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Interactivos, edição revista, ilustrada e comentada - Infohabitar 705 (36 temas e mais de 100 autores)
Infohabitar,
Ano XV, n.º 711
Uma primeira reflexão sobre velhos/novos espaços urbanos – Infohabitar 711
Por António Baptista Coelho (imagens e textos)
Nota prévia:
A Série “Habitar e Viver Melhor”,
assim como outras temáticas teórico-práticas nas áreas específicas da
“arquitectura do habitar”, com destaque para os assuntos associados a uma
habitação intergeracional bem integrada
- matérias, como sabemos, “centrais” na edição da Infohabitar - serão
retomadas em 2020, salientando-se que, por agora, a nossa revista
continuará a dedicar-se a uma edição comentada de esquissos/desenhos, seja
numa perspectiva da própria prática do desenho livre, seja considerando,
especificamente, os aspectos de arquitectura e de habitar que estejam,
eventualmente, associados a cada tema desenhado.
O editor da Infohabitar
António
Baptista Coelho
Uma primeira reflexão sobre velhos/novos espaços urbanos – Infohabitar 711
Por António Baptista Coelho (imagens e textos)
Introdução e nota prévia
Alerta-se o leitor para um artigo que se inicia com
uma reflexão textual, que se procurou não fosse excessivamente longa, seguida
de uma reflexão informalmente ilustrada, em que alguns desenhos ( 6 desenhos
coloridos) são apresentados e minimamente comentados, salientando-se matérias
da Arquitetura do habitar, associáveis às matérias tratadas no artigo, mas não
se descurando alguns brevíssimos comentários relativos ao desenvolvimento dos
respetivos desenhos.
Salienta-se, ainda, a título de nota prévia e
justificativa, eventualmente desnecessária mas cuidadosa, que as ideias que
são seguidamente apontadas correspondem a uma reflexão estritamente pessoal
sobre a matéria.
Enquadramento da temática dos velhos/novos espaços urbanos
A temática referida no título do presente artigo,
através da frase “velhos/novos espaços urbanos”, refere-se, essencialmente, à
ideia de que, nos tempos de hoje, numa época (desejavelmente) marcada pelo uso
pedonal e “suave” (modos suaves de movimentação: em bicicletas; em transportes
públicos eléctricos; em veículos partilhados, etc.) do espaço público urbano,
será talvez altura de podermos reavaliar e reintroduzir soluções de Arquitetura
urbana, que integrem, e profundamente – portanto, no “pleno uso” dos respetivos
e muito amplos leques de tipologias de espaços e aspetos de pormenor –
morfologias de edifícios e de espaços públicos, sendo ambas, expressivamente,
marcadas pela escala humana, e pela diversidade e mutação de agradáveis e
atraentes sequências de imagens, verdadeiramente catalizadoras do movimento e
da permanência.
Cabe aqui atentar em que uma tal integração profunda
e morfológica de edifícios e de espaços públicos, levará a projetos globais e
bem conjugados, em que, verdadeiramente, os alçados do edificado sejam, também,
alçados de ruas e pracetas, e em que os pisos térreos, por exemplo,
eventualmente utilizados para equipamentos coletivos, possuam um projeto, e uma
previsão de arranjo, uso e manutenção que, verdadeiramente, associe cuidados
privados, comuns e públicos, prevendo-se e procurando-se influenciar o que ali
irá acontecer nos espaços de “rua” contíguos.
Uma perspetiva de reflexão projetual que será,
portanto, associável, globalmente, a soluções urbanas, habitacionais e funcionalmente mistas,
formalmente variadas, multipontualmente marcadas pela escala e pelo uso humanos
e que apresentarão, com naturalidade, alguma similitude com as soluções que
marcaram boa parte das nossas povoações e bairros “históricos”.
Uma nota importante a considerar
Importa, no entanto, dizer, desde já, que esta
possibilidade não encerra em si qualquer tipo de criticável saudosismo
arquitetónico, mas sim, basicamente, a ideia de podermos usar um léxico amplo e
extremamente variado de soluções de arquitetura urbana, reinterpretadas,
naturalmente, à luz de novas e atuais exigências funcionais e de novos modos de
habitar, e não continuarmos a usar o catálogo, comparativamente, muito limitado
e pobre de soluções que poderemos designar de “funcionalistas”, ainda por cima,
tantas vezes empobrecidas, nos seus aspetos estruturantes e numa frequente
ausência de adequada pormenorização, por projetos de Arquitetura que não
souberam e/ou “puderam” usar esse “funcionalismo” de forma expressivamente
adequada e marcante, e que, tantas vezes se limitaram a repetir, sem verdadeira
racionalidade, receitas funcionais, habitacionais e de equipamentos que foram
espartilhando a cidade em zonas e microzonas funcionalmente quase estanques,
frequentemente bloqueadoras da natural acessibilidade mútua, e, ainda por cima,
tantas vezes vazias de qualquer marca de arte urbana ou de coerente e
motivadora paisagem urbana.
Alguns desenvolvimentos recentes e de referência
Chegados aqui, regista-se que num recente estágio
orientado pelo autor destas linhas (de um mestrando do Instituto de Arquitetura
e Urbanismo da Universidade de São Paulo), dedicado, globalmente, às matérias
associadas ao uso do espaço público e à respetiva satisfação com o espaço
público em conjuntos de habitação de interesse social brasileiros, e no âmbito
das visitas práticas realizadas a diversos conjuntos urbanos e residenciais,
aconteceu uma natural vontade de visitar também um dos principais bairros
históricos de Lisboa, Alfama (considerado um dos mais antigos bairros da
Europa), exatamente porque há, hoje em dia, a ideia, naqueles que ocuparam boa
parte das suas vidas a estudarem o espaço urbano, que as “doutrinas”
racionalistas não têm, frequentemente, o necessário “suplemento de alma” que
faz de um bairro o “nosso bairro”, de uma rua a “nossa rua” e de um edifício e
de uma habitação a “nossa casa”.
Considerando tudo isto, precisamos de exigir mais
dos nossos espaços urbanos e de vida e há que procurar, designadamente, onde
tais espaços de vida parecem “invadir”, positivamente, um relativo conjunto de
estimulantes e curiosas sequências urbanas – sequências estas integradas por
espaços bem pormenorizados e mais de “andar” ou mais de “estar”.
Atente-se que a crítica aqui colocada à doutrina
urbana modernista ou racionalista é no sentido de ela não incluir “frequentemente”
esse suplemento de alma urbano e habitacional, porque quando tais conjuntos
urbanos são bem projetados eles têm essa qualidade; mas tais casos muito
positivos são, infelizmente, raros e entre os quais, em Portugal, sobressai o
excelente bairro de Olivais Norte em Lisboa.
E a propósito de toda esta temática sugere-se a
leitura de um recente artigo do arquiteto e gestor David Galbraith, intitulado “A New Approach to Designing Smart Cities”,
que está disponível na WWW e que se inicia com a seguinte frase, que é bem
clara e sintética: “One day, I’d like to
design a truly modern, functional city with the character of a medieval hill
town”.
Sobre uma estratégica variabilidade urbana
Por fim, para rematar a parte de texto deste artigo,
salienta-se nesta temática que designámos dos “velhos/novos espaços urbanos”,
um aspeto ligado à organicidade urbana, e a uma designável “taxa de
variabilidade da paisagem urbana e da
paisagem edificada” – uma ideia que aqui se avança – e sublinham-se os
resultados que poderão ser obtidos com uma tal estratégia:
(i) Seja em termos de diversidade e associada
adequabilidade de espaços privados disponibilizados – por exemplo dos pequenos aos grandes fogos; das habitações
com acesso directo à rua, àquelas com acesso através de galerias comuns ou
semi-públicas; das grandes lojas e oficinas não poluentes aos muito pequenos
estabelecimentos “boutique” com temáticas e/ou finalidades muito específicas e
estimulantes da curiosidade pública (ex., pequena olaria artística com venda
direta).
(2) Seja em termos de estimulante organicidade,
global e pormenorizada, do tecido urbano que assim se desenvolve, marcado por
inúmeros potenciais percursos tão funcionais como verdadeiramente lúdicos,
através de “camadas” de preocupações de projeto de Arquitetura Urbana em que os
aspetos se segurança e de funcionalidade dos serviços urbanos serão devidamente
salvaguardados, mas sobrepostos com os, já referidos, aspetos de uso pedonal –
funcional e lúdico/passeios (o flanar) – e com o adequado planeamento de meios
de deslocação, ditos, “suaves” no espaço público (incluído transportes públicos
“suaves”); ainda sobrepostos com aspetos estruturantes do uso da zona em
relação com transportes públicos estruturadores ao nível do bairro e da cidade
e com “bolsas” e “pontos” estratégicos de estacionamento de veículos privados.
(3) Seja, também, em termos de uma estimulante
organicidade global da relativa “continuidade”, ou no mínimo, sequencialidade
edificada, garante de cenários que acompanham e vão motivando o peão ao longo
dos seus diversificados percursos: mais funcionais ou mais lúdicos; mais
conviviais ou mais pessoais.
(4) Seja, ainda, em termos da estratégica e ampla
diversidade de organizações e dimensões habitacionais que, assim, poderão ser
disponibilizadas, destacando-se nesta matéria a diversidade de opções de acesso
e relação com o espaço público, a diversidade de localizações e a adequação a
variadíssimos modos, gostos e necessidades habitacionais; numa opção bem
distinta daquela que se liga a um parque habitacional com quase globais
características de uniformidade associada a um regulamento com muitas dezenas
de anos e a opções de planeamento rígidas e pouco ligadas à evolução da
realidade urbana.
Ferramentas de projeto
Confessando que o meu perfil actual não é de
projetista, mas que o foi há algumas décadas, julga-se que as atuais
ferramentas de apoio informatizado ao projeto permitem uma gestão e um
“manuseamento” dessa referida desejada globalidade e diversidade de Arquitetura
Urbana – visando-se esses objetivos de visão simultânea de verdadeiros
“complexos” de espaços edificados, públicos e semi-públicos, e a sua
estratégica, respetiva e relativa continuidade de variação – muito mais
adequada e potente do que aquela que havia há algumas dezenas de anos, quando
tudo se fazia “a lápis e tinta” sobre folhas de papel vegetal, em que qualquer
pequena alteração levava a muito complexas e dimensionalmente sensíveis
operações (ex., raspar, cortar, colar) ou ao redesenhar de muitas peças de
projeto; e o que poderemos dizer das atuais ferramentas de apoio ao rigoroso
levantamento dos espaços a intervencionar?
Tudo, julga-se, ferramentas que, desde que bem
usadas e nunca substituindo a vital fase de esquisso das ideias e de verdadeira
reflexão gráfica (sempre muito pessoal) sobre as mesmas, serão excelentes para
se ir obtendo uma nova ou renovada paisagem urbana , vibrantemente construída
por espaços cheios e vazios, sem monotonia e sem anonimato, capazes de nos
proporcionarem os sítios próprios de vida que qualificam a nossa identidade e
que nos orientam e sugerem comportamentos positivos nas nossas movimentações.
Alguns desenhos minimamente comentados
Conclui-se, aqui, a parte mais textual do artigo e
avança-se, tal como foi apontado, logo de início, para a apresentação de alguns
desenhos ( 6 desenhos coloridos), que são minimamente comentados,
salientando-se matérias da Arquitetura do habitar, associáveis às temáticas
abordadas no artigo, mas não se descurando alguns brevíssimos comentários
relativos ao desenvolvimento dos respetivos desenhos.
Fig. 01: A propósito de
um “recanto urbano” que esboça uma situação caraterística de um bairro
histórico lisboeta, evidencia-se a proximidade entre os vãos habitacionais e a
potencial vivência do espaço público contíguo, uma proximidade que marca a
continuidade perspetivada desse espaço público (vista em perspetiva e
minimamente antecipada) e que “pontua” a diversidade orgânica de volumes edificados
visíveis. Em termos de desenho trata-se de um esboço a tinta, que foi depois
aguarelado e tratado com sombras azuis.
Fig. 02: Um “quadro” urbano que marca uma potencial
sequência de deslocação ou passeio com o “objetivo”
(“inantigível”) de uma linha
de horizonte marítima, bem enquadrada pelas edificações que vão assinalando,
expressivamente, a descida da rua; um tecido urbano “micro” que sublinha esses
aspetos de denteado que apontam a descida e que, com os seus aspetos de
pormenor – vãos de porta e de janela – acentuam a escala humana que invade todo
o “quadro”; e um potencial de escolha entre duas ruas que se juntam em primeiro
plano, proporciona estimulantes alternativas e escolhas. Em termos de desenho,
trata-se de um assinalar da própria importância do esboço no desenho final, com
traços de lápis, ainda bem visíveis e que, praticamente, “saltam” para as
aguadas de cor, que evidenciam ocres alaranjados num adequado equilíbrio com os
azuis do rio/mar e do céu.
Fig. 03: A esquematização
de um “complexo” edificado norte-africano que evoca a forma de geração e de
consolidação das primeiras povoações, quando edifícios/habitações
multifuncionais se juntavam a outras habitações multifuncionais, quase sem
ruas; os tons de ocre também se referem ao sentido primordial da terra como
elementos de geração desta “colina habitada”; e é esta conjugação de formas
edificadas, interligadas, continuadas ao longo das “frestas/ruas”, que se
evidencia numa qualidade bem distinta dos modernistas e isolados edifícios
racionalistas, bem separados uns dos outros e, afinal, nada solidários. O lápis
de cor aguarelável é sempre um meio “sereno”, simples de manobrar, dependendo o
efeito final do tempo que lhe dedicamos e que pode dar-nos, logo, um dado
efeito, ou, com uns borrifos de água (bem controlados: atenção, pois há que dar
tempo à água para se misturar na tinta), ser uma agradável surpresa (em textura
e tonalidades).
Fig. 04: Um pouco a mesma
lógica, apontada na figura 3, quando edifícios/habitações multifuncionais se
juntavam a outras habitações multifuncionais, neste caso já com algumas ruas
que se percebem existir pelas sombras que as ocupam; e em vez do ocre a
tendência para o branco da cal e para o branco azulado das sombras; e o pontuar
dos telhados alaranjados; um sentido de conjunto urbano que carateriza os
bairros históricos, que ao perto se penetram em curiosas sequências e que, ao
longe, são “presépios”. Um desenho a lápis de cor muito aguarelado.
Fig. 05: Ainda a mesma
ideia de uma parte de bairro urbano que se mostra com um assinalável efeito de
conjunto, como se cada edifício/”casa” pouco importasse por si próprio, mas sim
como peça de um puzzle, mas um puzzle que não é um quebra-cabeças, mas sim uma
entidade conjunta e afirmativa, em que as unidades de cada edifico se articulam
com unidades de outros edifícios contíguos ou próximos e com parcelas unitárias
do respetivo espaço público intersticial. Um desenho direto a tinta (sem
preparação de lápis) onde os vãos de janela adquirem assinalável protagonismo,
habitando tudo; e assim se volta à temática urbana com a grande família de vãos
de janela humanizadores e de relação com o espaço público.
Fig. 06: E, por fim,
neste artigo, a chegada à margem, ao final do percurso, vista, neste caso, do
lado do mar, e sublinhando-se formalmente os variados edifícios esboçados nos
mesmos tons, com idêntica escala geral, mas formalmente bem identificáveis;
numa opção em que a unidade formal do bairro ou conjunto urbano significativo,
pode conviver com a identidade de cada elemento/ edifício. E, novamente, o
simples lápis aguarelado.
Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar
seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar
assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e
científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o
pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e
comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) No mesmo sentido, de natural responsabilização dos
autores dos artigos, a utilização de quaisquer elementos de ilustração dos
mesmos artigos, como , por exemplo, fotografias, desenhos, gráficos, etc., é,
igualmente, da exclusiva responsabilidade dos respetivos autores – que
deverão referir as respetivas fontes e obter as necessárias autorizações.
(iii) Para se tentar assegurar o referido e adequado nível
técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade
muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm
a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e
pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos
comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se
circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é
pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser
de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado
tal e qual foi recebido na edição.
Infohabitar, Ano XV, n.º 711
Uma primeira reflexão sobre velhos/novos espaços urbanos – Infohabitar 711
Infohabitar
Editor: António Baptista Coelho
Arquitecto/ESBAL, doutor
em Arquitectura/FAUP – Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto,
Investigador Principal com Habilitação em Arquitectura e Urbanismo no
Laboratório Nacional de
Engenharia Civil (LNEC)
–, em Lisboa
Revista do GHabitar (GH) Associação
Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar – Associação
com sede na Federação Nacional de Cooperativa de Habitação Económica (FENACHE).
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