domingo, julho 12, 2015

541 - As máquinas domésticas - Infohabitar n.º 541

As máquinas domésticas - Infohabitar n.º 541
António Baptista Coelho
Artigo LXXXII da Série habitar e viver melhor


Continuamos, em seguida, a Série editorial sobre "habitar e viver melhor", na qual temos acompanhado uma sequência espacial desde a vizinhança de proximidade urbana e habitacional até ao edifício multifamiliar.
Estamos agora a abordar , com algum detalhe, os espaços que constituem os nossos “pequenos” mundos domésticos e privativos, refletindo sobre as diversas facetas que os qualificam; e continuamos a desenvolver uma reflexão sobre os espaços de arrumação domésticos, seja no sentido do "arrumar" das máquinas domésticas, seja no que se refere à arrumação específica associada à lavandaria doméstica.

O arrumar as máquinas domésticas

Sobre o arrumar das máquinas domésticas já falámos um pouco, quando lembrámos o interesse que tem para agradabilidade da vivência na cozinha que não haja aqui significativas perturbações em termos de ruído.
Realmente há aqui uma dupla necessidade: que as maquinas de lavar roupa e louça e, eventualmente, de secar roupa estejam em locais “super-funcionais”, relativamente às suas diversas funções e que elas possam estar ligadas sem perturbarem o conforto acústico na cozinha e naturalmente em outros espaços domésticos de estadia e convívio.
Já se referiu que uma das soluções está na escolha de máquinas pouco ruidosas, e nesta matéria parece ser urgente que além da classificação relativa ao consumo energético seja facultada uma clara classificação relativa ao respectivo nível de ruído.
Outra solução será a arrumação das máquinas associadas ao tratamento de roupas num espaço próprio e acusticamente isolável da continuidade dos espaços associados à cozinha; condição esta que se julga ser até conveniente no sentido de se desenvolver um espaço específico de tratamento de roupas, bem distinto, tal como deve ser, do espaço de preparação de refeições, mas atenção que, sendo um espaço para instalação de máquinas, ele deve cumprir exigências rigorosas também em termos de isolamento relativamente ao exterior.

Fig. 01: pormenor de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H 13 - 14, Arquitetura: Moore, Ruble, Yudell, Bertil Ohrström.

O frigorífico é uma outra grande máquina  doméstica cuja importância funcional, e até quase simbólica, bem como o seu muito significativo dimensionamento, exige um cuidado na respectiva integração na cozinha, muito pouco conseguido em casos habitacionais correntes. Realmente o frigorífico é, habitualmente, um verdadeiro grande armário, com importância crucial no funcionamento diário da cozinha, e até da própria vivência diária na habitação, cuja localização relativa é, habitualmente, fonte de más consequências na vivência da cozinha, tantas vezes atravancando o espaço de movimentação, ou prejudicando gravemente a possibilidade da cozinha ser também um espaço de refeições ou mesmo de estar, agradável para além de funcional, ou ainda constituindo, por vezes, uma barreira à entrada da luz natural no coração da cozinha.
A solução para esta situação, que é infelizmente frequente, até porque os frigoríficos têm sido cada vez maiores – lembremo-nos dos primeiros modelos à altura do ombro, habitualmente decorados/rematados por um urso polar em louça, e façamos uma comparação com os actuais “armários” frigoríficos com a altura de portas – tem a ver com uma adequada previsão da integração do frigorífico considerando a sua utilidade:
(i) na arrumação de alimentos;
(ii) no apoio directo à preparação de refeições;
e (iii) no apoio de serviço eventual a toda a habitação e designadamente ao funcionamento convivial da sala-comum.
Mas o frigorífico também deve ser considerado no que se refere ao seu aspecto visual, tendo em conta o seu volume muito significativo.
Considerando-se estes aspectos na estruturação pormenorizada da própria cozinha, de forma a harmonizar, claramente, a sua presença relativamente às várias actividades que se podem e devem desenrolar nas cozinhas – a ideia aqui é até que o frigorífico constitua um elemento de atractividade visual da própria cozinha, de certa forma aliando-se o que está, naturalmente, na vontade dos habitantes – evidenciando-se um grande electrodoméstico – com um sentido funcional e “ambiental” doméstico aprofundado.





Fig. 02: pormenor de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H 13 - 14, Arquitetura: Moore, Ruble, Yudell, Bertil Ohrström.

O “arrumar” dos apoios ao tratamento da roupa e da própria roupa a secar

Outro esquecimento é frequente na estruturação dos espaços de serviço de uma habitação, referimo-nos aos espaços, ainda significativos, que são sistemática e semanalmente necessários para assegurar os diversos passos do tratamento das roupas domésticas.
Tal como acontece com outras funcionalidades domésticas estes espaços crescem, directamente, com a dimensão da família, e é racional, que, por exemplo, em habitações mínimas – com um quarto ou mesmo sem um espaço específico para quarto – estes espaços de tratamento de roupas possam até não existir, considerando-se que as pessoas que vivem sozinhas ou em casais, em zonas urbanas densas, poderão optar por fazer o seu tratamento de roupas fora de casa.
Será, no entanto, prudente que, mesmo nestes casos tal função seja pelo menos minimamente prevista – por exemplo, com espaço adequado para a instalação de uma máquina de lavar e secar roupa (exige pequena abertura própria para o exterior), até associada, por exemplo, a outros espaços funcionais.
Numa situação corrente é fundamental que haja uma previsão funcional, quer para o espaço de arrumação da roupa para levar, quer de um outro espaço relativamente desafogado para a montagem periódica de uma tábua para passar a ferro, quer de espaços específicos para arrumação de apoio de roupa já tratada, quer, naturalmente, de um espaço específico para colocar a roupa a secar no exterior. E há que sublinhar que todos estes espaços são funcionalmente exigentes e não são muito compatíveis com a preparação de refeições, exigindo, assim, cuidados específicos de previsão e de integração na habitação.
Naturalmente que uma cozinha espaçosa e funcionalmente desafogada pode acolher quase todas estas necessidades, com natural exclusão do espaço de estendal, numa base de funcionamento periódico, mas há que prever os espaços de arrumação de apoio e, sublinha-se, que quando não se verifica uma verdadeira espaciosidade o resultado será sempre a periódica geração de situações de atravancamento e de mistura entre roupas e cozinha, que parece ser sempre de evitar.
Quanto à previsão do estendal exterior é, como sabemos, um tema recorrente, com defensores da roupa a secar à vista de todos, porque é tradicional e é funcional e sustentável o aproveitamento do sol e do vento, e com detratores desta solução, procurando esconder estendais por considerarem menos adequada a sua exposição “pública”.
Entre uma e outra posição a ideia que parece ficar é que há soluções práticas, pouco dispendiosas, que proporcionam o secar exterior da roupa com eficácia – é mais o vento que seca a roupa do que o sol – e de forma pouco evidenciada ou até “camuflada” em termos de vistas públicas. Há ainda soluções de desmultiplicação do tratamento de roupas com a utilização do espaço de cobertura em terraço, dividido em pequenas parcelas “boxes” individualizadas, destinadas essencialmente à secagem de roupa.
Naturalmente, haverá a possibilidade de desenvolver soluções comuns de lavagem de roupa, designadamente, em conjuntos de pequenas habitações.
A ideia que fica, relativamente a estas soluções com diversas facetas de partilha de espaços e equipamentos comuns, é que elas não são, habitualmente, muito apreciadas, talvez pelo “convívio” obrigatório a que sempre obrigam; e, assim, a opção talvez mais viável de tratamento de roupa fora de casa é o que é realizado em serviços próprios, assegurados por firmas especializadas, e que, eventualmente, até poderão ter uma pequena delegação associada a um serviço diversificado de condomínio.
Sobre o arrumar de tudo o resto, de todos “os pequenos nadas” funcionais e não-funcionais, se falará, com algum pormenor, em outros artigos desta série editorial.

References/Referências/notas


Nota importante sobre as imagens que ilustram o artigo:

As imagens que acompanham este artigo e que irão, também, acompanhar outros artigos desta mesma série editorial foram recolhidas pelo autor do artigo na visita que realizou à exposição habitacional "Bo01 City of Tomorrow", que teve lugar em Malmö em 2001.

Aproveita-se para lembrar o grande interesse desta exposição e para registar que a Bo01 foi organizada pelo “organismo de exposições habitacionais sueco” (Svensk Bostadsmässa), que integra o Conselho Nacional de Planeamento e Construção Habitacional (SABO), a Associação Sueca das Companhias Municipais de Habitação, a Associação Sueca das Autoridades Locais e quinze municípios suecos; salienta-se ainda que a Bo01 teve apoio financeiro da Comissão Europeia, designadamente, no que se refere ao desenvolvimento de soluções urbanas sustentáveis no campo da eficácia energética, bem como apoios técnicos por parte do da Administração Nacional Sueca da Energia e do Instituto de Ciência e Tecnologia de Lund.

A Bo01 foi o primeiro desenvolvimento/fase do novo bairro de  Malmö, designado como Västra Hamnen (O Porto Oeste) uma das principais áreas urbanas de desenvolvimento da cidade no futuro.

Mais se refere que, sempre que seja possível, as imagens recolhidas pelo autor do artigo na Bo01 serão referidas aos respetivos projetistas dos edifícios visitados; no entanto, o elevado número de imagens de interiores domésticos então recolhidas dificulta a identificação dos respetivos projetistas de Arquitetura, não havendo informação adequada sobre os respetivos designers de equipamento (mobiliário) e eventuais projetistas de arquitetura de interiores; situação pela qual se apresentam as devidas desculpas aos respetivos projetistas e designers, tendo-se em conta, quer as frequentes ausências de referências - que serão, infelizmente, regra em relação aos referidos designers -, quer os eventuais lapsos ou ausência de referências aos respetivos projetistas de arquitetura.

Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.

Infohabitar, Ano XI, n.º 541
Artigo LXXXII da Série habitar e viver melhor
As máquinas domésticas - Infohabitar n.º 541

Editor: António Baptista Coelho –abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional

Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.



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