terça-feira, março 24, 2020

Retomar uma reflexão ilustrada sobre velhos/novos espaços urbanos – Infohabitar # 723


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Infohabitar, Ano XVI, n.º 723

Retomar uma reflexão ilustrada sobre velhos/novos espaços urbanos – Infohabitar # 723

Por António Baptista Coelho (imagens e textos)


Notas prévias importantes:

Caros e muito estimados leitores da Infohabitar,
Nestes tempos tão difíceis para todos e verdadeiramente inacreditáveis (até para velhos amadores de ficção, como é o meu caso e, por favor, não considerem este último comentário menos respeitoso, pois trata-se, apenas, de colocar, por escrito, um pensamento que, provavelmente, tem ocorrido, a muitos de nós, nestas últimas semanas e especialmente nos últimos dias), é fundamental, por um lado, atender e cumprir, fielmente, entre outros aspetos, as indicações de confinamento domésticoe não tenhamos quaisquer dúvidas de que “ficar em casa” é a única forma de nos protegermos, de protegermos os outros e de facilitarmos o heroico esforço dos profissionais de saúde e de tantos outros que não podem estar em teletrabalho (e são muitos e importantes os testemunhos que destacam a importância vital do isolamento doméstico no combate ao vírus) – e, por outro lado, procurar construir, gradual, mas seguramente, uma fundamental rotina de atividades, entre as quais : (i) os cuidados de higienização própria e do espaço doméstico, (ii) os cuidados de distância social no espaço de uso público e mesmo, sempre que possível, no próprio espaço doméstico, (iii)a prática das mais variadas atividades complementares e de lazer adequadas ao espaço doméstico e (iv) o desenvolvimento de uma razoável e bem saudável disciplina de teletrabalho doméstico.
E é com este sentido que iremos procurar assegurar a continuidade das edições semanais da Infohabitar, tanto com novos artigos sobre aspetos teórico práticos que se poderão, talvez, designar como mais “consistentes” – por exemplo, o retomar da Série “Habitar e Viver Melhor” e o desenvolvimento de uma nova Série editorial dedicada à “Habitação Colaborativa Intergeracional” –, como através da reedição, eventualmente comentada, de artigos editados nos primeiros anos da Infohabitar, e ainda através da continuidade de uma edição comentada de esquissos/desenhos, seja numa perspectiva da própria prática do desenho livre, seja considerando, especificamente, os aspectos de arquitectura e de habitar que estejam, eventualmente, associados a cada tema desenhado.
Finalmente, faz-se um apelo sincero:
. a novos artigos que nos possam ser enviados com o objetivo da respetiva edição, que poderão ser de variada índole, desde que referidos ao grande tema do habitat humano  - ex., desde temas estruturados e/ou inovadores, a reflexões específicas sobre determinada matérias (e o confinamento doméstico proporciona sem dúvida muita matéria de reflexão teórico-prática sobre o que são e o que poderiam ser os nossos “mundos” domésticos);
. a recensões sobre livros ou filmes, conjuntos de imagens, pelo menos, minimamente apresentadas e/ou comentadas, como fotos e esboços (cuidado com a autoria), etc.
. e a “simples” comentários relativos a determinados artigos, comentários estes que deverão ser acompanhados pela referência de autorização para divulgação editorial (caso assim o desejem).
E para já é tudo, mas na próxima semana voltaremos.

Com saudações calorosas e desejos de muita força e boa saúde,
Lisboa, Encarnação, em 23 de março de 2020
António Baptista Coelho
Editor da Infohabitar (em teletrabalho doméstico)


Retomar uma reflexão ilustrada sobre velhos/novos espaços urbanos  – Infohabitar # 723

Por António Baptista Coelho (imagens e textos)

Introdução explicativa
Como referência prática de apoio à leitura, lembra-se que no artigo Infohabitar n.º 711, intitulado “Uma primeira reflexão sobre velhos/novos espaços urbanos”, se procurou desenvolver, esquematicamente, a ideia de que, nos tempos de hoje, quando se pretende imprimir ao espaço urbano uma renovada marca pedonal e de meios “suaves” de deslocação, facilitados, designadamente, pelas novas tecnologias de informação e comunicação e pelo crescimento do uso dos veículos pouco poluentes, será talvez altura de podermos reavaliar e reintroduzir soluções de Arquitetura urbana, que integrem, e profundamente – portanto, no “pleno uso” dos respetivos e muito amplos leques de tipologias de espaços e aspetos de pormenor – morfologias de edifícios e de espaços públicos, sendo ambas, expressivamente, marcadas pela escala humana, e pela diversidade e mutação de agradáveis e atraentes sequências de imagens, verdadeiramente catalizadoras do movimento e da permanência.
No referido artigo Infohabitar n.º 711, intitulado “Uma primeira reflexão sobre velhos/novos espaços urbanos”, realizou-se, então, uma abordagem de enquadramento da temática dos velhos/novos espaços urbanos, seguindo-se o apontamento de  alguns desenvolvimentos recentes e de referência, que apoiam estas ideias, desenvolvendo-se, sequencialmente a matéria do que se considera poder ser uma estratégica variabilidade urbana, que se julga poder ser até facilitada pelas novas e potentes ferramentas de projeto e de visualização do mesmo.
E salienta-se, finalmente, que se julga que boa parte destas reflexões ilustradas poderão ser úteis em termos de apoio à prática, quer no contexto de novas intervenções, quer no âmbito de regeneração urbana, respeitando-se, naturalmente, a essencial adequação e/ou adaptação a cada situação específica e a estratégica caraterização de cada operação.
Alguns desenhos comentados
Em seguida e tendo-se por base a apresentação de alguns desenhos à mão livre (5 desenhos coloridos), comentam-se as matérias da Arquitetura do habitar, associáveis às temáticas que acabaram de ser referidas, mas não se descurando alguns comentários relativos ao desenvolvimento específico dos respetivos desenhos.


Fig. 01: uma malha urbana “tradicional” (e neste caso parcialmente inventada) composta por edifícios não muito altos, configurando espaços públicos com expressiva escala humana e, portanto, ainda mais “apertados” ou “abrigados”, (noções distintas, reconheça-se) do que se tivessem sido regulamentarmente dimensionados – a partir da “regra dos 45º”, que se refere (de modo muito genérico, sublinha-se) a um afastamento entre edifícios no mínimo igual à maior altura que tem cada um deles; sendo esta uma regra que tem os seus benefícios (ex., mais insolação nas ruas e nos espaços domésticos), mas também os seus problemas (por exemplo, não proporcionando espaços públicos bem sombreados e frescos no verão); e uma regra que julgo ser bem diferente, aqui ao lado, em Espanha.
Um outro aspeto a salientar, sempre, é o favorecimento da perspetiva e de um sentido de percurso bem encaminhado e "cortado" no aglomerado da edificação, que é proporcionado por estas ruas estreitas de edifícios baixos e contínuos.
No que se refere mais ao esboço (desenho original em formato A3), salienta-se a “liberdade” de traçar que é proporcionada pelo trabalho num formato maior e, talvez, a maior oportunidade que assim se à previsão ("reserva") de estratégicos e vitalizadores espaços brancos, contrastantes e portadores de luz e cor.



Fig. 02: um esboço também inspirado numa malha urbana “tradicional” (e neste caso totalmente inventada), e dirigido – em termos das principais ideias que pretende veicular (matéria esta à qual voltaremos nestes artigos) – para o acentuar da importância específica que tem, quer o expressar do sentido “global”, ou “uno”, ou “de conjunto” de um dado aglomerado urbano (neste caso o que podemos designar de uma “colina edificada”), quer o papel de troços urbanos bem marcados, estruturados e “ancorados” em determinados edifícios e/ou espaços urbanos singulares e razoavelmente destacados (neste caso a torre de uma Igreja marcando a continuidade de um eixo urbano); e, já agora, porque não apontar, também, a importância da expressão intensificada de uma situação ou caráter local únicos, que, neste caso, se refere ao apontar evidenciado de uma topografia bem assinalável.
No que se refere mais ao esquisso (desenho original em formato A3), salienta-se a afirmada expressão de espaços a branco (não “desenhados” ou marcados a azul claro/“sombras”), estratégicos e vitalizadores, contrastantes e constituindo bases de luz e de cores vivas; e este parece ser um caminho importante na prática do desenho: o “traçar” com espaços e contornos “a branco”, o traçar, afinal, com a “forma negativa”, que nos proporciona, cumulativamente, uma interessante luminosidade. Em termos de “técnica”, se assim o podemos designar, o desenho foi construído a traço de caneta à prova de água, seguindo-se a aplicação de “marcadores” coloridos e aqui e ali aguarelados (usaram-se, portanto, marcadores aguareláveis).

Fig. 03: um esboço diretamente inspirado numa malha urbana "tradicional" (neste caso uma vista sobre o bairro de Alfama, em Lisboa), e que se refere, globalmente, ao acentuar do caráter de um dado espaço urbano, aqui desenvolvido num afirmado diálogo ribeirinho e entre colina e rio; num sentido orgânico que marca o esboço e o “objeto” esboçado, cuja unidade é definida por determinados elementos construídos com aplicação geral em toda a massa edificada que surge na vista, elementos estes que, neste caso, são os telhados inclinados, a cor da telha, a relativa regularidade dos vãos de janela, as mansardas e uma paleta cromática “clara”, marcada pelo branco e por tons relativamente claros e naturais, embora com contrastes pontuais mais expressivo; e, ainda assim, frequentemente, também “naturais” (ex., verdes e azuis).
Mais em termos do "sentido" básico (intenção) do esboço (desenho original em formato A3), embora com evidentes ligações urbanísticas e no quadro de habitat que aqui é “construído”, temos três grandes temas ilustrados (a ilustrar): o conjunto de telhados da cidade; a “banda” ou a faixa “industrial” e portuária que remata a cidade e a margem do rio; e o próprio rio.
Depois há outros remates paisagísticos, referidos num primeiro plano à Igreja, que acentua perspetivas e dinamiza a cena/vista urbana e, num último plano, a margem de lá, a outra margem, que também se visualiza habitada e que fecha a composição em contraponto com a cidade em primeiro plano e rematando a faixa de céu.

Fig. 04: novamente um esboço inspirado numa malha urbana “tradicional” (neste caso também totalmente inventada), e dirigido – em termos das principais ideias que pretende veicular (matéria à qual voltaremos nestes artigos) – para a procura de um espaço urbano fortemente coeso nas suas relações entre edificado e espaço público; um sentido que aqui se procura apontar num espaço público que, quase como um “corredor transparente”, vai “mexendo/circulando” e descendo, organicamente, entre continuidades de fachadas, e vivida, sempre, com um estimulante sentido de ravina formada entre escarpas edificadas.
No que se refere mais ao esquisso (desenho original em formato A3) as ideias que marcaram, essencialmente, este exercício foram três: a tentativa de expressar um espaço urbano a descer e claramente perspetivado; a procura de “desenhar” também com espaços a branco (bem evidente nos edifícios à esquerda e na roupa estendida, à direita); e a vontade de marcar uma composição estruturada, essencialmente, pelos espaços de piso público e de céu (duas “pirâmides” que quase se tocam no pequeno edifício branco ao fundo).

Fig. 05: novamente um esboço inspirado numa malha urbana “tradicional” existente (neste caso um espaço público de Alfama, em Lisboa), e que se refere, globalmente, talvez a um interessante sentido de “domesticação” (no sentido de tornar mais doméstico, mais habitável) do espaço público urbano; e para tal não tenhamos qualquer dúvida que importa trabalhar este espeço público com uma atenção tão estruturante como “fina” e pormenorizada; e além disso há aqui a proposta de uma malha urbana atraente e diversificadamente habitada e humanizada, através de edifícios bem distintos uns dos outros e de acessos ao espaço público muito variados e apropriáveis.
No que se liga mais ao desenho (original em formato A3), salienta-se, neste caso, em primeiro lugar, a procura de uma maior detalhe, provavelmente , talvez, um pouco exagerado no que se refere aos edifícios mais distantes, que teriam ganho, em sentido de profundidade, com uma expressão mais livre e esquemática.
E importa referir aqui, talvez pela primeira vez nestas reflexões sobre o desenho do/no espaço urbano, a questão da importância que tem o que se poderá definir como uma “paciência ativa”, tão necessária ao desenvolvimento de uma peça desenhada que já tem uma dimensão relativamente significativa (neste caso o formato A3), pois esta dimensão de desenho implica já uma significativa manutenção da atenção na sua execução ao longo de algum tempo, isto se quisermos fazer este desenho de uma vez, o que se pensa poder trazer-lhe uma “qualidade” (no sentido de expressividade) difícil de obter em sucessivas sessões de desenho; mas esta é uma reflexão bem discutível, embora ,julga-se, sempre útil, pois desenhar só se faz com um forte equilíbrio entre o que se poderá designar de força criativa e o que se poderá referir como paciência criativa – tempo “mínimo” para conseguir concretizar, com um máximo de concentração (e de “paciência”) a ideia que nos move.
Mas tal equilíbrio e tal “tempo” de concentração não deve resvalar para “excessos desenhados”, que possam afetar negativamente o sentido global do desenho, designadamente, em termos de expressão evidenciada de profundidade, de muito claro/muito escuro (pontualmente) e de zonas de cor e de pormenor (maior ou menor).   


Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) No mesmo sentido, de natural responsabilização dos autores dos artigos, a utilização de quaisquer elementos de ilustração dos mesmos artigos, como , por exemplo, fotografias, desenhos, gráficos, etc., é, igualmente, da exclusiva responsabilidade dos respetivos autores – que deverão referir as respetivas fontes e obter as necessárias autorizações.
(iii) Para se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.


Infohabitar, Ano XVI, n.º 723

Retomar uma reflexão ilustrada sobre velhos/novos espaços urbanos – Infohabitar # 723

Infohabitar
Editor: António Baptista Coelho
Arquitecto/ESBAL – Escola Superior de Belas Artes de Lisboa –, doutor em Arquitectura/FAUP – Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto –, Investigador Principal com Habilitação em Arquitectura e Urbanismo no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), em Lisboa.


Revista do GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar – Associação com sede na Federação Nacional de Cooperativa de Habitação Económica (FENACHE).

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