terça-feira, julho 28, 2020

Dar importância aos pequenos espaços exteriores privados – Infohabitar # 740

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Infohabitar, Ano XVI, n.º 740

Dar importância aos pequenos espaços exteriores privados  Infohabitar # 740

Por António Baptista Coelho (texto e imagens)

 

Edição: terça-feira, 28 de julho de 2020

 

Editorial:

Estimados leitores da nossa Infohabitar,

Continuando com os espaços do habitar, um dos temas “centrais” da nossa revista, vamos aprofundando, sistematicamente, esta matéria, praticamente, tipo de espaço a tipo de espaço, visando-se, em primeiro lugar a existência e as diversificadas tipologia e qualificação dos espaços exteriores privados, cuja importância esteve e está tão evidenciada em virtude do confinamento doméstico a que estivemos e ainda, em parte, estamos “obrigados”, no sentido de se procurar reduzir e estancar, verdadeiramente, a pandemia que sofremos.

Aproveita-se  para voltar a sublinhar a importância que continua a ter o distanciamento social, conseguido sempre que possível através do teletrabalho e todas as medidas de proteção própria e dos outros, que são muito favorecidas com o uso sistemático de máscara e a continuidade dos cuidados de higiene.

Esta renovada viagem pelos espaços do habitar é e será feita, nas próximas semanas, com novos artigos e também através do revisitar, do recomentar e de um expressivo desenvolvimento de artigos já editados, há alguns anos, na nossa revista.

Lembra-se, finalmente, que serão sempre muito bem-vindas eventuais ideias comentadas a propósito dos artigos aqui editados e propostas de novos artigos (a enviar para abc.infohabitar@gmail.com ao meu cuidado),

despeço-me, até à próxima semana, com saudações calorosas e desejos de muita força e de boa saúde,

Lisboa, Encarnação, em 27 de julho de 2020

António Baptista Coelho

Editor da Infohabitar

 

Dar importância aos pequenos espaços exteriores privados Infohabitar # 740

António Baptista Coelho

 

Sobre a outra e bem importante dimensão doméstica exterior, que é possível, mas tão pouco frequente, nos nossos balcões/varandas, pátios e pequenos jardins

        O presente artigo desenvolve-se na temática dos espaços exteriores privados, considerados estes não como pequenas zonas suplementares da habitação, quando não mesmo quase residuais, mas sim como espaços, relativamente pequenos, mas expressivamente positivos na sua presença, nas suas funções próprias e na complementaridade por eles proporcionada aos outros espaços domésticos mais interiorizados.

        Cabe aqui, desde já, sublinhar que tal caminho do desenvolvimento, quase, residual, dos espaços exteriores privados é diretamente fomentado pela dimensão regulamentar habitacional, que, quase sempre, faz pesar a existência de tais espaços, diretamente, na espaciosidade interior, isto é: existindo, por exemplo, uma varanda com 4m2, o espaço interior da habitação terá menos esses 4m2 – considerando-se áreas máximas regulamentares para a habitação de interesse social; matéria que nos levará, sem dúvida, muito longe em termos de reflexão e discussão, mas qua passou a assumir, sem qualquer dúvida, outro tipo de presença e de importância quando confinados uns em apartamentos com varandas de estar e outros sem qualquer tipo de espaço exterior privado ou com varandas tão exíguas e/ou tão mal colocadas na habitação e/ou relativamente à vizinhança e/ou relativamente a aspetos de insolação e ventos dominantes, que o seu uso é/era quase impossível.

        Tendo-se presente que esta problemática vale bem diversos artigos, sob diversas perspetivas, será, desde já, oportuno relevar as referidas e infelizmente bem frequentes condições dos espaços exteriores privados em termos de má integração funcional doméstica, má disposição relativamente aos fatores climáticos e má configuração em termos de microatividades proporcionadas; condições estas que, por vezes, acabam por influenciar usos impróprios de tais espaços, por exemplo, como caóticas arrumações visíveis do espaço público.  

        Sobre os espaços exteriores e/ou de transição e ligação  interior/exterior que podem constituir os nossos “pequenos” mundos domésticos e privativos, eles serão, em seguida , abordados:

       . em termos da sua importância e mesmo protagonismo como espaço exterior privado que marque a própria estruturação e a vivência de uma habitação;

       . no sentido do aproveitar e mesmo tirar partido da variedade formal e funcional do exterior privado na geração de tipologias habitacionais renovadas, “inesperadas” e com forte sentido de identidade e apropriação;

       . com o objetivo de se ganhar, verdadeiramente, outra dimensão exterior para o habitar privado – uma dimensão própria em determinados usos e ambientes e indireta, mas igualmente importante, nos ambientes e limiares de transição que assim serão conseguidos para os espaços interiores contíguos;

       . para se ter em conta a muito significativa variedade de aspetos funcionais e formais que são possíveis no exterior privado, tanto influenciando a intensidade do seu uso, como e expressivamente a imagem dos respetivos edifícios;

       . no sentido de se aproveitarem, ao máximo, as vantagens diretas e indiretas que podem ser proporcionadas pelo exterior privado;

       . e, finalmente, porque ao avançarmos neste sentido do privilegiar habitações com espaços exteriores privados estamos, verdadeiramente, a proporcionar mais “casa” para além das nossas janelas.

 

 

Fig. 01: a paisagem urbana de pormenor ganha tanto ao nível público, como ao nível privado com sequências densas e com boa imagem pública de pequenos quintais privados; e o que ganham os moradores na multiplicidade de usos “domésticos” acrescentados? Na imagem o exterior de habitações do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - Arquitetura:  Karmebäck e Krüger    

Importância e protagonismo do exterior privado

           O título deste artigo não faz justiça à ideia que se tem sobre a importância potencial dos espaços exteriores privados, salientando-se que se considera que estes espaços podem ter uma importância estruturadora da própria organização da habitação, essencialmente no caso das habitações isoladas, mas igualmente em conjuntos habitacionais coesos e mesmo em edifícios multifamiliares em altura.

Em qualquer destes casos, com uma tal opção projetual, naturalmente, quando adequadamente desenvolvida – e não tenhamos dúvida que se trata de uma opção arquitetonicamente exigente – poderemos obter um excepcional ganho em termos de caracterização da solução habitacional, embebendo-se esta solução com um sentido “diferente” ou com uma outra dimensão que pode influenciar:

       . seja usos específicos exteriores (lazer exterior em condições muito agradáveis e estimulantes, floricultura, etc.) e a possibilidade de se desenvolverem exteriormente actividades habitualmente interiores (leitura, convívio, refeições, trabalho profissional, banhos, etc.);

       . seja uma muito mais intensa relação com o exterior e com a natureza com evidentes ganhos para o conforto ambiental (luz e ventilação naturais) e para a apropriação e caracterização da habitação (grandes floreiras e pequenos pátios ajardinados).

           A ideia que aqui se aponta é que o exterior privado possa ser, inteiramente, espaço útil e mesmo espaço habitável, servindo, por exemplo, seja para circulações correntes, seja para zonas de estadia e de diversas actividades domésticas, como será, por exemplo, o caso do estar, do lazer e da recepção.

Naturalmente que esta possibilidade será mais efectiva em soluções de edifícios unifamiliares (moradias), mas considera-se que pode ser extensível a variadas soluções multifamiliares, considerando-se as limitações associadas a diversas zonas climáticas e tendo-se em conta, como bases de fundamentação directas, as soluções encontradas na habitação popular (exemplo, pátios e alpendres) e, evidentemente, na tão rica quanto esquecida história do habitar.

Exterior privado e geração de tipologias habitacionais renovadas

           É possível criar e recriar novas formas de exteriores em edifícios multifamiliares, fundindo atraente e funcionalmente, espaços públicos, semi-públicos, comuns e privados, numa perspectiva volumetricamente diversificada, que transforma as habituais soluções, tantas vezes, sem forma(s) e sem "história(s)" em divertidos espaços que articulam a rua com uma habitação que acaba por ser uma "casa" integrada numa estrutura ou cenário espacial, verdadeiramente, em três dimensões e cuja capacidade de apropriação individual e de grupo se conjuga com um frequente e bem expressivo potencial de identidade, essencialmente, vicinal, mas também, indiretamente, urbana.

           Nestas matérias o que aqui também se salienta é a ausência de sentido que tem a tripla e simultânea situação de:

               . esquecimento a que se têm votado tantas soluções de relação entre espaços domésticos interiores e exteriores e específicas e bem pormenorizadas soluções de transição entre interior e exterior;

       . de certa forma em favor de uma estruturação doméstica que tende a considerar, por um lado, o exterior doméstico como uma dimensão claramente suplementar e “descartável”;

       . a não ser, quando em soluções consideradas “luxuosas”, esse exterior ou esse espaço de transição entre interior e exterior é aplicado como sendo uma qualidade de “luxo”.

E tudo isto quando em tantas soluções de habitação popular os espaços exteriores privados ou de uso mais privado, são, por vezes, dos mais usados na habitação; condição esta que deve ter em conta, naturalmente, as limitações regionais e climáticas, que serão sempre estruturantes, designadamente, nos aspectos de adequada protecção destes espaços relativamente a ventos dominantes e de adequada orientação solar e cuidadoso sombreamento destes mesmos espaços.

           O que aqui seria interessante fazer, neste ponto da reflexão, era apontar soluções específicas que concretizam este tipo de preocupações e averiguar o custo das mesmas, pois não podemos esquecer que a existência de uma dimensão de espaço exterior privado tem, para além do seu específico “sobrecusto” relativamente a uma solução “rasa”, sem exterior privado, sempre, um fundamental aspecto qualitativo em qualquer solução habitacional; e poderíamos, mesmo, falar de um quase suplemento de alma residencial e de relacionamento urbano – e importa não esquecer este último e muito importante aspeto.

Não tenhamos, no entanto, dúvidas de que há um grande leque de soluções de espaços exteriores privados, verdadeiramente efectivos e, portanto, bem distintos daquelas soluções de varandas mal dimensionadas, mas pormenorizadas, sombrias e desabrigadas, que para pouco ou nada servem: basta passear na cidade para as ver e nelas imaginar viver.

E é ainda importante procurarmos e imaginarmos, “no limite”, soluções de habitar que não sejam, “apenas”, ativamente complementadas por exteriores privados, mas que sejam , sim, fortemente estruturadas por espaços exteriores privados, desenvolvidos, provavelmente, na continuidade de atraentes espaços exteriores comuns, ou públicos – de certa forma vivendo aqui os espaços interiores domésticos quase num ativo complemento de exteriores privados “centrais” e marcantes ( e a história do habitar é pródiga em exemplos deste tipo).


Fig. 02: o exterior privado pode e deve existir sob variadas formas, como neste espaço em terraço de um edifício multifamiliar, mas há que o tratar como espaço exterior privado, verdadeiramente “domesticado”, seja em termos de condições específicas de conforto ambiental, seja no seu potencial de apropriação, arranjo e equipamento/mobiliário. Na imagem o  exterior, em terraço privado, de uma habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - Arquitetura: Bengt Hidemark.     

Ganhar outra dimensão exterior para o habitar privado

           Basicamente do que aqui tratamos é da possibilidade de se ganhar uma outra dimensão exterior para o habitar privado, que pode ser naturalizada – ligada à natureza através de floreiras e pequenos pátios e jardins – e/ou razoavelmente aberta às vistas envolventes ou, agradavelmente, intimista e polarizadora da própria identidade protectora da habitação – em balcões e pátios cuidadosamente “fechados” e climaticamente agradáveis – nos quais se pode estender a vida na habitação; e em qualquer dos casos há o ganhar de uma “nova/velha” verdadeira dimensão exterior, mas para um tal êxito há que saber manejar a concepção do habitar harmonizando e enriquecendo mutuamente espaços privados e até para-privados interiores e exteriores.

Parece oportuno apontar aqui que esta reflexão e este estudo leva ao aprofundamento da investigação sobre diversos tipos de edifícios com conteúdo habitacional, que pode não ser exclusivo, pois, afinal, os usos mistos estão aí para ficar e marcar.

Com base num essencial estudo de Nuno Portas aponta-se, em seguida, um leque possível de diversos espaços exteriores privados: (1)

       . Varanda ou balcão, espaço predominantemente saliente do plano de fachada; o balcão é uma "varanda de peitoril" (provavelmente com guarda opaca).

            .  "Loggia", espaço predominantemente reentrante no volume do edifício (espécie de varanda ou balcão total ou parcialmente reentrante).

       . Marquise (bem planeada), varanda ou "loggia" em grande parte envidraçada – é discutível esta inclusão no domínio dos espaços exteriores privados, nomeadamente, quando são projectadas de raiz, e quando não o são, não deveriam ser permitidas pois desfiguram os respectivos edifícios.

       . Terraço ou grande varanda habitualmente situada na parte superior do edifício ou aproveitando, em diversos níveis, o seu escalonamento topográfico.

       . Pátio central (aberto no interior do fogo).

       . Quintal e/ou jardim, frontal, de traseiras ou lateral.

Sobre os variados aspetos funcionais e formais do exterior privado

           Não considerando, evidentemente, que estamos a esgotar este subtema e ee nos limitarmos às mais simples formas de exterior privado, como é o caso das varandas e terraços, alguns autores, como Claude Lamure (2), M. Imbert (3) e Dreyfuss e Tribel (4), salientam as principais actividades que são aí realizadas, sublinhando-se as consideradas mais importantes (indicadas numa ordem de possível e sempre discutível, porque muito variável, importância decrescente):

        . criar plantas e flores;

                . repousar, descontrair e estar ao sol ou ao fresco (nas tardes e noites estivais);

        . vigiar as crianças no exterior;

        . secar roupa;

        . proporcionar que as crianças brinquem;

        . permitir que os bébés tomem ar;

        . tomar certas refeições.

A relação com a natureza e o lazer assumem, como se vê, uma clara importância no uso do exterior privado, mas alguns autores destacam, também, naturalmente, a importância deste tipo de espaço como elementos de enquadramento visual do exterior e de protecção climática da restante habitação.

Fig. 03: um pequeno quintal/pátio privado pode e deve ser um pequeno mundo em termos de imagens e de potenciais apropriações, como é aqui bastante evidente. Na imagem o pátio privado de uma habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - Arquitetura: Jan Christer Ahlbäck.

A propósito das vantagens diretas e indiretas do exterior privado

           Numa perspectiva de utilidade dos espaços exteriores privativos como elementos de apoio ao interior doméstico e de sua relação com o exterior Rob Krier aponta algumas finalidades específicas para bay windows, espaços estes que parecem ser exemplares ou de referência no desenvolvimento de uma tão afirmada como harmonizada e gradual ou matizada relação entre interior e exterior: (5)

                . São alargamentos dos espaços interiores, proporcionando um sentimento de estar no exterior, mas ainda dentro da influência directa do interior doméstico.

       . Permitem vistas melhoradas do ambiente envolvente e podem mesmo “transportá-lo” para o interior enriquecendo-o e caracterizando-o – e nesta matéria há que considerar especificamente a interessante capacidade de naturalização do interior doméstico, podendo quase trazer-se o jardim para dentro de casa.

       . Enriquecem o espaço interior contíguo, porque dividem-no em subespaços diferenciados, considerando o seu relacionamento mais forte ou menos forte com vãos e espaços exteriores mais, ou menos, fechados e mais, ou menos, amplos.

       . Podem criar verdadeiras “zonas tampão” controláveis em termos de conforto ambiental, e, naturalmente, com boas influências no maior conforto doméstico e na poupança energética.

A bay window é no interior, e no transporte que faz, para o interior, do ambiente exterior, o que é o caramanchão e o telheiro isolado no exterior, neste caso como transporte do interior para uma envolvente exterior.

Os espaços exteriores privativos têm, assim funções específicas e estimulantes (por exemplo criar plantas), proporcionam a extensão de actividades domésticas interiores (como por exemplo o estar e o convívio), e enriquecem e protegem o interior doméstico através de vistas bem enquadradas e de protecções e sombreamentos estratégicos.

De certa forma os espaços exteriores privativos criam uma dimensão doméstica suplementar e complementar da dimensão doméstica interior, uma espécie de cintura de protecção e de relação da habitação com a sua envolvente natural e urbana, e uma cintura que, para além dessas funções, apoia atividades específicas; criando-se, assim, um “outro” espaço doméstico que é de grande interesse para a plena satisfação de quem habita uma casa com esses atributos e que, para além de tudo isto, ainda proporciona uma relação privilegiada e bem dominada com a vizinhança e o espaço urbano envolvente.

Ter mais “casa” para além das janelas

De certa forma havendo, por exemplo, varandas, ainda que pequenas, há mais casa para além das janelas, uma perspectiva que até é também (pres)sentida nos vãos de janela fundos, preenchidos por soleiras e peitoris largos, e que se podem ocupar com vasos de plantas e até pequenos móveis, criando-se espaços de transição com características de iluminação e de vistas específicas.

Criam-se, assim, sequências de vãos domésticos fundos e úteis e de varandas contíguas, definindo verdadeiros espaços tão de limiar como de transição, tornando o outro interior mais “interior” e protegido e qualificando o exterior em camadas sequenciais e gradualmente mais públicas, e, portanto, tornando-o muito mais apetecível do que um exterior, como que “cortado à faca”, logo ali, ao rés de uma pobre janela de peito, mal desenhada e aberta numa parede fina.

Um exterior que não existindo em termos de espaço exterior privado deixa de existir e de ser objetivamente sentido, logo que passamos a soleira da nossa porta, numa espécie de “obrigação” de interioridade e de afastamento ou separação do exterior, do espaço de uso geral/público, da natureza e, até, quase de um “ar livre” bem sentido a toda a nossa volta; numa condição que é claramente limitadora a de sensações e atividades, quando não mesmo um pouco claustrofóbica.

E, no caso contrário, quando existe algum exterior privado, ou quando este é mesmo muito significativo – por exemplo, em termos de um pátio, de um pequeno quintal, ou de uma grande e funda varanda – então o “voltar” a casa não corresponde ao cortar com essa fruição do exterior, mas sim ao ter, realmente,  mais “casa” e mais casa funcional e ambientalmente diferenciada para além das janelas; condição esta tão enriquecedora das potencialidades domésticas, como do estímulo ao relacionamento com a cidade e a natureza.

 

NNotas:

(1(1)     Baseado no Estudo de Nuno Portas, "Funções e Exigências de Áreas da Habitação", LNEC, p. 71.

(2(2) Claude Lamure, "Adaptation du Logement à la Vie Familiale", p. 209.

(3(3) M. Imbert, "Mission d'Études de la Ville Nouvelle du Vaudreil", p. 18.

(4(4) D. Dreyfuss; J. Tribel, "La Cellule-Logement", p. 29.

(5(5) Rob Krier, "Elements of Architecture", pp. 64 e 65.



NNota importante sobre as imagens que ilustram o artigo:

As imagens que acompanham este artigo e que irão, também, acompanhar outros artigos desta mesma série editorial foram recolhidas pelo autor do artigo na visita que realizou à exposição habitacional "Bo01 City of Tomorrow", que teve lugar em Malmö em 2001.

Aproveita-se para lembrar o grande interesse desta exposição e para registar que a Bo01 foi organizada pelo “organismo de exposições habitacionais sueco” (Svensk Bostadsmässa), que integra o Conselho Nacional de Planeamento e Construção Habitacional (SABO), a Associação Sueca das Companhias Municipais de Habitação, a Associação Sueca das Autoridades Locais e quinze municípios suecos; salienta-se ainda que a Bo01 teve apoio financeiro da Comissão Europeia, designadamente, no que se refere ao desenvolvimento de soluções urbanas sustentáveis no campo da eficácia energética, bem como apoios técnicos por parte do da Administração Nacional Sueca da Energia e do Instituto de Ciência e Tecnologia de Lund.

A Bo01 foi o primeiro desenvolvimento/fase do novo bairro de  Malmö, designado como Västra Hamnen (O Porto Oeste) uma das principais áreas urbanas de desenvolvimento da cidade no futuro.

Mais se refere que, sempre que seja possível, as imagens recolhidas pelo autor do artigo na Bo01 serão referidas aos respetivos projetistas dos edifícios visitados; no entanto, o elevado número de imagens de interiores domésticos então recolhidas dificulta a identificação dos respetivos projetistas de Arquitetura, não havendo informação adequada sobre os respetivos designers de equipamento (mobiliário) e eventuais projetistas de arquitetura de interiores; situação pela qual se apresentam as devidas desculpas aos respetivos projetistas e designers, tendo-se em conta, quer as frequentes ausências de referências - que serão, infelizmente, regra em relação aos referidos designers -, quer os eventuais lapsos ou ausência de referências aos respetivos projetistas de arquitetura.


O presente artigo corresponde a uma nova versão, revista e aumentada, do artigo publicado no número 569 da Infohabitar em 14 de fevereiro de 2016.

 

Notas editoriais:

(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.

(ii) No mesmo sentido, de natural responsabilização dos autores dos artigos, a utilização de quaisquer elementos de ilustração dos mesmos artigos, como , por exemplo, fotografias, desenhos, gráficos, etc., é, igualmente, da exclusiva responsabilidade dos respetivos autores – que deverão referir as respetivas fontes e obter as necessárias autorizações.

(iii) Para se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.

 

 

Infohabitar, Ano XVI, n.º 740

Dar importância aos pequenos espaços exteriores privados – Infohabitar # 740

 

Infohabitar

Editor: António Baptista Coelho

Arquitecto/ESBAL – Escola Superior de Belas Artes de Lisboa –, doutor em Arquitectura/FAUP – Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto –, Investigador Principal com Habilitação em Arquitectura e Urbanismo no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), em Lisboa.

 

abc.infohabitar@gmail.com

abc@lnec.pt

 

Revista do GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar – Associação com sede na Federação Nacional de Cooperativas de Habitação Económica (FENACHE).


terça-feira, julho 21, 2020

Notas sobre a importância do silêncio na Arquitectura – Infohabitar # 739

Ligação direta (clicar) para:  725 Artigos Interactivos, edição revista, ilustrada e comentada - 38 temas e mais de 100 autores.

Infohabitar, Ano XVI, n.º 739

Notas sobre a importância do silêncio na Arquitectura – Infohabitar # 739

Por António Baptista Coelho (texto e imagens)

 

Edição: terça-feira, 21 de julho de 2020

 

Editorial:

Caros leitores da Infohabitar, estimados amigos,

Ainda um pouco numa sequência genérica de últimos artigos, aqui editados, em que refletimos sobre paisagem urbana baseada em misturas diversificadas de tipologias edificadas e sobre aspetos de identidade, apropriação e escala humana, que devem estar bem presentes e marcar os espaços que habitamos interior e exteriormente,

dedicamo-nos no presente artigo a uma qualidade ambiental e urbana, até no sentido amplo do termo “urbana”, o silêncio, cuja presença, mais ou menos intensa, ou cuja ausência, parecem ser aspetos expressivamente qualificadores na experimentação do espaço arquitectónico e urbano; além do aspeto essencial associado à qualificação do silêncio como exigência/matéria básica na conceção arquitetónica e numa sua aprofundada e sentida fruição.

Continuando a "tradição" da Infohabitar referida à divulgação de iniciativas merecedoras de atenção, salienta-se a chamada de artigos para o novo número da revista Gestão & Tecnologia de projetos, que abordará o emprego de tecnologias digitais no campo do patrimônio, envolvendo ações nacionais ou cooperações internacionais; neste sentido, no final da presente edição anexa-se o respetivo conjunto de elementos de divulgação e informação enviados por um dos editores, o amigo e colega Prof. Eng.º Márcio Minto Fabrício do IAU-USP.

Lembrando que serão sempre muito bem-vindas eventuais ideias comentadas a propósito dos artigos aqui editados e propostas de novos artigos (a enviar para abc.infohabitar@gmail.com ao meu cuidado),

despeço-me, até à próxima semana, com saudações calorosas e desejos de muita força e de boa saúde,

Lisboa, Encarnação, em 20 de julho de 2020

António Baptista Coelho

Editor da Infohabitar

 

Notas sobre a importância do silêncio na Arquitectura – Infohabitar # 739

António Baptista Coelho

 

No presente artigo aborda-se, em primeiro lugar, o silêncio como matéria de base vital do espaço projetado e que, depois, se quer vivo; portanto base da conceção e objetivo essencial qualitativo, importante, entre outros, mas frequentemente esquecido.

Desenvolve-se, em seguida, uma natural reflexão sobre a relação entre o silêncio e o meio natural, sítio óbvio de potencial e “alimentador/apaziguador” silêncio, passando-se, depois, para uma menos óbvia natureza do silêncio como veículo de intimidade e de urbanidade; a relação com a intimidade é razoavelmente natural, enquanto o sentido de uma urbanidade calma, protetora e mesmo potencialmente introspetiva será sempre menos direta, mas considera-se que é de extrema relevância; importância esta que vai ganhando tanto maior relevo quanto mais urbana e densificada for a sociedade – como acontece com o atual habitat humano.  

Passa-se, em seguida, para uma pequena reflexão talvez mais disciplinar a propósito de se encarar e defender, mesmo, o silêncio como verdadeira matéria ou motivo da Arquitectura; naturalmente não única, mas, frequentemente, como ampla e amigável base habilitadora de outras matérias e motivos de conceção; para além de ser, sempre, matéria própria e motivo específico de conceção.           

E avançando-se nesta matéria específica de conceção associada ao silêncio, surge o “velho” e sempre pouco considerado tema das ruínas e do silêncio das/nas ruínas como estimulante motivo de perceção e criação arquitectónica.

O silêncio como base vital do espaço projetado e que, depois, se quer vivo

            Falar um pouco sobre o silêncio na arquitectura, considerando esta, naturalmente, como conjunto articulado de espaços interiores, exteriores e de transição, com presença doméstica e urbana e importantes ligações com o bem-estar que deve caraterizar os nossos cenários de vivência, será, talvez, falar de uma qualidade arquitectónica que acompanha e valoriza:

·        seja, numa primeira linha, os respetivos atos de conceção desses espaços e ambientes, que têm de se fazer sempre num relativo silêncio, de concentração e de diálogo íntimo com os diversos aspetos em que se fundamenta essa concepção, esse projeto;

·        seja, um silêncio que, numa segunda linha, embebe e caracteriza as primeiras vivências directas desses espaços logo que recém-concluídos, e atraentemente vazios e expectantes, produzindo-se, assim, imagens quase que estranha e eloquentemente silenciosas.

            Produzem-se, assim, imagens que acabam por ser projetos quase feitos realidade, e daí ainda tão calmas, numa primeira apresentação real da obra, que é sempre única e estimulante, em termos de uma fruição íntima do resultado real desse projeto de arquitectura; e talvez daqui resulte boa parte da importância que se dá à ilustração fotográfica dessa primeira fase de obra concluída e de certo modo vazia dos seus posteriores e essenciais conteúdos vivenciais, sociais e conviviais.


 

Fig. 01: Centro das Artes Casa das Mudas, na Calheta, Madeira., Arq.º Paulo David; e à direita, em silêncio, sentindo a obra, Raúl Hestnes Ferreira.

            Temos, assim, o silêncio como base de preparação do espaço que se quer vivo e como uma espécie de condição de prova de fogo, individualmente sentida, de como resulta esse espaço, quando construído, uma prova caraterizada por uma certa disponibilidade desse espaço ser entendido, globalmente, como algo que apresenta um certo potencial de acolhimento, que depois será, ou não, comprovado, quando habitarmos esse espaço; e sendo que tudo isto, da fase de projeto à fase final de vivência preliminar da obra acabada, obriga a um quadro básico de silêncio, ou de silêncio preenchido pela boa música, por exemplo, e será sempre impossível num quadro marcado pelo ruído e pela desordem que está frequentemente associada ao ruído.

            Talvez que por isso tantos amadores de fotografia, e tantos arquitectos, privilegiem os espaços vazios, desabitados e de certa forma silenciosos, não numa negação da sua essencial utilidade como quadros da vida humana nos seus mais variados aspetos, mas sim numa facilitação ou clarificação da leitura global e, depois, mais detalhada desses espaços, quase uma sua apresentação prévia, quase um cenário mesmo cenário ainda que provisoriamente cenário, e afinal quase um verdadeiro desenho em escala natural e volume, um desenho que sempre nos traz novidades relativamente ao desenho em papel que o antecedeu; mas um desenho real que, tal como o desenho-desenho, obriga a uma sua leitura silenciosa, e cuidadosamente vagarosa, num vagar que também se liga ao silêncio e que provavelmente tem clara expressão nas sempre tão apreciadas calmas e sóbrias imagens a preto, branco e cinzentos.

O silêncio e o meio natural

            Dito isto, que pretendia fazer, apenas, um enquadramento esquemático e global da matéria que aqui se propõe, mas que, tal como sempre acontece, foi tema que avançou por si próprio e que deixou outros caminhos de desenvolvimento, deve-se, talvez, agora voltar atrás, ao meio natural, que é aquele onde fundamentamos, quase sempre, direta ou indiretamente, os projectos de Arquitectura.

            Salienta-se que nos sítios naturais ou expressivamente naturalizados, o silêncio é base de quase tudo e nem é silêncio, pensa-se no silêncio natural e no silêncio na natureza, marcado por sons naturais e que acabamos por considerar como integrando o silêncio; e esta é matéria interessante pois, entre muitos outros aspetos, um dos objetivos de uma boa arquitetura é proteger e servir o homem em termos de um seu conforto amplo, em termos de um adequado equilíbrio com as condições naturais e não será por acaso que está provado que o meio natural, o seu quadro ambiental e o sossego que o marca são aspetos essenciais no bem-estar humano, sendo por exemplo usados, objetivamente, no tratamento de determinados problemas de saúde e na suavização do tão conhecido stress urbano.

            Temos então, assim, o silêncio como virtude natural que, conjuntamente com outras condições de conforto ambiental, procuramos proporcionar estrategicamente nas nossas casas, nas nossas vizinhanças urbanas e mesmo até, pontualmente, em determinados espaços urbanos mais intensos, onde é sempre possível e desejável que existam oportunidades de gozar um pouco de silêncio ou de significativa redução do ruído; e estas pequenas ilhas de calma, rodeadas de ruído e bulício urbano, serão tanto mais estimulantes, quanto mais associadas estiverem a condições naturais de estabelecimento dessa acalmia do ruído envolvente, sendo o contrário exemplificado por soluções muito condicionadas e associadas a instalações com essa finalidade específica.

 

        

Fig. 02: os meios naturais ou expressivamente naturalizados são como que "geradores de silêncio"

 

            E é interessante lembrar que os meios naturais ou expressivamente naturalizados são como que "geradores de silêncio", porque captam e amortecem os ruídos envolventes e próprios, porque produzem ruídos naturais de camuflagem, e porque associam condições de silêncio e conforto a vistas e quadros naturais, marcados pelo verde, pelas árvores e até pela água naturalizada.

            De certa forma tais quadros naturais diretamente indutores de condições mais silenciosas e indiretamente associados a memórias de ambientes silenciosos, são, depois, ferramentas que o projetista deve usar quando projeta ou reprojeta arquitetura; naturalmente não de uma forma solta e por vezes cega, mas sim integrada nos diversos aspetos de conforto ambiental que tantas pontes comuns apresentam – aspetos acústicos, higro-témicos e de conforto visual – uma integração que precisa, urgentemente, de avanços e de sínteses facilmente aplicáveis por não especialistas – e perdoem esta espécie de divagar técnico não muito adequado ao perfil da temática, ou será que é adequado e então estaremos numa reflexão extremamente sensível onde se tentam abordar, integradamente, aspetos mais objetivos e outros ainda considerados menos objetivos.

O silêncio como veículo de intimidade e de urbanidade

            Falou-se, um pouco, do enquadramento do silêncio como matéria da própria conceção arquitetónica básica e, em seguida, do mesmo silêncio como qualidade natural, ou da natureza, associada a múltiplos aspetos do conforto, e por sua vez matéria da referida conceção arquitetónica; e assim até parece que não nos conseguimos dele libertar; mas há ainda e naturalmente outras perspetivas a considerar no silêncio como quadro base de arquiteturas e pano de fundo do habitat humano, e nestas uma há cuja importância é basilar e que se refere ao silêncio como veículo de intimidade e de urbanidade.

            Nesta matéria é extremamente interessante, por um lado, encarar a possibilidade de viver o espaço doméstico com relativa autonomia em termos de vivência acústica, não prejudicando vizinhos e familiares com os nossos ruídos e música e não sendo muito prejudicados por eles pelas mesma razões, e diz-se relativamente, mas poderia dizer-se absolutamente, em termos de determinados espaços onde possa ser realmente possível ouvir música alto ou trabalhar sem limitações de ruído pela noite fora; e engana-se quem acha ser de pouca importância o fator do silêncio no quadro mais amplo da essencial privacidade doméstica e entre vizinhos do mesmo edifício ou de edifícios próximos; e está, por exemplo, provado que a falta de silêncio, que também se pode dizer falta de isolamento e conforto acústico, é aspeto que produz problemas graves e/ou frequentes entre vizinhos e habitantes das mesmas unidades de uso (por exemplo, habitações e escritórios) e dos mesmos edifícios, podendo chegar a más influências na respetiva saúde física e psíquica, e indiretamente no bem-estar social dos respetivos edifícios e vizinhanças.

         E será, aqui, estratégico referir que para o desenvolvimento, atualmente tão estimulante e necessário, de vizinhanças e edifícios funcionalmente mistos (ex., incluindo habitação, escritórios e lojas conviviais) é de grande importância o objetivo específico no sentido de se poderem gozar excelentes condições de isolamento sonoro nessas unidades, sejam quais forem as suas contiguidades e continuidades.

          Ainda nessa matéria da associação entre silêncio, intimidade e urbanidade, é, por outro lado, necessário referir que ao nível do espaço urbano também a quietude e o sossego são sinónimos de bem-estar, de proteção, de uma certa intimidade e apropriação positiva das vizinhanças que habitamos, e se referem ao desenvolvimento de espaços urbanos que articulam zonas animadas e até, eventual e razoavelmente ruidosas, com recintos urbanos estrategicamente localizados e marcados pelo sossego e pela acalmia do tráfego, recintos estes frequentemente caraterizados por uma expressiva componente verde e natural, ainda que muito urbana, e que entre outros aspetos nos proporciona viver mais intensa e prolongadamente o exterior e quase a natureza à porta de casa, de certa forma prolongando usos domésticos sobre partes desse exterior e permitindo que esse exterior calmo e envolvente, e mesmo esse silêncio que, de certa forma, "se ouve",  preencha os vãos das nossas habitações e nos entre agradavelmente casa dentro.

            Falou-se, assim, um pouco do silêncio como fator de projeto de arquitectura, algo óbvio mas raramente lembrado; depois do silêncio natural ou da natureza como elemento com importância própria e associada ao projeto de arquitetura; e, finalmente, do silêncio como veículo de intimidade e de urbanidade

 

Fig. 03: no Centro Histórico de Guimarães.

Sobre o silêncio como verdadeira matéria ou motivo de Arquitectura           

            Falta falar de muita coisa, nesta temática do silêncio como base de preparação e de vital experimentação do espaço que se projecta e que, depois, se quer vivo, falta sempre falar de muita coisa, quando começamos a aprofundar estas matérias da conceção arquitectónica, e, designadamente, falta falar do silêncio como verdadeira matéria ou motivo da Arquitectura, sem derivações, sem relações indirectas, pois parece haver obras que capturam um positivo silêncio local, ou que criam um positivo quadro local de acalmia e de sossego, um remanso e um quadro que propiciam, naturalmente, a contemplação e a reflexão sobre essas obras e as suas paisagens pormenorizadas ou amplas de integração e enquadramento; e, indiretamente, tal introspeção acaba por ser catalisadora das mais diversas atividades privadas (ex., leitura, escrita e trabalho online) e de um estimulante e prolongado convívio limitado, assegurando-se, assim, condições para longas e intensas permanências no exterior de uso público.

 

Fig. 04: Casa Pacheco de Melo, Arq.º Pedro Maurício Borges, Canada dos Barões, S. Miguel.

 

Mas podemos sempre colocar, paralelemente a tais reflexões, a “velha” e boa questão da possibilidade de tal condição, de certa forma, geradora de um sossego local, de uma certa acalmia local, grande aliada da boa caraterização de cada obra e de cada local ser (também?) caraterística própria de toda a boa arquitectura? Reflexão que nos levará/levaria muito longe e para a qual o autor confessa ter reduzida habilitação teórica.

            Questões bem estimulantes, que talvez tenham sido, ou venham a ser, aqui tratadas e que se espera poder, pelo menos, aflorar em outras oportunidades.

Sobre o silêncio das ruínas

            No entanto não se poderia terminar esta reflexão sobre a privilegiada relação entre arquitetura e silêncio, sem falar, ainda que apenas um pouco, e mais como apontamento final e prospetivo, do silêncio das ruínas: um silêncio bem ligado àquelas construções reduzidas, “apenas”, aos seus conteúdos formais e mesmo estes já “estilizados” pelo abandono e pelo tempo; um silêncio quase palpável, que todos sentimos e que ,de certa forma, corresponde ao sentido de um silêncio que parece ser libertado pelas ruínas de edifícios e construções, quando estes iniciam o seu retorno ao caos natural originário.

            Lembrando a sequência de reflexão aqui feita será como imaginarmos que o silêncio, que usámos como meio integrador e caracterizador de uma da obra, e um pouco como ponte de ligação à sua envolvente natural e urbana, é devolvido ao seu quadro prévio local e natural.  

            Sobre esta matéria, parece que as ruínas acabam por resgatar o silêncio, de que tínhamos, nós, embebido algumas construções e espaços, devolvendo-o à natureza, associando o silêncio das construções abandonadas ao silêncio do meio natural.

            Evidentemente que a nostalgia e até a cenografia são também importantes aspetos nesta sensibilidade que todos temos para com as ruínas, por vezes até simuladas estrategicamente em jardins e espaços cenicamente naturalizados, mas por alguma razão até assim acontece e realmente as ruínas são verdadeiramente silenciosas; uma matéria interessante e estimulante, mas que, evidentemente, tem contornos bem negativos quando as ruínas ou quase-ruínas se referem a espaços urbanos abandonados e sem vida.

 

Fig. 05: ruínas perto de Melgaço.         

O silêncio na Arquitetura

            Assim se conclui, sempre provisoriamente, uma pequena e sempre preliminar viagem iniciada pela reflexão sobre o silêncio como base de preparação da obra de arquitectura, continuada por apontamentos das relações entre silêncio e meio natural e entre sossego, intimidade e urbanidade, apontada, depois, no realçar do papel do silêncio como matéria ou motivo da Arquitectura e, finalmente, em alguns apontamentos sobre as ruínas como quadros privilegiados de um silêncio arquitectónico fortemente caraterizado.

            Tentou-se, assim, abordar, o mundo emotivo do silêncio, em alguns dos seus aspetos, salientando-se a importância da interiorização e da reflexão sobre estas verdadeiras bases de reflexão sobre uma arquitectura que tem de estar, sempre, muito para além de simples cascas visuais mudas e sem carácter; e o silêncio, na sua calma e no seu remanso, é sempre rica base de conceção e essencial quadro de perceção de edifícios e espaços urbanos.


O presente artigo corresponde a uma nova versão, revista e aumentada, dos artigos publicados nos números 485 e 486 da Infohabitar, repetivamente, em 25 de maio e em 1 de junho de 2014.

 


Chamada de artigos para o novo número da revista

Gestão & Tecnologia de projetos:  Tecnologias Digitais e Cooperações Internacionais na Gestão do Patrimônio Cultural, Arquitetônico e Urbanístico


Caro(a) Sr(a) pesquisador(a)/investigador(a),

Revista Gestão & Tecnologia de projetos:  Tecnologias Digitais e Cooperações Internacionais na Gestão do Patrimônio Cultural, Arquitetônico e Urbanístico

Editor Convidado: Prof. Dr. Giacomo Pirazzoli- Università degli Studi di Firenze. Scuola di Architettura.

Editor GTP: Prof. Dr. Márcio M. Fabricio – Universidade de São Paulo. Instituto de Arquiteto e Urbanismo.

Esta chamada especial aborda o emprego de tecnologias digitais no campo do patrimônio, envolvendo ações nacionais ou cooperações internacionais, dentro dos seguintes temas:

  • Casos de cooperação internacional no campo das tecnologias digitais empregadas à documentação e gestão do patrimônio arquitetônico e urbanístico;
  • Levantamento com uso de técnicas fotogramétricas digitais, varredura a laser, luz estruturada ou outras técnicas digitais;
  • Aprendizado de Máquina e Interpretação de dados digitais do patrimônio arquitetônico;
  • Bancos de dados aplicados à documentação arquitetônica ao patrimônio cultural;
  • Fabricação digital aplicada ao patrimônio cultural.
  • Integração de sistemas de captura de imagens terrestres e aéreas;
  • Internet das Coisas (IoT) aplicado ao patrimônio arquitetônico e urbanístico;
  • Métodos para processamento automatizado de fotografias;
  • Modelagem da Informação da Construção em edifícios históricos (HBIM);
  • Modelagem paramétrica aplicada ao patrimônio arquitetônico e aos centros históricos;
  • Plataformas Unificadas de Gestão da Manutenção de patrimônio arquitetônico e urbanístico;
  • Processamento e segmentação de nuvens de pontos;
  • Reconstruções digitais de edificações de interesse histórico-cultural.
  • Registros digitais de patologias construtivas;
  • Sistemas de Gestão de Legado do Patrimônio Cultural ou Heritage Information Systems (HIS);
  • Tecnologias imersivas, Realidade Aumentada e Realidade Virtual. 

CCaracterísticas dos Trabalhos:

Serão avaliados manuscritos originais redigidos em português ou inglês. As regras de submissão e formatação de manuscrito estão disponíveis pelo link: http://www.revistas.usp.br/gestaodeprojetos/information/authors

Cronograma:

  • Lançamento da Chamada: 25 fevereiro de 2020;
  • Prazo para submissão de trabalhos: até 10 de setembro de 2020;
  • Prazo máximo para avaliação preliminar pelos editores e distribuição para revisores: 30 de setembro de 2020;
  • Prazo para retorno aos autores com o resultado da primeira rodada de avaliação: 15 outubro de 2020;
  • Prazo máximo para os autores submeterem versão revisada, caso seja demandado pelos revisores: 15 novembro de 2020;
  • Prazo para retorno aos autores com o resultado da segunda rodada de avaliação: 15 dezembro de 2020;
  • Prazo par eventuais ajustes de formatação pelos autores: 20 de janeiro de 2021;
  • Publicação: fevereiro de 2021.

Muito Obrigado.

Atenciosamente,

Márcio Minto FABRICIO

Professor

Instituto de Arquitetura e Urbanismo

Universidade de Sao Paulo

 Editor da Revista:

Gestão & Tecnologia de Projetos
http://www.revistas.usp.br/gestaodeprojetos


Notas editoriais:

(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.

(ii) No mesmo sentido, de natural responsabilização dos autores dos artigos, a utilização de quaisquer elementos de ilustração dos mesmos artigos, como , por exemplo, fotografias, desenhos, gráficos, etc., é, igualmente, da exclusiva responsabilidade dos respetivos autores – que deverão referir as respetivas fontes e obter as necessárias autorizações.

(iii) Para se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.

 

 

Infohabitar, Ano XVI, n.º 739

 

Notas sobre a importância do silêncio na Arquitectura – Infohabitar # 739

 

Infohabitar

Editor: António Baptista Coelho

Arquitecto/ESBAL – Escola Superior de Belas Artes de Lisboa –, doutor em Arquitectura/FAUP – Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto –, Investigador Principal com Habilitação em Arquitectura e Urbanismo no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), em Lisboa.

 

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Revista do GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar – Associação com sede na Federação Nacional de Cooperativa de Habitação Económica (FENACHE).