quarta-feira, fevereiro 09, 2022

Dois livros de Alberto Sousa: Do mocambo à favela e A invenção do barroco brasileiro – infohabitar # 804

Ligação direta (clicar) para:  listagem interactiva de 800 Artigos, edição revista em janeiro de 2022- 38 temas e mais de 100 autores

https://docs.google.com/document/d/1WzJ3LfAmy4a7FRWMw5jFYJ9tjsuR4ll8/edit?usp=sharing&ouid=105588198309185023560&rtpof=true&sd=true

Dois livros de Alberto Sousa: Do mocambo à favela e  A invenção do barroco brasileiro – infohabitar # 804

Infohabitar, Ano XVIII, n.º 804

Edição: quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022 

 

 

Caros leitores da Infohabitar,

 

Mais uma vez é com muito gosto que a Infohabitar faz a divulgação de duas obras de Alberto Sousa, neste caso dois livros que o autor está a disponibilizar em texto completo na internet.

 

Lembra-se, novamente, que serão sempre muito bem-vindas eventuais ideias comentadas sobre os artigos aqui editados e propostas de novos artigos (a enviar para abc.infohabitar@gmail.com , ao meu cuidado).

 

Enviam-se saudações calorosas a todos e muito especialmente aqueles, que serão muitos, ultimamente afetados pela pandemia; desejam-se rápidas e completas melhoras.

Despeço-me, até à próxima semana, enviando saudações calorosas e desejos de muita força e saúde para todos os caros leitores e seus familiares,    

 

Lisboa, em 9 de fevereiro de 2022

António Baptista Coelho

Editor da Infohabitar


Dois livros de Alberto Sousa: Do mocambo à favela e  A invenção do barroco brasileiro – infohabitar # 804

Introdução por António Baptista Coelho; Alberto Sousa:

excertos de textos e imagens das capas de dois dos seus livros

  

Informam-se os estimados leitores da Infohabitar,

Que, por gentileza do respetivo autor, estão, a partir de agora, disponíveis para download livre na WWW, nos endereços abaixo indicados (links específicos) as segundas edições de dois livros de Alberto Sousa, estimado autor da nossa Infohabitar.

Estas obras estavam  há  muito esgotadas e intitulam-se:


Do mocambo à favela: Recife, 1920-1990

e

A invenção do barroco brasileiro: a igreja franciscana de Cairu


Os links são os seguintes:


Do mocambo à favela: Recife, 1920-1990

https://www.researchgate.net/publication/357869921

A invenção do barroco brasileiro: a igreja franciscana de Cairu

https://www.academia.edu/69675325/


Para apoiar no despertar do interesse pelos referidos download e leituras destas obras editam-se, em seguida, um texto e a imagem de capa de cada um dos livros.

 

 

 


Fig. 01 : capa do livro

 

A moradia da favela:

a insalubridade lucrativa

 

A

 construção de uma habitação precária numa favela de uma grande cidade brasileira tem-se revelado, em geral, uma operação capaz de trazer ganhos econômicos apreciáveis para aqueles que a realizam. Tendo percebido isto, nossa população pobre tem recorrido a ela não apenas para conseguir um abrigo, mas também como um meio de melhorar suas condições de vida – e este papel econômico do ato em questão tem contribuído significativamente para alimentar o crescimento e a proliferação das favelas.

     A lucratividade deste ato assenta-se essencialmente em dois fatos econômicos que têm sido observados em nossas favelas. Um é que as habitações destes aglomerados tendem a adquirir, com o decorrer do tempo, um valor muito superior ao total dos recursos investidos na sua edificação, aí incluído o valor correspondente ao trabalho não remunerado dos autoconstrutores que nela tomaram parte. O outro é que os aluguéis que podem ser obtidos com a locação de uma dessas habitações são muito elevados em comparação com o seu custo de construção.

     Aprofundemos a discussão dessas duas constatações debruçando-nos inicialmente sobre a primeira delas.

     A diferença entre o valor de uma casa de favela e o investimento feito na sua construção e melhoria pode variar bastante em função de suas características, de sua localização, de sua idade e de outros fatores, mas comumente costuma ser expressiva, podendo chegar a ser bem grande em numerosos casos. Esta mais-valia deriva tanto de circunstâncias específicas (que apontaremos adiante) que são próprias das favelas como do fenômeno geral da valorização imobiliária que ocorre nas grandes cidades, em razão de fatores como a expansão e a densificação do tecido urbano,

e a difusão dos serviços e equipamentos urbanos, entre outros. Mas mesmo este fenômeno assume uma feição diferenciada nas favelas, pois nestas, boa parte da valorização imobiliária é gerada pelos próprios moradores locais, principalmente através: da concentração de habitantes, moradias e recursos num espaço físico determinado; das melhorias que eles introduzem em suas casas e conseguem atrair para a área pelo fato de estarem nela concentrados; e a formação e o desenvolvimento, em tal espaço, de redes de relações sociais que têm uma grande importância para as populações de baixa renda.

     Vejamos as variadas formas sob as quais tal mais-valia pode se apresentar analisando diferentes situações de autoconstrução residencial observadas nos aglomerados espontâneos insalubres de nossas cidades.

     Talvez a situação menos vantajosa, no que diz respeito à mais-valia em discussão, é aquela do pobre que constrói, com materiais industrializados, uma moradia num terreno por ele comprado (geralmente a prazo) e situado numa zona periférica e quase desprovida de serviços e equipamentos.

     Neste caso, a produção da habitação é relativamente dispendiosa, em virtude dos gastos com a aquisição do terreno e dos materiais de construção (e por vezes, também, com o pagamento de alguma mão-de-obra complementar), e numa primeira fase não é fácil recuperar, com a venda do imóvel, o investimento feito – fato este que foi constatado não ape-nas por nós, no Recife, mas igualmente por Maria de Lima, no Rio de Janeiro, num aglomerado periférico insalubre, em processo de formação, que ela estudou em 1977-78.

     Entretanto, com o passar do tempo, a favela embrionária onde o pobre se instalou vai sendo melhorada e equipada e vai desenvolvendo redes de relações sociais, até transformar-se num meio suficientemente atraente para as populações carentes. Então a habitação que ele edificou torna-se valorizada e a sua valorização tende a aumentar à medida que o bairro for se consolidando.

     Assim, mesmo tendo que esperar alguns anos, após ter feito um investimento inicial que para ele foi significativo, nosso autoconstrutor pobre termina por tornar-se um beneficiário da valorização imobiliária – e para convertê-la em dinheiro basta que ele venda seu imóvel, o que comumente ele faz quando o lucro a obter lhe parece compensador ou oportuno. Ressalte-se que muitas vezes esse processo é repetido por famílias que viveram esse gênero de situação – as quais, depois de venderem lucrativamente suas casas insalubres valorizadas, constroem novas moradias precárias em outras favelas periféricas que estão se formando.

     Bem mais vantajosa, economicamente falando, é a situação do autoconstrutor pobre que edifica sua habitação num terreno invadido e consegue se manter nele graças à tolerância do poder público ou a uma negligência da parte de proprietários privados. Note-se que esta situação desdobra-se em alguns casos distintos que cumpre individualizar.

     Um deles é personificado pela família que ocupa um terreno inserido numa quadra existente ou localizado numa porção de terra apta a ser futuramente convertida numa quadra. Neste caso, a tendência normal é que a moradia construída vá sendo consolidada e melhorada com o correr do tempo e que o poder público termine por legalizar a situação dela, nas esferas fundiária, urbanística e arquitetónica. Tal família desfruta de três vantagens importantes em relação ao primeiro autoconstrutor considerado: ela obteve seu terreno gratuitamente; geralmente este vale bem mais que o terreno periférico daquele, devido às suas melhores condições em termos de localização e equipamentos e serviços urbanos; e sua habitação tende a experimentar uma valorização mais forte e mais rápida.

     Se a família preferir embolsar num curto prazo o lucro que sua moradia pode lhe proporcionar, ela a vende pouco tempo depois de construí-la. Agindo assim, ela irá perder a valorização mais substancial que se produzirá nos anos seguintes (o beneficiário da qual será o comprador da mora- dia), mas em compensação poderá se apoderar mais rapidamente de uma significativa mais-valia conseguida com um investimento de pequena monta. Note-se que muitas vezes invasores de terras urbanas vendem os terrenos dos quais se apropriaram antes mesmo de neles erguerem uma habitação de fato – ou seja, quando eles contêm tão somente uma simples cobertura improvisada, por eles levantada para garantir a posse do chão. Neste caso, eles conseguem tirar um ganho da mera ação de se apossar ilegalmente de um terreno alheio e ceder a posse precária deste a outrem.

     Mas a família em questão pode não estar apressada para embolsar o lucro que a construção da sua casa insalubre pode gerar. Neste caso, são duas as situações principais em que ela pode se enquadrar.

     Ela pode ter construído sua casa num terreno invadido, visando sobretudo a eliminar despesas com aluguel. Este propósito é uma indicação de que ela só pode ou só deseja alocar um percentual ínfimo do seu orçamento aos gastos relativos à habitação, o que explica a necessidade de obter gratuitamente um terreno e também o frequente emprego de materiais baratos ou obtidos gratuitamente (como o barro e elementos reaproveitados). É quase certo que ela saiba que a sua nova condição de proprietária lhe permitirá apropriar-se em pouco tempo de uma mais-valia significativa se vender sua casa (sobretudo porque esta foi produzida com custos mínimos), mas ela permanece nesta por já estar tendo ganhos com o fato de não pagar aluguel e por estar ciente de que pode embolsar uma mais-valia aumentada no futuro.

 

 



Fig. 02 : capa do livro

 

•• Introdução ••

 

Nos anos 1650 começou a ser construída na Bahia – em Cairu, um pequeno aglomerado urbano situado a uns 90 quilômetros ao sul de Salvador – uma igreja franciscana cujo frontispício revolucionava a arquitetura luso-brasileira, constituindo um marco fundamental da evolução desta.

     Um primeiro aspecto que distinguia essa frontaria era o fato de que ela era completamente diferente de todas as outras fachadas de igreja existentes no Brasil e de todas as que estavam sendo aqui construídas. A isto, outros aspectos, ainda mais relevantes, se somam para evidenciar a importância dela.

     O seu desenho, de grande originalidade, era uma invenção brasileira, sem similares em Portugal e nos países europeus de arquitetura renomada, o que faz dela a primeira frontaria de concepção culta erigida no Brasil que não derivou de um modelo português – e também nossa primeira criação arquitetônica erudita que merece ser qualificada de brasileira.

     Barroca, por seu caráter cenográfico, pela agitação dos seus contornos, por sua dramaticidade e pelo papel nela desempenhado pela decoração, ela marcou o surgi-mento da arquitetura barroca no Brasil – isso bem antes que o florescimento desta ocorresse no século seguinte.

     E como se tal pioneirismo não bastasse, ela permitiu – contrariando a tendência natural da cronologia dos eventos arquitetônicos – que a colônia brasileira tivesse, antes da metrópole portuguesa, uma destacada frontaria barroca de igreja.

     Dão ainda mais relevância a ela, as suas repercussões sobre a arquitetura religiosa subsequente. O seu partido, além de ter sido repetido na igreja do convento franciscano do Paraguaçu, foi adotado em quatro outras igrejas franciscanas e em duas outras áreas do nordeste brasileiro: Pernambuco e Paraíba (nenhuma outra frontaria de igreja do Brasil colonial famosa por sua originalidade, como a da igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, foi tão imitada). Além disso, elementos nela presentes influenciaram parcialmente o traçado dos frontispícios de várias igrejas setecentistas brasileiras.

     Apesar de todos esses invejáveis méritos, de uma maneira geral essa notável igreja não tem sido devida-mente valorizada por nossa historiografia arquitetônica.  É comum que os livros não apresentem a imagem dela – o que a torna pouco conhecida do público não especiali-zado –, e muitos deles referem-se a ela (ao examinar o barroco setecentista e não o século XVII, ao qual ela pertence) simplesmente para dizer que ela foi um dos protótipos da arquitetura franciscana nordestina e o mo-delo a partir do qual foi projetada a magnífica fachada da igreja franciscana de João Pessoa – obra esta que tem tido presença obrigatória em tais livros, mas que deve grande parte da excelência do seu desenho ao seu par-tido compositivo, que foi tomado emprestado da sua an-cestral de Cairu.

 

Notas editoriais gerais:

(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.

(ii) No mesmo sentido, de natural responsabilização dos autores dos artigos, a utilização de quaisquer elementos de ilustração dos mesmos artigos, como , por exemplo, fotografias, desenhos, gráficos, etc., é, igualmente, da exclusiva responsabilidade dos respetivos autores – que deverão referir as respetivas fontes e obter as necessárias autorizações.

(iii) Para se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.

Dois livros de Alberto Sousa: Do mocambo à favela e  A invenção do barroco brasileiro – infohabitar # 804

Edição: quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Infohabitar, Ano XVIII, n.º 804

 

Editor: António Baptista Coelho

Arquitecto/ESBAL – Escola Superior de Belas Artes de Lisboa –, doutor em Arquitectura/FAUP – Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto –, Investigador Principal com Habilitação em Arquitectura e Urbanismo no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), em Lisboa.

abc.infohabitar@gmail.com

abc@lnec.pt

 

Revista do GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar – Associação com sede na Federação Nacional de Cooperativas de Habitação Económica (FENACHE).

Sem comentários :