sexta-feira, setembro 28, 2012

409 - Um texto de José Dias e o artigo Autos e Homens I - Infohabitar 409


Infohabitar Ano VIII, N.º 409

Notas da edição do Infohabitar

Na sequência dos recentes artigos "A Natureza num Jogo Urbano Humanizado" e "O Jogo Urbano das Entradas", o colega José Dias, que foi um dos conferencistas convidados ao 1.º CIHEL em Setembro de 2010, e que vive e trabalha actualmente em Macau, sendo alguém com uma extensa experiência nas áreas do urbanismo e do habitar em diversos territórios da lusofonia, escreveu à edição desta revista algumas simpáticas palavras de comentário, referindo que gostaria de ver aqui abordado um elemento que considerou, e bem, praticamente omisso nesses artigos, tratando o “convívio da casa com a rua e o carro”.


A sugestão foi naturalmente muito bem aceite pela edição, que sugeriu ao Arq.º José Dias que ele próprio nos pudesse enviar algumas palvras sobre o tema.


E assim se construiu esta edição: que segue, de imediato, com as sábias palavras de José Dias, que se espera lhes possa dar sequência em próximas edições desta revista – aqui fica desde já registado o convite – e que, depois, integra o artigo “Autos e Homens – I”, que corresponde, naturalmente, ao referido e positivo desafio que foi lançado ao editor e que se pretende possa ter continuidade e diversificação temática, aproveitando-se para convidar outros leitores a cooperarem nesta reflexão.


A edição do Infohabitar


Algumas palavras suplementares e importantes da edição do Infohabitar:
Deixa-se aqui expresso, publicamente, um pedido de desculpas ao colega José Dias devido ao seu texto ter sido editado incompleto, até à data (7 outubro 2012); actualmente o texto está completo pelo que se convidam os leitores a uma leitura renovada do mesmo - a situação ficou a dever-se a não se ter reparado numa última mensagem do autor na qual era enviada a parte final do referido texto. 


Fig. 01

A questão urbana, talvez a mais pretinente, é o convívio da casa com a rua e o carro - Texto enviado por José Dias ao Infohabitar em Setembro de 2012

A questão urbana, talvez a mais pertinente, é o convívio da casa com a rua e o carro.

O carro é o elemento poluente e o eventual agressor dos habitantes. O carro tem de mudar o combustível, a velocidade e a sua postura autosuficiente e agressiva.

O acesso do carro ao prédio, enquanto existir o carro individual, além de ser lento, tem o seu lugar de permanência nos pisos a ele destinados, no edifício.O estacionamento exterior, é sempre temporário, de curta duração, até porque há um número muito limitado de estacionamento exterior.

O carro circula em vias periféricas às zonas especificamente habitacionais e às próprias zonas urbanas de serviço, comércio e recreio. As zonas industriais exclusivas, quando necessário, são sempre controladas 100% nos seus desperdícios poluentes ou não.

A cidade é um espaço em evolução, cada vez mais desfrutado pelo cidadão. Que futuro lhe desejamos, afinal?

A questão dilui-se no sentido do Urbano.

O que é a urbe? Que esperamos dela e o que podemos dar-lhe.

A urbe medieval, renascentista, tinha o recato que lhe dava a ausência do carro ainda que se veslumbrasse a sua ameaça contida no carro de bois, de burro e de cavalo.

Para nós urbanos o carro é para extinguir.

Ele encurta distâncias mas não tráz tranquilidade, esvazia o espaço urbano de gente ameaçada por um só humano de dentes cerrados e acelerador no fundo. Não presta. É coisa, não é gente.

Quando eu me sento ao volante e docemente encaminho o meu carro pelas ruas, nada tenho a ver com o outro, em sentido oposto, que vem com pressa. Os dois existimos, nenhum de nós pode ser retirado da circulação. o carro ou não.

O Capital nas mãos dos Bancos e dos Governos, pode ser regulado no seu crescimento e na sua distribuição equitativa.Contudo, isso ainda não aconteceu.

Os carros, no meio urbano, tambëm podem ser regulados mas ainda não foram. Às vezes, no centro de Londres, por exemplo, isso acontece.

Mas serão medidas extremas que vão regular o tráfego?

Se são medidas extremas, não sei. Sei que serão medidas. Talvez de génio. Talvez de pobre e de rico até. Portanto não sou contra os ricos nem contra os pobres. Sou contra a libertinagem urbana dos carros.

(*) Depois deste prévio esclarecimento, todos nós temos de pensar nisso.

Já agora sobre a história dos Bancos e dos Governos. Será que têm alguma coisa a ver com a libertinagem dos carros, quero dizer, com a livre circulação dos carros?

Mas antes do exercício do poder, o exercício da imaginação.

Toda a concepção urbana dos nossos dias está em causa, sobretudo na sua relação com os transportes, naturalmente naquilo que eles têm a ver com os diversos abastecimentos, com as deslocações das pessoas e com outros serviços que eles prestam para além dos serviços públicos ligados à saída dos lixos, ambulâncias, bombeiros e tantos outros.

Na cidade actual a rede de arruamentos permite a circulação contínua, apenas com a interrupção dos sinais, ora ligada aos cruzamentos ora à circulação do peão.

Com os fluxos actuais do trânsito, a segurança do peão está sempre em risco. As ruas são sempre traços vermelhos contínuos que esquartelam a cidade. A cidade está concebida para a circulação de carros e não para que o cidadão desfrute dela. Ele é, quando muito, relativamente à majestade do carro, um mero peão.

Muito se tem feito, em algumas cidades trasformando ruas em passeios, sobretudo em zonas de traça antiga. As circulares são tímidos avanços na contenção da circulação dos carros. Se às circulares ligarmos as radiais que permitem a entrada e saída do centro para a periferia, ficamos com os espaços intermédios que poderão ter regulação drástica da circulação automóvel. Aí podem residir os parques, os jardins, os equipamentos urbanos de serviços, escolas e hospitais, juntamente com a habitação.

Aqui começam os reguladores acessíveis como andar a pé e de bicicleta.

Já referimos antes sobre a entrada cautelosa do carro na garagem do prédio e na supressão drástica do estacionamento nos espaços exteriores que envolvem os prédios.

Nunca esqueçamos que o cidadão tem o direito de percorrer a cidade a pé, o que obriga a pensar nos meios para transpor a rua, sempre que possível, por baixo ou por cima. As passadeiras aéreas, às vezes convencem, em cidades como Hong Kong. Permitem percorrer a pé, a distância do centro da cidade à margem marítima.

Mas a cidade que aqui aludimos, já existe.

Podemos ir mais longe.


(*) A partir daqui o texto só foi editado em 7 de outubro de 2012 



Fig. 02

AUTOS E HOMENS

António Baptista Coelho

A razão de ser deste texto tem a ver, mais directamente, com um estimulante desafio do colega José Dias, que trabalha há muitos anos em Macau, relativamente a questões, hoje em dia fundamentais, no que se refere à ligação entre automóveis e homens, e que foram apenas apontadas em alguns dos últimos artigos da série “habitar e viver melhor”.

Importa aqui chamar a atenção para o texto do Arq.º José Dias, que é editado em simultâneo com este mesmo pequeno artigo e que serviu de base a boa parte das reflexões que se seguem; é também oportuno referir que a temática naturalmente não se esgota nestas reflexões e mesmo nesta pequena série de artigos; e, finalmente, importa registar a longa experiência do colega José Dias tanto em termos de ordenamento urbano como nas amplas áreas do habitar e da habitação de interesse social.

Comecemos então com algumas ideias esquecidas, como as de futurísticas soluções de carros voadores, que deixavam o solo livre para o peão, e com outras ideias que, aparentemente, terão dado resultados menos bons ou até muito negativos, como é o caso da separação, mais ou menos, radical de tipos de tráfego, associada, quase por regra, ao modernismo.

E, já agora, lembremo-nos, estrategicamente, de sequências e quadros que todos conhecemos no âmbito de cascos históricos e/ou envelhecidos de zonas urbanas, ambientes estes em que, funcional e visualmente, por regra e com excepção de zonas intensamente intervencionadas, o veículo automóvel privado “convive” com o peão.

Sabemos, naturalmente, estar a entrar em área tão ampla como complexa e vamos conhecendo, cada vez mais as nossas próprias limitações, mas estamos aqui defendidos por se tratar de uma primeira e relativamente “informal” reflexão sobre o tema, realizada aliás na sequência das palavras que, sobre esta matéria, foram escritas pelo colega José Dias.


Fig. 03

E assim é que poderemos apontar que o tal futuro dos carros voadores não o chegou a ser, e mesmo actualmente ele é sistematicamente trocado por um prospectiva marcada por necessárias condições de redensificação estratégica e pelo sublinhar dos mais variados tipos de soluções ecologicamente mais sustentadas, e portanto fundadas seja em transportes públicos verdadeiramente adequados e vitalizadores da urbe, seja em modos de deslocação “suaves”, em que a pedonalidade é, ou deveria ser, evidentemente “central” e estruturadora, associando-se com naturalidade e funcionalidade, seja aos referidos transportes colectivos, seja a uma vital redescoberta convivial do espaço público e de uso público.

Deixemos para outras reflexões a derivação importante sobre os riscos graves de não se avançar urgente e intensamente neste sentido de uma renovada pedonalidade funcionalmente bem apoiada e potencialmente convivial, e continuemos a pensar mais um pouco neste nosso presente/futuro sem ficções mais ou menos científicas, pelo menos no quadro da cidade, visto que no quadro doméstico o mundo do virtual e as novas redes de comunicação criaram e estão a criar uma realidade com excelentes capacidades, mas ainda assim com evidentes riscos de um relativo esvaziamento da vida pública e convial.

Abordemos então, tangencial e pontualmente, as “ficções/concretizadas” do modernismo ao nível urbano, aproveitando, designadamente, como referência o exemplo mais puro de tais realizações em Portugal, que é o pequeno bairro de Olivais-Norte/Encarnação, e podemos sobre esta matéria apontar que, por lá, peões e veículos convivem com expressiva agradabilidade e funcionalidade própria e mútuas, e sendo que, cumulativamente, a própria imagem urbana e natural que lá é produzida e vivida, e onde pontua, expressivamente, um protagonista verde urbano, se caracteriza por uma forte harmonia global entre edifícios, “verdes”, veículos estacionados e circulando e peões usando o exterior público.



Fig. 04

Quanto às soluções “super-separadas” entre tipos de tráfego, diferenciados e mesmo “discriminados” (termo que aqui se usa com um certo sentido crítico em termos de separação abrupta e frequentemente infuncional) por níveis físicos distintos, elas terão pouca expressão em Portugal. Foram tentadas algumas experiências em Chelas, que tiveram muito pouco sucesso, mas em diversos locais do resto da Europa e dos países do norte do continente, diversas soluções foram desenvolvidas, com diversas misturas funcionais e “ambientais”, que mereceriam, hoje em dia, uma releitura cuidadosa, não só pelo interesse e carácter urbano e residencial específicos embebidos em muitos desses casos, como também pelo interesse e pela utilidade que eventuais soluções desse tipo, ou com aspectos afins, poderão vir a ter nas referidas soluções redensificadas, que estão hoje em dia em (re)análise.

Falou-se, assim, muito pontualmente, de uma ficção urbana não cumprida e de uma modernidade em parte potencialmente resgatável e útil, a propósito de um quadro urbano em que “autos e homens” são obrigados a conviver e deveriam viver bem, uns e outros (considerando os autos como “extensões” dos seus condutores, naturalmente).

Mas importa aqui lembrar e comentar, minimamente, um outro quadro de vida urbana, antes de reflectirmos um pouco de forma mais geral sobre esta relação de hoje entre “autos e homens”, e esse quadro é o da cidade histórica ou “velha”, marcado por ruas marcadas pelo homem e onde este circula hoje em dia entre autos, entre lancis, entre diversos pavimentos e entre os mais diversos obstáculos, mas onde se continua a sentir talvez em casa.

Fig. 05

E aqui importa lembrar soluções em que se procurou e conseguiu “acalmar” a vida citadina que invadia brutalmente tais bairros e zonas urbanas, devolvendo-se a quem aí mora, um mínimo da tal calma, um mínimo/máximo de um redescoberto ordenamento pormenorizado e de “novas” e fundamentais funcionalidades, limpando-se muitos desses mais diversos obstáculos e “ruídos”, mas guardando-se ainda uma parte significativa e importante de um certo bulício urbano e/ou de um certo sentido de se pertencer mais do que a um edifício, a um pedaço de espaço urbano onde se vive; e a um pedaço de espaço urbano, frequentemente, orgânico, por vezes lúdico e sempre muito único na sua constituição.

Falámos, assim, da ficção não cumprida, do modernismo resgatado e da cidade velha funcionalmente harmonizada, em termos da relação entre “autos e homens”, e ficarão para outros textos os comentários aos infindáveis espaços de periferias “áridas”, sem coesão e sem carácter. E vamos terminar este primeiro exercício de reflexão sobre o tema pensando, um pouco, na razão de tantas vezes fugirmos de fotografar os autos quando passeamos e na cidade.

Trata-se de elementos estranhos a uma paisagem urbana mais perene em termos de espaço construído e/ou mais humanizada em termos da própria presença do homem. Trata-se de uma presença de elementos funcionais com uma escala que ultrapassa expressivamente a escala humana e, que por vezes, a “esmaga”, quando, por exemplo, os automóveis são carrinhas com o tamanho de antigas camionetas.

Trata-se de uma relação entre autos e homens feita na contiguidade das casas habitadas mas onde, basicamente, o homem está sempre fisicamente exposto e desprotegido – numa situação que é tanto mais crítica quanto maiores e mais rápidos os autos e mais velhos ou mais novos os homens.

Trata-se de uma outra verdade em termos de paisagem urbana, que não tem de ser negativa, mas que é bem distinta daquela que caracteriza a natureza do espaço urbano feito de edifícios, espaços públicos e verde urbano, e que está associada a toda uma extensa colecção de elementos associados – sinais horizontais e verticais, regras de conduta, etc. -, marcados por aspectos essencialmente funcionais, quando o quadro residencial e urbano em que trabalhamos tem muitos outros sentidos, designadamente, afectivos e qualitativos.


Fig.06

E trata-se, afinal, de uma realidade própria funcional e imagética cujo exercício adequado se liga a um esquema dito urbano, mas basicamente suburbano, feito para se circular de auto e para se viver a dita “cidade” de auto, o que é basicamente muito pouco compatível com a vivência de um espaço urbano feito para ser vivido devagar e a pé.

Tudo isto gera um significativo potencial de insegurança, de incompatibilidade funcional e de dissonância visual entre espaços para autos e espaços para homens, numa relação crítica, ruidosa e com variados tipos de atritos, que será tanto mais problemática quanto mais contido for o espaço, ou quanto mais “humanizado” ele for em termos de uma sua desejada caracterização global.


Fig. 07

Mas evidentemente que há caminhos e soluções de harmonização e de compatibilidade, mas podemos considerar que, tendencialmente, a ideia é sempre fazer fluir melhor os autos e muito menos frequentemente fazer viver melhor os homens peões, em termos de continuidades de percursos, ausência de obstáculos, apoios funcionais e sequências significativamente tão funcionais como atraentes; e deixem-nos desabafar que agora até nos passeios que eram largos e desimpedidos, temos por vezes de olhar para não corrermos o risco de sermos agredidos por ciclistas; e aqui nada há contra o fomento da circulação de bicicletas, que é claramente essencial sob diversos aspectos, há sim a constatação de que muito pouco se faz, por regra, no apoio à fundamental movimentação pedonal, aquela que é, julga-se, o sangue capilar do espaço urbano.

Globalmente falámos de autos e homens, mas antes de se concluir esta primeira reflexão, devemos apontar que nada nos move contra o auto, que não acreditamos que o auto seja “inimigo público”, só o será se deixarmos que assim aconteça, e que conhecemos muitas situações de excelente relação entre autos e homens em quadros urbanos e residenciais adequadamente integrados em termos funcionais e visuais, mas não tenhamos dúvida de que estas situações têm de ser devidamente concebidas e geridas, caso contrário irá imperar a lei do mais forte.


Fig. 08

E nesta fundamental e pormenorizada concepção do espaço urbano caracterizadamente residencial, marcada pela harmonização da relação entre autos e homens, há que privilegiar o elo mais fraco, os homens e neles especificamente as crianças e os idosos, e há um lugar muito especial para o protagonismo do verde urbano e da própria natureza, mais global, no estabelecimento e na consolidação de um “jogo” urbano tão eficaz como humanizado, direccionado para a essencial dinamização de uma vivência intensa do exterior.

Mas estas – e outras – serão matérias a comentar e desenvolver em próximos artigos desta série.


Notas editoriais:

(i) A edição dos artigos no âmbito do blogger exige um conjunto de procedimentos que tornam difícil a revisão final editorial designadamente em termos de marcações a bold/negrito e em itálico; pelo que eventuais imperfeições editoriais deste tipo são, por regra, da responsabilidade da edição do Infohabitar, pois, designadamente, no caso de artigos longos uma edição mais perfeita exigiria um esforço editorial difícil de garantir considerando o ritmo semanal de edição do Infohabitar.


(ii) Por razões idênticas às que acabaram de ser referidas certas simbologias e certos pormenores editoriais têm de ser simplificados e/ou passados a texto corrido para edição no blogger.


(iii) Embora a edição dos artigos editados no Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico, as opiniões expressas nos artigos apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores.




Infohabitar a Revista do Grupo Habitar

Infohabitar, Ano VIII, n.º 409


Um texto de José Dias e o artigo Autos e Homens I


Editor: António Baptista Coelho


Edição de José Baptista Coelho


Lisboa, Encarnação - Olivais Norte




sexta-feira, setembro 21, 2012

408 - O jogo urbano das entradas (artigo); e notícias do 2.º cihel - Infohabitar 408

Infohabitar Ano VIII, N.º 408

Notícias do 2.º Congresso Internacional da Habitação no Espaço Lusófono – 2.º CIHEL.
http://2cihel.lnec.pt/2cihel.html

Continua a lembrar-se que foi já concluída da informação aos autores relativamente à submissão de artigos ao 2.º CIHEL; todas as respostas já seguiram endereçadas aos e-mails remetentes dos resumos.

O próximo prazo corresponde à entrega das comunicações completas e elementos complementares e é 22 de Outubro de 2012.

Solicita-se o máximo respeito deste prazo e das indicações/instruções enviadas integradas no template que acompanhou a apreciação das comunicações.

Salienta-se que, muito em breve, serão abertas as inscrições no Congresso, e devidamente divulgadas: seja pelo site do Congresso; seja aqui no Infohabitar; seja por e-mails aos autores de comunicações e aos muitos outros potenciais interessados em participar nos trabalhos.

Aproximando-se, assim, a data de envio das comunicações completas, EXCLUSIVAMENTE, para o seguinte endereço eletrónico, Email: comunicacoes2cihel@lnec.pt

Próximas datas a reter:

. Abertura das inscrições no Congresso: data a divulgar brevemente.
. Inscrição dos comunicantes, e envio do texto das comunicações e dos dados complementares até 22 de outubro de 2012.
. Eventual solicitação de revisões de algumas comunicações até 30 novembro de 2012.
. Entrega da revisão final (quando aplicável): até 15 dezembro de 2012.

ARTIGO DA SEMANA - ARTIGO DA SEMANA - ARTIGO DA SEMANA

Na presente edição do Infohabitar continua-se a publicação da série “habitar e viver melhor”, com o artigo n.º XIX desta série, intitulado:

O JOGO URBANO DAS ENTRADAS
António Baptista Coelho


Em outros artigos desta série editorial (“habitar e viver melhor”), falámos de vizinhanças, de continuidade urbana, de caracterização de espaços residenciais de pequena escala, humanizados, e eventualmente marcados por um verde ele próprio elemento de amenização ambiental e de humanização; e vamo-nos, assim, aproximado dos edifícios, ainda que depois possamos voltar a deles sair no sentido de pensar um pouco em como dos edifícios se podem fazer as tais vizinhanças humanizadas e de agradável introdução à cidade.

Atentemos, então, agora, neste artigo e ainda globalmente, um pouco mais nas entradas das nossas casas, dos edifícios em que habitamos e, para iniciar esta reflexão de como ajudar a constituir vizinhanças coesas com edifícios habitados, coloquemos uma questão exploratória e um pouco provocatória:

Será que as condições de relação directa entre as nossas casas e as nossas ruas, que caracterizaram e ainda caracterizam muitas povoações e, especialmente, muitos bairros citadinos tradicionais, não são recuperáveis em intervenções novas e de renovação urbana?




Fig. 01



Vamos tentar entender qual será o principal problema de uma tal solução: a potencial falta de privacidade e mesmo de segurança nas habitações que se ligam à rua.

Parece ser este o principal problema que, no entanto, é contornável através de soluções urbanas pormenorizadas que actuem quer na própria rua, tornando-a mais habitável e física e ambientalmente mais protectora e mais próxima do espaço doméstico, quer no desenho de pormenor dos elementos de relação entre habitações e ruas.

E resolvendo esta questão ganharíamos um renovado potencial de expressão do habitar no próprio espaço público, uma expressão vital porque iria contribuir para a (re)construção de condições de convívio natural num espaço que sendo caracterizadamente público, condição esta essencial, será também caracterizadamente doméstico.

Há apenas algo que nesta matéria que talvez possa ficar a perder, que é a “figura” do edifício multifamiliar, que neste linha de solução praticamente se dilui, ou pode mesmo quase “desaparecer”, designadamente, como elemento integrador de espaços comuns, espaços estes que neste tipo de solução podem ser até praticamente inexistentes.

Nada nesta reflexão deve indicar qualquer fundamentalismo contra os edifícios com sistemas de espaços comuns, até porque, como se verá, mais à frente, em outros artigos desta série editorial, este tipo de edifícios é também considerado nesta série como solução específica para determinadas formas de habitar a cidade, por exemplo, numa linha que engloba, como solução de certa forma maximizada, as residências comuns que integram espaços privados e amplos espaços de uso colectivo.

O que nesta primeira reflexão sobre este assunto se quer clarificar é a enorme valia que as soluções de agregação directa entre habitações e ruas podem ter, quer para a identidade e apropriação de cada habitação pelos seus moradores, quer para uma alargada, mas igualmente efectiva e afectiva identidade e apropriação das respectivas ruas.



Fig. 02


E o que também nesta reflexão se quer clarificar é que nestas soluções de agregação de habitações em relação privilegiada e expressivamente directa com a rua, é de grande importância o que aqui se designa por “jogo de entradas”, nem mais nem menos, todo o amplo conjunto de elementos que servem, marcam, controlam e conjugam as ligações entre as portas de entrada, ou as soleiras, das habitações e as sequências de continuidade urbana.

Pensamos em simples mas bem cuidados vãos de porta, mas também pensamos em escadas, muros, muretes, passagens, cancelas, galerias térreas, pátios, jardinetas, pisos térreos evidenciados, terraços estrategicamente ligados à rua, e muitos outros elementos protagonistas da arquitectura urbana do pormenor, aquela que, afinal, tanto constrói o referido jogo das entradas, como o seu irmão gémeo, que é o jogo urbano da pequena escala bem humanizada e potencialmente muito rica, formal e funcionalmente.

A residencialidade considerada numa estimulante perspectiva urbana é uma qualidade que se liga tanto ao espaço doméstico como ao espaço de vizinhança, e que se reflecte tanto em espaços públicos de vizinhança marcados, pelo menos um pouco e estrategicamente, pelo carácter residencial, como em edifícios e agregados de unidades residenciais, onde há uma marca, ainda que apenas pontual e estratégica de um sentido afirmadamente urbano e público.

E tais jogos e cenários reais de residencialidade e de urbanidade têm como principais protagonistas os jogos de acessibilidade que os vitalizam, e como principais pólos de vitalização as pequenas teias locais de acessos às habitações, aos conjuntos de habitações, e aos equipamentos locais.

E será da apurada adequação desta pequena rede de acessos que resultará boa parte da desejada vitalidade e da essencial curiosidade das respectivas vizinhanças, assim como será da estratégia da sua distribuição que resultará a prevenção do desenvolvimento de eventuais “pontos” “mortos”, inseguros e potencialmente difíceis de manter limpos e atraentes, e não tenhamos dúvida que será deste positivo jogo entre espaços urbanos e acessos a fogos que poderá resultar uma boa obra de Arquitectura e uma boa obra na aproximação à satisfação dos habitantes.

Notas editoriais:

(i) A edição dos artigos no âmbito do blogger exige um conjunto de procedimentos que tornam difícil a revisão final editorial designadamente em termos de marcações a bold/negrito e em itálico; pelo que eventuais imperfeições editoriais deste tipo são, por regra, da responsabilidade da edição do Infohabitar, pois, designadamente, no caso de artigos longos uma edição mais perfeita exigiria um esforço editorial difícil de garantir considerando o ritmo semanal de edição do Infohabitar.


(ii) Por razões idênticas às que acabaram de ser referidas certas simbologias e certos pormenores editoriais têm de ser simplificados e/ou passados a texto corrido para edição no blogger.


(iii) Embora a edição dos artigos editados no Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico, as opiniões expressas nos artigos apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores.



Infohabitar a Revista do Grupo Habitar

Infohabitar, Ano VIII, n.º 408

O jogo urbano das entradas (artigo); e notícias do 2.º cihel

Editor: António Baptista Coelho

Edição de José Baptista Coelho

Lisboa, Encarnação - Olivais Norte



quarta-feira, setembro 12, 2012

407 - A natureza num jogo urbano humanizado (artigo); e notícias do 2.º CIHEL - Infohabitar 407


Infohabitar Ano VIII, N.º 407

Notícias do 2.º Congresso Internacional da Habitação no Espaço Lusófono – 2.º CIHEL - http://2cihel.lnec.pt/2cihel.html

Esta pequena notícia marca o final da informação aos autores relativamente à submissão de artigos ao 2.º CIHEL; todas as respostas já seguiram endereçadas aos e-mails remetentes dos respectivos resumos de artigos.

O próximo prazo corresponde à entrega das comunicações completas e elementos complementares e é 22 de Outubro de 2012.

Agradece-se a contribuição já proporcionada e solicita-se o máximo respeito deste prazo e das indicações/instruções enviadas integradas no template que acompanhou a apreciação das comunicações.

Salienta-se que, em breve, serão abertas as inscrições no Congresso, e devidamente divulgadas: seja pelo site do Congresso; seja aqui no Infohabitar; seja por e-mails aos autores de comunicações e aos muitos outros potenciais interessados em participar nos trabalhos.

Aproxima-se, assim, a data de envio das comunicações completas, EXCLUSIVAMENTE, para o seguinte endereço eletrónico, Email: comunicacoes2cihel@lnec.pt
Próximas datas a reter:
  • Abertura das inscrições no Congresso: a divulgar brevemente.
  • Inscrição dos comunicantes, e envio do texto das comunicações e dos dados complementares até 22 de outubro de 2012.
  • Eventual solicitação de revisões de algumas comunicações até 30 novembro de 2012.
  • Entrega da revisão final (quando aplicável): até 15 dezembro de 2012.

ARTIGO DA SEMANA - ARTIGO DA SEMANA - ARTIGO DA SEMANA
Na presente edição do Infohabitar continua-se a publicação corrente da série habitar e viver melhor; com o artigo n.º XVIII desta série, intitulado:
A NATUREZA NUM JOGO URBANO HUMANIZADO
António Baptista Coelho

Sidónio Pardal escreveu que "a vegetação é elemento amenizador do meio urbano, unificador, suporte de continuidades"; e a presença ou a ausência evidenciadas de "verde urbano" são situações que caracterizam verdadeiramente os lugares.

Há, assim portanto duas facetas fundamentais na integração do verde urbano, uma delas directamente associada a uma melhoria das condições de conforto ambiental no exterior e nos próprios edifícios, e uma outra faceta mais de desenho ou concepção e que tem a ver com opções de projecto.


Fig. 01

Realmente o verde urbano é fundamental e incontornável numa perspectiva de amenização do meio urbano, de melhoria das condições de conforto ambiental na cidade (temperatura, humidade) e é responsável por uma significativa parcela da fixação do CO2 – Al Gore, no âmbito do seu filme, recentemente exibido, “An Inconvenient Truth”, refere que uma árvore consome, em média, ao longo da sua vida, uma tonelada de CO2; e só não se entende é a razão de não haver uma política sistemática de plantação de árvores nos espaços urbanos, pois para além do referido é impressionante o conjunto das suas vantagens, tal como fica evidente com a longa citação de um exemplar documento da London Tree Officers Association (LTOA), cujo site se recomenda (http://www.ltoa.org.uk/ ).

Apontam-se, assim, em seguida, as múltiplas vantagens da introdução de árvores na cidade (entre aspas citações da LTOA).

Nas áreas da saúde e do bem-estar: as árvores reduzem o risco de cancro na pele através do sombreamento; “os níveis de stress e de doença são, frequentemente, mais baixos na presença de árvores”; “as árvores contribuem para níveis reduzidos de ruído e de poeiras”; e “à medida que as árvores se desenvolvem e envelhecem elas proporcionam carácter e sentido de lugar e de permanência, enquanto libertam cheiros e aromas que provocam uma resposta emocional positiva”.

Em termos de influência no clima local: “as árvores, para além de absorverem dióxido de carbono (o principal gás gerador do efeito de estufa), e de produzirem oxigénio, filtram, absorvem e reduzem os gases poluidores” (alguns deles produzidos pelos veículos), “incluindo o ozono, dióxido de enxofre, monóxido de carbono e dióxido de nitrogénio”; “suavizam, localmente, picos extremos de temperaturas, refrescando no Verão e aquecendo no Inverno”; “árvores com copas grandes e de grandes folhas acolhem a chuva, amortecendo a progressão da água entre o céu e o solo, ajudando a reduzir o risco de enxurradas”.

Em termos aspectos sociais e ambientais: as árvores constituem “pontos focais comunitários que incluam árvores proporcionam amenidade, valia estética e continuidade histórica”; “as árvores proporcionam … um apreciável acréscimo de amenidades às famílias e às comunidades”; “as árvores marcam a mudança das estações do ano com alterações nas folhas e mudanças na floração” – e é fundamental que o ciclo das estações seja sentido por todos e especialmente pelos urbanitas - ; “As árvores oferecem habitats para um amplo leque de espécies de vida bravia ao longo de todo o ano” – as árvores são, assim, elementos fundamentais no apoio à biodiversidade, com uma utilidade que alia aspectos intrínsecos de manutenção das espécies, com aspectos igualmente importantes de espectáculo biológico oferecido aos urbanitas.

E no que se refere a vantagens económicas: “a presença de árvores pode fazer aumentar o valor de propriedades residenciais e comerciais entre 5% e 18%, enquanto o valor do terreno não infraestruturado, que integre árvores adultas, pode aumentar até cerca de 27%” (valores londrinos); “quando as árvores são plantadas estrategicamente podem reduzir emissões de combustível fóssil, através da redução dos custos de combustível para aquecimento e arrefecimento dos edifícios”; “as árvores proporcionam a criação de emprego nos mais variados ramos de actividade (ex., jardinagem)”; “as árvores proporcionam uma fonte sustentada de “composto”, feito de folhas, assim como biocombustível produzido de aparas de madeira”.

E como importante suplemento a todas estas vantagens regista-se que o verde urbano tem uma importância tão vital como impossível de quantificar, pois, como nos diz Daniel Filipe, se refere a uma fundamental dimensão afectiva: o jardim “é um pequeno mundo a três dimensões sentimentais.” (1)

A pergunta que aqui se deixa é que se está provado o tão grande interesse da arborização urbana não se entende a razão de uma tal medida não avançar e com carácter de urgência. E, provavelmente, a melhor resposta nesta matéria estará na aplicação de espécies arbóreas muito duradouras, pouco exigentes em manutenção e que suportem bem a poluição urbana, aliás, como tem sido feito, nos últimos anos, em grandes cidades nipónicas e norte-americanas.

Na temática de um habitar gerador de satisfação e agrado, o verde urbano pode ser elemento fulcral. Julga-se que isto terá ficado bem justificado com as longas citações da LTOA, e fica, também, evidenciado em frequentes acções de reabilitação urbana e habitacional em que ao nível citadino a acção preponderante corresponde a uma profunda renaturalização da zona intervencionada; e estes casos, que foram frequentes em França, são, frequentemente, designados de acções de “residencialização”, o que faz pensar: Naturalizar para residencializar, não é?

  

Fig. 02

Considerando que os benefícios ambientais do verde urbano ficaram aqui já razoavelmente apontados, circunscrevemo-nos, agora, às matérias da contribuição do verde urbano para as questões de desenho e a propósito lembra-se uma frase de Purini:"O jardim é um tema censurado, e por muitas razões, pela moderna cultura arquitectónica,... lugar do imprevisível, do fantástico, do mistério, o jardim representa a instabilidade e a contínua metamorfose do mundo (2)..."

Uma ideia que é reforçada pela seguinte afirmação de Sidónio Pardal e Costa Lobo:"As alamedas, os passeios arborizados, os jardins e os parques, enquanto espaços arquitectónicos, trazem uma carga simbólica do «natural» para o espaço construído" (3).

E os mesmos autores (4) apontam que, os jardins urbanos começaram por ser espaços de encontro social e elementos representativos da cidade, mas hoje em dia eles respondem também a outras necessidades, entre as quais se destaca o contacto com a natureza, que é proporcionado a citadinos bem enraizados e habitando edifícios em altura (que são reinos de interioridade); e numa tal perspectiva os jardins de hoje têm de suprir ou compensar essa crítica ausência da natureza no meio urbano, chegando-se ao habitar e podendo associar, estrategicamente, valências ambientais específicas de sossego e quietude, pois "as alamedas, os passeios arborizados, os jardins e os parques, enquanto espaços arquitectónicos, trazem uma carga simbólica do «natural» para o espaço construído".(5)

Tudo isto se liga a uma matéria de estruturação urbana de pequena escala, ou de pormenor, que tem muito a ver com os jogos urbanos e de entradas de habitações. Realmente quando nos aproximamos de casa, quando saímos de casa e quando circulamos perto da nossa habitação, estamos naturalmente mais predispostos para apreciar o pormenor e a razão de ser desse pormenor, e nesta perspectiva a razão de ser de muitos elementos do verde urbano ficará bem evidenciada, designadamente, em termos de interesse e diversidade visual, afectividade em relação a elementos naturais, suporte de uma estimulante biodiversidade, relação com o equilíbrio ambiental, acção em termos de filtro da poluição atmosférica e acústica e protagonismo efectivo na suavização e na integração dos edifícios e outros elementos construídos.


Fig. 03

Se aliarmos a todo este potencial, uma outra fundamental perspectiva, que vê o verde urbano a partir do interior de cada habitação, poderemos ainda juntar a esses aspectos, outros ligados à melhoria da privacidade do interior doméstico e ao importante exercício da apropriação e da identidade de cada pátio ou quintal privados, mas também de cada terraço, de cada varanda e, mesmo, naturalmente, de cada vão de janela ou de porta; assim tais apropriações sejam facilitadas pela concepção de Arquitectura.

E nesta estreita, e por vezes íntima, relação entre verde e edifício, não podemos deixar de voltar a sublinhar o papel da natureza na amenização ambiental dos espaços interiores que lhe são contíguos; e ninguém tem dúvida que, por exemplo, a significativa redução de temperatura que caracteriza os espaços sombreados pelas árvores é uma benesse que vai poder ser aproveitada pelos quartos e outros compartimentos contíguos, bastando, quase sempre, um simples abrir de janela.

A ideia que fica, para já, pois a estas matérias voltaremos, noutras perspectivas, nesta série editorial, é que para um agradável jogo urbano do pormenor é fundamental a participação, extremamente diversificada, das relações com a natureza e, especificamente, dos variadíssimos elementos de verde urbano; naturalmente que nestas matérias as árvores são verdadeiros protagonistas, pela sua escala e pelo seu potencial como verdadeiros jardins verticais, mas há uma riquíssima disponibilidade de soluções, opções e elementos capazes de participar, muito activamente, na criação de uma habitação mais agradável e estimulante, porque amenizada pela natureza, habitada pela natureza e por ela humanamente caracterizada.


Fig. 04

E fiquemos com uma imagem escrita: "Além dos parques, são de extrema utilidade as pequenas jardinetas, refúgios de tranquilidade e de convívio espalhados pela cidade; mas melhor ainda é os edifícios no meio do verde (6)..."; e assim rematamos este tema com uma estratégica nostalgia de um verdadeiro racionalismo, aliás numa perspectiva em parte recuperada com as actuais preocupações de sustentabilidade ambiental.

Notas:

(1) Daniel Filipe, “Discurso sobre a cidade”, Lisboa, Editorial Presença, Colecção Forma n.º 8, 1977, p. 77 (1ªed. 1956).
(2) Franco Purini, "La Arquitectura Didactica", p. 231.
(3) Sidónio Pardal; P. Correia; M. Costa Lobo, "Normas Urbanísticas, Vol. II", p. 113.
(4) Sidónio Pardal; P. Correia; M. Costa Lobo, "Normas Urbanísticas, Vol. II", p. 117.
(5) Sidónio Pardal; P. Correia; M. Costa Lobo, "Normas Urbanísticas, Vol. II", p. 113.
(6) Francisco Keil Amaral, "Lisboa uma Cidade em Transformação", p. 57.


Notas editoriais:

 (i) A edição dos artigos no âmbito do blogger exige um conjunto de procedimentos que tornam difícil a revisão final editorial designadamente em termos de marcações a bold/negrito e em itálico; pelo que eventuais imperfeições editoriais deste tipo são, por regra, da responsabilidade da edição do Infohabitar, pois, designadamente, no caso de artigos longos uma edição mais perfeita exigiria um esforço editorial difícil de garantir considerando o ritmo semanal de edição do Infohabitar.

 (ii) Por razões idênticas às que acabaram de ser referidas certas simbologias e certos pormenores editoriais têm de ser simplificados e/ou passados a texto corrido para edição no blogger.

 (iii) Embora a edição dos artigos editados no Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico, as opiniões expressas nos artigos apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores.



Infohabitar a Revista do Grupo Habitar

Infohabitar, Ano VIII, n.º 407

Editor: António Baptista Coelho

Edição de José Baptista Coelho

Lisboa, Encarnação - Olivais Norte

terça-feira, setembro 04, 2012

406 - Viver intensamente, também o exterior (artigo); e notícias do 2.º CIHEL - Infohabitar 406


Infohabitar N.º 406

Notícias do 2.º Congresso Internacional da Habitação no Espaço Lusófono – 2.º CIHEL.

As duas Chamadas de Comunicações decorreram com grande êxito até 1 julho de 2012, tendo sido submetidos um significativo total de 225 resumos de comunicações (182 na 1.ª Chamada e 43 na 2.ª).
A entrega de propostas de resumos/comunicações está, portanto, encerrada, aproximando-se a data de envio das comunicações completas, EXCLUSIVAMENTE, para o seguinte endereço eletrónico, Email: comunicacoes2cihel@lnec.pt

. Comunicação da análise/aceitação das propostas da 2.ª Chamada a partir de 14 de setembro de 2012 - será tentada a possível antecipação a esta data.
. Abertura das inscrições: data a definir em breve.
. Envio do texto das comunicações, resumo alargado e dados complementares até 22 de outubro de 2012.
. Selecção final e eventual solicitação de revisões das comunicações até 30 novembro de 2012.
. Entrega da revisão final (quando aplicável): até 15 dezembro de 2012.

Na presente edição do Infohabitar continua-se a publicação corrente da série habitar e viver melhor.

ARTIGO DA SEMANA - ARTIGO DA SEMANA - ARTIGO DA SEMANA

VIVER INTENSAMENTE, TAMBÉM O EXTERIOR
Artigo XVII, da série “habitar e viver melhor”

António Baptista Coelho

Segundo Ken Kern, "o processo de planificação da casa e do lugar deve ser conjunto, havendo a mesma consideração no desenho de cada metro quadrado de espaço interior e exterior", e o autor sintetiza esta ideia de uma forma magistral quando nos diz que"ajuda pensar na habitação e no local como um grupo coordenado de compartimentos interiores e exteriores" (1).

E é bem nesta perspectiva que Gordon Cullen lança a muito estimulante noção de "paisagem interior e compartimento exterior" (2), e parece estar aqui bem lançada a ideia de uma caracterização residencial desejavelmente interior e exterior; de certa forma uma ideia de um pequeno mundo residencial de cada um em sua casa e de pequenos mundos residenciais comuns.

É interessante pensar nesta matéria do viver intensamente, também o exterior, como uma extensão, natural, da ideia que, há alguns anos, incidiu sobre o exterior urbano, recomendando que ele fosse pormenorizado e equipado com todo o cuidado; uma ideia que esteve frequentemente associada aos muitos casos de inacabamento crítico de conjuntos urbanos e habitacionais de interesse social que aconteceram (e ainda acontecem) em Portugal, onde apenas se proporcionava “alojamento” em edifícios, esquecendo-se a componente verdadeiramente urbana do habitar, mas uma ideia que, na prática e realmente, deveria marcar todas as intervenções urbanas, associando-lhes uma componente de projecto “do negativo”, ou “do espaço entre” edifícios, que tem de ter a sua aprendizagem específica e fundamental na oferta urgente de espaços urbanos agradáveis para serem vividos – numa referência directa ao título e tema de um excelente livro que, sobre esta matéria, foi realizado por Michel de Sablet e que merece ser relido e redescoberto (3).



Fig.01: ruas de Alvalade, Lisboa; urbanismo de Faria da Costa.

E, julga-se a propósito, temos de considerar que mesmo esse objectivo “central/estratégico”de vivência plena e intensa do exterior está, entre nós, em Portugal, por regra, longe de ser atingido, quer por haver ainda muitos casos de conjuntos urbanos em que o espaço público tem o seu acabamento ou “arranjo” sistematicamente adiado, pelas mais diversas “razões”, quer por haver grandes confusões, para não dizer até ignorâncias, sobre as técnicas básicas e as soluções funcionais e formais realmente adequadas para um exterior público que tem de ser, obrigatoriamente, muito mais do que um elemento de enquadramento visual dos respectivos edifícios e/ou um espaço fundamentalmente rodoviário; e que só o sendo poderá transformar-se num exterior com claro potencial de uso.

E não é possível deixar aqui de apontar que provavelmente o principal fio condutor desse repensar urgente da importância e do papel do espaço urbano público e de uso público é a sua essencial continuidade física ao serviço dos peões, intimamente ligada à sua agradabilidade e vitalidade no uso e à sua atractividade e “imagibilidade”.

Considerando-se, assim, que o caminho não está percorrido, mas até já está traçado, é importante avançar aqui, um pouco mais, nesta matéria do viver intensamente, também o exterior, e recordemos que imediatamente antes desta matéria – em outros artigos desta série - pensámos, um pouco, nos jogos das entradas e no jogo urbano, assim como num certo jogo, no sentido lúdico e de satisfação directa, que o verde urbano traz, sem dúvida, a estes jogos, seja por mérito próprio, seja por um mérito de grande capacidade associativa com os outros elementos do jogo.



Fig.02: conjunto de realojamento na Travessa do Sargento Abílio, CM de Lisboa; projecto de Paulo Tormenta Pinto.

E pensando em tudo isto, e lembrando pequenos pedaços de cidade habitada que nos parecem felizes, pois são sítios onde o passeante errante se imagina a morar com agrado, a ideia principal que se destaca é que estamos a imaginar habitar aqueles espaços públicos específicos; e é assim que, mais do que “entrar” nas habitações que os rodeiam, imaginamo-nos a circular e a viver aqueles passeios, aquelas pracetas, aquelas esquinas e passagens e, finalmente, aquelas entradas e aquelas janelas, sempre numa relação forte e directa com aqueles espaços públicos onde existem, ainda que deficientemente, tais tipos de relações.

E esta reflexão só poderá parecer um lugar-comum, no sentido desta procura de se identificarem as principais matérias constituintes de um habitar mais adequado ou mesmo mais feliz, ou a quem não tenha, infelizmente, a sensibilidade para se imaginar viver ali, naquele agradável pedaço de bairro, naquela sossegada margem de cidade, naquela ilha de alguma paz, “perdida” no bulício urbano; ou então a quem não queira fazer um exercício simples que é imaginar a diferença que separa uma dessas situações, que nos atraem no sentido de nos levar, naturalmente, a imaginarmos poder ali viver, de tantas outras situações cujos cenários urbanos nos afastam e mesmo repugnam, ou pelos quais não sentimos qualquer tipo de simpatia ou empatia.



Fig. 03: Residencial Alexandre Mackenzie, para realojamento de parte da favela Nova Jaguaré, Prefeitura da Cidade de São Paulo / Secretaria Municipal de Habitação / Superintendência de Habitação Popular; projecto de Boldarini Arquitetura e Urbanismo - Marcos Boldarini e Sergio Faraulo (autores); paisagismo de Marcos Boldarini, Melissa Matsunaga e Simone Ikeda (autores).

E não tenhamos dúvida de que o que estamos, realmente, a apreciar e a visualizar é a perspectiva de como poderíamos viver aqueles espaços públicos, nas suas características específicas e nos seus relacionamentos, sempre “duplos”, com os caminhos ligados aos acessos às habitações e com aqueles que privilegiam as relações com a cidade mais central/viva.

Sendo assim, ficará, portanto, em evidência a importância que tem, para o nosso objectivo de sermos mais felizes com determinadas condições habitacionais, a possibilidade que podemos ter, ou que pensamos poder ter, de viver intensa e agradavelmente cada conjunto de espaços exteriores públicos que serve e integra cada agregado de habitações; e pensando assim somos quase levados a inverter prioridades em termos do investimento no habitar, o que evidentemente não é aconselhável; mas esta é, muito provavelmente, a razão que baseia o enorme impacto positivo que sempre têm acções de requalificação exterior, mesmo quando a Arquitectura da edificação tem claro sinal negativo, seja como pré-existência, seja como realidade não intervencionada.

Para concluir esta matéria da importância de se viver intensamente o exterior urbano, importa sublinhar dois aspectos: o primeiro é que este objectivo tem de incidir sobre toda a estratégia de melhor fazer o habitar e a cidade, não sendo assunto que se possa tratar num dado ítem conceptual mais específico ou confinado, pois liga-se a todo o processo de concepção urbana; e o segundo decorre disto mesmo e tem a ver com a urgente necessidade de uma renovada produção tipológica (i) do edificado (escala micro-urbana) e (ii) do espaço urbano a uma escala macro, que tem, obrigatoriamente, de dar uma nova e muito afirmada importância ao como é possível e extremamente oportuno e desejável estimular uma vida mais intensa do exterior urbano, ou dos espaços públicos e de uso público das nossas cidades e povoações – uma possibilidade que não convive com alianças fingidas entre velhas e negativas tipologias edificadas e reconversões “cegas” de espaços públicos, exigindo-se projectos realmente integrados e tipologicamente reinterpretados.

E lembrando-nos que vivemos o século das cidades e das mega-cidades, assim como o século das cidades informais, potencialmente tão marcadas por este tipo de intervenções, os referidos objectivos de vivência intensa e agradável do espaço urbano, recolhem, ainda, uma oportunidade e urgência muito acrescidas e que merecem posterior desenvolvimento.

Notas:
(1) Ken Kern, "La Casa Autoconstruida", p. 23.
(2) Gordon Cullen, "Paisagem Urbana", p. 30.
(3) Michel de Sablet, “Des espaces urbains agréables à vivre – Places, Rues, Squares et Jardins”, Editions du Moniteur, Paris, 1988.

Notas editoriais:
(i) A edição dos artigos no âmbito do blogger exige um conjunto de procedimentos que tornam difícil a revisão final editorial designadamente em termos de marcações a bold/negrito e em itálico; pelo que eventuais imperfeições editoriais deste tipo são, por regra, da responsabilidade da edição do Infohabitar, pois, designadamente, no caso de artigos longos uma edição mais perfeita exigiria um esforço editorial difícil de garantir considerando o ritmo semanal de edição do Infohabitar.
(ii) Por razões idênticas às que acabaram de ser referidas certas simbologias e certos pormenores editoriais têm de ser simplificados e/ou passados a texto corrido para edição no blogger.
(iii) Embora a edição dos artigos editados no Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico, as opiniões expressas nos artigos apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores.



Infohabitar a Revista do Grupo Habitar
Infohabitar, Ano VIII, n.º 406
Editor: António Baptista Coelho
Edição de José Baptista Coelho
Lisboa, Encarnação - Olivais Norte