terça-feira, novembro 29, 2022

Os idosos e os seus espaços residenciais III – versão de trabalho e base documental – Infohabitar # 841

Ligação direta (clicar no link seguinte) para aceder à listagem interativa de 800 Artigos editados na Infohabitar – edição de janeiro de 2022 com links revistos em junho de 2022 (38 temas e mais de 100 autores):

https://docs.google.com/document/d/1WzJ3LfAmy4a7FRWMw5jFYJ9tjsuR4ll8/edit?usp=sharing&ouid=105588198309185023560&rtpof=true&sd=true


Os idosos e os seus espaços residenciais III – versão de trabalho e base documental – Infohabitar # 841

Infohabitar, Ano XVIII, n.º 841

Edição: quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Artigo XXIII da série editorial da Infohabitar “PHAI3C – Programa de Habitação Adaptável e Intergeracional através de uma Cooperativa a Custo Controlado”

 

Caros leitores da Infohabitar,

Com o presente artigo damos continuidade à série editorial da Infohabitar especificamente dedicada a uma abordagem global e bibliográfica dos amplos, sensíveis e urgentes aspetos associados às necessidades, aos gostos e às potencialidades sociais e urbanas de uma reflexão prática sobre os espaços residenciais dedicados a pessoas idosas e fragilizadas, desejavelmente integrados em quadros intergeracionais, ativamente urbanos e dinamizados e convivializados pelas cooperativas que estão, desde há dezenas de anos, dedicadas à promoção de habitação de interesse social com expressiva qualidade e frequentemente associada a um amplo leque de variadas e vitais atividades vicinais e urbanas – as Cooperativas associadas à Federação Nacional de Cooperativas de Habitação Económica (FENACHE).

Lembra-se, como sempre, que serão sempre muito bem-vindas eventuais ideias comentadas sobre os artigos aqui editados e propostas de artigos (a enviar para abc.infohabitar@gmail.com).

Por razões "logísticas" a edição desta semana da Infohabitar foi antecipada um dia, para terça-feira. 

Despeço-me, até à próxima semana, enviando saudações calorosas para todos os caros leitores,     

Lisboa, em 29 de novembro de 2022

António Baptista Coelho

Editor da Infohabitar



Nota introdutória à temática do Programa de Habitação Adaptável Intergeracional – Cooperativa a Custos Controlados (PHAI3C)

Considerando-se o atual quadro demográfico e habitacional muito crítico, no que se refere ao crescimento do número das pessoas idosas e muito idosas, a viverem sozinhas e com frequentes necessidades de apoio, a atual diversificação dos modos de vida e dos desejos habitacionais, e a quase-ausência de oferta habitacional e urbana adequada a tais necessidades e desejos, foi ponderada o que se julga ser a oportunidade do estudo e da caracterização de um Programa de Habitação Adaptável Intergeracional (PHAI), adequado a tais necessidades e a uma proposta residencial naturalmente convivial, eficazmente gerida e participada e financeiramente sustentável, resultando daqui a proposta de uma Cooperativa a Custos Controlados (3C).

O PHAI3C visa o estudo e a proposta de soluções urbanas e residenciais vocacionadas para a convivência intergeracional, adaptáveis a diversos modos de vida, adequadas para pessoas com eventuais fragilidade físicas e mentais, mas sem qualquer tipo de estigma institucional e de idadismo, funcionalmente mistas e com presença urbana estimulante. O PHAI3C irá procurar identificar e caracterizar tipos de soluções adequadas e sensíveis a uma integração habitacional e intergeracional dos mais frágeis num quadro urbano claramente positivo e em soluções edificadas que possam dar resposta, também, a outras novas e urgentes necessidades habitacionais (ex., jovens e pessoas sós), num quadro residencial marcado por uma gestão participada e eficaz, pela convivialidade espontânea e social e financeiramente sustentável.

Trata-se, tal como se aponta no título do artigo, de uma “versão de trabalho e base bibliográfica” e, portanto, de um artigo cujos conteúdos serão, ainda, substancialmente revistos até se atingir uma versão estabilizada da temática referida no título; no entanto, em virtude da metodologia usada, que se considera bastante sólida, marcada pelo recurso a abundantes referências de fontes, devidamente apontadas e sistematicamente comentadas no sentido da respetiva aplicação ao PHAI3C, e tendo-se em conta a utilidade de se poder colocar à discussão os muitos aspetos registados no sentido da sua possível aplicação prática no PHAI3C, considerou-se ser interessante a divulgação desta temática/problemática nesta fase de “versão de trabalho”, que, no entanto, foi já razoavelmente clarificada – como exemplo do posterior tratamento para passagem a uma versão mais estável teremos, provavelmente, referências bibliográficas mais reduzidas e boa parte delas em português, assim como comentários mais desenvolvidos; mas mesmo este desenvolvimento irá sendo influenciado pelo(s) caminho(s) concreto(s) tomado(s) pelos diversos temas e artigos que integram, desde já, a estrutura pensada para o designado documento-base do PHAI3C, que surgirá, em boa parte, da ligação razoavelmente sequencial entre os diversos temas abordados em variados artigos.

Ainda um outro aspeto que se sublinha marcar, desde o início, o teor do referido documento-base do PHAI3C (a partir do qual serão gerados vários documentos específicos: mais de enquadramento e mais práticos) é o sentido teórico-prático que privilegia uma abordagem mais integrada e exemplificada da temática global da habitação intergeracional adaptável e cooperativa, apontando-se exemplos e ideias concretas logo desde as partes mais de enquadramento da abordagem da temática como as que se desenvolvem neste artigo.

 

Notas introdutórias ao novo e presente conjunto de artigos sobre habitação intergeracional

O presente artigo inclui-se numa série editorial dedicada a uma reflexão temática exploratória, que integra a fase preliminar e “de trabalho”, dedicada à preparação e estruturação de um amplo processo de investigação teórico-prático, intitulado Programa de Habitação Adaptável Intergeracional Cooperativa a Custos Controlados (PHAI3C); programa/estudo este que está a ser desenvolvido, pelo autor destes artigos, no Departamento de Edifícios do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), e que integra o Programa de Investigação e Inovação (P2I) do LNEC, sublinhando-se que as opiniões expressas nestes artigos são, apenas, dos seus autores – o autor dos artigos e promotor do PHAI3C e os numerosos autores citados no texto.

Neste sentido salienta-se o papel visado para o presente artigo e para aqueles que o precederam e os que lhe darão continuidade, no sentido de se proporcionar uma divulgação que possa resultar numa desejável e construtiva discussão alargada sobre as muito urgentes e exigentes matérias da habitação mais adequada para idosos e pessoas fragilizadas, visando-se, não apenas as suas necessidades e gostos específicos, mas também o papel e a valia que têm numa sociedade ativa e integrada.

Nesta perspectiva e tendo-se em conta a fase preliminar e de trabalho da referida investigação, salienta-se que a forma e a extensão do texto que é apresentado no artigo reflete uma assumida apresentação comentada, minimamente estruturada, de opiniões e resultados de múltiplas pesquisas, de muitos autores, escolhidos pela sua perspectiva temática focada e por corresponderem a estudos razoavelmente recentes; forma esta que fica patente no significativo número de citações – salientadas em itálico –, algumas delas longas e incluídas na língua original.

Julga-se que não se poderia atuar de forma diversa quando se pretende, como é o caso, chegar, cuidadosamente, a resultados teórico-práticos funcionais e aplicáveis na prática, e não apenas a uma reflexão pessoal sobre uma matéria bem complexa como é a habitação intergeracional adaptável desenvolvida por uma cooperativa a custos controlados e em parte dedicada a pessoas fragilizadas.

Solicita-se a compreensão dos leitores para lapsos e problemas de edição que, sem dúvida, acontecem nos textos que integram o presente artigo, assim como todos os 16 artigos da presente série editorial, que correspondem à estruturação de um documento-base que se pretende seja essencialmente prático e dinamizador da discussão sobre a matéria; havendo tempo, depois, espera-se, para documentos com reflexões mais elaboradas e sintéticas.

Devido à sua extensão o presente artigo foi dividido em três partes editadas na Infohabitar em semanas consecutivas.

Os idosos e os seus espaços residenciais III – versão de trabalho e base documental – Infohabitar # 841

António Baptista Coelho  – com base direta nos textos, ideias e opiniões dos autores referidos ao longo dos documentos que integram a listagem bibliográfica registada no final do artigo.

 

(nota: a negrito, no resumo, a parte do artigo que integra a presente edição da Infohabitar)

Resumo

Em primeiro lugar aborda-se a matéria da relação entre o habitar e o envelhecimento num conjunto de aspetos específicos entre os quais se salientam: a aliança entre um melhor habitar e um melhor envelhecer; a disponibilização de um habitar realmente atraente para a população mais envelhecida; aspetos a sublinhar nas estratégias de oferta habitacional para os idosos; relação entre as dinâmicas do envelhecimento e a escolha do habitar; aspetos científicos do envelhecimento humano a ter em conta no que se refere às escolhas habitacionais; a transição para a aposentação; novos perfis dos novos idosos; e consideração dos aspetos de potencial transição habitacional nos idosos.

Numa segunda parte do artigo desenvolvem-se considerações sobre os mais significativos  aspetos ligados à transição habitacional dos idosos.

E na última parte do artigo abordam-se aspetos vivenciais e residenciais que contribuem para um máximo de qualidade de vida no âmbito do envelhecimento.

 

3. Aspetos vivenciais e residenciais que contribuem para um máximo de qualidade de vida no âmbito do envelhecimento

Ainda a partir do mesmo incontornável relatório dos Calouste Gulbenkian Foundation, UK Branch e do Centre for Ageing Better, intitulado Evaluation of Transitions in Later Life Pilot Projects: Executive Summary and Full Report , e no que se refere aos aspetos ligados ao que aí é designado por “successful ageing” e que aqui referimos como aspetos residenciais que contribuem para uma qualidade de vida maximizada quando do envelhecimento, citam-se e comentam-se, em seguida, algumas temáticas e mesmo alguns conceitos aplicáveis. (11) 

E primeiro lugar julga-se ser de evidenciar que, academicamente, um envelhecimento positivo depende de um “triângulo” de condições, como se segue: ausência e combate à doença; manutenção de adequadas condições físicas e mentais; e de uma ligação ativa e autonomizada com a vida (pg. 105) – condição esta que muito terá a ver com os respetivos quadros residenciais, vicinais e urbanos.

E passamos às referidas citações: (negrito nosso)

Leaving aside the obvious requirements of good physical and cognitive functioning, Ryff and Keyes …  propose a theoretical model of psychological adult wellbeing that encompasses six distinct dimensions of wellness or successful aging:

. Self Acceptance: positive evaluations of oneself and one’s past life

. Personal Growth: a sense of continued growth and development as a person

. Purpose in Life: belief that one’s life is purposeful and meaningful

. Positive Relationswith Others: the possession of quality relations with others

. Environmental Mastery: the capacity to manage effectively one’s life and surrounding world

. Autonomy: a sense of self-determination.

A importância dos quadros residenciais, vicinais e urbanos parece ser potenciamente determinante de um expressivo bem-estar ao longo do nosso processo de envelhecimento, sendo evidentes as potenciais e efeitivas relações dos seis aspetos, que acabaram de ser apontados, com um cuidadoso, sensível e participado quadro vivencial residencial, vicinal e urbano.

Aprofundando, agora, os aspetos que são considerados como determinantes do “sucesso” no envelhecimento “ teremos, com base direta no mesmo relatório, dos Calouste Gulbenkian Foundation, UK Branch e do Centre for Ageing Better, que está a ser referido e citado (pg. 106 a 109): (comentários respetivos sublinhados e exemplos nossos)

A saúde física: que pode ser muito favorecida através de uma dieta adequada e de exercício regular; condições estas que podem ser diretamente propiciadas por um adequado quadro vivencial (ex., em termos de restauração, monitorização e relação com o exterior).

A saúde mental: que poderá ser incentivada em termos de manutenção da memória e das capacidades cognitivas através de atividades mentais específicas e enriquecedoras na nossa vida mental; condições estas muito mais naturalmente possíveis e suatentadas em agrupamentos residenciais com espaços comuns do que através de uma opção individual.

O bem-estar emocional: felicidade, optimismo e uma atitude positiva relativamente ao envelhecimento estão associados a boas condições de saúde e de bem-estar e a uma expressiva longevidade; condições essas muito ligadas aos respetivos quadros residenciais, que são intensa e demoradamente vividos pelos mais idosos.

A proposta de atividades com significado: enquanto os mais jovens tendem a realizar atividades apenas pelo prazer da sua experimentação, os mais idosos tendem a optar por atividades significativas, designadamente, em termos das respetivas recompensas emocionais; julga-se que, nestas matérias, o apoio a um convívio pormenorizadamente cuidado e potencialmente estimulante, a realização bem acompanhada de práticas de jardinagem e a promoção de frequentes possibilidades para passeios e viagens bem apoiados, são exemplos deste tipo de atividades e que, aliás, têm um evidente e forte potencial intergeracional em termos de convívio e apoio mútuo.

O desenvolvimento pessoal: importa salientar que o desenvolvimento/crescimento pessoal é tão importante quando envelhecemos como quando somos jovens, designadamente, em termos de um “desenvolvimento pessoal que decorra de um empenhamento pleno numa rica gama de experiências e oportunidades de aprendizagem”, e porque “não há fim para a aprendizagem, mas é preciso acreditar que é igualmente importante na vida posterior para a sustentar”; julga-se que a importância da disponibilização efeitiva de estimulantes, diversificadas e adequadas condições de desenvolvimento pessoal, formativas e de aprendizagem fica assim bem clarificada, juntando-se, “apenas”, que há muitos casos de idosos que só quando aposentados tiveram condições mais adequadas para determinadas ações desse tipo, mas muitos deles ficarão, apenas, pelas intenções se não forem proporcionadas adequadas e mesmo “profissionalidadas” condições, que, evidentemente, estão mais associadas a agrupamentos residenciais do que a uma vivência individualizada (por exemplo, uma prática regular de desenho é extraordinária em termos de crescimento pessoal e mesmo de bem-estar e de saúde de quem a pratica, mas depende muito em termos de sucesso de um adequado acompanhamento e de um mínimo de enquadramento físico/ambiental).

A independência: tendo presente que um dos principais receios dos idosos é a perda da sua autonomia e do controlo sobre o seu quadro vivencial, sendo que, ao contrário do que é a ideia geral, essa autonomia poderá não ser criticamente comprometida devido a condições de doença e de deficiência, e, cumulativamente, está provado que a manutenção de um adequado controlo sobre as próprias condições de vida afeta positivamente a longevidade; nestas matérias é evidente que a agregação residencial, habitualmente facilitadora da disponibilização de diversos tipos de apoios pessoais e domésticos é condição positiva para a referida autonomia de vida, sendo que a existência de um quadro vivencial coletivo adequadamente desenvolvido e organizadamente cooperativo será fator de participação na vida própria do respetivo conjunto residencial e de controlo do respetivo quadro vivencial.

A interdependência: é, praticamente, tão importante como a independência, pois somos seres gregários e a interação social urbana e local é fundamental para o nosso bem-estar, sendo a solidão uma verdadeira doença (“atualmente comparada em termos de prejuízo para a saúde, ao fumar 15 cigarros por dia”), isto embora existam variados níveis de necessidade de interação social, embora “todos necessitemos de atingir o nível que nos impede de nos sentirmos sozinhos”; importa sublinhar que baixos níveis de integração social influencial aumento de mortalidade e que idosos com redes sociais fortes são habitualmente mais saudáveis e felizes, relacionando-se, assim, estas redes com a redução da morbilidade e da mortalidade; este expressivo potencial de interdependência e as respetivas condições de convívio e entreajuda, sempre naturais, oportunas/estratégicas e voluntariamente assumidas estão, evidentemente, presentes na própria raiz e na natureza básica do PHAI3C, designadamente, no que se refere à sua natureza participada e cooperativa.

Ainda no que se refere a esta temática da importância da interação social para pessoas fragilizadas e designadamente para idosos fragilizados importa sublinhar que no relatório que tem estado a ser referido se afirma que o “apoio social é particularmente importante no aumento da resiliência e na promoção da recuperação em quadros de doença” e que, por outro lado, é também “particularmente importante no evitar de riscos de estilo de vida como o tabagismo”.

A segurança financeira: é considerada auto-evidente na sua importância; no entanto ela está tambem presente na própria raiz e na natureza básica do PHAI3C, designadamente, na sua natureza cooperativa e económica.

A existência de um ambiente atraente/estimulante: “à medida que envelhecemos às nossas habitações e vizinhanças tendem a ter mais importância para nós”, até porque tendemos a lá permanecer mais tempo, sendo assim importante que “as nossas condições específicas de habitar constituam uma parte crucial de um nosso positivo envelhecimento”; 

A disponibilização de apoios espirituais e filosóficos: “a aproximação da morte faz a diferença relativamente a como vemos o mundo e a nossa própria vida. Isto não quer dizer que todos ns tornemos espirituais, mas que o sentido que dirigimos ao mundo e à nossa vida ganham importância”; provavelmente se há tempo/altura mais adequado para o desenvolvimento de uma perspetiva mais espiritual e/ou fisosófica da vida, será a idade mais avançada essa altura e talvez que possamos apoiar nestes caminhos seja por uma via mais espiritual e eventualmente religiosa, seja por uma outra via mais científica e filosófica, pois não tenhamos dúvida de que se há pessoas perfeitamente auto-encaminhadas e bem orientadas outras há para as quais tais apoios serão sempre positivos.

O incentivar de um renovado sentido/objetivo de vida (sense of purpose): “quase todas as transições que vivemos podem despoletar sentimentos de solidão. Simultaneamente muitos destes riscos podem ser mitigados através de comunidades fortes e vibrantes e da resiliência pessoal”. Chegados a “velhos” e se tivermos a felicidade de viver uma família que se vai desenvolvendo com naturalidade e autonomia, muitos dos anteriores fatores que nos estruturam em termos de vida irão mudar, sendo que, havendo o risco de algum esvaziar de objetivos, importará reconstruí-los rapidamente e em força; e nesta perspetiva todas as ajudas serão úteis e designadamente as que existirem em termos de quadro físico e social vivencial.

 A complexidade, a sensibilidade, a diversidade e mesmo a relativa inovação nos tempos e quadros vivenciais do envelhecimento humano

Voltando aos conteúdos específicos do relatório e na matéria, julgada crucial, do incentivo a um adequado e oportuno desenvolvimento pessoal importa ter presente que as transições na vida dos idosos tendem sempre a ser consideradas negativas, pelo que será adequado evidenciar a oportunidade de desenvolvimento pessoal que deve ser proporcionada no âmbito da constatação de que o período de envelhecimento pode e dede ser uma jornada com muitos e positivos desafios.

De acordo com o relatório, importa ainda ter presente que as transições e alterações vivenciais numa fase avançada da vida raramente são vividas numa sequência clara, isto porque a vida do idoso é, frequentemente, confusa e as respetivas mudanças e transições irão, frequentemente, acontecer ao mesmo tempo e/ou influenciarem-se mutuamente; e estas mudanças e transições podem não ser só as ligadas aos próprios idosos, e frequentemente não o são, o que complica ainda mais a equação.

Esta perspectiva dirige-nos, de certo modo, para um pequeno mundo de transições múltiplas, com atores marcados por novos papéis, idosos e familiares, e por novos atores, por exemplo os dedicados a serviços de apoio pessoal e doméstico.

E nem todas as mudanças de papel desempenhado vão num mesmo e habitual sentido de idosos perdendo autonomia e seus familiares ganhando protagonismo; e aqui há que considerar o renascer do papel dos idosos como parceiros ativos no acompanhamento e mesmo na educação das crianças mais pequenas, condição esta que, por exemplo, pode afetar bastante a estruturação de novos espaços domésticos privados onde será, então, essencial a existência de espaços adequados e específicos para tais finalidades.

E é neste sentido e citando, agora, o estudo de F. D. Valéry, L. H. C. de Gois e L. V. Nunes, intitulado “Idosos e famílias - idosos e mais idosos na convivência familiar contemporânea”, que podemos lembrar aspetos que têm de estar bem presentes na caraterização de soluções residenciais intergeracionais e adequadas para idosos. (12)

Evitando-se, sempre, qualquer solução-tipo única, criticamente funcionalizada e deficientemente marcada, apenas, pela vivência de idosos; e lembremos aqui, que, afinal, estamos, frequentemente, a defender o combate à solidão dos idosos, mas estamos, também, frequentemente e proporcionar-lhes condições residenciais cujos programas e dimensionamentos mínimos, acabam por habilitar essa mesma solidão e em condições espacialmente negativas.

Quando, afinal, a realidade é, muitas vezes, outra, tal como se cita do referido estudo de F. D. Valéry, L. H. C. de Gois e L. V. Nunes:

Em conclusão, os membros da família pertencentes às gerações mais velhas estão cada vez mais presentes e desempenham vários papeis: como companheiros de brincadeira e auxiliares na socialização das crianças; como suporte financeiro no sustento de famílias inteiras (principalmente mediante repasse dos recursos oriundos de  aposentadorias ou pensões para financiar as atividades dos demais membros das famílias nas áreas rurais e pequenas cidades do interior); … (pg. 5 e 6)

E, por isso, a própria natureza básica do PHAI3C é a de um conjunto habitacional, adaptável, intergeracional e participado, propondo-se ambientes privados diversificados e racionalmente mutantes/adaptáveis e ambientes comuns muitifuncionais e acolhedores, onde seja, portanto, tão natural ver idosos, como outros adultos e crianças, visitando ou vivendo; evidentemente no respeito de algumas essenciais regras de conduta, mas de uma forma muito mais natural do que aquela que sempre caracteriza o sentido “pouco à vontade” das “visitas” em meios institucionalizados.


Notas bibliográficas

(1) Dominique Argoud - L’habitat et la gérontologie, deux cultures en voie de rapprochement ?. PUCA. Université Paris12 - Coordination du programme Phuong Mai Huynh - mai.huynh@ developpement-durable.gouv.fr - Les bilans de consultations sont en ligne sur le site du PUCA www.urbanisme.equipement.gouv.fr/puca .

(2) Savills World Research UK Residential - Housing an ageing population – Savills I 2015

(3) Peabody - Older People’s Strategy 2015-2020 - Overview. Peabody. Londres, 2015

(4) Textos de síntese retirados do site da Housing LIN, em https://www.housinglin.org.uk/Topics/browse/Design-building/HAPPI/

(5) James Banks, James Nazroo and Andrew Steptoe (eds) - EVIDENCE FROM THE ENGLISH LONGITUDINAL STUDY OF AGEING 2002–10, (WAVE 5), The Institute for Fiscal Studies, London, October 2012 - Andrew Steptoe, Panayotes Demakakos, Cesar de Oliveira  - The Psychological Well-Being, Health and Functioning of Older People in England - University College London

(6) HOUSE OF LORDS - Science and Technology Committee - Ageing: Scientific Aspects, 1st Report of Session 2005-06, Volume I: Report, Ordered to be printed 5 July 2005 and published 21 July 2005

(7) Martin Hyde (Swansea University, SU) ; Maria Cheshire-Allen (SU) ; Marleen Damman (Netherlands Interdisciplinary Demographic Institute, NDI) ; Kene Henkens (NDI) ; Loretta Platts (Stress Research Institute) ; Katrina Pritchard (SU); Cara Reed (SU) - The experience of the transition to retirement: Rapid evidence review. Report, Centre for Ageing Better, 2018 (dezembro).

(8) Administration for Community Living - Profile of Older Americans, Administration for Community Living , Administration on Aging, U.S. Department of Health and Human Services. 2018.

(9) Calouste Gulbenkian Foundation, UK Branch ; Centre for Ageing Better - Evaluation of Transitions in Later Life Pilot Projects: Executive Summary and Full Report. 2017. www.gulbenkian.pt/uk-branch , www.ageing-better.org.uk.

« This report by Guy Robertson is the foundation stone of our current work on Transitions in Later Life. We decided to republish it as a companion piece to Kate Jopling and Dr. Isaac Sserwanja’s report because it reinforces the message that later life transitions can be a trigger for loneliness. »

(10) Calouste Gulbenkian Foundation, UK Branch ; Centre for Ageing Better - Evaluation of Transitions in Later Life Pilot Projects: Executive Summary and Full Report. 2017. www.gulbenkian.pt/uk-branch , www.ageing-better.org.uk.

« This report by Guy Robertson is the foundation stone of our current work on Transitions in Later Life. We decided to republish it as a companion piece to Kate Jopling and Dr. Isaac Sserwanja’s report because it reinforces the message that later life transitions can be a trigger for loneliness. »

(11) Calouste Gulbenkian Foundation, UK Branch ; Centre for Ageing Better - Evaluation of Transitions in Later Life Pilot Projects: Executive Summary and Full Report. 2017. www.gulbenkian.pt/uk-branch , www.ageing-better.org.uk.

« This report by Guy Robertson is the foundation stone of our current work on Transitions in Later Life. We decided to republish it as a companion piece to Kate Jopling and Dr. Isaac Sserwanja’s report because it reinforces the message that later life transitions can be a trigger for loneliness. »

(12) F. D. ValéryL. H. C. de Gois; L. V. Nunes - Idosos e famílias - idosos e mais idosos na convivência familiar contemporânea. Congresso Nacional de Envelhecimento Humano, Natal – RN 23 a 25 novembro 2016.

 

Notas editoriais gerais:

(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.

(ii) No mesmo sentido, de natural responsabilização dos autores dos artigos, a utilização de quaisquer elementos de ilustração dos mesmos artigos, como , por exemplo, fotografias, desenhos, gráficos, etc., é, igualmente, da exclusiva responsabilidade dos respetivos autores – que deverão referir as respetivas fontes e obter as necessárias autorizações. 

(iii) Para se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.



Os idosos e os seus espaços residenciais III – versão de trabalho e base documental – Infohabitar # 841

Infohabitar, Ano XVIII, n.º 841

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Infohabitar – a revista da GHabitar

 

Editor: António Baptista Coelho

Arquitecto/ESBAL – Escola Superior de Belas Artes de Lisboa –, doutor em Arquitectura/FAUP – Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto –, Investigador Principal com Habilitação em Arquitectura e Urbanismo no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), em Lisboa

abc.infohabitar@gmail.com

abc@lnec.pt

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