domingo, maio 08, 2016

581 - Inovar no projeto de quartos I - Infohabitar n.º 581


Infohabitar, Ano XII, n.º 581


Inovar no projeto de quartos I - Infohabitar n.º 581

António Baptista Coelho
Artigo XCVIII da Série habitar e viver melhor

Continuando a abordar a temática do projeto arquitetónico dos quartos domésticos, abordamos, esta semana, e concluiremos na próxima, uma pequena reflexão sobre a possível e necessária inovação na conceção dos mesmos.


Dinamizar o uso dos quartos

Considerando as dimensões dos quartos estas não devem impor, de forma geral e sistemática, determinados posicionamentos das camas, sendo muito recomendável que, por regra, seja possível o posicionamento alternativo de camas perpendiculares ou encostadas às paredes, pois, se assim acontecer, a ocupação do quarto ganha grande versatilidade; uma ideia que, no entanto, não deve anular situações de excepção em quartos mais pequenos.


Inovar na conhecida tipologia dos “quartos de dormir”

Ainda nesta perspectiva sobressai a possibilidade de os quartos deixarem de ser estruturados por uma espécie de burocracia que os distribui com maiores e de casal ou individuais e relativamente exíguos, quando utilizados por mais de uma pessoa. Uma tal possibilidade, baseada numa regularidade de dimensões que garante adaptabilidade a diversas utilizações, pode esbater, também, as fronteiras entre quartos e salas, proporcionando que a habitação seja vivida de formas muito distintas pelas diversas famílias e pessoas. Neste sentido e no limite, apenas as sub-zonas com instalações associadas a águas e esgotos teriam uma localização e um tratamento específicos, em termos de acabamentos e de localização relativa. 
Um aspecto estruturante na concepção dos quartos é que estes não tenham a sua ocupação praticamente esgotada pela ocupação da cama, condição que, naturalmente, tem uma importante condicionante espacial, em termos quantitativos, mas que ultrapassa claramente esta matéria, pois a questão dimensional e a disponibilização de dimensões mais adaptativas, por um lado, e a questão de gradabilidade, por adequação ao conforto ambiental, em termos de vãos exteriores bem dispostos, assumem uma importância determinante nesta matéria.


Quartos ambientalmente atraentes

É muito importante que os espaços domésticos dos quartos sejam extremamente cuidados, no sentido de serem muito atraentes em termos ambientais – térmica, ventilação, acústica, luz natural – e mesmo “ambienciais”, no que se refere a uma estimulante privacidade, a uma caracterização de um identidade específica daquele espaço – marcada por aspectos básicos “construtivos” e pela adaptabilidade na aceitação de elementos de mobiliário – e em agradáveis e/ou curiosas relações visuais com o exterior.


Um verdadeiro “segundo” nível de habitabilidade doméstica

Será, assim, possível desenvolver no espaço dos quartos de uma dada habitação um verdadeiro “segundo” nível de habitabilidade doméstica, mais íntimo e privado, que por si só será muito estimulante e que em aliança com o nível mais social da habitação resultará num efeito conjunto muito estimulante e rico, de certa forma como se fosse um mundo familiar e pessoal constituído por diversas camadas de vivência e não um pobre refúgio ambientalmente unificado embora repartido em diversos subespaços rígida e, tantas vezes, absurdamente hierarquizados.

Fig. 01: com o devido cuidado arquitetónico e razoável espaciosidade é possível e desejável desenvolver no espaço dos quartos de uma dada habitação um verdadeiro “segundo” nível de habitabilidade doméstica, mais íntimo e privado; espaço aos "pés da cama" de quarto de dormir  – habitação integrada no conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - Arquitetura: Bengt Hidemark.


Fig. 02: o mesmo quarto visto a partir do terraço – habitação integrada no conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - Arquitetura: Bengt Hidemark.


Quartos bem integrados na habitação

Os quartos devem poder ser encerrados, mas não estando degredados/segregados da restante vida doméstica e devem possuir ambientes calmos e isolados dos ruídos da rua e interiores.
Quartos muito funcionais
Os quartos devem permitir grande funcionalidade nas actividades, diárias, de "fazer e abrir" as camas e de limpeza e arejamento matinal, mas não devem fazer transparecer estes aspectos, de forma a que se caracterizem por um sentido de envolvência, domesticidade e identidade.


Quartos desafogados – “pequenos reinos da apropriação e da individualidade”

O desafogo e a multifuncionalidade dos quartos proporciona-lhes excelente capacidade para funcionarem como espaços de apropriação pessoal e de identificação do habitante com o “seu” quarto e, indiretamente, com a sua habitação.
Os quartos devem ter configurações globalmente desafogadas, proporcionando a definição de recantos e sub-zonas funcionais e ambientais, mas sempre com excelente capacidade de integração de mobiliário e equipamentos (recanto da cama, zona de entrada, zona de vestir, "canto" de estar e leitura, zona de trabalho, etc.); e há múltiplas e preciosas indicações de diversos autores sobre estas matérias; indicações estas que iremos abordar no artigo da Infohabitar a editar na próxima semana.

·         Nota importante sobre as imagens que ilustram o artigo:
As imagens que acompanham este artigo e que irão, também, acompanhar outros artigos desta mesma série editorial foram recolhidas pelo autor do artigo na visita que realizou à exposição habitacional "Bo01 City of Tomorrow", que teve lugar em Malmö em 2001.
Aproveita-se para lembrar o grande interesse desta exposição e para registar que a Bo01 foi organizada pelo “organismo de exposições habitacionais sueco” (Svensk Bostadsmässa), que integra o Conselho Nacional de Planeamento e Construção Habitacional (SABO), a Associação Sueca das Companhias Municipais de Habitação, a Associação Sueca das Autoridades Locais e quinze municípios suecos; salienta-se ainda que a Bo01 teve apoio financeiro da Comissão Europeia, designadamente, no que se refere ao desenvolvimento de soluções urbanas sustentáveis no campo da eficácia energética, bem como apoios técnicos por parte do da Administração Nacional Sueca da Energia e do Instituto de Ciência e Tecnologia de Lund.
A Bo01 foi o primeiro desenvolvimento/fase do novo bairro de  Malmö, designado como Västra Hamnen (O Porto Oeste) uma das principais áreas urbanas de desenvolvimento da cidade no futuro.
Mais se refere que, sempre que seja possível, as imagens recolhidas pelo autor do artigo na Bo01 serão referidas aos respetivos projetistas dos edifícios visitados; no entanto, o elevado número de imagens de interiores domésticos então recolhidas dificulta a identificação dos respetivos projetistas de Arquitetura, não havendo informação adequada sobre os respetivos designers de equipamento (mobiliário) e eventuais projetistas de arquitetura de interiores; situação pela qual se apresentam as devidas desculpas aos respetivos projetistas e designers, tendo-se em conta, quer as frequentes ausências de referências - que serão, infelizmente, regra em relação aos referidos designers -, quer os eventuais lapsos ou ausência de referências aos respetivos projetistas de arquitetura.
·        Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.

Infohabitar, Ano XII, n.º 581
Artigo XCVIII da Série habitar e viver melhor

Inovar no projeto de quartos I - Infohabitar n.º 581

Editor: António Baptista Coelho – abc@ubi.pt, abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional, Mestrado Integrado em Arquitectura da Universidade da Beira Interior - MIAUBI
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.



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