sexta-feira, outubro 26, 2012

413 - AS MEDIDAS DO HOMEM E AS MEDIDAS DA CIDADE: SOBRE A NATUREZA DO HABITAR - Infohabitar 413

Infohabitar Ano VIII, N.º 413

AS MEDIDAS DO HOMEM E AS MEDIDAS DA CIDADE: SOBRE A NATUREZA DO HABITAR
Artigo XXIII da Série habitar e viver melhor

António Baptista Coelho



Índice

• Introdução às "medidas do homem” e às “medidas da cidade”

• Breves reflexões sobre a actual pobreza e limitação do "jogo tipológico" habitacional e urbano

• Casas mais, ou menos, adequadas às várias “medidas” do homem e a possibilidade de um "livro de horrores"

• Sobre a crucial importância dos outros espaços do habitar não-funcionais e de aspectos não-dimensionais

• Mistura essencial de quantidades e qualidades no habitar e na cidade

• Sobre os habitantes mais sensíveis

• E no fim e no princípio a imagem urbana, como quadro ou ferramenta essencial da construção das escalas/medidas humana e urbana


Introdução às "medidas do homem” e às “medidas da cidade”

Relativamente a estas “medidas do homem” e a estas “medidas da cidade”, que fazem título do artigo, coloca-se, logo, a questão de serem duas “medidas” clara ou razoavelmente distintas ou, serem, “apenas” duas respostas, que, para serem adequadas têm de ser/estar intimamente conciliadas?

Martin Wynn aponta que ao longo de muitos anos as casas foram sendo pensadas e construídas para uma família-tipo “média”, não se oferecendo respostas habitacionais adequadas para famílias menos correntes, assim como, habitações adequadas ou adaptáveis para idosos, jovens, pessoas sós, famílias numerosas, deficientes, trabalhadores móveis, e, muito provavelmente, mais alguns grupos de habitantes cujas características humanas e sociais se afastem, um pouco, ou substancialmente, do habitante “médio”(1), que, afinal, nunca existiu.

Dois aspectos podemos acrescentar, facilmente, a esta reflexão de Martin Wynn, o primeiro é que, hoje em dia, é muito significativa a falta sentida relativamente a essas habitações que não aquelas feitas para a “famosa”, e hoje em dia talvez quase inexistente família “média” (2), e o segundo aspecto é que esse tipo de considerações são extensíveis ao exterior residencial, e, nomeadamente, ao que constitui as vizinhanças contíguas aos edifícios.

E Wynn, há já 24 anos sublinha-se, salientava ainda mais alguns aspectos, que continuam a marcar pela grande actualidade: "A crise habitacional actual tem no seu coração exigências quantitativas e qualitativas convergentes. As pessoas nas áreas urbanas querem mais espaço interior e exterior (aberto). Querem cidades mais verdes e casas que consumam menos energia. Querem melhor acessibilidade ao trabalho, melhores serviços sociais e mais lojas..." (3)

E concluindo, em termos práticos, hoje em dia a oferta residencial tem de diversificar em termos de conteúdos funcionais e ambientes domésticos e comuns, proporcionando casas muito mais, literalmente, à medida do “homem” que realmente precisa de casa e não de um homem e de uma família médios e praticamente inexistentes.



Fig.01

Breves reflexões sobre a actual pobreza e limitação do "jogo tipológico" habitacional e urbano

E, antes de continuar a reflexão, importa ainda registar, um pouco a modos de "mea-culpa", que os próprios projectistas têm considerado o "jogo tipológico" do habitar e da cidade de uma forma que é, por regra, extremamente passiva e/ou incipiente, com os mais diversos tipos de justificações, uma talvez mais válidas do que outras: desde a simples inércia, até não justificada, que aceita as tipologias existentes (ex., do direito-esquerdo, ao unifamiliar isolado) como uma realidade preexistente e imutável, até justificações, que o autor destas linhas considera extremamente discutíveis e mesmo negativas, onde se associa o habitar a um "produto habitacional", modelado por exemplo com referências à indústria automobilística, e em que os "modelos" de habitar são "oferecidos" ao quadro de procura existente e cada um escolherá o mais adequado para si e para os seus, e ainda numa fase mais aguda desta opção, aceitando-se que o próprio quadro habitacional aceite uma perspectiva de rotação por obsolescência e até eventualmente por mutação de modas, semelhante ao da insdústria automobilística e quem sabe, tendencialmente, ainda em períodos mais curtos (estamos naturalmente a exagerar); no entanto e naturalmente estes caminhos teriam de passar pelo aprofundar de uma crítica e talvez mesmo absurdo padronização das condições de habitar a um espartilho de meia dúzia de modelos, situação esta que nem se conjuga com a situação actual de existência de um amplo parque habitacional que precisa, em grande parte, de cuidados de reforma física, funcional, ambiental e, talvez quase em primeiro lugar, em termos de "partido" habitacional e urbanístico.

Mas respeitam-se natural e profundamente todas as opiniões expostas e aqui sumariamente apontadas, considera-se que é urgente e vital a facilitação e simplificação de soluções de intervenção habitacional e urbana, que têm de passar por uma fundamental "industrialização", mas considera-se que tais cuidados devem ser dirigidos para aspectos mais delimitados e claramente tipificáveis e naturalmente replicáveis, como por exemplo soluções de fenestração, de compartimentação, de vãos interiores, de arrumação, de versatilidade em termos de mobilariedade e equipamento doméstico, etc.

E não deixa de se fazer aqui uma referência importante a considerar-se que será tempo de podermos ser mais inovadores e até, quem sabe, um pouco iconoclastas numa renovada abordagem ao (re)habitar urbano; matéria esta que naturalmente tem ligações sensíveis com múltiplos aspectos de regulamentação.


Casas mais, ou menos, adequadas às várias “medidas” do homem e a possibilidade de um "livro de horrores"

Voltando então ao tema específico que se estava a tratar, e lembrando essa difícil e sensível procura dos aspectos e dos caminhos de casas mais adequadas às várias “medidas” do homem – umas físico-funcionais, outras psico-ambientais e ainda outras mais especificamente arquitectónicas –, uma opção é ir aprendendo sabiamente com os erros, embora tal sabedoria não seja regra, muito pelo contrário.

E nestas matérias críticas e sempre vitais, em termos de novas operações e de intervenções de reforma do existente, seria, realmente, oportuna uma colectânea que registasse não só que se pode considerar serem as melhores soluções de habitar e de cidade, provadas por dezenas de anos de um uso/habitar que se traduz em estima e até melhoria do respectivo quadro físico, mas que também registasse o que se tem provado serem aspectos e características de casas e bairros que fazem os habitantes insatisfeitos e, frequentemente, infelizes; nesta última opção, uma espécie de pequeno “livro de horrores”de casos habitacionais concretos, aplicando-se, naturalmente, aqui o termo num sentido um pouco figurado - e um dos passos necessários para constar de tal livro seria, por exemplo, tratar-se de um caso já demolido e sobre o qual se tivesse feito um estudo adequado das respectivas razões de insatisfação.

Naturalmente que um dos casos primeiros a constar de uma tal, possível, colectânea é o conjunto de habitacional de Pruitt-Igoe, inaugurado em 1954 e uma solução de Arquitectura ganhadora de prémios arquitectónicos, que foi implodida em 1972, apenas 18 anos depois de inaugurada. Em Portugal e no LNEC Luís Soczka estudou este caso e refere que a zona se tinha transformado em "um autêntico inferno, com uma subida em flecha dos actos de vandalismo contra pessoas e bens, e crescentes sentimentos de medo e infelicidade por parte dos residentes". (4)

Deixemos, para já a ideia, desse pequeno “livro de horrores” e continuemos em Pruitt-Igoe, a tal zona que estava a gerar “sentimentos de medo e infelicidade” (o sublinhado é meu), diz Soczka, porque aí se falhou, quer por inadequado conhecimento dos futuros residentes, quer mesmo na matéria da Arquitectura pela ausência de espaços de vizinhança que fizessem a relação e a transição entre o anonimato do espaço citadino e a privacidade de cada habitação, espaços esses onde houvesse equilíbrios de consenso e dignidade, mas também alguma capacidade de apropriação, identidade e desenvolvimento de algum sentido de pertença a comunidades razoavelmente conhecidas.

Escreveu Luís Soczka que faltavam "esses espaços que não são tão privados como a casa de cada um, nem tão públicos como uma estação de comboios. São os espaços dos «nós», onde uma micro-comunidade assente na teia cúmplice das vizinhanças constrói uma identidade colectiva e actuante como suporte social no quotidiano, tal como nas aldeias". (5)



Fig. 02

Sobre a crucial importância dos outros espaços do habitar não-funcionais e de aspectos não-dimensionais

A medida justa do habitar, entre homem e urbe, faz-se também e fortemente em espaços, cuja funcionalidade até, praticamente, nem importa, espaços estes que continuam a ter plena justificação nesta época da globalização, tal como defende William Mitchell (2000) (6), que lembra quando, na história do homem, o espaço junto ao poço perdeu a sua função e se inventaram outros sítios urbanos conviviais como o café, e que defende que a história se repete, hoje em dia, quando, cada vez mais fechados nas nossas casas e na web, precisamos urgentemente de (re)inventar os espaços públicos citadinos, os tais que são sede de potencial convívio vicinal e urbano, e é o mesmo Mitchell (2003) (7), um ardente defensor da era digital, que, assim, associa esta era à defesa de um urbanismo baseado no respeito pelo “espírito do lugar”, valorizando os aspectos culturais e mesmo cénicos, que são específicos de cada sítio: portanto, um urbanismo do pormenor ou uma verdadeira e estimada Arquitectura Urbana, e aqui o termo estima liga-se ao cuidado que a ela importa dirigir por quem a projecta, e ao cuidado que a ela dirige quem a habita, matéria esta última que deverá ter prolongamentos/apoios em termos de divulgação/informação.

Sobre a pormenorização da arquitectura urbana há que sublinhar que ela deve servir, em termos globais, as “medidas do homem”, seja em aspectos mais conhecidos de satisfação e insatisfação, seja relativamente ao sentido de segurança, seja nas questões de acessibilidade, seja no apoio aos habitantes mais “frágeis” – crianças e idosos – , seja numa adequação aprofundada relativamente ao modo como observamos os espaços mais próximos da nossa casa.

Será aqui oportuno referir que a satisfação residencial é, com frequência, associada, respectivamente, e em ordem de decrescente de importância, aos seguintes tipos de aspectos, sublinhados por Ekambi-Schmidt (8): (i) orientação, (ii) claridade e insolação; (iii) dimensionamento; (iv) isolamento físico e social; (v) conforto; (vi) tranquilidade ambiental; (vii) sentido de abertura e carácter de ambiente acolhedor.

E não é possível deixar de referir aqui que "apenas" a interpretação destes aspectos dá muito que pensar: atente-se, por exemplo, á primazia da orientação, claridade e insolação, relativamente ao dimensionamento.

E na mesma linha de reflexões e a partir de um amplo inquérito experimental realizado no LNEC, já há 45 anos (em 1963), dirigido por Nuno Portas, retira-se que entre as causas confessadas de má vizinhança se salientam, quer os problemas com as crianças, quer os que decorrem de deficientes condições de isolamento acústico e consequentes sensações de falta de intimidade.

Voltaremos a estes “leques” de satisfação em vários pontos deste estudo e desta série de artigos, mas desde já se evidencia a mistura que sempre acontece entre aspectos considerados mais, e menos, objectivos, aspectos estes que, tantas vezes, se conjugam.


Mistura essencial de quantidades e qualidades no habitar e na cidade

Nesta linha de mistura essencial de quantidades e qualidades, cita-se Soczka, por sua vez, citando Oscar Newman, que salienta as características que contribuem para o desenvolvimento de espaços habitacionais considerados mais "defensáveis" e apropriáveis (9): (i) um ambiente físico que aceite zonas de influência territorial, e assim bem percepcionadas pelos residentes; (ii) um projecto urbano que suporte de uma natural acção de vigilância natural por parte dos próprios residentes; (iii) um projecto influenciador da percepção da identidade colectiva dos residentes; (iv) e a justaposição de "zonas de segurança" na área do projecto e clarificação das zonas adjacentes como seguras ou inseguras.

Novamente matérias essencialmente qualitativas, onde até, por exemplo, a "quantidade" excessiva pode ser matéria negativa e onde as dimensões do homem e as da cidade, assumem protagonismo essencial.

Afinal a cidade nasceu à medida do homem, para o servir, para o proteger melhor, para dar identidade/presença ao homem solidário e o tornar mais eficaz com menos esforço, e acabou realmente por lhe propiciar mais tempo para outras ocupações que não as estritamente necessárias à sua sobrevivência, tendo, assim, nascido uma cultura mais sedimentada e activa.

Mas todos estes aspectos derraparam, como bem sabemos, em tantos bairros "de má fama", isolados da cidade (portanto sem "a medida" da cidade), e feitos sem qualquer medida do do homem mas que continua a ser essencial na razão de ser da cidade bem habitada; bairros onde para lá, ou antes, de não haver uma segurança bm percepcionada, e uma clara satisfação na vida diária, não há realmente "cidade".

Neste sentido lembremos "os 3 Mandamentos" dos espaços que definem e evidenciam condições de segurança, segundo Claude Lamure (10): orientação e localização fáceis; observação da movimentação dos outros; e prevenção dos encontros por "fuga", interdição de acesso ou camuflagem. Matérias estas que, evidentemente, antes de se ligarem à "segurança" são bases da coesão urbana.

E Lamure reafirma alguns aspectos básicos da referida sensação básica de segurança, tais como a definição de espaços rectangulares apenas abertos unilateralmente, ou abertos multilateralmente, mas sobreelevados e, essencialmente, a exigência, mínima, de um encerramento espacial bilateral, conjugado com a possibilidade de observações fáceis dentro de um espaço geométrico muito regular, estruturado por eixos perpendiculares entre si.

E se pensarmos, um pouco, sobre que forma urbana serve tais exigências temos, naturalmente, o tecido urbano contínuo, feito de ruas, largos e pracetas, um espaço canal ramificado, mas onde há sempre uma noção forte de espaço contido, delimitado bem definido – com princípio e fim – e de se estar a ser eventual e naturalmente observado de janelas, portas e ruelas constantemente contíguas. Um tecido feito com cuidado/pormenor e afectuosidade em termos de uma Arquitectura Urbana com escalas humana e urbana.

Ao nível concreto dos espaços de circulação e de uso comuns, serão de evitar, segundo o citado autor, galerias e zonas muito extensas, reverberantes (onde se sinta o eco) e mal iluminadas; e nesta sequência que vai do mais público ao mais privado, Lamure refere ainda que a existência de circulações domésticas claramente configuradas e bem estruturadas é, também, um factor de melhoria da sensação de segurança, mesmo no interior da habitação. E esta última consideração tem grande interesse na tal questão de uma adequada reinvenção tipológica também no mundo doméstico.

É realmente interessante ter aqui uma ideia de que o ordenamento claro dos espaços que habitamos - da rua ao recanto doméstico - e a sua clara e bem delimitada configuração, desde que bem percebida por quem a habita nos seus limites e nas suas relações mútuas, é uma condição para o seu bom uso e para o grado que se possa ter nesse uso, e esta é uma realidade que irá do espaço privado, ao comum e ao público; e, portanto, da escala humana à urbana



Fig.03

Sobre os habitantes mais sensíveis

Lembrando, agora, os habitantes que precisam de mais apoio e enquadramento, o espaço do habitare e a vizinhança residencial deverá responder positivamente às condições físicas e psicológicas específicas dos idosos, nomeadamente, como refere Claude Lamure, pela previsão (11) de boas condições de conforto nas deslocações e pelo bom relacionamento social através de: (i) proximidade a transportes colectivos e a equipamentos comerciais; (ii) proximidade relativamente a amigos, familiares e conhecidos; (iii) conhecimento da envolvente urbana; (iv) e existência de espaços de condomínio equipados e vivos; matérias estas que tem todas a ver com as "escalas" do fazer do habitar.

E tal como se refere no estudo “Do bairro e da vizinhança à habitação” (12) a vizinhança próxima é o espaço ideal, em termos de potencial de acessibilidade física e de segurança nas deslocações e nas estadias, para o uso diário e intenso por idosos, propiciando e motivando saídas frequentes das respectivas habitações, com evidentes vantagens, tanto ao nível da saúde física e psíquica destes habitantes (andar a pé, “flanar”, estar ao ar livre, conviver), como ao nível do aumento da animação e da convivialidade diária global das respectivas Vizinhanças Próximas e Alargadas, até porque, sendo pessoas que, frequentemente, não cumprem horários de trabalho, são elementos sempre disponíveis para essa “vivência de rua e de café”.

Muito do que se referiu para os idosos também se aplica às crianças na vizinhança de proximidade, sendo verdade que boas condições de agradabilidade e segurança contíguas às habitações e fáceis e seguras em termos de acesso e de uso são factores de intensificação do uso global dos exteriores e designadamente da permanência no exterior de idosos e crianças, frequentemente acompanhando-se mutuamente; e há que ter em conta a importância que o meio urbano pode ter na formação de tantas crianças citadinas, tantas vezes, isoladas em casa e desintegradas de um meio social equilibrado e variado (13).

Tal como é defendido por muitos autores as crianças devem poder conviver intensamente e brincar, apoiando-se a sua formação global e sua socialização e reduzindo-se, mesmo, o risco de problemas mentais posteriores; e este facto é bem evidente quando sabemos que o número crianças com psicoses pode crescer de "0 a 37", quando o número de crianças com que uma dada criança convive diminui de cinco, ou mais de cinco, para nenhuma (14). E as crianças e jovens exigem, realmente, alguma diversificação espacial e de equipamentos na proximidade directa das habitações (15); provavelmente é esta matéria uma das mais importantes em termos de programação da vizinhança residencial.

E tudo isto dá que pensar no que se refere à opção que se julga fundamental no que se refere ao desenvolvimento de arquitecturas residenciais que suscitem ou proporcionem a convivialidade vicinal.

Mas todas estas preocupações práticas de marcação de territórios de vizinhança e do seu adequado equipamento irão falhar caso não sejam servidos por uma pormenorização urbana cuidadosa e sensível e que, para o ser, tem de ser desenvolvida considerando a forma como olhamos e vamos entendendo a organização do espaço exterior. E para tal há que ter em conta que, tal como explica Rudolf Arnheim (16), em posição de pé, o olhar humano tende a inclinar-se para o chão, acontecendo o mesmo quando estamos sentados. Isto faz salientar a importância do pavimento em qualquer apreciação espacial, e, nomeadamente, no caso dos espaços interiores e no caso dos espaços exteriores em grande relação com edifícios (pontos de partida e chegada), onde estamos muito mais concentrados e atentos ao que nos rodeia, até por estarmos, quase, em nossa casa e esta, como bem sabemos, é o reino do pormenor.



Fig.04

E no fim e no princípio a imagem urbana, como quadro ou ferramenta essencial da construção das escalas/medidas humana e urbana

E cá estamos, novamente, na fundamental, porque potencialmente estimulante dimensão da paisagem urbana e temos de lembrar algumas palavras de Gordon Cullen, de comparação entre paisagem uniforme ou multiforme, neste caso numa aplicação específica à temática do importante tratamento do chão público: "As construções ricas em texturas e cores, assentam, necessariamente, num pavimento. Se este não passar de uma extensão asfaltada lisa e uniforme, elas por sua vez parecem desarticuladas, separadas umas das outras, uma vez que o pavimento não prende o nosso interesse". (17)

E Michael Laurie (18) avança um pouco mais nesta matéria, que tudo tem a ver com as medidas do homem e as medidas da cidade apontando que o olhar humano é cativado quer pelo emprego de peças pequenas e bem identificáveis produzindo superfícies finamente texturadas que têm uma relação íntima com a escala humana, como pelo uso de peças grandes, ligadas por juntas, que são neste caso os elementos responsáveis pela relação com a escala humana e também, de certo modo, com a escala da vizinhança e da cidade.

O que se pretendeu evidenciar neste tema das medidas do homem e da cidade é que tais medidas tanto são genéricas e estruturantes, constituindo grandes objectivos como é o caso da segurança, como são particularizadas e ligadas a pormenores bem estruturados e únicos, e há casos de conjuntos de casas que não proporcionam felicidade seja pela ausência de tais condições gerais, seja pela inexistência de tais condições de pormenor.

Neste tema das medidas do homem e da cidade começámos por reflectir, um pouco, sobre que homem? Que família? E talvez que vizinhança citadina? Uma verdadeira, feita da tecitura complexa mas bem urdida que caracteriza uma cidade viva, ou um tecido esgarçado e descaracterizado? Mas voltaremos a estes temas vistos a partir de outras perspectivas, pois afinal é provavelmente nesta questão de que medidas humanas e citadinas devemos aplicar e aprofundar na cidade habitada de hoje estará boa parte do segredo de um habitar mais feliz.

Notas
(1) Martin Wynn, "Housing in Europe", p. 44.
(2) Num estudo já de 1985 da Direccion General de Arquitectura y Vivienda, do Ministerio de Obras Publicas y Urbanismo de Espanha ("Individuo y Vivienda", p. 50) refería-se que a percentagem de habitações com uma pessoa na RFA era, já na altura, significativa, variando, por Estados, entre um mínimo de 21.9% e máximos de 39.5% e 44.1%, respectivamente, nas grandes cidades de Hamburgo e Berlim Oeste; e é também, importante constatar a subida da percentagem entre cerca de 18% em Municípios com menos de 5000 habitantes e cerca de 34% naqueles com mais de 100000 habitantes. E atenção que hoje em dia a situação deve ter já evoluído muito, evidenciando-se o interesse que terão soluções de edifícios cujas partes e serviços comuns são muito desenvolvidos e com utilização facultativa e programada.
(3) Martin Wynn, "Housing in Europe", p. 73.
(4) Luís Soczka, "O Contributo da Psicologia Ambiental para o Problema da Qualidade da Habitação", p. 2/1.21.
(5) Luís Soczka, "O Contributo da Psicologia Ambiental para o Problema da Qualidade da Habitação", p. 2/1.22.
(6) William J. Mitchell, “E-topía - Vida urbana, Jim, pero no la que nosotros conocemos”, 2001 (2000).
(7) William J. Mitchell, “Me++: The Cyborg Self and the Networked City”, 2003.
(8) Ekambi-Schmidt, "La Percepción del Habitat".
(9) Luís Soczka, "Espaço Urbano e Comportamentos Agressivos - da Etologia à Psicologia Ambiental, p. 7.
(10) Claude Lamure, "Adaptation du Logement à la Vie Familiale", pp. 58 a 60.
(11) Claude Lamure, "Adaptation du Logement à la Vie Familiale", pp. 151 a 153 e 215.
(12) “Do bairro e da vizinhança à habitação”, ITA 2, LNEC.
(13) Sven Thiberg caracteriza-as do seguinte modo (Sven Thiberg (Ed.), "Housing Research and Design in Sweden", p. 114): vivem separadas de importantes campos de actividade e tipos de ambientes; vivem afastadas de outros grupos etários, de outras classes sociais e padrões culturais; vivem em contacto forçado com grandes números de outras crianças com a mesma idade delas; devido a mudanças de ambiente enquanto crescem, as crianças estabelecem relações pouco sólidas com a vizinhança; vivem em ambientes que não podem nem têm a possibilidade de influenciar.
(14) Christopher Alexander; Sara Ishikawa; Murray Silverstein; et al, "A Pattern Language/Un Lenguaje de Patrones", p. 317.
(15) C. Baudelot e J. Gardent ("Espaces Extérieurs Urbains, Rencontres du Centre de Recherche d'Urbanisme", J. P. Muret, Coord., p. 35) consideram os seguintes territórios privilegiados das crianças e dos jovens: até 3 anos de idade, dependência completa dos adultos, usando pequenos espaços, claramente seguros (ex., varanda ampla, ou espaços na contiguidade imediata do fogo, isto é, até 5/6m de distância à habitação); de 3 a 7 anos, devem poder ir à rua sozinhos, mas ficando à vista e ao alcance da voz, cerca de 30m, máximos, de distância à habitação; de 7 a 14 anos, devem poder deslocar-se sozinhos no bairro, encontrando actividades próprias para a sua idade; o raio exploratório é de cerca de 150 a 200m de distância à habitação; de 11 a 14 anos precisam de se encontrar em grupos conhecidos e o raio de acção vai-se ampliando para cerca de 500m de distância à habitação, e para lá desse limiar. Sobre os espaços para adolescentes Lamure considera ("Adaptation du Logement à la Vie Familiale", pp. 213 e 214) que são necessárias algumas áreas onde eles tenham uma certa autonomia em relação aos adultos, provavelmente em espaços neutros minimamente equipados.
(16) Rudolf Arnheim refere que o ângulo horizontal de visão é de cerca de 110º, mas para um dado elemento ser visto e julgado como um todo integrado ele tem de estar compreendido dentro de um ângulo com cerca de 27º (distância ao objecto sensivelmente dupla da sua dimensão maior); para além disto o ângulo vertical de visão tem, aproximadamente 45º acima do nível do olho e 65º abaixo dele (Rudolf Arnheim, "A dinâmica da forma arquitectónica", pp. 108 a 110). Em termos de ângulos de câmaras teremos que os ângulos fotográficos entre cerca de 24/28mm (o início da chamada “grande angular”), correspondem, sensivelmente, ao quadro de visão de que dispomos. A visão humana concentra-se em elementos centrais, enquadra-os num cenário bilateral, que pode ser uma rua tradicional, e concentra a atenção em variações contrastantes que pontuam, por exemplo, o desenvolvimento da rua (ex., edifícios e outros elementos singulares e destacados). Considerando, ainda, os ângulos de visão a segunda consideração de Arnheim valida "a regra dos 45º", entre edifícios confrontantes, proporcionando uma sequência de fachadas, continuamente apreendidas quando nos deslocamos, e quando não é visível o limite superior de uma banda edificada, o resultado é a percepção de um espaço exterior “fechado” e protegido.
(17) Gordon Cullen, "Paisagem Urbana", p. 55.
(18) Michael Laurie, "Introducción a la Arquitectura del Paisaje".

Notas editoriais:

(i) A edição dos artigos no âmbito do blogger exige um conjunto de procedimentos que tornam difícil a revisão final editorial designadamente em termos de marcações a bold/negrito e em itálico; pelo que eventuais imperfeições editoriais deste tipo são, por regra, da responsabilidade da edição do Infohabitar, pois, designadamente, no caso de artigos longos uma edição mais perfeita exigiria um esforço editorial difícil de garantir considerando o ritmo semanal de edição do Infohabitar.


(ii) Por razões idênticas às que acabaram de ser referidas certas simbologias e certos pormenores editoriais têm de ser simplificados e/ou passados a texto corrido para edição no blogger.


(iii) Embora a edição dos artigos editados no Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico, as opiniões expressas nos artigos apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores.



Infohabitar a Revista do Grupo Habitar

Infohabitar, Ano VIII, n.º 413


As medidas do homem e as medidas da cidade: sobre a natureza do habitar


Editor: António Baptista Coelho


Edição de José Baptista Coelho


Lisboa, Encarnação - Olivais Norte


quinta-feira, outubro 18, 2012

412 - Os percursos de uma cidade habitada e a defesa da Arquitectura Urbana - Infohabitar 412

Infohabitar Ano VIII, N.º 412

ARTIGO XXII DA SÉRIE HABITAR E VIVER MELHOR
  Os percursos de uma cidade habitada e a defesa da Arquitectura Urbana
António Baptista Coelho

Em primeiro lugar importa registar que se considera que o jogo das relações entre rua e casa e entre exterior e interior é, mais do muitos outros aspectos que podem (e devem) ser tomados em conta no que se refere à matéria urbanística, o verdadeiro ligante de uma intervenção urbana e de habitar consistente em termos de presente e futuro e em termos de interesses humanos e sociais.
E desde logo se pode apontar que o principal objectivo é criar e melhorar tais relações qualificando-as como verdadeiros “percursos íntimos, coesos e ricos entre (cidade) «rua» e «casa»”, e é esta uma matéria específica, apenas apontada neste artigo, e que terá de ficar para outras oportunidades em termos de aprofundamento da relação com sinal “superior” e associada à relação das vizinhanças com “a cidade mais central”, um conceito que é ele próprio muito estimulante e gerador de discussão, pois a cidade tem de ser policêntrica e tem de viver, também, nas vizinhanças de proximidade e nos seus pólos conviviais mais intensos e/ou alargados.




Em segundo lugar um brevíssimo comentário sobre a condição de, quando, se reflectir, aqui, em outros artigos desta série, sobre “as medidas do homem e as medidas da cidade”, matéria que se considera essencial na abordagem e na devida caracterização dos tais percursos vivos que devem relacionar interiores e exteriores de vizinhança, se usar o termo “medidas”, não apenas numa perspectiva dimensional e de bases para-dimensionais, mas também numa perspectiva fundamental de definição de escalas de intervenção adequadas e caracterizadoras e, ainda, mesmo de apontamento de recomendação de cuidados e acções preferenciais tando em vista o bem-estar humano e uma adequada e rica vivência/utilização citadina; matérias estas consideradas de grande importância, designadamente, no século das cidades, das mega-cidades e de um mundo mega-urbanizado.
Em terceiro lugar sublinhar que quando se comentarem neste nesta série de artigos outras matérias de desenvolvimento desta temática dos “percursos íntimos, coesos e ricos entre (cidade) «rua» e «casa»”, que poderá ser mais sintetizada, por exemplo, referindo-nos, por exemplo, simplesmente, aos “percursos de uma cidade habitada”, estaremos a abordar diversas matérias do projecto urbano e residencial de pormenor, designadamente, tendo em conta as características mais interessantes a favorecer:
  • nos “pontos e zonas de ligação entre exteriores de uso público e interiores dominantemente domésticos;
  • nas ruas e nos quarteirões associados a vizinhanças de proximidade;
  • nos sítios de passagem, transição e vivência que são “motivos” essenciais de uma cidade viva e estimulante;
  • nos sítios singulares e com carácter assinalável sem os quais nunca houve nem haverá cultura urbana;
  • no leque de espaços de percurso e de identidade que constituem a vital rede capilar da vida citadina, ela própria fundação do carácter maior da respectiva cidade;
  • e, finalmente, nas próprias, múltiplas e variadas relações, privilegiadas e mesmo caracterizadoras, que em todo este quadro físico se tem de estabelecer com os mais diversos tipos e soluções de edifícios; matéria última esta que consideramos essencial na reflexão sobre uma fundamental diversidade de oferta de soluções de habitar domésticas e urbanas.
Serão, assim, estas as matérias a tratar e comentar, sempre que possível, sublinhando-se que a ideia central nesta reflexão é sublinhar a importância de se passar, hoje em dia, decididamente, de uma fase disciplinar, que foi longa, em que a Arquitectura de edifícios e o Urbanismo eram considerados e abordados como disciplinas sensível ou até claramente distintas, o que frequentemente resultava mesmo em serem “opostas” em termos de objectivos e resultados fundamentais, para passarmos a um tempo em que Arquitectura e o Urbanismo se fundam totalmente e onde, nesta fusão, se entenda o papel central dos referidos relacionamentos, relações, transições, limiares, fusões tipológicas de edificado e espaço exterior, percursos estruturantes, pólos estratégicos, etc. ; e em poucas palavras no primado da do relacionameno mútuo e afirmado de espaços e ambientes, numa arquitectura urbana estratégica e atraentemente integrada.




Falta talvez referir que o o homem, e as suas necessidades e exigências, consideradas de uma forma ampla e verdadeira, e portanto não “fundamentalisticamente” racionalizadas, tem de ser o centro e objectivo-base de toda esta reflexão, havendo ainda que dar o devido relevo aos homens mais sensíveis, que são os idosos e as crianças.
Falta talvez também registar que as actuais tendências de uma cidade mega, densa e mediana ou fortemente informal, como quadro do presente e do futuro próximo, é uma situação que torna mais complexas e críticas as questões acima apontadas; e repete-se: mais complexas, mas também mais críticas e tendencialmente muito urgentes.
Também falta referir que tudo isto se liga à necessidade de passarmos a tratar de Arquitectura Urbana “a sério”, numa natural mas forte relação exterior/interior, projecto do edifício/projecto do espaço exterior, uso público/uso privado ou comum, intervenção/paisagem/ambiente, matéria que, parecendo à primeira vista relativamente pacífica, não o é, pois, designadamente, boa parte das escolas de Arquitectura são escolas de Arquitectura da edificação e até da edificação tendencialmente isolada.
E finalmente, e decorrendo bastante directamente desta última matéria da Arquitectura Urbana (AU), esta mesma AU tem de começar a ser tomada como verdadeira matriz tipológica do edificado e, também provavelmente, e em última instância, quase o contrário também deverá ser considerado, numa perspectiva de um edificado que, de tão denso e “contínuo”, possa também ele ser em boa parte matriz da referida e reinterpretada Arquitectura Urbana.
Apenas para proporcionar algumas leituras em paralelo, que se julga serem sempre úteis, cita-se, em seguida, uma pequena parte de um, desenvolvido em Fevereiro de 2005 por Adrian M. Joyce, no âmbito de um grupo de trabalho do Architect’s Council of Europe, Conseil des Architectes d’Europe, da European Construction Technology Platform (ECTP); e comenta-se, sequencialmente esta citação: (1)
“As cidades são constituídas por edifícios, ruas, praças, jardins, e pelos espaços entre eles, e são suportadas por infra estruturas de serviços e de transportes. As relações mútuas, ou a arquitectura, destes vários elementos dá carácter à cidade. A qualidade da sua arquitectura tem um impacto fundamental no bem-estar daqueles que vivem e trabalham nas cidades. É necessário perceber melhor essas relações e as diversas formas em que os seus impactos são sentidos em situações urbanas. O desafio será então integrar as conclusões resultantes em políticas de desenvolvimento, decisões de ordenamento e no próprio desenho das cidades e dos seus componentes”.




E este desafio é “inteiro” no conceito que põe em relevo, trata-se da importância que é fulcral atribuir, hoje, nas nossas cidades, à arquitectura urbana ou, caso se queira, ao urbanismo de pormenor; é daqui que irá resultar o carácter identitário, a força de atractividade, o interesse da paisagem urbana; e é essencial sublinhar que isto só se faz com um verdadeiro saber fazer da relação entre edificado e espaço livre numa perspectiva que privilegie a continuidade urbana e uma dupla intenção de funcionalidade e “visualidade” do desenho (uma qualidade de desenho coerente com o local e com o habitante).

O texto de  Adrian M. Joyce, acima citado, chama também a atenção para a questão da variabilidade das situações e das soluções e é também desta matéria que decorre o interesse dos recantos de vizinhança, das sequências urbanas, dos bairros e conjuntos e, finalmente, das próprias cidades assim compostas. E no final o texto acima foca-se a questão do como verter a síntese de tudo isto em instrumentos aplicáveis à regulação do urbano, regulação esta que é essencial, mas que não pode nunca cercear a tal variabilidade e a tal qualidade, mas que deveria, também, garanti-las, a bem da cidade e dos cidadãos.
E quase se termina este artigo com as palavras de um urbanista que também falou destas matérias, imagine-se já há em 1991, e fazendo uma excelente história-síntese das intervenções nos espaços públicos; trata-se de Michel Sablet que refere, num livro que se recomenda e que manteve toda a actualidade: (2)
  • "As operações de renovação baseadas no zoning e no arejamento do tecido quebraram a continuidade da rede de espaços públicos e muitas vezes equiparam, mas não arranjaram/resolveram” (Sablet, p. 28).
  • “A 1ª geração de espaços colectivos: ou a mediocridade sempre viva, o vazio grandiloquente, o espaço urbano lixo/resíduo, a arquitectura de cidade que se reduz e reduz o espaço público a volumes cortados pela arquitectura (contra-senso semântico e resultado morno) e às super-formas” (Sablet, p.31).
  • “A 2ª geração de espaços colectivos: ou o miserabilismo, o culto intelectual do vazio monumental, a tradição clássica requentada, a grandiloquência e o pastiche monumentais exaltando o desprezo pela rua” (Sablet, p. 32).
  • “A 3ª geração de espaços colectivos: ou a boa consciência, os redutores de escala recriam espaços com volumes interessantes, mas os grandes planos continuam a ser espaços de circulação, um princípo de esforços para modelar sub-espaços entre os imóveis, mas ficamos pela organização da Carta de Atenas, e o reduzido e medíocre mobiliário tem um papel muito elementar” (Sablet, p. 33).
  • “A 4ª geração de espaços colectivos: ou as atribulações da adolescência, a rua pedonal deixa de ser um modelo uniforme, os abrigos abrigam algo, a vegetação já não está «encaixada», a iluminação pública tem o seu papel, já não se trata de vias pedonais alinhadas, a água já não é elemento «estrangeiro»” (Sablet, p. 34).
  • “A 5ª geração de espaços colectivos ou a metamorfose urbana: Espaço verde? Praça? Fonte? O que importa. Concepção global e interpenetração das funções criam urbanidade” (Sablet, p. 36).
Será esta urbanidade, concebida a partir de uma concepção global e da interpenetração das funções o objectivo da defendida e re-interpretada Arquitectura Urbana, feita das tais múltiplas e estimulantes relações, que deverão estar sempre claramente ao serviço do homem habitante e privilegiando, designadamente, os grupos mais sensíveis, como as crianças e os idosos, até porque quando se faz uma cidade que é, assim, estruturalmente, mais amigável, se faz, também, uma cidade mais cívica, culta e rica em termos de conteúdos.
Mas deixem fazer uma última reflexão sobre esta matéria, que traduz a necessidade vital de tudo isto passar a ser bem “legível” por todos e não apenas matéria de espacialistas, pois só assim poderemos dar o necessário salto qualitativo; quando todos exigirmos uma cidade habitada assim feita.
Pois não podemos esquecer que, tal como diz o poeta José António Gonçalves (3):

“O arquitecto é um ser que caminha sobre a espuma das paisagens
e vive encantado pelas sombras que sobrevivem à flor da relva exactamente
no lugar onde as outras pessoas nunca passam
...”

Notas
(1) António Baptista Coelho, “As cidades são os locais mais desejáveis para viver e trabalhar II, objectivos/desafios e alguns comentários”, artigo editado em 17 de Maio 2005 na revista Infohabitar.
(2) Michel de Sablet, “Des espaces urbains agréables à vivre – places, rues, squares et jardins”, 1991.
(3) Sobre o grande poeta madeirense José António Gonçalves, não conseguimos, infelizmente, identificar a obra específica, entre os seus muitos livros de poesia, onde está editado o texto onde se integra a citação com que se termina este artigo, no entanto deixam-se três links para a obra deste grande escritor:
http://manuelcarvalho.8m.com/biografiagoncalves.html
http://manuelcarvalho.8m.com/jag1.html
http://poesiaseprosas.no.sapo.pt/jose_antonio_goncalves/poetas_joseantoniogoncalves01.htm
Notas editoriais:
(i) A edição dos artigos no âmbito do blogger exige um conjunto de procedimentos que tornam difícil a revisão final editorial designadamente em termos de marcações a bold/negrito e em itálico; pelo que eventuais imperfeições editoriais deste tipo são, por regra, da responsabilidade da edição do Infohabitar, pois, designadamente, no caso de artigos longos uma edição mais perfeita exigiria um esforço editorial difícil de garantir considerando o ritmo semanal de edição do Infohabitar.
(ii) Por razões idênticas às que acabaram de ser referidas certas simbologias e certos pormenores editoriais têm de ser simplificados e/ou passados a texto corrido para edição no blogger.
(iii) Embora a edição dos artigos editados no Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico, as opiniões expressas nos artigos apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores.

Infohabitar a Revista do Grupo Habitar

Infohabitar, Ano VIII, n.º 412

Os percursos de uma cidade habitada e a defesa da Arquitectura Urbana

Editor: António Baptista Coelho

Edição de José Baptista Coelho

Lisboa, Encarnação - Olivais Norte

quinta-feira, outubro 11, 2012

411 - Sobre o jogo das relações urbanas: limiares, transições e relação interior/exterior - I - Infohabitar 411


Infohabitar Ano VIII, N.º 411

ARTIGO XXI DA SÉRIE HABITAR E VIVER MELHOR


Sobre o jogo das relações urbanas: limiares, transições e relação interior/exterior - I

(com imagens de Coimbra)

António Baptista Coelho

Para além do “jogo de entradas” e do próprio “jogo urbano”, para além da crucial integração de elementos naturais e dos papéis relacionais e de apropriação de tais elementos, para além do que se consegue atingir em termos de capacidade de vivência e de atractividade do exterior público, há, antes de tudo e talvez no fim de tudo, sempre um pouco, daquilo que dá coesão a tudo isso e que podemos definir como “o jogo das relações” em Arquitectura residencial e urbana.


E complementarmente a esta questão coloca-se outra: como tal jogo parece poder ser determinante na construção de soluções habitacionais e urbanas verdadeiramente estimulantes e porque não dizê-lo, verdadeiramente eficazes?



Fig. 01

Há autores que constroem toda uma teoria do habitar sobre este jogo, como é o caso de Christopher Alexander, de Chermayeff, de Jean-Charles Depaule e mesmo, em boa parte, de Hertzberger, transformando a concepção residencial num verdadeiro jogo de limiares de privacidade e convivialidade, e, muito provavelmente terão razão. No entanto, julgo que é adequado associar a uma tal rede de relações muito centrada na presença do espaço privado, uma outra rede de relações que (se) baseia a estruturação do espaço público, e aqui é sempre útil todo o excelente processo de leitura da imagem urbana desenvolvido por Gordon Cullen.

Fig. 02

É como uma junta bem larga de coesão dos mundos domésticos – deixemos, para já, os espaços comuns fora do jogo –, mas é uma junta onde realmente se vive e que vive, também, a outros ritmos e por outras razões que não apenas aquelas que temos nas nossas casas. É um mundo cívico que tem as suas próprias razões de ser, e isto é muito importante, e é a riqueza e diversidade urbana a chamar por nós, diariamente, e isto é também muito importante e tem “mecânicas” próprias, formais e funcionais – mas, julgo que talvez formais, em primeira linha e a este tema voltaremos – que regem a potencialidade de se influenciar um habitar com mais felicidade e mesmo com mais entusiasmo, e aqui há que lembrar, sempre, o magistral tratado de paisagem urbana de Gordon Cullen, um trabalho ao qual nunca foi feita a devida justiça, designadamente, no que aqui nos reúne, autor e leitor, que é o pensarmos sempre mais um pouco sobre o como fazer habitações mais felizes (leia-se espaços habitacionais e urbanos mais felizes).


Fig. 03


Mas há que sublinhar aqui três aspectos: o primeiro tem a ver com estar-se a tratar de boa parte da matéria própria do “arquitectar”, e assim devemos ter em conta que será difícil ou mesmo desaconselhável avançar muito mais nesta reflexão sobre o jogo das relações no habitar urbano, pois tal assunto deverá ficar atribuído ao trabalho de cada projectista, uma ideia que seria boa se tivéssemos a certeza de que estamos sempre a tratar com excelentes projectistas (sem mais comentários); o segundo aspecto, ao qual dedicaremos, mais à frente, atenção específica tem a ver com a grande importância deste jogo de relações espaciais na construção do amplo leque de tipos de edifícios de habitação; e o terceiro aspecto, ao qual dedicaremos, já de seguida, mais algumas reflexões, tem a ver com a noção de que boa parte da potência arquitectónica e vivencial do jogo de relações espaciais decorre de múltiplos aspectos de ligação, transição, separação e sobreposição física e visual entre espaços interiores e exteriores.


Fig. 04

Pensemos então, apenas um pouco mais, nos aspectos de articulação entre espaços interiores e exteriores e nas suas influências na desejável fruição positiva do habitar.

Nestes limiares é importante a evidenciação dos “jardins de inverno”, nomeadamente, nos pisos térreos através de volumes envidraçados e cheios de plantas "domésticas", é um importante factor de expressão dos seus respectivos fogos, de embasamento do edifício e de relação com a envolvente natural ou de “verde” urbano, ao mesmo tempo que servem como elementos de integração entre o exterior e o interior, porque as plantas são elementos comuns e bem evidentes num e noutro. E isto pode e deve generalizar-se à matéria do verde no edificado, naturalmente, numa relação com um verde mais forte na ligação com o solo.



Fig. 05

E uma tal reflexão, mais “edificada” sobre estes elementos do exterior, mas enclausurados, que são os “jardins de inverno” pode ter uma contrapartida, quer num expressivo desenvolvimento das soluções associadas a quintais/pátios privativos, que são elementos do exterior apenas delimitados por construção, quer num idêntico desenvolvimento das zonas de relação interior/exterior, que podem marcar os "pontos" de acesso aos edifícios e os pólos de animação/vitalização pontual por equipamentos; e afinal todos estes elementos marcam funcional e visualmente o sub-nível físico residencial de transição entre a vizinhança de proximidade e os seus edifícios.

E devemos ter bem presente que é neste sub-nível físico de limiar, que, se conseguirmos desenvolver um verdadeiro nível vivencial, se poderá ganhar boa parte da batalha da motivação do uso do exterior e do desenvolvimento de uma imagem residencial apetecível, pacífica e apropriável.



Fig. 06

Afinal é nesta margem funda, neste limiar, que se "sai" dos espaços exteriores equipados a caminho dos edifícios e se sai dos edifícios a caminho desses exteriores equipados ou de outros edifícios, trata-se de um complexo de relações potencialmente vitalizador que há que tratar com grande continuidade física e visual, velando, cuidadosamente pelo conforto nos edifícios (face a possíveis actividades exteriores incomodativas) e pela funcionalidade, agradabilidade e relativa, mas fundamental, liberdade de uso dos espaços exteriores equipados (com poucas restrições porque bem posicionados e adequadamente protegidos e pormenorizados).

Esta é uma perspectiva que se julga ser razoavelmente inovadora e que se ganhou, evidentemente, não por acaso, na sequência de um amplo trabalho de apoio a uma tese de doutoramento em Arquitectura, realizada no LNEC e apresentada na FAUP, sobre o que poderá constituir a qualidade arquitectónica residencial (1); afinal, também aqui acabámos por nos situar estrategicamente nas relações entre níveis físicos mais conhecidos e evidentes, por se concluir que muita da qualificação arquitectónica se situa nestes inter-níveis, entre cidade e bairro, entre bairro e vizinhança, entre vizinhança e edifício, entre edifício e habitação, e mesmo entre a habitação e os seus compartimentos – não é tornar complexa uma “coisa” simples é, sim, aproximarmo-nos da real complexidade de algo que parece simples.


Fig. 07

E assim já se entende melhor que, por exemplo, é fundamental, não só a adequada concepção dos espaços exteriores de vizinhança e dos compartimentos domésticos, mas também a forma como uns e outros se relacionam directamente e através dos associados níveis do edifico e da habitação. E é, assim, fundamental afirmar que a qualidade residencial depende do desenvolvimento de conjuntos habitacionais globalmente concebidos tendo em atenção as desejáveis características dos seus diversos níveis físicos e das suas estreitas e mútuas inter-relações, desde a integração na envolvente até à pormenorização exterior e interior.

Por outras palavras, Francisco Keil do Amaral fala-nos estas matérias, quando, referindo-se aos "sectores de Lisboa mais lisboetas", diz que (2): "Aprecio neles, acima de tudo, uma «poética desarrumação» e fraccionamento dos edifícios e dos espaços livres e uma escala humana de relações espaciais e volumétricas peculiar. Desarrumação sábia ou com acasos sabiamente aproveitados, favorecia-a o relevo da Cidade, recomendava-a o clima e quadrava aos hábitos populares. Amenizava o conjunto do casario sem grandeza e a permanência em habitações pouco cómodas e salubres; convidava a uma vida na rua, ao ar livre, alegrada pelo nosso sol. Nesses sectores as casas não entaipavam os passantes em ruas monótonas, rigidamente alinhadas. Abriam-se, de quando em quando, em varandas sobre o rio, ou sobre os campos ou sobre outras casas construídas mais abaixo. Nuns pequenos espaços deixados à margem do movimento das ruas podia-se lazeirar, sonhar, conversar livremente ou contemplar o casario e os barcos que sulcavam o Tejo. Nuns larguinhos íntimos, abrigados do vento, os velhos gozavam o sol de Inverno, enquanto, ao lado os mais novos jogavam à malha. Bastantes edifícios eram concebidos envolvendo parcialmente pequenos espaços livres, a que davam recato e utilidade, eximindo-os à bisbilhotice proverbial dos vizinhos portugueses."


Julga-se que sobre o jogo das relações e o seu papel na Arquitectura urbana e do habitar dificilmente outro texto poderia realizar uma melhor síntese.


Notas


(1) António Baptista Coelho, “Qualidade Arquitectónica Residencial”, Lisboa, LNEC, ITA n.º 8, 2000.

(2) Francisco Keil Amaral, "Lisboa uma Cidade em Transformação", pp. 146 e 147.

Notas editoriais:

(i) A edição dos artigos no âmbito do blogger exige um conjunto de procedimentos que tornam difícil a revisão final editorial designadamente em termos de marcações a bold/negrito e em itálico; pelo que eventuais imperfeições editoriais deste tipo são, por regra, da responsabilidade da edição do Infohabitar, pois, designadamente, no caso de artigos longos uma edição mais perfeita exigiria um esforço editorial difícil de garantir considerando o ritmo semanal de edição do Infohabitar.
(ii) Por razões idênticas às que acabaram de ser referidas certas simbologias e certos pormenores editoriais têm de ser simplificados e/ou passados a texto corrido para edição no blogger.
(iii) Embora a edição dos artigos editados no Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico, as opiniões expressas nos artigos apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores.


Infohabitar a Revista do Grupo Habitar


Infohabitar, Ano VIII, n.º 411


Sobre o jogo das relações urbanas: limiares, transições e relação interior/exterior - I


Editor: António Baptista Coelho


Edição de José Baptista Coelho


Lisboa, Encarnação - Olivais Norte


quinta-feira, outubro 04, 2012

410 - JOGO DAS RELAÇÕES URBANAS: ATRAVÉS DAS PAREDES - I - Infohabitar 410


Infohabitar Ano VIII, N.º 410






Breve nota da organização do 2.º Congresso Internacional da Habitação no Espaço Lusófono - 2.º CIHEL: avisam-se os interessados que as fichas de inscrição no Congresso estarão muito em breve disponíveis no site do Congresso para download e serão, também, dentro de poucos dias, enviadas a todos os autores de resumos de comunicações aceites, salientando-se ser fundamental que o envio das comunicações completas seja acompanhado da respectiva inscrição do autor e apresentador.

A Comissão Organizadora do 2.º CIHEL

  (artigo da semana)


O JOGO DAS RELAÇÕES URBANAS:

ATRAVÉS DAS PAREDES - I
(ARTIGO XX DA SÉRIE HABITAR E VIVER MELHOR)

António Baptista Coelho




Inicia-se este artigo com a definição que Claire e Michel Duplay deram de “franja do Edifício": "a zona que o envolve desde o solo, à cobertura, passando pela fachada e o “lugar de expressão construtiva, de adaptação climática e de refúgio do imaginário" (1).


E comenta-se que as matérias do ambiente constituem, aqui, talvez, cerca de um terço da totalidade da matéria, que se desenvolve, igualmente, pela “expressão construtiva” e pelo “refúgio do imaginário” – e sobrarão ainda outras facetas arquitectónicas nesta franja entre interior e exterior, lugar estratégico das relações que são, afinal, a própria matéria-base da Arquitectura.





Fig. 01



Vários grandes projectistas têm insistido em que a Arquitectura é, essencialmente, um jogo de relações; por exemplo, Álvaro Siza referiu-o explicitamente e houve mesmo obras teórico-práticas que foram feitas exactamente nesta perspectiva da abordagem da franja entre edificado e espaço exterior.

Este é o caso do excelente “À Travers le mur”, de Jean-Charles Depaule (2), que trata em boa parte das tipologias associadas à casa urbana árabe, embora em constante relação com soluções europeias, e podemos referir com todas as paredes e tipologias urbanas e residenciais do mundo - embora sob "versões" extremamente diversificadas e ricas.






Fig. 02: E este jogo do "através das paredes" - ou "da parede!" -, também se joga através do verde urbano, por exemplo, e naturalmente através de muitos outros espaços e "dispositivos" de transição e limiar.


E neste jogo do “através das paredes” há muito potencial de satisfação/alegria e, naturalmente, de insatisfação e desgosto/depressão; pois muitos dos ganhos em termos de relações e caracterizações visuais do interior doméstico sobre o exterior público, e vice-versa, se conquistam neste através das paredes, nestes limiares, nestas transições de privacidades e de publicidades, e nestes enquadramentos estratégicos de vistas.

E é ainda neste jogo do “através das paredes” que se apontam e desenvolvem, se desperdiçam, muitas das possíveis vantagens ambientais, designadamente, em termos de estratégias de sombreamento, insolação, ventilação e iluminação natural também se podem ganhar neste ricos limiares arquitectónicos.


Nestas matérias importa ter presente que é, por vezes, pequena a distância/diferença entre uma relação urbana de proximidade, estimulante, humanizada e pitorescamente “escavada” e uma relação urbana concentracionária e, até, por vezes claustrofóbica, e, portanto, há que actuar com todos os cuidados.


Toni Marí Muñoz descreve este jogo da seguinte maneira:


"Dois âmbitos, o privado e o público, que se contrapõem. Dois espaços que se complementam. Dois egos com duas linguagens. Interior, exterior. Privacidade, publicidade. O meu, o de todos. Eu e os outros. O interior que mantém as ilusões frente ao realismo do exterior.... A ilusão de manter incólume a entidade/identidade através da inscrição em todo o lugar doméstico. A escrita do interior que consolida a memória da história pessoal: fotografias, ofertas, a viagem à Grécia, a cómoda da Avó. Memória do eu através das coisas e do afecto das coisas, inscrito na segunda pele, santo dos santos do domicílio particular" (3)





Fig. 03


Neste e jogo e nestas matérias, que são campo inesgotável de arquitecturas e designadamente de domesticidades e urbanidades arquitectónicas parece ser, realmente, muito interessante o duplo conceito proposto por Cullen de "paisagem interior” e de compartimento exterior" (4).

Nesta dupla, mas unificada, ideia parece estar muito do possível conteúdo da domesticidade interior e exterior, numa ideia de mundo de cada um em sua casa e de mundo residencial comum.


Muito do sentido de “casa no mundo”, protegida mas bem relacionada (e por isso melhor protegida), e o sentido de rua ou praceta “nossa”, onde também estamos verdadeiramente em casa, agradavelmente protegidos, identificados e bem próximos dos nosos sítios mais íntimos.


Mas para que tais ideias de projecto e de vida se concretizem é fundamental que elas joguem e bem o jogo arquitectónico das relações, dos limiares, das transições, das marcações; e tal jogo não está, decididamente, ao alcance de maus jogadores.


Notas:


(1) Claire e Michel Duplay, "Methode Ilustrée de Création Architecturale", pp. 138, 139 e 143.


(2) Éditions du Centre Georges Pompidou, Paris, Col. Alors; n.º 9, 1985.


(3) Toni Marí Muñoz, "Vivir en la Ciudad. El Exilio y el Reino", in Habitat, 4, p. 5.


(4) Gordon Cullen, "Paisagem Urbana", p. 30.



Notas editoriais:

(i) A edição dos artigos no âmbito do blogger exige um conjunto de procedimentos que tornam difícil a revisão final editorial designadamente em termos de marcações a bold/negrito e em itálico; pelo que eventuais imperfeições editoriais deste tipo são, por regra, da responsabilidade da edição do Infohabitar, pois, designadamente, no caso de artigos longos uma edição mais perfeita exigiria um esforço editorial difícil de garantir considerando o ritmo semanal de edição do Infohabitar.


(ii) Por razões idênticas às que acabaram de ser referidas certas simbologias e certos pormenores editoriais têm de ser simplificados e/ou passados a texto corrido para edição no blogger.


(iii) Embora a edição dos artigos editados no Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico, as opiniões expressas nos artigos apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores.


Infohabitar a Revista do Grupo Habitar

Infohabitar, Ano VIII, n.º 410

Sobre o jogo das relações urbanas: através das paredes - I

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