Infohabitar,
Ano XII, n.º 581
Inovar no projeto de quartos I - Infohabitar n.º 581
António Baptista Coelho
Artigo
XCVIII da Série habitar e viver melhor
Continuando a abordar a temática do projeto arquitetónico dos quartos domésticos, abordamos, esta semana, e concluiremos na próxima, uma pequena reflexão sobre a possível e necessária inovação na conceção dos mesmos.
Dinamizar o uso dos quartos
Considerando as dimensões dos
quartos estas não devem impor, de forma geral e sistemática, determinados
posicionamentos das camas, sendo muito recomendável que, por regra, seja
possível o posicionamento alternativo de camas perpendiculares ou encostadas às
paredes, pois, se assim acontecer, a ocupação do quarto ganha grande
versatilidade; uma ideia que, no entanto, não deve anular situações de excepção
em quartos mais pequenos.
Inovar na conhecida tipologia dos “quartos de dormir”
Ainda nesta perspectiva
sobressai a possibilidade de os quartos deixarem de ser estruturados por uma
espécie de burocracia que os distribui com maiores e de casal ou individuais e
relativamente exíguos, quando utilizados por mais de uma pessoa. Uma tal
possibilidade, baseada numa regularidade de dimensões que garante
adaptabilidade a diversas utilizações, pode esbater, também, as fronteiras
entre quartos e salas, proporcionando que a habitação seja vivida de formas muito
distintas pelas diversas famílias e pessoas. Neste sentido e no limite, apenas
as sub-zonas com instalações associadas a águas e esgotos teriam uma
localização e um tratamento específicos, em termos de acabamentos e de
localização relativa.
Um aspecto estruturante na
concepção dos quartos é que estes não tenham a sua ocupação praticamente
esgotada pela ocupação da cama, condição que, naturalmente, tem uma importante
condicionante espacial, em termos quantitativos, mas que ultrapassa claramente
esta matéria, pois a questão dimensional e a disponibilização de dimensões mais
adaptativas, por um lado, e a questão de gradabilidade, por adequação ao
conforto ambiental, em termos de vãos exteriores bem dispostos, assumem uma
importância determinante nesta matéria.
Quartos ambientalmente atraentes
É muito importante que os
espaços domésticos dos quartos sejam extremamente cuidados, no sentido de serem
muito atraentes em termos ambientais – térmica, ventilação, acústica, luz
natural – e mesmo “ambienciais”, no que se refere a uma estimulante privacidade,
a uma caracterização de um identidade específica daquele espaço – marcada por
aspectos básicos “construtivos” e pela adaptabilidade na aceitação de elementos
de mobiliário – e em agradáveis e/ou curiosas relações visuais com o exterior.
Um verdadeiro “segundo” nível de habitabilidade doméstica
Será, assim, possível
desenvolver no espaço dos quartos de uma dada habitação um verdadeiro “segundo”
nível de habitabilidade doméstica, mais íntimo e privado, que por si só será
muito estimulante e que em aliança com o nível mais social da habitação
resultará num efeito conjunto muito estimulante e rico, de certa forma como se
fosse um mundo familiar e pessoal constituído por diversas camadas de vivência
e não um pobre refúgio ambientalmente unificado embora repartido em diversos
subespaços rígida e, tantas vezes, absurdamente hierarquizados.
Fig. 01: com o devido cuidado arquitetónico e
razoável espaciosidade é possível e desejável desenvolver no espaço dos quartos de uma dada habitação um
verdadeiro “segundo” nível de habitabilidade doméstica, mais íntimo e privado; espaço aos "pés da cama" de quarto de dormir – habitação integrada no conjunto urbano "Bo01 City of
Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em
2001 (ver nota final) - Arquitetura: Bengt Hidemark.
Fig. 02: o mesmo quarto visto a partir do
terraço – habitação integrada no conjunto urbano "Bo01 City of
Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em
2001 (ver nota final) - Arquitetura: Bengt Hidemark.
Quartos bem integrados na habitação
Os quartos devem poder ser
encerrados, mas não estando degredados/segregados da restante vida doméstica e
devem possuir ambientes calmos e isolados dos ruídos da rua e interiores.
Quartos muito funcionais
Os quartos devem permitir
grande funcionalidade nas actividades, diárias, de "fazer e abrir" as
camas e de limpeza e arejamento matinal, mas não devem fazer transparecer estes
aspectos, de forma a que se caracterizem por um sentido de envolvência,
domesticidade e identidade.
Quartos desafogados – “pequenos reinos da apropriação e da individualidade”
O desafogo e a multifuncionalidade
dos quartos proporciona-lhes excelente capacidade para funcionarem como espaços
de apropriação pessoal e de identificação do habitante com o “seu” quarto e,
indiretamente, com a sua habitação.
Os quartos devem ter
configurações globalmente desafogadas, proporcionando a definição de recantos e
sub-zonas funcionais e ambientais, mas sempre com excelente capacidade de
integração de mobiliário e equipamentos (recanto da cama, zona de entrada, zona
de vestir, "canto" de estar e leitura, zona de trabalho, etc.); e há
múltiplas e preciosas indicações de diversos autores sobre estas matérias;
indicações estas que iremos abordar no artigo da Infohabitar a editar na
próxima semana.
·
Nota importante sobre as
imagens que ilustram o artigo:
As imagens que acompanham este artigo e que irão,
também, acompanhar outros artigos desta mesma série editorial foram recolhidas
pelo autor do artigo na visita que realizou à exposição habitacional
"Bo01 City of Tomorrow", que teve lugar em Malmö em 2001.
Aproveita-se para lembrar o grande interesse desta
exposição e para registar que a Bo01 foi organizada pelo “organismo de
exposições habitacionais sueco” (Svensk Bostadsmässa), que integra o Conselho
Nacional de Planeamento e Construção Habitacional (SABO), a Associação Sueca
das Companhias Municipais de Habitação, a Associação Sueca das Autoridades
Locais e quinze municípios suecos; salienta-se ainda que a Bo01 teve apoio
financeiro da Comissão Europeia, designadamente, no que se refere ao
desenvolvimento de soluções urbanas sustentáveis no campo da eficácia
energética, bem como apoios técnicos por parte do da Administração Nacional
Sueca da Energia e do Instituto de Ciência e Tecnologia de Lund.
A Bo01 foi o primeiro desenvolvimento/fase do novo
bairro de Malmö, designado como Västra Hamnen (O Porto Oeste) uma das
principais áreas urbanas de desenvolvimento da cidade no futuro.
Mais se refere que, sempre que seja possível, as
imagens recolhidas pelo autor do artigo na Bo01 serão referidas aos respetivos
projetistas dos edifícios visitados; no entanto, o elevado número de
imagens de interiores domésticos então recolhidas dificulta a identificação dos
respetivos projetistas de Arquitetura, não havendo informação adequada sobre os
respetivos designers de equipamento (mobiliário) e eventuais projetistas de
arquitetura de interiores; situação pela qual se apresentam as devidas
desculpas aos respetivos projetistas e designers, tendo-se em conta, quer as
frequentes ausências de referências - que serão, infelizmente, regra em relação
aos referidos designers -, quer os eventuais lapsos ou ausência de referências
aos respetivos projetistas de arquitetura.
·
Notas
editoriais:
(i) Embora a edição dos
artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial,
no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um
significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e
comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos
respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva
responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o
mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e
científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito
significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver
com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo
GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à
respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas
e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do
teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo
em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na
edição.
Infohabitar, Ano XII, n.º 581
Artigo
XCVIII da Série habitar e viver melhor
Inovar
no projeto de quartos I - Infohabitar n.º 581
Editor: António Baptista
Coelho
– abc@ubi.pt, abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade
Habitacional, Mestrado Integrado em Arquitectura da Universidade da Beira Interior - MIAUBI
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação -
Olivais Norte.
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