.
2. Período específico para admissão de novos associados, que se convidam a estar presentes.
3. Reflexão sobre o pagamento de quotas anuais da GHabitar.
4. Reflexão geral sobre as atividades da GHabitar em 2015 e designadamente: a) atividade da revista na WWW Infohabitar; b) e o desenvolvimento do 3.º Congresso internacional da Habitação no Espaço Lusófono (3.º CIHEL), realizado em São Paulo em setembro de 2015 e organizado com o apoio da GHabitar.
5. Reflexão e eventual decisão sobre outras ações a realizar no âmbito da GHabitar em 2016, visando-se a sua dinamização – com destaque para o apoio à preparação do 4.º CIHEL.
6. Informações.
Se à hora marcada não estiverem presentes metade dos associados, a Assembleia reunirá meia hora depois, às 20h.00, com os membros presentes, de Acordo com o disposto no n.º 2 do art. 30.º dos mesmos Estatutos.
Agradece-se à CHE As Sete Bicas e ao seu Presidente e membro fundador da nossa associação, mais este apoio à atividade da GHabitar (anteriormente Grupo Habitar).

Lisboa, Sede da GHabitar e Sede da FENACHE, 15 de fevereiro de 2016
                                                          
O Presidente da Mesa da Assembleia-geral
Duarte Nuno Simões

Notas Importantes:
·        
     Tal como é disposto no Artigo 29º dos Estatutos, esta convocatória foi enviada por mail, com solicitação de envio de recibo, a todos os associados da GHabitar e será editada no N.º 570 do Ano XII da Revista, na WWW, Infohabitar, no domingo dia 21 de fevereiro de 2016 - a Infohabitar é uma revista com edição semanal, habitualmente divulgada na mailing list da GHabitar e que conta com mais de 750.000 consultas/page-views.  http://infohabitar.blogspot.pt/

·       
           A GHabitar realizará, brevemente (durante abril ou maio de 2016), uma reunião em Lisboa, na sua sede – Sede da FENACHE – para dar continuidade aos temas tratados na AGeral agora convocada e para redinamizar a associação, no âmbito dos seus associados da zona de Lisboa. 


Notas editoriais:
(i)     Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii)    De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.

Infohabitar, Ano XII, n.º 570
GHabitar - APPQH, Convocatória da 2.ª Assembleia Geral da GHabitar 2016, 10 março 2016

Editor: António Baptista Coelho – abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional

Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.

domingo, fevereiro 14, 2016

569 - Importância dos pequenos espaços exteriores privados – Infohabitar 569

Importância dos pequenos espaços exteriores privados – Infohabitar 569

António Baptista Coelho
Artigo LXXXVII da Série habitar e viver melhor


Na Série editorial intitulada "habitar e viver melhor" estamos agora a abordar, com algum detalhe, os espaços que constituem os nossos “pequenos” mundos domésticos e privativos, refletindo sobre as diversas facetas que os qualificam; e passamos, então agora, a uma reflexão sobre a importância e a enorme e desejável variedade de caraterização dos pequenos espaços exteriores privados – matéria que nos irá acompanhar ao longo de quatro ou cinco edições da nossa Infohabitar.

A outra dimensão doméstica exterior, que é possível termos nas nossas varandas, pátios e pequenos jardins

Fig. 01: a paisagem urbana de pormenor ganha tanto ao nível público, como ao nível privado com sequências densas e com boa imagem pública de pequenos quintais privadosexterior de habitações do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - Arquitetura:  Karmebäck e Krüger    

           Importância e protagonismo do exterior privado

           O título deste artigo não faz justiça à ideia que se tem sobre a importância potencial dos espaços exteriores privados, salientando-se que se considera que estes espaços podem ter uma importância estruturadora da própria organização da habitação, essencialmente no caso das habitações isoladas, mas igualmente em conjuntos habitacionais coesos e mesmo em edifícios multifamiliares em altura; e em qualquer destes casos obtém-se um excepcional ganho em termos de caracterização da solução habitacional, embebendo-se esta solução com um sentido “diferente” ou com uma outra dimensão que pode influenciar, seja usos específicos exteriores (lazer exterior em condições muito agradáveis e estimulantes, floricultura, etc.) e a possibilidade de se desenvolverem exteriormente actividades habitualmente interiores (leitura, convívio, refeições, trabalho profissional, banhos, etc.), seja uma muito mais intensa relação com o exterior e com a natureza com evidentes ganhos para o conforto ambiental (luz e ventilação naturais) e para a apropriação e caracterização da habitação (grandes floreiras e pequenos pátios ajardinados).

           A ideia que aqui se aponta é que o exterior privado possa ser, inteiramente, espaço útil e mesmo espaço habitável, servindo, por exemplo, seja para circulações correntes, seja para zonas de estadia e de diversas actividades domésticas, como será, por exemplo, o caso do estar, do lazer e da recepção. Naturalmente que esta possibilidade será mais efectiva em soluções de edifícios unifamiliares (moradias), mas considera-se que pode ser extensível a variadas soluções multifamiliares, considerando-se as limitações associadas a diversas zonas climáticas e tendo-se em conta, como bases de fundamentação directas, as soluções encontradas na habitação popular (exemplo, pátios e alpendres) e na própria história do habitar.

           Exterior privado e geração de tipologias habitacionais renovadas

           E é possível criar e recriar novas formas de exteriores em edifícios multifamiliares, fundindo atraente e funcionalmente, espaços públicos, semi-públicos, comuns e privados, numa perspectiva volumetricamente diversificada, que transforma as habituais soluções sem forma e sem "história" em divertidos espaços que articulam a rua com uma habitação que acaba por ser uma "casa" integrada numa estrutura ou cenário espacial, verdadeiramente, em três dimensões.

           Nestas matérias o que aqui também se salienta é a ausência de sentido que tem o esquecimento a que se têm votado tantas soluções de relação entre espaços domésticos interiores e exteriores e específicas de transição entre interior e exterior, em favor de uma estruturação doméstica que tende a considerar, por um lado, o exterior doméstico como uma dimensão claramente suplementar e “descartável”, a não ser, quando em soluções consideradas “luxuosas”, esse exterior ou esse espaço de transição entre interior e exterior é aplicado como sendo uma qualidade de “luxo”, e isto quando em tantas soluções de habitação popular esses espaços são, por vezes, dos mais usados na habitação, e isto considerando, naturalmente, as limitações regionais e climáticas, que serão sempre estruturantes, designadamente, nos aspectos de adequada protecção destes espaços relativamente a ventos dominantes e de adequada orientação solar e cuidadoso sombreamento destes mesmos espaços.

           O que aqui mereceria a pena ser feito, neste ponto da reflexão, era apontar soluções que concretizem este tipo de preocupações e averiguar o custo das mesmas, pois não podemos esquecer que a existência de uma dimensão de espaço exterior privado é, sempre, um fundamental aspecto qualitativo em qualquer solução habitacional; e há um grande leque de soluções de espaços exteriores privados, verdadeiramente efectivos e, portanto, bem distintos daquelas soluções de varandas mal dimensionadas, mas pormenorizadas, sombrias e desabrigadas, que para pouco ou nada servem. E é importante imaginarmos, por exemplo, soluções de habitar fortemente estruturadas por espaços exteriores privados, desenvolvidos, provavelmente, na continuidade de atraentes espaços exteriores comuns, ou públicos.


Fig. 02: o exterior privado pode e deve existir sob variadas formas, como neste espaço em terraço de um edifício multifamiliar, mas há que o tratar como espaço exterior privado - exterior de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - Arquitetura: Bengt Hidemark.     

Ganhar outra dimensão exterior para o habitar privado

           Basicamente do que aqui tratamos é da possibilidade de ganhar uma outra dimensão exterior para o habitar privado, que pode ser naturalizada (ligada à natureza através de floreiras e pequenos pátios e jardins) e razoavelmente aberta às vistas envolventes ou, agradavelmente, intimista e polarizadora da própria identidade protectora da habitação (em balcões e pátios cuidadosamente “fechados” e climaticamente agradáveis) nos quais se pode estender a vida na habitação; e em qualquer dos casos há o ganhar uma “nova/velha” verdadeira dimensão exterior, mas para um tal êxito há que saber manejar a concepção do habitar harmonizando e enriquecendo mutuamente espaços privados interiores e exteriores

E importa apontar aqui que esta reflexão e este estudo leva ao aprofundamento da investigação sobre diversos tipos de edifícios com conteúdo habitacional – que pode não ser exclusivo.

Com recurso a Nuno Portas aponta-se o leque dos diversos espaços exteriores privados: (1)
·         Varanda ou balcão, espaço predominantemente saliente do plano de fachada; o balcão é uma "varanda de peitoril" (provavelmente com guarda opaca).
·         "Loggia", espaço predominantemente reentrante no volume do edifício (espécie de varanda ou balcão total ou parcialmente reentrante).
·         Marquise, varanda ou "loggia" em grande parte envidraçada – é discutível esta inclusão no domínio dos espaços exteriores privados, nomeadamente, quando são projectadas de raiz, e quando não o são, não deveriam ser permitidas pois desfiguram os respectivos edifícios.
·         Terraço ou grande varanda habitualmente situada na parte superior do edifício ou aproveitando, em diversos níveis, o seu escalonamento topográfico.
·         Pátio central (aberto no interior do fogo).
·         Quintal e/ou jardim, frontal, de traseiras ou lateral.

Usos do exterior privado

           Se nos limitarmos às mais simples formas de exterior privado, como serão caso das varandas e terraços, alguns autores, como Claude Lamure (2), M. Imbert (3) e Dreyfuss e Tribel (4), salientam as principais actividades que são aí realizadas, sublinhando-se as consideradas mais importantes (indicadas numa ordem de importância decrescente):

·         criar plantas e flores;
·         repousar, descontrair e estar ao sol ou ao fresco (nas tardes e noites estivais);
·         vigiar as crianças no exterior;
·         secar roupa;
·         proporcionar que as crianças brinquem;
·         permitir que os bébés tomem ar;
·         tomar certas refeições.
A relação com a natureza e o lazer assumem, como se vê, uma clara importância no uso do exterior privado, mas alguns autores destacam, também, a importância deste tipo de espaço como elementos de enquadramento visual do exterior e de protecção climática da restante habitação.



Fig. 03: um pequeno quintal/pátio privado pode e deve ser um pequeno mundo em termos de imagens e de potenciais apropriações - exterior de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - Arquitetura: Jan Christer Ahlbäck.

Vantagens do exterior privado

           Nesta perspectiva de utilidade dos espaços exteriores privativos como elementos de apoio ao interior doméstico e de sua relação com o exterior Rob Krier aponta algumas finalidades específicas para bay windows, espaços estes cruciais na relação afirmada entre interior e exterior: (5)

·         São alargamentos dos espaços interiores, proporcionando um sentimento de estar no exterior, mas ainda dentro da influência directa do interior doméstico.
·         Permitem vistas melhoradas do ambiente envolvente e podem mesmo “transportá-lo” para o interior enriquecendo-o e caracterizando-o – e nesta matéria há que considerar especificamente a interessante capacidade de naturalização do interior doméstico, podendo quase trazer-se o jardim para dentro de casa.
·         Enriquecem o espaço interior contíguo, porque dividem-no em subespaços diferenciados, considerando o seu relacionamento mais forte ou menos forte com vãos e espaços exteriores mais, ou menos, fechados e mais, ou menos, amplos.
·         Podem criar verdadeiras “zonas tampão” controláveis em termos de conforto ambiental, e, naturalmente, com boas influências no maior conforto doméstico e na poupança energética.
A bay window é no interior, e no transporte que faz, para o interior, do ambiente exterior, o que é o caramanchão e o telheiro isolado no exterior, neste caso como transporte do interior para uma envolvente exterior.

Os espaços exteriores privativos têm, assim funções específicas e estimulantes (por exemplo criar plantas), proporcionam a extensão de actividades domésticas interiores (como por exemplo o estar e o convívio), e enriquecem e protegem o interior doméstico através de vistas bem enquadradas e de protecções e sombreamentos estratégicos. De certa forma os espaços exteriores privativos criam uma dimensão doméstica suplementar, uma espécie de cintura de protecção e de relação da habitação com a sua envolvente natural e urbana, que é de grande interesse para a plena satisfação de quem habita uma casa com esses atributos.

Mais casa para além das janelas

De certa forma havendo varandas, ainda que pequenas, há mais casa para além das janelas, uma perspectiva que até é também pressentida nos vãos de janela fundos, preenchidos por soleiras e peitoris largos, e que se podem ocupar com vasos de plantas e até pequenos móveis, criando-se espaços de transição com características de iluminação e de vistas específicas – estas sequências de vãos domésticos fundos e úteis e de varandas contíguas criam verdadeiros espaços tão de limiar como de transição, tornando o outro interior mais “interior” e protegido e qualificando o exterior em camadas sequenciais e gradualmente mais públicas, e, portanto, tornando-o muito mais apetecível do que um exterior “cortado à faca”, logo ali, ao rés de uma pobre janela de peito, mal desenhada e aberta numa parede fina. 

Falou-se do exterior privado com elemento fundamental no arquitectar do próprio espaço doméstico interior, mas, naturalmente, o exterior privado tem também uma razão de ser própria, pois, afinal, muitos de nós gostariam de ter uma ampla varanda/terraço ou um jardim ou pátio privados, vontade esta que ficou bem expressa num inquérito habitacional do LNEC (6), no qual:

·         mais de 80% dos inquiridos acharam ser necessário um jardim ou pátio privados;
·         10% aceitaram a varanda como substituto;
·         apenas 7% consideraram o jardim público próximo de casa como um possível substituto do exterior privativo;
·         e apenas uma percentagem mínima dos inquiridos não acharam necessário o jardim ou pátio privados, ou consideraram-no substituível por uma habitação maior – um aspecto que é extremamente interessante.
·         Notas
(1)     Baseado no Estudo de Nuno Portas, "Funções e Exigências de Áreas da Habitação", p. 71.
(2) Claude Lamure, "Adaptation du Logement à la Vie Familiale", p. 209.
(3) M. Imbert, "Mission d'Études de la Ville Nouvelle du Vaudreil", p. 18.
(4) D. Dreyfuss; J. Tribel, "La Cellule-Logement", p. 29.
(5) Rob Krier, "Elements of Architecture", pp. 64 e 65.
(6) Maria da Luz Valente Pereira; Maria Amélia Correa Gago, "Inquérito à Habitação Urbana", p.

·          Nota importante sobre as imagens que ilustram o artigo:
As imagens que acompanham este artigo e que irão, também, acompanhar outros artigos desta mesma série editorial foram recolhidas pelo autor do artigo na visita que realizou à exposição habitacional "Bo01 City of Tomorrow", que teve lugar em Malmö em 2001.
Aproveita-se para lembrar o grande interesse desta exposição e para registar que a Bo01 foi organizada pelo “organismo de exposições habitacionais sueco” (Svensk Bostadsmässa), que integra o Conselho Nacional de Planeamento e Construção Habitacional (SABO), a Associação Sueca das Companhias Municipais de Habitação, a Associação Sueca das Autoridades Locais e quinze municípios suecos; salienta-se ainda que a Bo01 teve apoio financeiro da Comissão Europeia, designadamente, no que se refere ao desenvolvimento de soluções urbanas sustentáveis no campo da eficácia energética, bem como apoios técnicos por parte do da Administração Nacional Sueca da Energia e do Instituto de Ciência e Tecnologia de Lund.
A Bo01 foi o primeiro desenvolvimento/fase do novo bairro de  Malmö, designado como Västra Hamnen (O Porto Oeste) uma das principais áreas urbanas de desenvolvimento da cidade no futuro.
Mais se refere que, sempre que seja possível, as imagens recolhidas pelo autor do artigo na Bo01 serão referidas aos respetivos projetistas dos edifícios visitados; no entanto, o elevado número de imagens de interiores domésticos então recolhidas dificulta a identificação dos respetivos projetistas de Arquitetura, não havendo informação adequada sobre os respetivos designers de equipamento (mobiliário) e eventuais projetistas de arquitetura de interiores; situação pela qual se apresentam as devidas desculpas aos respetivos projetistas e designers, tendo-se em conta, quer as frequentes ausências de referências - que serão, infelizmente, regra em relação aos referidos designers -, quer os eventuais lapsos ou ausência de referências aos respetivos projetistas de arquitetura.
·        Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.

Infohabitar, Ano XII, n.º 569
Artigo LXXXVII da Série habitar e viver melhor

Importância dos pequenos espaços exteriores privados - Infohabitar n.º 569


Editor: António Baptista Coelho – abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.


segunda-feira, fevereiro 08, 2016

568 - Renovada abordagem das casas de banho domésticas - II, Infohabitar 568

Infohabitar, Ano XII, n.º 568

Verdadeiras casas de banho e não simples e frias “instalações sanitárias” - II

Artigo LXXXVI da Série habitar e viver melhor
António Baptista Coelho

Aspectos motivadores em casas de banho


No estudo do LNEC que editei em 1998 e que, nesta série editiria, se tem referido, frequentemente (“Do bairro e da vizinhança à habitação”), salientavam-se as seguintes características como as mais desejáveis nas casas de banho (fez-se, apenas, um reordenamento dos aspectos apontados e juntaram-se alguns comentários):

·         Facilitarem o uso seguro das peças sanitárias (banheiras, duches, sanitas, lavatórios e bidés) pelos habitantes e, nomeadamente, por pessoas com dificuldades na movimentação (crianças, idosos e doentes). Uma exigência que tem actualmente suporte regulamentar, mas onde se julga haver ainda um caminho a fazer em termos da melhor ergonomia no uso dessas peças, considerando-se, especificamente, aspectos de uma aprofundada segurança no respectivo uso, pois as casas de banho continuam a ser locais onde frequentemente ocorrem acidentes domésticos (por exemplo, escorregamentos, colisões com peças sanitárias cerâmicas e envenenamento por acesso não controlado a drogas e mdeicamentos).
·         Permitirem grande facilidade de limpeza geral e particularizadamente dos equipamentos sanitários e dos espaços entre eles, e entre eles e as paredes, caracterizando-se por terem revestimentos e pinturas duráveis, impermeáveis, à prova de humidade e "anti-fungos". Uma matéria em que também se julga haver um caminho a seguir em termos da ergonomia dessa mesma acção de limpeza e das influências que tem na própria escolha das peças sanitárias (por exemplo previsão destas peças em consola, quando as casas de banho sejam estreitas).
·         Terem excelentes condições de luz e de ventilação naturais (janelas de abrir) ou "forçada" (grelhas de entrada e saída de ar). E nesta matéria há que sublinhar que, sem dúvida, são preferenciais as condições de iluminação e ventilação naturais, aliás com importância claramente acentuada numa altura em que se procura uma maior sustentabilidade ambiental habitacional (e aqui há que sublinhar que, por vezes, se faz o mais complicado nestas matérias da sustentabilidade ambiental e se esquece o mais simples e igualmente importante como é o caso. E, ainda nesta matéria, há que salientar que, muitas vezes, a famosa ventilação forçada é claramente deficiente ou corresponde a sistemas cuja eficácia de ventilação é claramente duvidosa ou que obrigam, mesmo, a soluções mecânicas que gastam energia para a resolução de uma situação que pode e deve ter uma resolução “natural”.
·         Serem em número adequado ao número de habitantes da casa, considerando-se, como base de provisão, que para mais de quatro(4) pessoas devem existir, para além de uma casa de banho completa (sanita, bidé, lavatório e banheira), mais uma casa de banho, que pode ter apenas um duche, uma sanita e um lavatório (isto será muito importante quando todas as pessoas da casa tiverem de acordar e fazer a sua higiene pessoal, de manhã, praticamente, às mesmas horas). E esta é uma matéria cuja importância é evidente, mas que deve ter em conta: por um lado o risco de se exagerar no número de casas de banho, devido ao peso financeiro que uma tal situação tem quando se pensa nas correntes casas de banho “revestidas a cerâmica” e distribuídas por toda a casa (em vez de soluções com acabamentos racionalizados e concentradas nos chamados “blocos-água”), e entende-se a diferença que estas situações implicam em termos das redes de águas e de esgotos em cada piso e em diversas prumadas; e, por outro lado, deve apostar em soluções de desmultiplicação dos espaços funcionais das casas de banho, proporcionando, por exemplo, o seu uso simultâneo (exemplo, zona de banho e zona “sanitária” autonomizadas).
·         Poderem receber algumas peças de mobiliário (armários e "cestos" para roupa e atoalhados) e facilitarem a instalação dos diversos acessórios de casa de banho (cortinas de duche e toalheiros); uma matéria cuja importância foi já, aqui, devidamente sublinhada.



Fig. 04: uma casa de banho que alia funcionalidade e simplicidade de equipamento e de arranjo (formal, cromático, textural) a excelentes condições de conforto ambiental, designadamente, com luz e ventilação naturais, e a um certo sentido de agradabilidade doméstica (grande espelho, zonas de cor e de texturas adequadamente diversificadas, um interessante "móvel" com lavatório e algum espaço livre, para uma cadeira; Interior de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H33, Arq.º Greger Dahlström.

Problemas correntes em casas de banho

Os problemas mais correntes em casas de banho domésticas, estão ligados, numa primeira linha ao mau funcionamento das respectivas instalações, à falta de privacidade no uso destes espaços e designadamente no acesso a estes espaços e a eventuais influências negativas do uso destes espaços nos espaços domésticos contíguos – más influências estas que têm a ver com a falta de isolamento em termos de cheiros e de ruídos.


Numa segunda linha, de maior pormenor, os problemas mais correntes em casas de banho domésticas, estão ligados ao não cumprimento ou à deficiente satisfação das condições acima referidas como aspectos motivadores no uso destes espaços e designadamente: a dificuldade no uso das peças sanitárias – situação esta que incrivelmente nem é pouco corrente; a falta de espaciosidade crítica no uso das mesmas peças e a ocorrência de associações funcionais negativas e que possam concorrer para acidentes domésticos; a dificuldade de limpeza dos espaços e das peças sanitárias; a ausência de agradáveis condições de luz e de ventilação naturais, ou mesmo a ocorrência de más condições de ventilação forçada (por exemplo, através de condutas); as casas de banho e as respectivas peças sanitárias serem em número insuficiente e/ou estarem mal distribuídas na habitação; e não haver desafogo mínimo para se poderem arrumar algumas peças de mobiliário.

E é interessante sublinhar que o primeiro conjunto de problemas está associado a um projecto e construção deficientes e que este segundo conjunto de problemas é, simplesmente, resolvido com casas de banho razoavelmente espaçosas e com janelas exteriores.

Questões dimensionais (e outras) em casas de banho

Há matérias fundamentais em termos de agradabilidade no uso de uma habitação e nestas sublinha-se a importância de as casas de banho servirem, no mesmo nível, cada um dos pisos de uma dada habitação, desenvolvida por exemplo em dois pisos, uma exigência que deveria ser extensível a um quarto, proporcionando-se uma vivência “de nível”, por exemplo, a um idoso; trata-se de um aspecto que tem, naturalmente, implicações críticas na concepção residencial, mas chama-se a tenção para se estar aqui a tentar construir uma ideia de habitação que seja muito satisfatória, e tudo o que evite usos únicos e zonamentos domésticos rígidos, dando alternativas de vivência, é claramente muito positivo para uma vida doméstica diversificada e adaptável.

No que se refere à recorrente questão, que está devidamente regulamentada, da relação entre número de quartos (de dormir) e número e características das respectivas casas de banho, ela coloca questões sensíveis quando uma das casas de banho e, frequentemente, a melhor desenvolvida, está reservada a um uso privativo. A questão destes usos privativos merece ser bem equacionada quando se trata de habitação de interesse social, avançando-se que nos parece que uma única casa de banho, espaçosa, bem equipada e com luz e ventilação naturais continua a ser uma excelente solução para estes casos, suportando, julga-se uma razoável pressão de uso e podendo ser, até, eventualmente, subdividida em zona de banhos e zona sanitária.
A questão do dimensionamento, frequentemente mínimo, das casas de banho merece uma atenção específica pois, por um lado não se julga que, numa casa de banho, o mais caro seja propriamente o espaço, mas sim as instalações e as peças sanitárias, pelo que um relativo desafogo espacial permitirá, de certa forma rentabilizar e tornar mais útil o investimentos feito nesses aspectos, melhorando, realmente, a habitabilidade da casa e, complementarmente, tornando as casas de banho muito mais amigáveis e confortáveis quer para o cada vez maior número de idosos, quer para um amplo leque de usos, ainda muito pouco servidos, e que aí podem encontrar excelente sítio de realização, como é por exemplo o caso do banho de crianças. Naturalmente que um pouco espaço suplementar, onde se pode arrumar uma cadeira e um vão de janela que pode abrir em dias agradáveis, são também condições fundamentais para casas de banho realmente mais felizes, e que nada tenham a ver com os cubículos sanitários que nos são frequentemente oferecidos.
E, finalmente, é possível, numa casa de banho, distribuir o respectivo equipamento ao longo de um período temporal alongado, proporcionando-se, por exemplo, inicialmente, equipamentos mínimos, que depois possam vir a ser substituídos por outros mais elaborados e com maiores dimensões, mas isto exige que o espaço esteja lá desde o início e que a opção seja por equipamentos facilmente desmontáveis e substituídos por outros, o que também favorece a sempre bem-vinda apropriação.
E é interessante pensar na casa de banho, também, como um espaço da habitação onde se pode estar em privacidade e com satisfação e durante período relativamente alongados, por exemplo num banho imersão, lendo; uma opção bem diferente de um banho de chuveiro rápido, mas que deve ser igualmente possível no nosso espaço doméstico.




Fig. 05: casa de banho como verdadeiro espaço de banho de lazer, numa reconquista do banho com esse sentido, como sempre foi e só deixou de ser quando surgiu o funcionalismo "fundamentalista" e mesmo, frequentemente, muito pouco conhecedor do grande leque de funções domésticas; Interior de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H33, Arq.º Greger Dahlström.

Novidades e tendências em casas de banho

Ao longo deste pequeno exercício de reflexão sobre o que são e o que poderão ser as casas de banho domésticas já se foram apontando aspectos de inovação e tendências actuais no desenvolvimento destes espaços.

No entanto será interessante considerar aqui como uma opção fundamental a escolha entre soluções mais ou menos divididas, e, portanto, tendencialmente, menos e mais desafogadas, sublinhando-se que este desafogo será sempre sinónimo de mais funções lúdicas e de saúde das casas de banho (ex., banho e brincadeiras de crianças, repouso e descontracção de adultos) e da sua maior capacidade de uso por utentes com reduzidas capacidades de movimentação. Resolvendo um pouco esta opção Sven Thiberg aponta a possibilidade de se desenvolver uma concentração das instalações em blocos equipados e subdivididos de tal maneira que fiquem facilitadas as futuras acções potenciais de fusão entre diversos compartimentos (3), numa adaptabilidade que poderá ser estratégica, por exemplo, na relação com o envelhecimento dos habitantes.

Outras tendências referem-se à “tradicional” grande separação dos espaços que incluem as instalações sanitárias relativamente aos restantes espaços domésticos, alternativamente, a uma nova tendência em que se fazem misturas diversificadas, embora naturalmente cuidadas em termos de relações de privacidade, mas aceitando-se, por exemplo contiguidades que podem ainda chocar espíritos mais habituados a uma vivência doméstica muito hierarquizada e repartida em zonas “funcionais”, associando-se, por exemplo, uma pequena casa de banho à cozinha, uma banheira ao quarto, etc.

Sobre estas perspectivas considera-se que é fundamental  proporcionar uma grande diversidade de modelos de habitar pormenorizados, que se colam muito melhor às nossas vidas que são bem distintas umas das outras e que as tornam mais estimulantes e curiosas; ao contrário da oferta única, sempre, quase da mesma habitação, com as mesmas zonas funcionais e com os mesmos espaços.

De certa forma, a casa de banho, porque é o compartimento doméstico mais crítico em termos de privacidade, é talvez o espaço que pode ser “chave” numa experimentação mais activa de novas organizações e ideias domésticas, pois inovando-se, de forma fundamentada, nas casas de banho, será sempre mais fácil inovar também em outros espaços da casa.

E não tenhamos dúvidas de que o compartimento de que tantas vezes falamos como “casa de banho”, não o é, realmente, reduzindo-se, sim, a um repositório de sanitários de catálogo num cenário frio e muito pouco doméstico, e, portanto, não há que ter dúvidas em inovar no sentido de acabar, de vez, com este tipo de soluções, que foram afinal soluções que serviram, numa primeira linha, vendedores de apartamentos e de peças sanitárias.

E, portanto, e pelo menos, no domínio da higiene pessoal e da saúde pela água há que assegurar a reconquista do ambiente da casa de banho tradicional, relativamente espaçosa, onde se atribui uma real importância ao banho de imersão (com virtudes terapêuticas físicas e psíquicas, hoje em dia, perfeitamente reconhecidas) e dispondo até de algum mobiliário com utilidade prática específica e fundamental na apropriação e na humanização da casa de banho. E o banho e as outras funções habitualmente sediadas nas casas de banho poderão invadir diversificadamente o espaço doméstico, sempre que este espaço ganhe dimensões mais desafogadas e zonas mais diversificadas.

Notas
(1)      Ernest Neufert, "Arte de Projetar em Arquitetura", p. 184.
(2) Como indica Sven Thiberg ("Housing Research and Design in Sweden", p. 180), a maioria das casas de banho não têm um espaço de arrumações bem organizado, e um simples recanto com cerca de 0.60x0.60m de área permite a instalação de um armário alto com variadas e úteis utilizações (ex., toalhas, papel, artigos de higiene e beleza, roupa suja, etc.); caso não se use para este fim, o referido espaço permite a instalação de uma cadeira, sempre útil no apoio aos banhos e a outros usos da casa de banho.
(3) Sven Thiberg (Ed.), "Housing Research and Design in Sweden", p. 181.

Nota importante sobre as imagens que ilustram o artigo:

As imagens que acompanham este artigo e que irão, também, acompanhar outros artigos desta mesma série editorial foram recolhidas pelo autor do artigo na visita que realizou à exposição habitacional "Bo01 City of Tomorrow", que teve lugar em Malmö em 2001.

Aproveita-se para lembrar o grande interesse desta exposição e para registar que a Bo01 foi organizada pelo “organismo de exposições habitacionais sueco” (Svensk Bostadsmässa), que integra o Conselho Nacional de Planeamento e Construção Habitacional (SABO), a Associação Sueca das Companhias Municipais de Habitação, a Associação Sueca das Autoridades Locais e quinze municípios suecos; salienta-se ainda que a Bo01 teve apoio financeiro da Comissão Europeia, designadamente, no que se refere ao desenvolvimento de soluções urbanas sustentáveis no campo da eficácia energética, bem como apoios técnicos por parte do da Administração Nacional Sueca da Energia e do Instituto de Ciência e Tecnologia de Lund.

A Bo01 foi o primeiro desenvolvimento/fase do novo bairro de  Malmö, designado como Västra Hamnen (O Porto Oeste) uma das principais áreas urbanas de desenvolvimento da cidade no futuro.

Mais se refere que, sempre que seja possível, as imagens recolhidas pelo autor do artigo na Bo01 serão referidas aos respetivos projetistas dos edifícios visitados; no entanto, o elevado número de imagens de interiores domésticos então recolhidas dificulta a identificação dos respetivos projetistas de Arquitetura, não havendo informação adequada sobre os respetivos designers de equipamento (mobiliário) e eventuais projetistas de arquitetura de interiores; situação pela qual se apresentam as devidas desculpas aos respetivos projetistas e designers, tendo-se em conta, quer as frequentes ausências de referências - que serão, infelizmente, regra em relação aos referidos designers -, quer os eventuais lapsos ou ausência de referências aos respetivos projetistas de arquitetura.

Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.

Infohabitar, Ano XII, n.º 568
Artigo LXXXVI da Série habitar e viver melhor

Verdadeiras casas de banho e não simples e frias “instalações sanitárias” - II, Infohabitar n.º 568

Editor: António Baptista Coelho – abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional

Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.