Na imagem: parte
da Universidade da Beira Interior (UBI), na Covilhã, que no dia 30 de abril de
2016 comemorou o seu 30.º aniversário
Infohabitar,
Ano XII, n.º 582
Inovar no projeto de quartos II - Infohabitar n.º 582
António Baptista Coelho
Artigo
XCIX da Série habitar e viver melhor
Continuando a abordar a temática do projeto arquitetónico dos quartos domésticos, concluímos, esta semana, uma pequena reflexão sobre a possível e necessária inovação na conceção dos mesmos.
Quarto de casal
Sobre a concepção global do quarto
de casal Christopher Alexander (1) considera que alguns aspectos são particularmente
importantes:
·
que o espaço que envolve a cama de casal seja
configurado e tratado pormenorizadamente e em função dessa cama;
·
que se considere, no dimensionamento, a
provável instalação de uma "grande cama de casal";
·
e que haja realmente espaço em torno da cama
para se mobilar e decorar "à vontade".
Quarto de casal e quartos de crianças
Sobre os quartos de casal e de
crianças aponta-se um conjunto de indicações de Claude Lamure: (2)
·
É importante a atmosfera íntima e eventualmente
mais formal de que se rodeia o quarto de casal.
·
A configuração corrente e desejável do quarto
de casal é, basicamente, quadrada, devido à integração central da cama larga;
para pessoas idosas será por vezes preferível o recurso a camas geminadas
(embora esta opção seja discutível). Mas uma tal solução, que se integra em
cerca de 12m2, é mais para um quarto de cama, do que para um quarto onde possam
existir outras zonas funcionais.
·
Considerando que os idosos e as mulheres
adultas têm um sono particularmente frágil é fundamental a existência de adequadas
condições de obscurecimento, isolamento acústico relativamente ao exterior em
geral e ao interior do fogo e do edifício, privacidade visual e manutenção de
uma temperatura ambiente um pouco inferior à da zona de estar.
·
Quanto à arrumação a opção deverá ser feita
entre roupeiros embutidos e espaço suplementar para roupeiros móveis; o
roupeiro fixo tem de ser um elemento funcional e ambientalmente positivo na
globalidade do quarto, esteja nele directamente integrado ou seja associado num
espaço contíguo (por exemplo num pequeno átrio de entrada).
·
Quanto aos quartos para crianças é fundamental
que eles sejam alegres, não será de admitir mais de duas crianças num quarto
com cerca de 10m², e é importante separar as crianças por sexos e
disponibilizar uma zona personalizada para cada criança com mais de 6 anos de
idade.
Fig.
01: o acabar de vez com hierarquias imutáveis e avessas à adaptabilidade
doméstica e à respetiva diversificação de usos é essencial, designadamente,
quando se trata da distribuição dos quartos na habitação, como é visível nesta
situação em que dois quartos (com acesso, à esquerda, através das estantes) estão ligados diretamente a uma zona se sala-comum e mesmo a uma cozinha/sala de
família; mas esta forma de conceção exige uma clara e exigente qualidade
arquitetónica – habitação integrada no conjunto urbano "Bo01
City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em
Malmö em 2001 (ver nota final) - Arquitetura: Moore, Ruble, Yudell, Bertil
Öhrström.
Fig.
02: nova vista da situação acima ilustrada – habitação integrada no conjunto
urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da
exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - Arquitetura: Moore,
Ruble, Yudell, Bertil Öhrström.
Ambiente do quarto de dormir
Ernest Neufert (3) aponta vários
aspectos mais pormenorizados, mas importantes na concepção das ambiências dos
quartos de dormir, que promovam o repouso
e o saudável isolamento:
·
A abertura da porta de entrada num quarto não
deve produzir incómodos aos seus ocupantes (4) e não deve ser possível ver a
porta de entrada, a partir da cama.
·
A disposição das camas encostadas à parede ou
constituindo recantos, parecem ser psicologicamente mais reconfortantes.
·
A posição da cama com a cabeceira para Norte é
aconselhável, pois permite boas condições matinais (com a janela a nascente),.
·
Camas e armários "de parede" podem
conjugar-se formando nichos individuais ou "em beliche", que ajudam a
desenvolver recantos privados e personalizados.
·
Num quarto estreito a janela chegada a um lado
permite a integração da cama no canto mais próximo da luz natural.
Quartos de crianças e jovens
Quanto a quartos de crianças e
jovens Sven Thiberg salienta que o arranjo do mobiliário deve apoiar, quer o
convívio de grupos de amigos, em zonas de permanência mais "formais",
quer o recreio livre numa zona relativamente ampla e desimpedida. (5)
Dormir em vários sítios da
habitação
Finalmente, e tal como apontei
no estudo do LNEC que tem sido amplamente citado nesta série editorial (ITA 2),
os diversos tipos de "sofás-cama", camas mínimas (ex., divã dobrável)
e camas de dobrar e rebater, constituem dispositivos de recurso que permitem,
que em casas pequenas, como são a maioria das habitações correntes se garanta a
pernoita de familiares e amigos, ou de moradores em condições de recurso (ex.,
pessoa doente obrigando a um acompanhamento constante ou ao afastamento
provisório da pessoa com que compartilha o quarto).
Nesta matéria importa, no
entanto, sublinhar que a existência, por si só, destes dispositivos não é
condição suficiente para o seu uso frequente e em condições razoáveis, havendo
que os situar cuidadosamente em espaços previstos para o efeito, nem
excessivamente intrusivos da vida normal doméstica, nem totalmente devassados
em relação a esta; uma possibilidade que importa sublinhar como constituindo
mais um importante trunfo na capacidade de adaptabilidade e de apropriação que
deve ser oferecida pela habitação.
Bons quartos
De certa forma importa
garantir, a todo o custo, que uma
habitação tenha "bons quartos", razoavelmente desafogados,
versatilmente mobiláveis e não totalmente segregados e "encerrados"
numa zona designada por íntima, mas onde, por vezes, acabam por se desenvolver
proximidades pouco agradáveis e sublinhadas pela frequente espaciosidade muito
reduzida de corredores e átrios interiorizados e pela frequente ausência de
adequadas dispositivos que assegurem a continuidade da luz e da ventilação
naturais (ex., através de soluções tão simples como bandeiras superiores às
portas); e, sendo, assim, podemos, frequentemente, preferir as velhas soluções
de corredores " a eixo central ou lateral", desde que razoavelmente
mobiláveis, pois garantem forte versatilidade dos quartos e salas que servem -
e então se fizermos esses quartos comunicar uns com os outros
proporcionamos-lhes uma excelente capacidade de fusão ou separação de usos
contíguos e não estamos a inventar nada, apenas a recuperar soluções
estabilizadas ao longo de milénios e absurdamente abandonadas, em meados do
século XX, quando da invenção da "casa máquina"; mas a casa não é uma
máquina.
Notas:
(1) Christopher Alexander;
Sara Ishikawa; Murray Silverstein; et al, "A Pattern Language/Un Lenguaje
de Patrones", pp. 758 e 759.
(2) Claude Lamure,
"Adaptation du Logement à la Vie Familiale", pp. 189 e 191.
(3) Ernest Neufert, "Arte
de Projetar em Arquitetura", pp. 176 a 179.
(4) A zona de circulação,
relacionada com a porta do quarto, deve tornar fácil o acesso a todos os pontos
do compartimento.
(5) Sven Thiberg(Ed.),
"Housing Research and Design in Sweden", p. 169.
·
Nota importante sobre as
imagens que ilustram o artigo:
As imagens que acompanham este artigo e que irão,
também, acompanhar outros artigos desta mesma série editorial foram recolhidas
pelo autor do artigo na visita que realizou à exposição habitacional
"Bo01 City of Tomorrow", que teve lugar em Malmö em 2001.
Aproveita-se para lembrar o grande interesse desta
exposição e para registar que a Bo01 foi organizada pelo “organismo de
exposições habitacionais sueco” (Svensk Bostadsmässa), que integra o Conselho
Nacional de Planeamento e Construção Habitacional (SABO), a Associação Sueca
das Companhias Municipais de Habitação, a Associação Sueca das Autoridades
Locais e quinze municípios suecos; salienta-se ainda que a Bo01 teve apoio
financeiro da Comissão Europeia, designadamente, no que se refere ao
desenvolvimento de soluções urbanas sustentáveis no campo da eficácia
energética, bem como apoios técnicos por parte do da Administração Nacional
Sueca da Energia e do Instituto de Ciência e Tecnologia de Lund.
A Bo01 foi o primeiro desenvolvimento/fase do novo
bairro de Malmö, designado como Västra Hamnen (O Porto Oeste) uma das
principais áreas urbanas de desenvolvimento da cidade no futuro.
Mais se refere que, sempre que seja possível, as
imagens recolhidas pelo autor do artigo na Bo01 serão referidas aos respetivos
projetistas dos edifícios visitados; no entanto, o elevado número de
imagens de interiores domésticos então recolhidas dificulta a identificação dos
respetivos projetistas de Arquitetura, não havendo informação adequada sobre os
respetivos designers de equipamento (mobiliário) e eventuais projetistas de
arquitetura de interiores; situação pela qual se apresentam as devidas
desculpas aos respetivos projetistas e designers, tendo-se em conta, quer as
frequentes ausências de referências - que serão, infelizmente, regra em relação
aos referidos designers -, quer os eventuais lapsos ou ausência de referências
aos respetivos projetistas de arquitetura.
·
Notas
editoriais:
(i) Embora a edição dos
artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo
editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um
significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e
comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos
respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva
responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o
mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e
científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito
significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver
com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo
GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à
respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas
e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do
teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou
negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi
recebido na edição.
Infohabitar, Ano XII, n.º 582
Artigo
XCIX da Série habitar e viver melhor
Inovar
no projeto de quartos II - Infohabitar n.º 582
Editor: António Baptista
Coelho
abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade
Habitacional
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação -
Olivais Norte.
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