Infohabitar, Ano XII, n.º 579
Espaços domésticos privados - Infohabitar n.º 579
Artigo XCVI da Série habitar e viver melhor
António Baptista Coelho
Nas próximas semanas, aqui nesta série editorial, viajaremos, mais um pouco, pelos espaços domésticos privativos e pessoais, portanto aqueles mais amigos de um uso individual, ou muito ligado ao casal, e onde, também não há que excluir os outros, mas sim acolhê-los marcando, aqui, ainda mais fortemente, aspectos de identidade e de abrigo.
O que
pode ajudar a caracterizar a nossa casa como um sítio diferente de um simples
espaço de estadia/abrigo é, exactamente, a associação entre as actividades
correntes da habitação e inúmeras outras actividades ligadas, quer ao trabalho
diversificado, quer ao lazer, quer ao colecionismo (nas sua mais variadas
formas), quer a características e modos de habitar específicos e bem distintos
dessas actividades referidas como correntes e que se associam, frequentemente,
a tipos específicos de compartimentos (sala/estar, quartos/dormir, casa de
banho/higiene pessoal, vestíbulo/entrar, etc.).
Realmente,
o que poderá ajudar a identificar positivamente uma dada habitação será a
capacidade por ela oferecida para que em cada um dos seus espaços, mais correntes,
possam ser realizadas muitas outras actividades diferentes daquelas que,
habitualmente, aí são realizáveis.
Cumulativamente,
uma tal diversidade de potenciais identificações numa dada habitação também
dependerá da capacidade, por ela oferecida, para se “transmutar” ou converter
no “reino” doméstico mais apropriado para as mais distintas e específicas
formas de habitar.
E o
que apetece comentar sobre isto é que esta perspectiva é sem dúvida muito mais
aliciante do que a que é pobremente oferecida por habitações “unifuncionais” e mesmo
“uniformais”, onde em cada um dos seus espaços dificilmente é possível
desenvolver outras actividades do que aquelas consideradas correntes pela
“família tipo” da “cultura dominante”, e com formas idênticas.
São os
seguintes os diversos tipos de espaços domésticos pessoais de que aqui “falaremos”,
caso a caso, nas próximas semanas:
- Quartos
- Espaço de lazer/trabalho
- Pequenos escritórios e
espaços de trabalho profissional em casa
- Outros espaços privativos e
diferenciados
- Recantos vários
- Alcovas em espaços
domésticos comuns
Mas para fazer avançar, desde
já, um pouco uma matéria que se julga bem aliciante, apontam-se em seguida,
exploratoriamente, alguns aspetos gerais sobre alguns desses espaços e recantos
domésticos.
Quartos não apenas para dormir, espaços de apropiação, intimidade e sossego
Quartos não apenas para dormir, espaços de apropiação, intimidade e sossego
O quarto pode ser o quarto de dormir clássico,
praticamente estruturado pelo espaço/cama, sem grandes ambientes/actividades
complementares ou paralelas, ou pode constituir um conjunto de zonas de
actividade entre as quais as associadas ao espaço/cama terão algumas
preponderâncias, mas proporcionando pequenas áreas de lazer, estar e trabalho.
Durante
anos e ainda hoje, muita da promoção habitacional "comercial", propôs
uma “zona íntima” doméstica, onde se agregavam muitas vezes com carácter quase
segregado do resto da habitação, todos os quartos da habitação, um sítio quase isolado,
onde afinal acabava por se desenvolver uma espécie de desprivatização ou
proximidade excessiva, muitas vezes associada a um exíguo corredor ou vestíbulo
interior para o qual dão todos os quartos e as principais casas de banho.Escritórios e espaços de trabalho profissional em casa
Esta temática do trabalho
profissional ou não-doméstico em casa – habitual e globalmente designado por home-office
– poderia inaugurar um outro grande tema desta série editorial, o que não se
pretende, pensando-se no tema numa perspectiva suplementar às actividades mais
directamente ligadas à habitação.
Os espaços para trabalho
profissional ou não-doméstico em casa devem ser razoavelmente separados dos
restantes espaços da casa e estarem próximos do vestíbulo de entrada, tanto
porque podem apoiar actividades que exigem algum sossego e isolamento (escrita,
estudo e leitura) ou porque podem ser pouco compatíveis com a habitação
(produzem ruídos e lixos), ou porque essas actividades podem incluir a recepção
de estranhos à família.
Espaços
de lazer domésticos que sejam atraentes e estimulantes
O que se referiu para os
espaços de trabalho em casa aplica-se, em boa parte, aos espaços de lazer
domésticos, até porque frequentemente serão ténues as fronteiras entre trabalho
e lazer em casa, havendo, por exemplo, passatempos que sendo acções de lazer
exigem verdadeiros espaços especializados e, frequentemente, oficinais.
Casas
de banho e espaços de banho
privativos
Importa sublinhar a possibilidade
de desenvolvimento da “figura” do espaço de banho com um sentido caracterizador
e caracterizado por determinadas formas de viver a habitação. Situação que
poderá ligar-se ao desenvolvimento de associações entre espaços de banho e
outros espaços de estar, dormir e lazer com forte carácter identitário e
relativamente privativo, embora espacialmente pouco controlado em termos
dimensionais. O exemplo de um tal espaço é o sítio de banho de uma das grandes casas
projetadas pelo Arq.º Charles Moore, que se integra num espaço de estar e
assume mesmo uma posição destacada neste espaço.
Os pequenos grandes mundos do pormenor doméstico
O que se irá comentar sobre o
detalhe doméstico serão, essencialmente, matérias suplementares, ou melhor
dito, paralelas, às já referidas sobre os espaços da habitação, e praticamente não dedicadas aos aspectos
funcionais, já amplamente visados em diversos estudos, mas privilegiando
determinadas notas associadas às opções de Arquitectura interior e ao seu
diálogo com os habitantes ao serviço das opções gerais apontadas nas
respectivas soluções domésticas.
·
Nota importante sobre as
imagens que ilustram o artigo:
As imagens que acompanham este artigo e que irão, também,
acompanhar outros artigos desta mesma série editorial foram recolhidas pelo
autor do artigo na visita que realizou à exposição habitacional "Bo01
City of Tomorrow", que teve lugar em Malmö em 2001.
Aproveita-se para lembrar o grande interesse desta exposição
e para registar que a Bo01 foi organizada pelo “organismo de exposições
habitacionais sueco” (Svensk Bostadsmässa), que integra o Conselho Nacional de
Planeamento e Construção Habitacional (SABO), a Associação Sueca das Companhias
Municipais de Habitação, a Associação Sueca das Autoridades Locais e quinze
municípios suecos; salienta-se ainda que a Bo01 teve apoio financeiro da
Comissão Europeia, designadamente, no que se refere ao desenvolvimento de
soluções urbanas sustentáveis no campo da eficácia energética, bem como apoios
técnicos por parte do da Administração Nacional Sueca da Energia e do Instituto
de Ciência e Tecnologia de Lund.
A Bo01 foi o primeiro desenvolvimento/fase do novo
bairro de Malmö, designado como Västra Hamnen (O Porto Oeste) uma das
principais áreas urbanas de desenvolvimento da cidade no futuro.
Mais se refere que, sempre que seja possível, as
imagens recolhidas pelo autor do artigo na Bo01 serão referidas aos respetivos
projetistas dos edifícios visitados; no entanto, o elevado número de
imagens de interiores domésticos então recolhidas dificulta a identificação dos
respetivos projetistas de Arquitetura, não havendo informação adequada sobre os
respetivos designers de equipamento (mobiliário) e eventuais projetistas de arquitetura
de interiores; situação pela qual se apresentam as devidas desculpas aos
respetivos projetistas e designers, tendo-se em conta, quer as frequentes
ausências de referências - que serão, infelizmente, regra em relação aos
referidos designers -, quer os eventuais lapsos ou ausência de referências aos
respetivos projetistas de arquitetura.
·
Notas
editoriais:
(i) Embora a edição dos
artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo
editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um
significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e
comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos
respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva
responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o
mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e
científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito
significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver
com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo
GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à
respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas
e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do
teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou
negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi
recebido na edição.
Espaços domésticos privados
Infohabitar, Ano XII, n.º 579
Artigo
XCVI da Série habitar e viver melhor
-
Infohabitar n.º 579
Editor: António Baptista
Coelho
– abc@ubi.pt, abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade
Habitacional
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação -
Olivais Norte.
Sem comentários :
Enviar um comentário