terça-feira, setembro 24, 2019

703 - Adequação, diversidade e inovação nas soluções de habitar; da casa à cidade – Infohabitar 703

Infohabitar, Ano XV, n.º 703     

Notas prévias editoriais importantes:

(i) Com a presente edição inicia-se uma temática editorial nova/renovada, que é especificamente dirigida para a reflexão sobre novas formas de habitar, com destaque para soluções habitacionais e urbanas intergeracionais e participadas.

(ii) Alguns problemas críticos de visualização das imagens de muitos dos artigos da Infohabitar (mais antigos/primeiros anos editoriais), que nos são alheios, têm vindo a ser, sistematicamente, resolvidos.

 

Adequação, diversidade e inovação nas soluções de habitar; da casa à cidade – Infohabitar 703

por António Baptista Coelho (texto e imagens)


“A esta cidade sempre chegarás.”

Em “A cidade”, de Konstandinos Kavafis

Há que considerar que os estudos sobre áreas e outros aspectos mais objectivos estão hoje estabilizados, enquanto o caminho da resolução de grandes problemas que se mantêm, por exemplo os da habitação para minorias e do contínuo abandono do uso do espaço público, tem de passar também por outros objectivos qualitativos menos mensuráveis, mas igualmente vitais.

“Há certas qualidades que podem ser consideradas essenciais em todos os géneros de casas: sossego, encantamento, simplicidade, largueza de vistas, vivacidade e sobriedade, sentido de protecção e abrigo, expressiva economia na manutenção, harmonia com a envolvente natural e a vizinhança, ausência de lugares escuros e ao abandono, conforto e uniformidade de temperatura, e a possibilidade de cada casa poder ser o adequado quadro doméstico dos seus habitantes. Ricos e pobres, uns e outros, apreciarão estas qualidades” (Voysey C. F. A “The English Home” 1911). 


Fig. 01: no conjunto do Telheiro, uma promoção de Habitação a Custos Controlados da C.M. de Matosinhos, um projecto coordenado pelo Arq. Manuel Correia Fernandes (2002), desenvolveu-se uma tipologia unifamiliar em bandas contínuas, com pátios/quintais privados posteriores, uma tipologia que associa muito do carácter do unifamiliar a uma fortíssima presença urbana unitária e regeneradora.

ENQUADRAMENTO SOBRE O HABITAR

Este texto sobre o potencial de inovação e de adequação no habitar foi iniciado no já longínquo mês de Março de 1999, a propósito de um debate/seminário de reflexão já então realizado no âmbito do movimento cooperativo e designadamente pela Nova Habitação Cooperativa (NHC).
O referido texto foi então e em parte “recuperado”, passados cerca de oito anos; fizeram-se alguns comentários e algumas reflexões, juntaram-se muitos outros aspectos, mas a matéria antes desenvolvida mantém toda a actualidade.
Um tal potencial de inovação e adequação habitacional deve privilegiar:
· casas e edifícios adaptáveis a famílias muito diversas e a indivíduos com múltiplos gostos próprios;
· e vizinhanças residenciais exteriores que estimulem os valores do convívio, hoje tão esquecidos, aliando-os, designadamente, a objectivos de recreio e desporto.
Nada disto é impossível ou caro, é sim exigente em termos de projecto – incluindo-se o respectivo enquadramento e diálogo técnico por parte do respectivo promotor.

 
Fig. 02: no conjunto de Habitação a Custo Controlado da Gala, promovido por uma empresa com o apoio da C. M da Figueira da Foz com projecto coordenado pelos Arquitectos Duarte Nuno Simões, Nuno Simões e Joana Barbosa (2005), concretizou-se uma tipologia multifamiliar com acessos directos ao exterior (directamente ao espaço exterior ajardinado ou indirectamente através de galeria/varanda), cuja caracterização tem muito a ver com a imagem e a funcionalidade de uma agregação de unifamiliares.

ADEQUAÇÃO, DIVERSIDADE E INOVAÇÃO NO MEIO URBANO

Continua a notar-se nos espaços públicos uma crítica dificuldade ao nível da sua essencial qualificação, desde o projecto urbano e paisagístico a uma adequada execução e equipamento, visando a sua durabilidade e o estímulo a uma ampla diversidade de actividades exteriores.
O que importa salientar é que, hoje em dia, não há um conhecimento verdadeiramente adequado e muito menos sedimentado sobre como fazer, por exemplo, uma praceta ou rua residencial, verdadeiramente amigável e apropriável. Os conhecimentos estão, a este nível, mais dirigidos, designadamente, para os aspectos funcionais do tráfego de veículos; e estamos agora a ultrapassar esta estrita e fictícia funcionalidade numa perspectiva de simples defesa da segurança pedonal, falta-nos todo um caminho de humanização de conteúdos funcionais e de imagens; e é neste caminho que se encontrarão muitas das virtualidades em termos de novas ou renovadas soluções tipológicas.
Em todas estas matérias é fundamental tornar o exterior residencial útil, portanto equipado, apelativo, portanto adequadamente projectado e executado e, também, naturalmente convivial, porque afinal o convívio na vizinhança é motivo e consequência de muitas actividades exteriores, desde o recreio infantil, ao desporto e ao simples, mas fundamental, lazer.
Um último aspecto, a este nível, refere-se à exigência de uma perfeita e contínua manutenção do espaço público, condição extremamente favorecida pelas referidas condições de uso intenso e de sentido efectivo de vizinhança.
Solidificando tais conclusões esquemáticas há que considerar que, muitas vezes, os terrenos disponíveis já têm pseudo-projectos definidos e que, frequentemente, os sítios possíveis não são os melhores (ex. vizinhanças complexas, terrenos pouco regulares). No entanto, em muitos casos o refazer qualificado de um projecto, quando tal é possível e quando essa revisão abrange o espaço público de vizinhança, é uma medida essencial para a qualidade final.
Há aqui, portanto, uma nova chamada de atenção para a necessidade de se poder intervir à escala urbana da vizinhança, não apenas através de edifícios, mais ou menos isolados, mas também através de um afirmado espaço público de lazer, recreio e convívio que tem de ligar os edifícios; múltiplos exemplos de excelente qualidade residencial cooperativa devem-se a esta aliança entre um excelente projecto e uma excelente vizinhança de proximidade.
E há aspectos muito interessantes de conjugação entre exigências económicas de rentabilização de estaleiro e obra (com grupos entre 100 e 150 fogos) e de números preferenciais de vizinhos considerando-se o estímulo natural do convívio, com grupos preferenciais entre cerca de 60 a 120 fogos, servidos por agradáveis e úteis espaços públicos residenciais numa aposta na pequena dimensão, o conhecido “small is beautiful”; faz-se notar que cerca de 60 fogos é um número que proporciona boas condições para a criação de pequenos “grupos de recreio” infantil com idades idênticas.
O “small is beautiful” liga-se obrigatoriamente a uma cuidadosa pormenorização das vizinhanças de proximidade (espaços comuns e espaços públicos), porque os espaços exteriores de vizinhança são espaços muito próximos do nosso olhar directo e do olhar a partir das habitações e estamos a abordar escalas comuns e públicas com exigências fortíssimas, entre as quais se destaca o privilegiar da global funcionalidade e da convivialidade natural, a introdução do “verde urbano” e a clara definição de zonas de influência/gestão.
Importa privilegiar edifícios geradores de ruas equipadas enquanto no interior dos quarteirões permitem humanizados espaços públicos de convívio e recreio, numa eficaz aliança com os sempre estimulantes pátios privados (servindo os pisos mais baixos, e não apenas o R/C), proporcionando ainda extensões térreas privativas bem enquadradas (ex. para espaços conviviais dos condomínios como salas de jogos), e proporcionando, ainda, eventualmente, o aproveitamento inferior como garagem comum. Este tipo de espaços é também ideal para se desenvolver um arranjo "natural" dos espaços exteriores: com menos asfalto e zonas impermeáveis, com grande variedade de plantas povoando fachadas varandas e terraços e criando um microclima muito favorável em zonas urbanas.
Deixa-se à reflexão o interesse de se privilegiarem, sempre que possível, espaços exteriores de vizinhança ligados aos edifícios residenciais, assim como a sua caracterização considerada mais desejável em termos de: acesso público, medianamente condicionado ou totalmente condicionado; tipo de arranjo global, que pode ser mais ajardinado ou menos ajardinado; tipo de conteúdos em termos de actividades recreativas que podem ser mais dirigidas para crianças, para jovens e adultos e para seniores e que podem ou não privilegiar elementos de apoio a actividades desportivas; e tipos de conteúdos em termos de equipamentos de vizinhança de apoio à vida urbana (nos seus ritmos diários e ocasionais). 


Fig. 03: no conjunto de habitação a Custos Controlados do Monte Espinho, promovido pela C. M. de Matosinhos, com projecto coordenado pela Arq.ª Paula Petiz (2005), criaram-se pequenos multifamiliares com quatro fogos - uma tipologia intermediária - em que todos eles têm acesso directo ao exterior, mas os fogos térreos possuem um pequeno quintal ajardinável, sendo os fogos superiores em duplex; desta forma e para além da adequação ao vários usos e desejos de habitar. cria-se uma imagem urbana intensa e contínua não se abdicando da caracterização unifamiliar.

TIPOS DE EDIFÍCIOS E DE CONJUNTOS DE EDIFÍCIOS

Vamos então a uma viagem muito rápida por um conjunto de aspectos de adequação que podem ser proporcionados por diversos tipos de edifícios e de conjuntos de edifícios, e para sermos claros vamos tratar, primeiro, de algumas escolhas de ordem geral (por exemplo entre tipos distintos de habitação) e, depois, de alguns aspectos de pormenor que, no entanto, podem fazer grande diferença no resultado final.
Opções gerais
(atente-se que muitas opções podem ser determinadas por razões de custos, por regulamentação local ou por condições locais específicas)

1 - Unifamiliares isolados (moradia isolada):

em lote espaçoso; ou em lote funcional (lote constituído por um conjunto bem definido de diversas áreas funcionais).

2 - Unifamiliar geminado

(consegue-se frequentemente a imagem de uma grande moradia): em lote espaçoso; ou em lote funcional.

3 - Unifamiliares em bandas curtas

(consegue-se, por vezes, a imagem de grande moradia); com, ou sem, pátios frontais; e com, ou sem, quintais posteriores curtos ou alongados.


4 - Unifamiliares em bandas longas;

 com, ou sem, pátios frontais; e com, ou sem, quintais posteriores curtos ou alongados.

5 - Unifamiliares em bandas longas e costas com costas;

 com, ou sem, pátios frontais; e com, ou sem, quintais posteriores curtos ou pátios posteriores.

6 - Tipologias de transição entre a moradia e o multifamiliar;

 proporcionam, por exemplo, desde pequenas jardinetas representativas, a pátios murados e terraços de lazer nos pisos mais elevados. É uma tipologia extremamente versátil podendo variar entre as seguintes imagens-limite:
. pequeníssimo “prédio” esquerdo/direito;
. grande “moradia” que agrega diversas habitações cada uma com um acesso próprio e bem identificado e cada uma com características espaciais e funcionais próprias.
As tipologias residenciais de transição uni/multifamiliar (ex., bi, tri e tetrafamiliares), quando bem projectadas:
(i) podem aliar muitas das vantagens de apropriação e de relativa “independência” dos unifamiliares;
(ii) podem densificar estrategicamente o espaço urbano, animando-o localmente e proporcionando intervenções economicamente equilibradas (desde que o projecto seja especialmente bem desenvolvido);
(iii) proporcionam uma enorme variedade de soluções, o que as torna muito adequadas para as cada vez mais necessárias operções de preenchimento urbano – um aspecto que, mais uma vez, põe em relevo o apuro de projecto que é aqui necessário;
(iv) e podem aliar importantes potencialidades conviviais (no espaço público assim recriado) e funcionais (disponibilizar necessidades locais em equipamento) à manutenção do carácter unifamiliar.
Os pequenos multifamiliares ainda proporcionam a sua associação em bandas urbanas de modo a que um número significativo dos respectivo fogos possam ter quintais, pátios e grandes terraços privativos.

7 - Multifamiliares com acesso por patim tipo esquerdo/direito sem elevador (até 3 pisos).

8 - Multifamiliares tipo esquerdo/direito com elevador.

10 - Multifamiliares com ou sem elevador (até 3 pisos) e com mais de dois fogos por nível;

 acesso por patim amplo ou por galeria: interior curta ou longa; exterior curta ou longa.

11 - Multifamiliares com elevador e com mais de dois fogos por nível;

 acesso por patim amplo ou por galeria galeria: interior curta ou longa; exterior curta ou longa.

12 - Multifamiliares caracterizados por soluções específicas de espaços comuns,

 por exemplo, dos tipos: jardim envolvente; grande átrio interior ou pátio exterior; galeria larga como se fosse rua elevada; ...

13 - Edifícios de habitação com um perfil específico e designadamente para séniores;

 multifamiliar relativamente corrente, mas com habitações especialmente desenhadas para pessoas sós ou casais de “meia idade” com significativas exigências de áreas e equipamentos.

14 - Edifício de habitação colectiva ou habitação/hotel

 que disponibilize um determinado menu de serviços e que integre fogos tendencialmente pequenos.

15 - Solução idêntica à anterior mas privilegiando, especificamente, fogos pequenos (ex., T0 e T1) para pessoas sós e casais,

 destinados ou não a grupos etários específicos; sugere-se uma mistura etária mas estruturada por regras de conduta exigentes em termos de usos e ruídos.

16 - Residência assistida em termos de cuidados sociais e/ou de saúde,

 que poderá chegar a ter opções específicas de verdadeiro hospital de rectaguarda.

17 - Multifamiliares caracterizados por soluções específicas de espaços privados exteriores,

 por exemplo, dos tipos: grandes terraços; pequenos jardins elevados (“suspensos”).
18 - ... e, naturalmente, é bem possível alargar e aprofundar e diversificar ainda mais esta listagem, embora pareça ser útil a proposta de quadros tipológicos como este aqui proposto ...
Desde já se refere que muito mais do que optar, caso a caso, por esta ou aquela solução geral, importa produzir soluções “mistas” que sirvam bem seja a diversidade da procura e as necessidades do mercado, seja as características e as exigências e carências de cada local e tendo em conta os problemas potenciais que se podem identificar em cada solução e em cada mistura de soluções – e há já experimentações cooperativas nestas áreas que é possível ter em conta.
Na criação de soluções “mistas” será sempre mais crítica a associação de residências assistidas com cuidados de saúde, seja pelos custos associados, seja pela sensível relação que este tipo de assistência irá ter com os restantes núcleos habitacionais não assisitidos e que estejam próximos. Nesta perspectiva uma resposta poderá ser uma associação mais autonomizada e urbana entre diversos edifícios com distintas valências.
Altura do edifício (alguns elementos de reflexão, numa aliança entre uso e custo):
. 1 piso, custo elevado
. de 2 até 4 pisos o custo diminui, atingindo um mínimo absoluto para 4 pisos; as crianças dos três primeiros pisos de edifícios altos são as que vão muito mais frequentemente brincar à rua.
. de 4 para 5 pisos o custo cresce muito (instalação de elevador);
. Acima de seis pisos as crianças são afectadas por perderem a percepção da proximidade do solo; nestes casos a varanda é um elemento que ganha importância como espaço de contacto com o exterior.
. de 5 até 8 pisos o custo diminui, novamente, atingindo um novo valor favorável para 8 pisos.
. de 8 para 9 pisos o custo cresce muito (instalação de equipamentos específicos, nomeadamente, para segurança contra risco de incêndio); é de notar que em Portugal este patamar será porventura um pouco mais elevado, pensando-se na altura máxima de 28.00m para uso de escadas de bombeiros - indicação esta que carece de confirmação técnica;
. de 9 até 12 pisos o custo diminui ligeiramente, atingindo um novo valor relativamente favorável para 12 pisos;
a partir de 12 pisos o custo "dispara" rapidamente.

Opções de pormenor :
(algumas notas muito informais)
Unifamiliares ou pequenos multifamiliares em conjugações densas e orgânicas têm imagens ricas, têm vantagens da agregação numa comunidade alargada e convivial e mantêm todas as principais características do unifamiliar, designadamente no que se refere ao acesso independente ao espaço público, à disponibilização de espaços exteriores privativos e à eventual possibilidade de garagens de estacionamento em boxes privativas – aspectos muito valorizados.
Em qualquer opção é possível e desejável privilegiar a melhoria de todas as condições onde seja possível actuar ao nível dos espaços comuns dos multifamiliares: luz natural; ventilação; marcação e apropriação de zonas e paredes específicas; criação de alguns pequenos recantos funcionais; ajardinamento. Sublinha-se que todas estas condições são possíveis mesmo num edifício maximizado em termos de economia.
As opções por tipos de acesso (escadas, galerias, elevadores) têm muito a ver com a qualidade visual e de uso que pode caracterizar esses acessos (ex., há degraus de escada que são muito confortáveis para subir, há galerias exteriores que são verdeiras varandas, há elevadores e patins de elevadores muito atraentes).
Há grande potencialidade – em termos de atractividade de vista exterior do edifício e de usos proporcionados – na aplicação de diversificadas soluções de espaços exteriores e semi-exteriores privativos ou comuns: varandas fundas ou só de assomar, terraços murados ou abertos, pátios murados ou abertos, jardinetas e pequenos jardins. E importa referir que muitas destas soluções são aplicáveis em edifícios multifamiliares.
Bandas densas de pequenos edifícios criando ruas, pracetas e quarteirões, fazem cidade animada, por um lado, enquanto no interior dos quarteirões é possível criar todo um mundo residencial intimista com carácter comum e/ou com carácter privado, em cada fogo.
Em qualquer escolha tipológica é sempre possível uma opção “suplementar” e de certa forma “paralela” por uma solução mais naturalizada, com mais verde urbano, ou mais “mineral”. 


Fig. 04: no exemplo que aqui se ilustra, um pequeno conjunto/quarteirão habitacional em Malmö, desenvolvido no âmbito da exposição habitacional e urbana Bo01, o quintal/jardim comum, na zona posterior do edifício multifamiliar, serve também uma pequena banda de unifamiliares; e há aqui todo um leque de possibilidades de associação seja entre tipologias bem distintas, como é o caso, seja entre formas de habitar e apoios e complementos habitacionais (ex., os mais diversos tipso de serviços comuns e de complmenetos habitacionais, como por exempo quartos para uma utilização eventual). É no entanto fundamental que a eventual oferta de serviços comuns diversificados não corresponda a uma efectiva menorização dos espaços domésticos; e são possíveis excelentes equilíbrios.

TIPOS DE ESPAÇOS E DE SERVIÇOS COMUNS HABITACIONAIS

Passamos, agora, às soluções práticas de auto-organização de habitantes oferecendo todo um conjunto de serviços e actividades que são difíceis, caras ou mesmo quase impossíveis de proporcionar exclusivamente a cada fogo.

A dimensão, o carácter e o equipamento dos espaços comuns 

variará consoante os objectivos de cada solução. Uma variação que, a título de exemplos relativamente extremo, poderá referir-se:
(i) seja a uma sala ou conjunto de zonas de estar/convívio/jogos do condomínio, e que poderá, eventualmente, até assumir um carácter de "casa comum" multifuncional. (ex. sala de convívio equipada, por ex. com bar/TV panorâmica/jogos de mesa/bilhar/ténis de mesa, recintos de desporto, jardim, etc.), mas sempre numa total distinção relativamente ao espaço dos fogos, que poderão ter uma distribuição e acesso “clássicos”.
(ii) seja a uma solução do tipo átrio comum muito amplo para o qual abrem todos os níveis dos respectivos fogos, criando-se um carácter de grande unidade; uma solução que poderá ter virtualidades ao nível dos aspectos de conforto ambiental.

Em termos de serviços comuns

poderão ser centralizados certos serviços de apoio prestados por pessoal próprio (exº recepção, segurança geral e controlo de acessos, manutenção corrente), bem como os contactos actualizados com variados e eficazes serviços exteriores (exº manutenção geral e especializada, emergência, apoio doméstico). Sobre estes aspectos será talvez preferível prever, sempre, apenas aquilo que possa ter viabilidade real, reforçando a imagem e o carácter funcional do agrupamento "em torno" dessas actividades e serviços; poderá ser, por exemplo, apenas um hall comum com serviço de portaria e um jardim bem arranjado.
Considerando que estas soluções têm, frequentemente,

objectivos de estímulo à convivialidade

e que esta matéria é de grande sensibilidade, desenvolvem-se algumas reflexões complementares:
(i) Soluções visando objectivamente o incentivo ao convívio em espaços públicos ou comuns poderão iniciar-se nos grupos de recreio de crianças e jovens em exteriores com condições motivadoras de variadas actividades, desde o recreio livre ao recreio estimulado por equipamentos.
(ii) Nos níveis etários superiores o convívio poderá desenvolver-se: (i) em consequência de um acompanhamento de crianças pequenas ao parque infantil (ii) a partir de actividades desportivas comuns, e (iii), naturalmente, com a apetência para a continuidade de hábitos diários de pequenos períodos de estadia e permanência em espaços bem situados relativamente às principais zonas de acessibilidade.
(iii) A ideia-base éque não se deverá tentar suscitar directamente o convívio como objectivo específico, mas sim favorecê-lo no desenrolar de um grande leque de actividades, estas sim objectivamente estimuladas/apoiadas.

Relativamente às 

soluções de habitação realmente colectiva

considera-se que elas deverão disponibilizar serviços e espaços comuns suplementares ou complementares das actividades em cada habitação, mas sempre como opção livre e muito dirigida para serviços de apoio eventuais, caracterizando-se os espaços comuns, fundamentalmente, por um papel representativo e convivial, ou contando-se com serviços de apoio completos e eventualmente opcionais e abertos a não residentes. Uma pequena nota sobre estas últimas soluções colectivas; sublinha que que elas terão naturalmente tanto mais sentido, quanto mais integradas nas restantes soluções.

Fig. 05: ainda no âmbito da referida exposição em Malmö, em 2001, apresenta-se uma imagem relativa ao interior profusamente ajardinado de um peqeno quarteirão residencial cujo projecto teve uma forte contribuição do Arq. Charles Moore e e em que há um evidente reforço da presença de cada fogo no "colectivo" edificado, mas propondo-se, simultaneamente, uma solução geral caracterizada pela possibilidade de intensas vistas mútuas entre fogos e entre estes e o jardim comum.

 

ELEMENTOS DE INOVAÇÃO NO MULTIFAMILIAR

A inovação no edifício multifamiliar liga-se, frequentemente, à aliança entre as vantagens dos pequenos edifícios residenciais, isto é, entradas separadas e privadas, organizações domésticas variadas, soluções de fachada diversificadas e áreas exteriores de lazer muito ligadas ao edifício, e as vantagens do multifamiliar, como são o carácter urbano, as áreas comuns, a economia das soluções e a possibilidade de integração com actividades não habitacionais vitalizadoras e geradoras de convívio.
É possível pensar em muitos elementos funcionais, tais como, por exemplo, pequeno ginásio, terraço comum, quartos de reserva, sítios de jogo infantil, festas e reuniões privadas, local de estar agradável e bem equipado etc.; mas há que basear tais ideias numa adequada localização centralizada e bem acessível destes espaços, no seu apropriado equipamento, na sua total compatibilização com a habitação e na sua adequada programação, organização e gestão diária; numa perspectiva que deve prever a possibilidade de um mau funcionamento da comunidade ou grupo de condóminos.

Anotam-se, em seguida, informalmente, alguns tópicos de

inovação no multifamiliar:

. Desenvolver a adaptabilidade doméstica passiva, designadamente, através de: espaços multifuncionais; e de contiguidades geradoras de fusões e subdivisões entre compartimentos.
. Desenvolver a adaptabilidade doméstica activa, designadamente, através de: diversidade de oferta de soluções de fogos nas mesmas localizações; oferta de fogos “feitos à medida”; oferta de soluções com serviços (água, esgotos, gás) fixos e compartimentação flexível.
. Variar alturas e profundidades conjugando fogos grandes e pequenos (simplex e duplex), áreas comuns variadas, espaços profissionais e comerciais e variados tipos de acessos comuns e eventualmente privativos.
. Desenvolver melhorias ambientais, funcionais e de estadia muito significativas em escadas, patins e galerias de acesso, tornando-os propícios ao convívio natural.
. Privilegiar sotãos e mansardas habitacionais, diversificando-se os espaços domésticos (ex. fogos duplex, zonas com pés direitos altos, estúdios) e assegurando-se a constante manutenção das coberturas.
. Disponibilizar locais para uso profissional fora dos fogos, assumindo neste caso uma perspectiva de adequada funcionalidade em termos de espaço de escritório com usos multifuncionais.
. Disponibilizar locais para uso profissional dentro dos fogos,caracterizando-os com um mínimo de funcionalidade e autonomia funcional – aspecto este que deverá ter reflexos nos espaços comuns.
. Desenvolver soluções edificadas específicas caracterizadas por combinações de fogos, espaços de trabalho e espaços para actividades de lazer.
. Desenvolver combinações variadas entre: escadas interiores, escadas exteriores, elevadores, galerias exteriores, galerias quase ruas e varandas de acesso.
. Privilegiar a variedade de espaços exteriores privativos (desde a varanda de assomar ao grande terraço ajardinado e ao pátio ou grande quintal térreo).
. Assumir cada nível e mesmo cada fogo com um equilibrado, mas afirmado, potencial de diversidade espacial e funcional, mas numa perspectiva que respeite a economia de custos.



Fig. 06: o multifamiliar é um campo muito amplo para uma inovação fundamentada e que, de facto, proporcione um grande leque de opções de "como viver", de "como habitar"; e neste conjunto em Hamburgo projectados pelos Arq.os Czerner und Czerner (2001), de certa forma avançou-se na geminação de dois edifícios através da cobertura e extenso equipamento residencial (ex., mesas e cadeiras, e até sofás) do respectivo espaço intermediário.

 

UNIFAMILIARES INOVADORES

A inovação no unifamiliar liga-se essencialmente a quatro aspectos organizativos gerais:
(i) A forma de agregação dos fogos; pois afinal o limite será a imaginação do projectista e a fronteira de custos.
(ii) Os serviços e equipamentos comuns que sejam eventualmente disponibilizados; pois não é por se tratar de uma solução unifamiliar que não pode ser associada, por exemplo, a um completo e funcionalmente diversificado pólo convivial e de equipamentos de vizinhança; e esta é uma condição pouco interiorizada embora se refira a uma situaão possível e muito adequada, designadamente, às características da promoção cooperativa (há exemplos funcionais em Portugal).
Nesta perspectiva há que salientar o interesse que tem, por exemplo, a aliança entre um conjunto coeso de pequenos unifamiliares térreos e um pólo de equipamentos de vizinhança funcionalmente diversificado; e atente-se na adequação que uma tal solução oferece, por exemplo, para uma vizinhança de casais de isosos e idosos que vivam sozinhos, que, assim, de certa forma possam finalmente concretizar um eventual sonho de uma “casa” relativamente isolada, ganhando, simultaneamente, um funcional leque de serviços e de espaços comuns (onde por exemplo poderão fazer, com facilidade, festas e reuniões famíliares).
(iii) A expressiva grande diversidade de soluções de desenvolvimento de espaços privados interiores, exteriores e de transição exterior/interior que são possíveis; naturalmente a liberdade a este nível organizativo é muito maior do que no multifamiliar e muita dessa liberdade nem corresponderá a críticos aumentos de custo.


Nota final editorial: este artigo constitui a reedição revista do artigo Infohabitar n.º 169, editado em 16 de Novembro de 2007.


Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.

Infohabitar, Ano XV, n.º 703

Xxxx e qualidade arquitectónica interior – Infohabitar 703


Infohabitar
Editor: António Baptista Coelho
Arquitecto/ESBAL, doutor em Arquitectura/FAUP – Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, Investigador Principal com Habilitação em Arquitectura e Urbanismo no LNEC –
Laboratório Nacional de Engenharia Civil, em Lisboa



Revista do GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar – Associação com sede na Federação Nacional de Cooperativa de Habitação Económica (FENACHE).

terça-feira, setembro 17, 2019

702 - Esboços recentes de árvores - Infohabitar 702


Infohabitar, Ano XV, n.º 702                     

Esboços recentes de árvores e edifícios II – Infohabitar 702


por António Baptista Coelho (imagens e textos)

Nota prévia:
A Série “Habitar e Viver Melhor”, assim como outras temáticas teórico-práticas nas áreas específicas da “arquitectura do habitar” - matéria, como sabemos, “central” na edição da Infohabitar - serão retomadas dentro de algumas semanas, salientando-se que, por agora, a nossa revista continuará a desicar-se a uma edição "multicomentada" de esquissos/desenhos, seja numa perspectiva da própria prática do desenho livre, seja considerando os aspectos de arquitectura e de habitar que estejam, eventualmente, associados a cada tema desenhado.


O editor da Infohabitar


Retomando-se o que é já uma tradição da Infohabitar continua-se a edição de alguns esboços recentes, associando-se, por regra, sintéticos comentários informais, julgados oportunos, seja numa perspetiva de Arquitectura/habitar (quando adequado), seja considerando notas informais no sentido do próprio fazer do esboço/desenho, aqui, sublinha-se, numa perspetiva de clara informalidade e sentido prático - eventualmente útil a quem, como o autor, continua a desenhar numa base diária, procurando, sempre, alguma melhoria (ainda que esta, sendo sempre relativa, exige muita paciência e obrigaria a muitas mais horas de prática).

Salienta-se que boa parte dos esboços aguarelados que se seguem foram realizados na zona central e "verde", do bairro de Olivais Norte em Lisboa, um bairro modernista exemplar (de cerca de 1955/1965, considerando o respetivo projeto), e talvez "o bairro" modernista exemplar português, que é urgente requalificar e dar a conhecer pois alia a uma excelente qualidade de vida e a uma arquitetura urbana original e extremamente qualificada, uma evidente atualidade nas suas preocupações de sustentabilidade ambiental  - ex., intervenções multidisciplinares integrando arquitetos paisagistas integração expressiva de verde urbano em grande "manchas" mais simples de manter, orientação dos edifícios segundo o movimento aparente do Sol de modo a "rentabilizar" a respetiva insolação dos espaços das habitações.




Fig. 01: Como um "teatro" a primeira fila de grandes árvores prepara e enquadra a "cena" de sequências bem "coladas" de espaços verdes e edificados, espaços estes onde as árvores são já mais pequenas e existem também grandes arbustos. Fotografou-se todo o caderno para se ter uma ideia da versatilidade associado ao desenho num caderno A6, que desdobrado, como é o caso, permite desenhos A5 (já razoáveis em termos dimensionais); cabe num bolso e numa pequena bolsa, vai connosco para todo o lado sem problemas e guarda os desenhos em segurança - atenção que nem todos os desenhos que têm sido aqui apresentados foram realizados neste formato, havendo uma variação entre o A6 e o A3 (menos frequentes).




Fig. 02: É aqui bem patente a mistura orgânica. "natural" e visualmente estimulante de diferentes espécies de verde urbano (árvores maiores e menores, grandes e pequenos arbustos e cobertura de solo). O esboço/desenhoprocurou usar, com alguma naturalidade, os negros nas sombras próprias e projetadas; e conseguiu-se neste esboço uma tonalidade global julgada interessante, entre os verdes e so castanhos rosados. 



Fig. 03: O, já referido, "entremear" entre grandes blocos duplos  -  fundidos por extensas galerias comuns com acessibilidade alternativa (é também possível aceder aos fogos por comunicações verticais) - e conjuntos de árvores e grandes arbustos que propiciam uma estimulante paisagem de proximidade ás habitações contíguas. No esboço procurou-se jogar com um estimulante contraste entre traços bem "negros" e zonas texturadas com tais traços (mais em primeiro plano) e manchas de cor razoavelmente uniformes, sendo tal uniformidade mais marcante nas paredes dos edifícios - a construção é naturalmente muito mais uniforme nas suas cores do que os elementos da natureza.



Fig. 04: sendo embora este artigo dedicado ao tema da  relação entre árvores e edifícios, esta imagem quer relevar o interesse da existência de paisagens "naturais" humanizadas e parcialmente "construídas", em que a escala de uso e de imagem é muito dada pelos bancos de jardim e mesmo pela dimensão do perfil dos respetivos caminhos. O desenho, premeditadamente, muito livre e "simplificado", procurou apostar nos contrastes naturais entre algumas manchas e o traçar em primeiro plano, neste caso servido pelo uso de "marcadores". 



Fig. 05: é extremamente interessante proporcionar num meio urbano consolidado a possibilidade de deambular,  prazenteiramente, por caminhos cujos meandros construídos nos fazem lembrar percursos mais naturais, numa natureza "reforçada", projetualmente (arquitetura pisagista) em termos de cores e de texturas distintas; e o desenho investe nestes aspetos, desde a procura do evidenciar do "caminho", que nos leva a mergulhar no desenho, à perspetiva tentada com tal caminho, com as árvores e com a maior nitidez em primeiro plano e menor no fundo, e ainda com o aproveitar das texturas pormenorizadas e expressivas e as cores quentes em primeiro plano.




Fig. 06: trata-se aqui de um apontamento muito livre (faltam as pequenas vias de acesso local) dedicado aos impasses residenciais que envolvem o coração "circular" de Olivais Norte, constituídos por alongadas e muito humanizadas bandas de edifícios arquitetonicamente despojados, mas que se "casam" perfeitamente com uma extensa mancha de pinhal. Árvores e edifícios numa integração que se procurou apontar neste esquisso aguarelado.



Fig. 07: árvores e edifícios, dando-se primazia àquelas no coração/pulmão "verde" do Bairro de Olivais Norte, num ensinamento ainda hoje bem vivo e excelente em termos de qualidade de vida diária que, infelizmente, pouca "escola" fez. O desenho procurou sublinhar o espetáculo sazonal e diário das estações, estando os velhos  ainda atrasados na sua folhagem no início da Primavera; o desenho apostou nos traços negros e acentuados que procuram seguir as expressivas verticais livremente ramificadas dos altos e velhos choupos.


Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.

Infohabitar, Ano XV, n.º 702

Esboços recentes de árvores e edifícios II – Infohabitar 702


Infohabitar
Editor: António Baptista Coelho
Arquitecto/ESBAL, doutor em Arquitectura/FAUP – Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, Investigador Principal com Habilitação em Arquitectura e Urbanismo no LNEC
Laboratório Nacional de Engenharia Civil, em Lisboa


Revista do GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar – Associação com sede na Federação Nacional de Cooperativa de Habitação Económica (FENACHE).


terça-feira, setembro 10, 2019

701 - Esboços de pormenor livres e recentes – Infohabitar 701

Infohabitar, Ano XV, n.º 701

Esboços de pormenor livres e recentes – Infohabitar 701

Por António Baptista Coelho (imagens e textos)

(nota prévia: a Série “Habitar e Viver Melhor” será retomada  em finais de setembro)
Retomando-se o que é já uma tradição da Infohabitar continua-se a edição de alguns esboços recentes, associando-se, por regra, sintéticos comentários informais, julgados oportunos, seja numa perspetiva de Arquitectura/Habitar (quando adequado), seja considerando notas informais no sentido do próprio fazer do esboço/desenho, aqui, sublinha-se, numa perspetiva de clara informalidade e sentido prático - eventualmente útil a quem, como o autor, continua a desenhar numa base diária, procurando, sempre, alguma melhoria –ainda que esta, sendo sempre relativa, discutível e sensível, exigisse bastante mais paciência, calmo sentido de observação prévia e de “projeto” do próprio esboço, e isto tudo, naturalmente, obrigasse a muitas mais horas de prática, que é sempre agradável, há que confessar; mas o tempo tem limites.

Notas prévias à presente edição:
Que não se estranhe o tútulo deste artigo e a relativa diversidade dos seus conteúdos: designam-se de "esboços de pormenor", esquissos exteriores e interiores baseados em variados elementos/temas - de árvores a vasos com plantas, de edifícios a veículos e de perspetivas de rua a uma pequena "rua" doméstica.
Afinal, trata-se. em todos os casos de apontamentos que foram suscitados e, sequencialmente,"fixados", devido a aspetos de pormenor específicos: mais de enquadramento e/ou mais protagonistas.
E em qualquqer um dos casos são esquissos "livres", embora se confesse que a temática do pormenor exige expressiva atenção na observação e significativa paciência no apontamento.


Fig. 01: o tema de pormenor foi, aqui, o relativo maciço de árvores nos primeiros planos, que preparam e compõem uma vista perspetivada que remata com a préexistência de parte de um antigo aqueduto; houve também, aqui a tentativa de compor uma base de cores/texturas no "chão" que desse, apenas, a ideia de uma mistura de folhas e terra, de modo a que quase toda a atenção fosse dedicada às árvores e à construção, aliás tratadas quase com a mesma tonalidade bem evidenciável. Urbanisticamente trata-se de uma tão excelente como quase única mistura entre natureza e construção que é possível ser observada em Olivais Norte, Lisboa.

Fig. 02: aqui o tema é uma paisagem tão interior, na realidade (pois trata-se da parte superior de um armário doméstico), com "exterior" na temática proposta, pois temos um vaso com uma planta e depois, em segundo plano o apontamento de uma paisagem da Praia da Nazaré, com base numa pintura a óleo (e a referida planta quase funciona também como elemento do quadro, acrescentando profundidade estratégica à composição); e aponta-se, também uma escultura em madeira que funciona em termos de contraste cromático e volumétrico, para além de carregar um pouco o esboço com algum estímulo/sentido de curiosidade. E é sempre interessante e muio enriquecedor povoar as nossas paisagens domésticas com estas micropaisagens "exteriores" e criativas.   

Fig. 03: neste esquisso a ideia de pormenor exterior decorre de um apontamento lateral, mas em primeiro plano, que procura ser marcado por texturas de tijolo e fortes elementos estruturais (pilares e vigas de betão); depois vem o plano intermédio do verde "urbano" e, ainda depois, o plano final de um outro edifício próximo; e também se procurou apontar a diversidade de texturas naturais e construídas. E o tema urbano , novamente, uma "praceta natural" do excelente modernista pequeno bairro de Olivais Norte em Lisboa.

 
Fig. 04: aqui os pormenores são a sequência de arcos do troço de velho aqueduto, já acima referido, e que contrasta em termos de formas gerais e de sentido de preexistência com o fundo de "novos" edifícios modernistas (dos anos de 1960); mas também o "jogo" gráfico que se procurou desenvolver com os dois apontamentos realizados com distintas orientações e que fazem talvez despertar interesse específico pelos diversos elementos em presença - arcos preexistentes, edifícios e verde urbano.  

Fig. 05: os pormenores com que se jogou neste apontamento são as árvores "cenicamente" dispostas e volumetricamente expressas através de sombras próprias e fortes e gráficas sombras projetadas, contrastando com o apontamento cromático das formas humanas.

Fig. 06: uma simples tentativa de apontamento de veículos, cujas formas "maquinais" contratsam fortemente na paisagem urbana; a ideia tem sido e será (pois considera-se que há ainda um longo caminho gráfico a ser percorrido), procurar "fixar" ("figer", em francês) o essencial da presença dos automóveis, que dão natural sentido ao apontamento das suas vias (bem presentes na pasaigem urbana), mas sem lhes dar especial importância - sem terem, portanto, presença excessiva. 

Fig. 07: e, finalmente, neste artigo, o que em cima, nas notas prévias, se designou de uma "pequena rua doméstica"; um espaço interior cheio de perspetiva onde ainda não se avançou com coragem na expressão de mais algumas sombras; mas, afinal, o processo de desenho/esquisso é, isso mesmo, um processo e uma continuidade.

Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.

Infohabitar, Ano XV, n.º 701

Esboços de pormenor livres e recentes – Infohabitar 701


Infohabitar
Editor: António Baptista Coelho
Arquitecto/ESBAL, doutor em Arquitectura/FAUP – Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, Investigador Principal com Habilitação em Arquitectura e Urbanismo no
Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) –, em Lisboa



Revista do GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar – Associação com sede na Federação Nacional de Cooperativa de Habitação Económica (FENACHE).