segunda-feira, agosto 25, 2014

497 - Oferta diversificada de espaços domésticos específicos I - Infohabitar 497

Artigo LIX da Série habitar e viver melhor

Infohabitar, Ano X, n.º 497

Oferta diversificada de espaços domésticos específicos (I)

António Baptista Coelho

Iremos, agora, falar, globalmente, dos compartimentos, cantos e recantos domésticos, dos espaços tendencialmente intimistas onde se processa a vida diária das famílias, um leque variado de espaços habitualmente com funções específicas, mas desejavelmente com uma equilibrada flexibilidade funcional, espaços privilegiados da apropriação familiar e individual.

Uma habitabilidade ampla dos espaços domésticos

As características de habitabilidade dos espaços domésticos são, realmente, fundamentais para a qualidade residencial oferecida por um determinado empreendimento habitacional. Basta imaginarmos uma habitação constituída por compartimentos e espaços muito amplos, confortáveis e funcionais, que aceitem uma forte apropriação por mobiliário e diversas zonas de uso, para que fique quase praticamente provada essa afirmação.

E diz-se quase provada porque essas condições não chegam, de facto, para uma boa caracterização residencial. É também necessário, pelo menos, que a Vizinhança Próxima ofereça boas condições para a vida diária.

Boas condições habitacionais interiores e exteriores

Deste modo definiu-se um "binómio" mínimo de qualificação residencial assente em boas condições domésticas de compartimentação/privativas e de vizinhança exterior/semi-públicas ou públicas, "binómio" esse que deverá ser estudado e explicado, pois poderá proporcionar conclusões interessantes sobre a satisfação residencial; e talvez que entre um e outro elemento possamos, depois, "inovar" com a afirmada introdução da grande importância de um "jogo tipológico" habitacional muito mais protagonista do que aquele que é habitualmente considerado - matéria que termos de deixar para outros desenvolvimentos.

Ainda sobre a importância de boas condições de habitabilidade nos espaços e compartimentos do fogo importa salientar que até a organização ("o layout") do fogo parece ser menos importante do que as condições específicas dos seus Espaços e Compartimentos.

Esta afirmação parece ser globalmente válida e tem grande importância quando a organização do fogo se caracteriza por uma forte neutralidade e adaptabilidade, proporcionando grande flexibilidade nos usos dos diversos Espaços e Compartimentos domésticos, considerando-se, naturalmente, que estes últimos também suportam essa flexibilidade ou multifuncionalidade, designadamente, através de boas condições de espaciosidade e capacidade na arrumação de mobiliário.

Renovados objetivos de organização doméstica

Mais do que propor estruturas organizativas domésticas mais ou menos caracterizadas, que terão a ver com os bem conhecidos zonamentos funcionais, de que nos vamos ocupando ao longo deste trabalho - e desta série de artigos -, importa aqui, porque importa cada vez mais, apontar objectivos de organização doméstica que sejam tendencialmente adequados a um maior número e a uma muito grande amplitude de desejos e de gostos habitacionais, considerando, também, a actual e evidenciada mudança de hábitos domésticos que vão hoje marcando os sítios onde vivemos.

Conviver melhor, anular dimensões mínimas e favorecer uma funcionalidade real

Sendo assim, apontam-se, em seguida, alguns aspectos (1) caracterizadores de uma adequada qualificação residencial dos espaços que compõem as nossas casas, talvez aspectos ligados a casas potencialmente mais adequadas:

·      Uma ideia de poder receber e conviver melhor, designadamente, através de boas condições de recepção, no hall/vestíbulo e de um cuidadoso dimensionamento das zonas mais sociais do fogo – vestíbulo, circulações sociais, sala comum e cozinha. Este objectivo pode ser atingido através de "meia-dúzia" de metros quadrados "suplementares" na sala-comum e na cozinha (acima das áreas recomendadas para habitações de baixo custo), desde que as respectivas configurações espaciais e dimensões estruturadoras sejam adequadas. Uma ideia forte em termos dos modos como “aquela” casa poderá apoiar o convívio doméstico, ideia esta que poderá ter de se desenvolver através de compensações dimensionais entre sala comum e cozinha, proporcionando-se, por exemplo, uma ampla cozinha convivial e uma sala mais adequada para o estar e, até, eventualmente, para o trabalho em casa.



Fig. 1

·      Favorecer pequenos incrementos dimensionais nos quartos menos amplos, possibilitando mais flexibilidade na arrumação de peças de mobiliário, e optar conscienciosamente sempre que estejam em causa dimensões mínimas. Isto não significa que não se apliquem tais dimensões mínimas em casos específicos quando funcionalmente julgados adequados, o que tem a ver, por designadamente, com a disposição de enfiamentos de camas individuais.

Segundo Sven Thiberg (2) há que aplicar estrategicamente suplementos dimensionais, apurando-se os espaços e compartimentos onde "um metro quadrado extra", suplementar às indicações mínimas regulamentares, pode aumentar significativamente as condições de habitabilidade (acessibilidade, agradabilidade de uso, alternativas de ocupação); uma matéria que tem igual aplicabilidade em soluções habitacionais acima das indicações mínimas.

Estes suplementos dimensionais estratégicos estão associados à capacidade de se integrarem várias sub-zonas funcionais em cada compartimento, uma condição fundamental para a respectiva versatilidade de uso, seja em diversidade de funções, seja em diferentes modos de vida e diversas formas de ocupação por actividades e diversos tipos de mobiliário, condições estas muito interessantes considerando-se, por exemplo, a adequação a diversas minorias étnicas.

·      Favorecer pequenos e funcionais incrementos dimensionais em espaços de circulação, proporcionando que estes espaços ganhem, verdadeiramente, uma outra e importante valência para integração de mobiliário com evidentes ganhos em habitabilidade e apropriação da habitação.
·      Aumentar significativamente a funcionalidade no desempenho das tarefas domésticas e de outras actividades diárias, em toda a habitação, através de uma cuidadosa concepção que evite espaços potencialmente muito cheios de mobiliário e equipamento. (3)

Notas:
(1) Estes aspectos são apontados, sinteticamente, no estudo do LNEC, realizado pelo autor e intitulado “ Do Bairro e da Vizinhança à Habitação”.
(2) Sven Thiberg(Ed.), "Housing Research and Design in Sweden", p. 128.
(3) A funcionalidade estrita de cada Espaço relativamente à(s) sua(s) "função(ões) de base", deve ponderar os seguintes factores: dimensionamento; comandos de instalações "embebidas"; equipamentos fixos; capacidade de integração de mobiliário com diferentes características tipológicas, dimensionais e de quantidades de peças unitárias agregadas ou reunidas; existência de espaços suplementares para (i) mobilar posteriormente, (ii) equipar posteriormente e (iii) movimentar-se e usar adequadamente os espaços.

Notas editoriais:
·          (i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
·          (ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.

INFOHABITAR Ano X, nº 497
Artigo LIX da Série habitar e viver melhor

Oferta diversificada de espaços domésticos específicos I

Editor: António Baptista Coelho
abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional, 


terça-feira, agosto 19, 2014

496 - “Libertar” a habitação das instalações - Infohabitar 496

Artigo LVIII da Série habitar e viver melhor

Infohabitar, Ano X, n.º 496

“Libertar” a habitação das instalações

António Baptista Coelho

Em primeiro lugar há que sublinhar que o que aqui se quer definir por “instalações” se refere a todo um conjunto de "aparatos" técnicos, associados a redes técnicas diversas, com especial enfoque nas águas, esgotos, electricidade, e redes de telecomunicações por cabo, que são fundamentais para o habitar doméstico e cujas ligações ou “pontos” de serviço estão disseminados pelos vários espaços da habitação, proporcionando padrões de uso das respectivas instalações que devem ser eficazes no sentido das respectivas utilidades, mas assegurando, simultaneamente:

  • quer um tipo de serviço caraterizadamente residencial – há, por exemplo, soluções de “calhas técnicas” que para serem bem aceites num ambiente doméstico devem ser objecto de adequada integração e mesmo intervenção formal/de aspecto;

  • quer uma máxima capacidade de adaptabilidade dos espaços do habitar doméstico a um significativo leque de usos e a uma ampla diversidade de arranjos de mobiliário.


A ideia que quer aqui evidenciar é que tudo o que se faça com o objetivo de uma maior adaptabilidade no arranjo e na ocupação dos espaços domésticos – adaptabilidade esta de extrema importância seja numa perspectiva de adequação aos usos e desejos, seja numa outra perspectiva de continuada e periódica adaptação de uma dada habitação  à evolução global e pormenorizada das necessidades e dos desejos dos seus ocupantes – , e, naturalmente, também tudo o que se faça em prol de uma maior capacidade de apropriação destes espaços pelos seus habitantes, pode ser extremamente afectado, por redes e padrões de serviço de instalações rígidos e pouco adaptáveis.

Uma opção que tem vindo a ser utilizada na concepção residencial refere-se à concentração maximizada de instalações e serviços em determinadas zonas “técnicas”, estrategicamente localizadas e, portanto, muito funcionais, libertando-se o máximo de espaço doméstico restante para uma ampla diversidade de ocupações por usos e conjuntos de mobiliário diversificados.

Uma outra forma de garantir estes tipo de objectivos é proporcionar uma grande flexibilidade de escolha dos pontos de ligações a redes, mediante intervenções simples e pouco dispendiosas que possam disponibilizar praticamente um serviço “a la carte” , que se vá adaptando, muito facilmente seja à evolução de determinada redes – designadamente de telecomunicações – seja à evolução da ocupação e dos arranjos de mobiliário domésticos.
E nesta linha de reflexão há, ainda, naturalmente que ter em conta as atuais redes sem fios; matéria que por si só merece tratamento específico e especializado.

É interessante reflectir, nesta matéria, sobre o interesse que ainda marca os “velhos” cuidados de concentração de “zonas de água”, que nasceram essencialmente de objectivos de economia por encurtamento das respectivas redes de águas e esgotos, mas que têm também excelentes resultados no sentido de proporcionarem um excelente “capital” de adptabilidade ao restante espaço doméstico.

As novas e as futuras “redes de instalações e de equipamentos” associadas a aspectos de sustentabilidade ambiental na habitação, e, por exemplo, ligadas à gestão dos lixos domésticos, ao máximo aproveitamento da energia solar por estratégias passivas e activas, à poupança de energia eléctrica e ao adequado isolamento acústico deverão ser objecto de uma aplicação estratégica no espaço doméstico, marcada pela maximização da sua eficácia técnica e pela compatibilização desta eficácia com o adequado desenvolvimento da estruturação e mesmo de uma adequada caraterização doméstica.


É, assim, fundamental uma clarificação e “simplificação” das características técnicas destas instalações e equipamentos ao nível doméstico, “reduzindo-os”, de certa forma, ao seu papel técnico específico e harmonizando este papel no âmbito de um qualificado desenho do espaço habitacional, em que estas novas facetas técnicas deixem de assumir uma presença protagonista, assumindo, sim, a sua presença necessária e adequada em termos da criação de um ambiente doméstico agradável, envolvente e "pacífico", pois, não tenhamos qualquer dúvida, uma habitação adequada não é, nem nunca será realmente comparável a uma máquina e, por exemplo, a um automóvel com visores recheados de gadgets técnicos, mas é fundamental que, hoje em dia, a habitação possa acolher, funcional e integradamente, as novas redes e instalações, proporcionando-se ligações a redes nos mais diversos sítios, e ampliando-se, assim, ao máximo a ampla utilidade do mundo doméstico.



Fig. 1

De certa forma o que aqui se aponta está definitivamente contra uma descaracterização como espaço “frio”, “maquinal” do ambiente e da pormenorização de uma cozinha e de uma casa de banho doméstica, recheando-as, sim, de sinais de conforto e de escala e mesmo “calor” humanos; e também se refere, aqui, uma estratégica organização/distribuição e “camuflagem” de instalações domésticas, não as afectando funcionalmente, mas reduzindo, ao máximo, a sua presença e protagonismo visual no interior da habitação, proporcionando-se os melhores e mais completos serviços com a maior sobriedade e racionalidade, numa acção que tudo tem a ganhar com contribuições multidisciplinares, designadamente, nas áreas da Arquitectura, das Engenharias, do Design e das Ciências Sociais e Humanas.


Finalmente, a ideia da libertação do espaço de habitar relativamente às instalações é que:
  • por um lado possamos ter uma máxima capacidade de apropriação dos espaços mais habitáveis sem nos preocuparmos com aspectos ditos funcionais ou maximizando mesmo tais aspectos no apoio directo à referida apropriação e adaptabilidade – teremos assim, por exemplo, salas e quartos extremamente versáteis no que se refere ao funcionamento, à ligação e à instalação dos mais variados tipos de equipamentos domésticos (exemplo, elementos de iluminação);
  • e que, por outro lado, haja como que uma recuperação ou mesmo um redimir, como espaços fortemente habitáveis e dignos, de compartimentos da habitação cujas instalações e associados aspectos de funcionalidade os relegaram, de certa forma, para uma caracterização fria, impessoal e quase não doméstica, como acontece por exemplo em tantas cozinhas e casas de banho.

E aqui há que ter a noção de que acabámos por gastar mais de um século para integrar as instalações clássicas da água, dos esgotos e , afinal da electricidade nos espaços domésticos, que antes não as tinham, mas que é já tempo de elas assumirem o seu papel de serviços prestados a um espaço doméstico cuja caracterização se irá deles servir e nunca o contrário – teremos assim, novamente, espaços domésticos verdadeiramente redimidos no seu fundamental papel de espaços do habitar, com sentido muito amplo, e bem servidos pelas instalações; e não espaços domésticos feitos para evidenciarem a chegada da água, dos esgotos e da própria electricidade .

E atenção para que, quando estamos a começar a voltar a preencher as nossas casas com novas instalações, ligadas, por exemplo, às casas inteligentes e às tecnologias da sustentabilidade ambiental, não cometamos os mesmos erros de colocar as casas ao serviço e como montras dessas novas tecnologias esquecendo as suas funções essenciais ligadas à domesticidade e à integração urbana.

Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.

INFOHABITAR Ano X, nº 496
Artigo LVIII da Série habitar e viver melhor
“Libertar” a habitação das instalações
Editor: António Baptista Coelho – abc.infohabitar@gmail.com

GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional

segunda-feira, agosto 11, 2014

495 - Opções de compartimentação na habitação - Infohabitar 495

Artigo LVII da Série habitar e viver melhor

Infohabitar, Ano X, n.º 495

OPÇÕES DE COMPARTIMENTAÇÃO NA HABITAÇÃO

António Baptista Coelho



Opções domésticas de compartimentação

Trata-se, em seguida, da possibilidade de juntar e dividir compartimentos e espaços, da escolha entre ter mais compartimentos mais pequenos ou menos compartimentos maiores e, finalmente, da separação entre zonas mais sociais ou mais íntimas.

Possibilidade de juntar e dividir compartimentos e espaços

A possibilidade de juntar e dividir compartimentos e espaços, desde que feita com um mínimo de despesas, permite uma forte adaptação da casa ao crescimento da família (mais quartos para os filhos) e, mais tarde, a criação de amplas zonas de estar, de trabalho e lazer em casa (quando os fihos deixam o fogo).

Maior número de compartimentos, embora mais pequenos

A existência de um maior número de compartimentos, embora mais pequenos, é fundamental para que os jovens tenham o seu espaço privativo (formação da personalidade e repositório do mundo pessoal de cada um).

Menor número de compartimentos, mais espaçosos

A opção por espaços mais generosos, em detrimento da individualização dos espaços, embora possa ser justificada, quando há um modo de vida familiar marcadamente comunitário e desinibido, tem quase sempre contrapartidas negativas na necessária privacidade de cada um, que é uma necessidade complementar à formação e ao equilíbrio da personalidade.


Fig. 1

Sala ampla ou subdividida em dois espaços

A questão da escolha entre mais compartimentos mais pequenos ou menos compartimentos maiores e a da separação entre a sala e a zona de quartos (zona íntima) encontra um "terreno" propício, embora mais pormenorizado, na opção entre uma sala ampla e uma outra parcialmente subdividida em dois espaços; sendo um deles estrategicamente mais relacionado com a zona de quartos, en quanto o outro se abre, preferencialmente, para a entrada do fogo e se conjuga, mais ou menos directamente, com a cozinha.

Uma sala constituída por uma única zona ampla e regular (sem grandes recantos) constitui um espaço muito diferente de uma outra sala organizada em duas zonas mutuamente articuladas e diversa e estrategicamente ligadas aos restantes espaços do fogo; esta diferença é fundamental, devendo ser muito cuidadosamente ponderada, quando se dispõe de áreas controladas a atribuir aos diversos espaços domésticos (exº, habitação social ou de "custos controlados").

Parece ser natural, no caso de áreas relativamente restritas, a primeira opção, por uma sala regular e num único espaço; no entanto, quando a solução em dois espaços se integra perfeitamente na organização do fogo, através da criação de zonas multifuncionais, que não provoquem problemas de privacidade, esta solução é mais rica e caracterizadora do espaço doméstico (exº, zona de entrada no fogo bem articulada, ou integrada, com uma zona da sala muito adequada para as refeições formais e com a circulação que leva à zona de quartos, proporcionando-se uma segunda zona da sala mais recatada e ainda ampla).

Compartimentação e dimensão das famílias

Naturalmente, as famílias pequenas terão preferência por menos compartimentos e mais espaçosos, mas há que acautelar as necessidades em espaços próprios para actividades muito exigentes em sossego e relativa independência, como é o caso das actividades profissionais feitas em casa (algumas recebendo clientes que são estranhos ao lar) e das actividades de lazer doméstico e de passa-tempos, nomeadamente aquelas que exigem espaços e equipamentos especiais (revestimentos laváveis, bancas de trabalho, etc.).

Essas actividades ficarão melhor situadas em quartos mais relacionados com a zona da sala de estar e fora da tradicional, e sempre desejável, zona de quartos ou zona íntima da casa; esta deve existir, mas nem todos os quartos devem estar nela incluídos (um dos quartos pode ter relação com a sala, servindo para actividades menos domésticas ou para o alojamento de um filho mais velho ou de um parente).

Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.

INFOHABITAR Ano X, nº 495
Artigo LVII da Série habitar e viver melhor

opções de compartimentação na habitação

Editor: António Baptista Coelho – abc.infohabitar@gmail.com

GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional

terça-feira, agosto 05, 2014

494 - Equilíbrios dimensionais e de privacidade na habitação - Infohabitar 494

Artigo LVI da Série habitar e viver melhor

Infohabitar, Ano X, n.º 494

Equilíbrios dimensionais e de privacidade na habitação

António Baptista Coelho

Nota inicial:
Os temas em seguida abordados, foram desenvolvidos, pelo autor, para o estudo “Guia do comprador de habitação”, editado pelo Instituto Nacional de Defesa do Consumidor de Portugal em 1991.

Equilíbrios dimensionais e de privacidade

Desenvolvem-se, em seguida, algumas considerações sobre o equilíbrio com que se distribui o espaço na habitação e as respectivas consequências na adequação aos tipos de família e de modo de vida.
Diversas situações-tipo a considerar:

Os quartos, a sala e a cozinha têm dimensões razoáveis e habituais.

Importa, no entanto, ter em conta o que consideramos como dimensões razoáveis e habituais nos principais compartimentos habitacionais, uma matéria que nos pode levar longe; sendo aqui, para já, apenas referido, que nesta consideração não deveremos ter em conta dimensões de áreas e de extensões lineares mínimas, ou mesmo pouco acima das mínimas – e assim teremos, por exemplo cozinhas com cerca de 10 m2, quartos com cerca de 12m2, salas polivalentes com cerca de 20m2 e ausência de dimensionamentos lineares (ex., larguras de compartimentos) mínimas, que são aquelas associadas a situações em que o respetivo mobiliário corrente deixa muito pouco espaço de sobra para circulação e/ou mobiliário complementar.
Um dimensionamento deste tipo poderá servir muitas formas de viver, mas temos de considerar que não será financeiramente possível desenvolver todas as promoções habitacionais com este desafogo espacial.

Quartos pequenos, mas sala e cozinha espaçosas   

Os quartos são mais pequenos, mas a sala e a cozinha são maiores; a casa favorece famílias com filhos pequenos ou com vida social activa (recebendo frequentemente amigos e familiares).

Quartos espaçosos, mas sala e cozinha mais pequenas

Os quartos são maiores e a sala e a cozinha mais pequenas; a casa favorece famílias com fihos crescidos ou vivendo com familiares idosos; também acolhe bem actividades profissionais no domicílio, desde que um dos quartos seja relativamente independente (acessível da porta da rua).

Um dos quartos é maior do que os outros

Um dos quartos é significativamente maior do que os outros; a casa favorece famílias com hábitos tradicionais relativamente a um tratamento preferencial do "quarto de casal", desde que o quarto maior esteja próximo de uma casa de banho.

Fig. 1

Os quartos são todos idênticos

Os quartos são todos idênticos; a casa favorece famílias em mutação ou desenvolvimento, facilitando mudanças na ocupação dos quartos e nas contiguidades, usando-se o mesmo mobiliário.

Sala grande e cozinha pequena

A sala é grande e a cozinha é pequena; a casa favorece famílias com "hábitos citadinos", que passam pouco tempo em casa, que comem fora muitas vezes (casal trabalha e passa os dias de semana fora de casa), que consomem refeições fáceis de preparar e que por outro lado dão uso real à sala de estar, que não é só a sala de visitas (é onde estão, comem, trabalham e recebem).

Cozinha grande e sala pequena

A cozinha é grande e a sala é pequena; a casa favorece famílias com hábitos rurais ou "pouco citadinos", que passam muito tempo em casa, que aí preparam e tomam refeições frequentemente (casal não trabalha fora ou trabalha perto e usa muito a habitação durante a semana), que consomem refeições com elaborada preparação e que por outro lado não dão uso real e frequente à sala de estar, que é, essencialmente, uma "sala de visitas".

Equilíbrio entre privacidade e desenvolvimento de zonas de entrada e circulação

O equilíbrio entre privacidade e poupança de zonas de entrada e circulação joga-se, essencialmente, na cuidadosa ponderação dos dois seguintes conjuntos de aspectos:

(i) Opção entre o desenvolvimento de uma sala relativamente aberta para a entrada da casa e para a zona de circulação que dá acesso aos quartos, ou pela criação de uma zona de estar recatada e tornada independente da entrada e da zona de acesso aos espaços mais íntimos da habitação.

(ii) Opção entre o desenvolvimento de uma zona de entrada relativa, ou totalmente, aberta para a sala comum e/ou para a zona de circulação que dá acesso aos quartos, ou pela criação de um hall/vestíbulo, relativamente espaçoso, recatado, agradável (exº, recebendo luz natural), encerrado e proporcionando acessos alternativos às diversas zonas da habitação (zonas íntima, social e de serviço).

Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.

INFOHABITAR Ano X, nº 494
Artigo LVI da Série habitar e viver melhor

equilíbrios dimensionais e de privacidade na habitação

Editor: António Baptista Coelho – abc.infohabitar@gmail.com

GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional