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Infohabitar, Ano XVI, n.º 723
Retomar uma reflexão ilustrada sobre velhos/novos espaços urbanos –
Infohabitar # 723
Por António Baptista Coelho (imagens e textos)
Notas prévias importantes:
Caros e muito
estimados leitores da Infohabitar,
Nestes
tempos tão difíceis para todos e verdadeiramente inacreditáveis (até para
velhos amadores de ficção, como é o meu caso e, por favor, não considerem este último
comentário menos respeitoso, pois trata-se, apenas, de colocar, por escrito, um
pensamento que, provavelmente, tem ocorrido, a muitos de nós, nestas últimas
semanas e especialmente nos últimos dias), é fundamental, por um lado, atender e cumprir, fielmente,
entre outros aspetos, as indicações de confinamento doméstico – e não tenhamos quaisquer dúvidas de que “ficar em casa”
é a única forma de nos protegermos, de protegermos os outros e de facilitarmos
o heroico esforço dos profissionais de saúde e de tantos outros que não podem
estar em teletrabalho (e são muitos e importantes os testemunhos que destacam
a importância vital do isolamento doméstico no combate ao vírus) – e, por
outro lado, procurar construir, gradual, mas seguramente, uma fundamental rotina
de atividades, entre as quais : (i) os cuidados de higienização própria e do
espaço doméstico, (ii) os cuidados de distância social no espaço de uso público e mesmo, sempre que possível, no próprio espaço doméstico, (iii)a prática das mais variadas atividades complementares e de lazer adequadas ao
espaço doméstico e (iv) o desenvolvimento de uma razoável e bem saudável disciplina de
teletrabalho doméstico.
E é com este sentido que iremos procurar
assegurar a continuidade das edições semanais da Infohabitar, tanto com novos
artigos sobre aspetos teórico práticos que se poderão, talvez, designar como mais
“consistentes” – por exemplo, o retomar da Série “Habitar e Viver Melhor” e o
desenvolvimento de uma nova Série editorial dedicada à “Habitação Colaborativa Intergeracional”
–, como através da reedição, eventualmente comentada, de artigos editados nos
primeiros anos da Infohabitar, e ainda através da continuidade de uma edição
comentada de esquissos/desenhos, seja numa perspectiva da própria prática do
desenho livre, seja considerando, especificamente, os aspectos de arquitectura
e de habitar que estejam, eventualmente, associados a cada tema desenhado.
Finalmente, faz-se um apelo sincero:
. a novos artigos que nos possam ser enviados
com o objetivo da respetiva edição, que poderão ser de variada índole, desde
que referidos ao grande tema do habitat humano - ex., desde temas estruturados e/ou
inovadores, a reflexões específicas sobre determinada matérias (e o
confinamento doméstico proporciona sem dúvida muita matéria de reflexão
teórico-prática sobre o que são e o que poderiam ser os nossos “mundos”
domésticos);
. a recensões sobre livros ou filmes, conjuntos
de imagens, pelo menos, minimamente apresentadas e/ou comentadas, como fotos e
esboços (cuidado com a autoria), etc.
. e a “simples” comentários relativos a
determinados artigos, comentários estes que deverão ser acompanhados pela
referência de autorização para divulgação editorial (caso assim o desejem).
E para já é tudo, mas na próxima semana
voltaremos.
Com saudações calorosas e desejos de muita
força e boa saúde,
Lisboa, Encarnação, em 23 de março de 2020
António Baptista Coelho
Editor da
Infohabitar (em teletrabalho doméstico)
Retomar uma reflexão ilustrada sobre velhos/novos espaços urbanos – Infohabitar # 723
Por António Baptista Coelho (imagens e textos)
Introdução
explicativa
Como referência prática de apoio à leitura,
lembra-se que no artigo Infohabitar n.º 711, intitulado “Uma
primeira reflexão sobre velhos/novos espaços urbanos”, se procurou
desenvolver, esquematicamente, a ideia de que, nos tempos de hoje, quando se
pretende imprimir ao espaço urbano uma renovada marca pedonal e de meios
“suaves” de deslocação, facilitados, designadamente, pelas novas tecnologias de
informação e comunicação e pelo crescimento do uso dos veículos pouco
poluentes, será talvez altura de podermos reavaliar e reintroduzir soluções de
Arquitetura urbana, que integrem, e profundamente – portanto, no “pleno uso”
dos respetivos e muito amplos leques de tipologias de espaços e aspetos de
pormenor – morfologias de edifícios e de espaços públicos, sendo ambas,
expressivamente, marcadas pela escala humana, e pela diversidade e mutação de
agradáveis e atraentes sequências de imagens, verdadeiramente catalizadoras do
movimento e da permanência.
No referido artigo Infohabitar n.º 711, intitulado “Uma primeira reflexão sobre velhos/novos
espaços urbanos”, realizou-se, então, uma abordagem de enquadramento
da temática dos velhos/novos espaços urbanos, seguindo-se o apontamento de alguns desenvolvimentos recentes e de
referência, que apoiam estas ideias, desenvolvendo-se, sequencialmente a
matéria do que se considera poder ser uma estratégica variabilidade urbana, que
se julga poder ser até facilitada pelas novas e potentes ferramentas de projeto
e de visualização do mesmo.
E salienta-se, finalmente, que se julga que boa
parte destas reflexões ilustradas poderão ser úteis em termos de apoio à
prática, quer no contexto de novas intervenções, quer no âmbito de regeneração
urbana, respeitando-se, naturalmente, a essencial adequação e/ou adaptação a
cada situação específica e a estratégica caraterização de cada operação.
Alguns
desenhos comentados
Em seguida e tendo-se por base a apresentação de
alguns desenhos à mão livre (5 desenhos coloridos), comentam-se as matérias da
Arquitetura do habitar, associáveis às temáticas que acabaram de ser referidas,
mas não se descurando alguns comentários relativos ao
desenvolvimento específico dos respetivos desenhos.
Fig. 01: uma
malha urbana “tradicional” (e neste caso parcialmente inventada) composta
por edifícios não muito altos, configurando espaços públicos com expressiva
escala humana e, portanto, ainda mais “apertados” ou “abrigados”, (noções distintas, reconheça-se) do que se tivessem sido regulamentarmente dimensionados
– a partir da “regra dos 45º”, que se refere (de modo muito genérico,
sublinha-se) a um afastamento entre edifícios no mínimo igual à maior altura que
tem cada um deles; sendo esta uma regra que tem os seus benefícios (ex., mais
insolação nas ruas e nos espaços domésticos), mas também os seus problemas (por
exemplo, não proporcionando espaços públicos bem sombreados e frescos no verão);
e uma regra que julgo ser bem diferente, aqui ao lado, em Espanha.
Um outro aspeto a salientar,
sempre, é o favorecimento da perspetiva e de um sentido de percurso bem encaminhado e "cortado" no aglomerado da edificação, que é
proporcionado por estas ruas estreitas de edifícios baixos e contínuos.
No que se refere mais ao esboço
(desenho original em formato A3), salienta-se a “liberdade” de traçar que é
proporcionada pelo trabalho num formato maior e, talvez, a maior oportunidade
que assim se à previsão ("reserva") de estratégicos e vitalizadores espaços brancos,
contrastantes e portadores de luz e cor.
Fig. 02: um
esboço também inspirado numa malha urbana “tradicional” (e neste caso totalmente
inventada), e dirigido – em termos das principais ideias que pretende veicular (matéria
esta à qual voltaremos nestes artigos) – para o acentuar da importância
específica que tem, quer o expressar do sentido “global”, ou “uno”, ou “de
conjunto” de um dado aglomerado urbano (neste caso o que podemos designar de
uma “colina edificada”), quer o papel de troços urbanos bem marcados, estruturados
e “ancorados” em determinados edifícios e/ou espaços urbanos singulares e
razoavelmente destacados (neste caso a torre de uma Igreja marcando a
continuidade de um eixo urbano); e, já agora, porque não apontar, também, a
importância da expressão intensificada de uma situação ou caráter local únicos,
que, neste caso, se refere ao apontar evidenciado de uma topografia bem
assinalável.
No que se
refere mais ao esquisso (desenho original em formato A3), salienta-se a afirmada
expressão de espaços a branco (não “desenhados” ou marcados a azul claro/“sombras”),
estratégicos e vitalizadores, contrastantes e constituindo bases de luz e de cores
vivas; e este parece ser um caminho importante na prática do desenho: o “traçar”
com espaços e contornos “a branco”, o traçar, afinal, com a “forma negativa”,
que nos proporciona, cumulativamente, uma interessante luminosidade. Em termos
de “técnica”, se assim o podemos designar, o desenho foi construído a traço de
caneta à prova de água, seguindo-se a aplicação de “marcadores” coloridos e aqui e ali aguarelados (usaram-se, portanto, marcadores aguareláveis).
Fig. 03: um esboço diretamente inspirado numa malha urbana "tradicional" (neste caso uma vista sobre o bairro de Alfama, em Lisboa), e que se refere, globalmente, ao acentuar do caráter de um dado espaço urbano, aqui desenvolvido num afirmado
diálogo ribeirinho e entre colina e rio; num sentido orgânico que marca o
esboço e o “objeto” esboçado, cuja unidade é definida por determinados
elementos construídos com aplicação geral em toda a massa edificada que surge
na vista, elementos estes que, neste caso, são os telhados inclinados, a cor da
telha, a relativa regularidade dos vãos de janela, as mansardas e uma paleta cromática
“clara”, marcada pelo branco e por tons relativamente claros e naturais, embora
com contrastes pontuais mais expressivo; e, ainda assim, frequentemente, também “naturais”
(ex., verdes e azuis).
Mais em
termos do "sentido" básico (intenção) do esboço (desenho original em formato A3), embora com evidentes ligações urbanísticas
e no quadro de habitat que aqui é “construído”, temos três grandes temas ilustrados
(a ilustrar): o conjunto de telhados da cidade; a “banda” ou a faixa “industrial”
e portuária que remata a cidade e a margem do rio; e o próprio rio.
Depois há outros remates paisagísticos, referidos num primeiro plano à Igreja, que acentua perspetivas e dinamiza a cena/vista urbana e, num último plano, a margem de lá, a outra margem, que também se visualiza habitada e que fecha a composição em contraponto com a cidade em primeiro plano e rematando a faixa de céu.
Depois há outros remates paisagísticos, referidos num primeiro plano à Igreja, que acentua perspetivas e dinamiza a cena/vista urbana e, num último plano, a margem de lá, a outra margem, que também se visualiza habitada e que fecha a composição em contraponto com a cidade em primeiro plano e rematando a faixa de céu.
Fig. 04: novamente
um esboço inspirado numa malha urbana “tradicional” (neste caso também totalmente
inventada), e dirigido – em termos das principais ideias que pretende veicular (matéria
à qual voltaremos nestes artigos) – para a procura de um espaço urbano fortemente
coeso nas suas relações entre edificado e espaço público; um sentido que aqui
se procura apontar num espaço público que, quase como um “corredor transparente”, vai “mexendo/circulando” e descendo, organicamente, entre continuidades de
fachadas, e vivida, sempre, com um estimulante sentido de ravina formada entre escarpas edificadas.
No que se
refere mais ao esquisso (desenho original em formato A3) as ideias que marcaram,
essencialmente, este exercício foram três: a tentativa de expressar um espaço
urbano a descer e claramente perspetivado; a procura de “desenhar” também com espaços
a branco (bem evidente nos edifícios à esquerda e na roupa estendida, à direita);
e a vontade de marcar uma composição estruturada, essencialmente, pelos espaços
de piso público e de céu (duas “pirâmides” que quase se tocam no pequeno
edifício branco ao fundo).
Fig. 05: novamente
um esboço inspirado numa malha urbana “tradicional” existente (neste caso um espaço público de Alfama,
em Lisboa), e que se refere, globalmente, talvez a um interessante sentido de “domesticação”
(no sentido de tornar mais doméstico, mais habitável) do espaço público urbano;
e para tal não tenhamos qualquer dúvida que importa trabalhar este espeço
público com uma atenção tão estruturante como “fina” e pormenorizada; e além
disso há aqui a proposta de uma malha urbana atraente e diversificadamente
habitada e humanizada, através de edifícios bem distintos uns dos outros e de
acessos ao espaço público muito variados e apropriáveis.
No que se
liga mais ao desenho (original em formato A3), salienta-se, neste caso, em
primeiro lugar, a procura de uma maior detalhe, provavelmente , talvez, um pouco exagerado no que
se refere aos edifícios mais distantes, que teriam ganho, em sentido de
profundidade, com uma expressão mais livre e esquemática.
E importa
referir aqui, talvez pela primeira vez nestas reflexões sobre o desenho do/no
espaço urbano, a questão da importância que tem o que se poderá definir como
uma “paciência ativa”, tão necessária ao desenvolvimento de uma peça desenhada que
já tem uma dimensão relativamente significativa (neste caso o formato A3), pois
esta dimensão de desenho implica já uma significativa manutenção da atenção na
sua execução ao longo de algum tempo, isto se quisermos fazer este desenho de
uma vez, o que se pensa poder trazer-lhe uma “qualidade” (no sentido de
expressividade) difícil de obter em sucessivas sessões de desenho; mas esta é uma reflexão bem discutível, embora ,julga-se, sempre útil, pois desenhar só se
faz com um forte equilíbrio entre o que se poderá designar de força criativa e
o que se poderá referir como paciência criativa – tempo “mínimo” para conseguir
concretizar, com um máximo de concentração (e de “paciência”) a ideia que nos
move.
Mas tal
equilíbrio e tal “tempo” de concentração não deve resvalar para “excessos
desenhados”, que possam afetar negativamente o sentido global do desenho, designadamente, em
termos de expressão evidenciada de profundidade, de muito claro/muito escuro (pontualmente) e de zonas de cor e de pormenor (maior ou menor).
Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada,
caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha
de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões
expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições
individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo
portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) No mesmo sentido, de natural responsabilização dos autores dos
artigos, a utilização de quaisquer elementos de ilustração dos mesmos
artigos, como , por exemplo, fotografias, desenhos, gráficos, etc., é,
igualmente, da exclusiva responsabilidade dos respetivos autores – que deverão
referir as respetivas fontes e obter as necessárias autorizações.
(iii) Para se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e
científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito
significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver
com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo
GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à
respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas
e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do
teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou
negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido
na edição.
Infohabitar, Ano XVI, n.º 723
Retomar uma reflexão ilustrada
sobre velhos/novos espaços urbanos – Infohabitar # 723
Infohabitar
Editor: António Baptista Coelho
Arquitecto/ESBAL – Escola
Superior de Belas Artes de Lisboa –, doutor em Arquitectura/FAUP – Faculdade de
Arquitectura da Universidade do Porto –, Investigador Principal com Habilitação
em Arquitectura e Urbanismo no Laboratório Nacional de Engenharia Civil
(LNEC), em Lisboa.
Revista do GHabitar (GH) Associação Portuguesa para
a Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar – Associação com sede na
Federação Nacional de Cooperativa de Habitação Económica (FENACHE).
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