terça-feira, março 31, 2020

Desenhos a sépia de velhos/novos espaços urbanos e naturais (I) – Infohabitar # 724


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Infohabitar, Ano XVI, n.º 724

Desenhos a sépia de velhos/novos espaços urbanos e naturais (I) – Infohabitar # 724

Por António Baptista Coelho (imagens e textos)


Notas prévias:
Muito estimados leitores da Infohabitar, caros amigos,
continuamos a “batalha” contra o inimigo invisível, julgo, agora um pouco mais habituados ao teletrabalho e ao confinamento doméstico.
Temos de manter a força e procurar ter um máximo de rigor e reforçar mesmo o cumprimento das indicações para “estar em casa” e manter a distância social; só assim poderemos proteger-nos e proteger os outros.
E não tenhamos dúvida de que quem sai de casa sem ser por razões plenamente justificadas está, realmente, a  colocar em risco o esforço de confinamento que todos estamos a fazer e a contribuir para o prolongamento e mesmo para o agravamento desta situação.
Realmente, nestes tempos tão difíceis para todos e verdadeiramente inacreditáveis (até para velhos amadores de ficção, como é o meu caso e, por favor, não considerem este último comentário menos respeitoso, pois trata-se, apenas, de colocar, por escrito, um pensamento que, provavelmente, tem ocorrido, a muitos de nós, nestas últimas semanas), é fundamental, por um lado, e tal como acima se referiu, atender e cumprir, fielmente, entre outros aspetos, as indicações de confinamento doméstico – e não tenhamos quaisquer dúvidas de que “ficar em casa” é a única forma de nos protegermos, de protegermos os outros e de facilitarmos o heroico esforço dos profissionais de saúde e de tantos outros que não podem estar em teletrabalho (e são muitos e importantes os testemunhos que destacam a importância vital do isolamento doméstico no combate ao vírus) – e, por outro lado, procurar construir, gradual, mas seguramente, uma fundamental rotina de atividades, entre as quais :
(i) os cuidados de higienização própria e do espaço doméstico,
(ii) os cuidados de distância social no espaço de uso público e mesmo, sempre que possível, no próprio espaço doméstico,
(iii)a prática das mais variadas atividades complementares e de lazer adequadas ao espaço doméstico 
(iv) o desenvolvimento de uma razoável e bem saudável disciplina de teletrabalho doméstico.
E é com este sentido que iremos procurar assegurar a continuidade das edições semanais da Infohabitar, tanto com novos artigos sobre aspetos teórico práticos que se poderão, talvez, designar como mais “consistentes” – por exemplo, o retomar da Série “Habitar e Viver Melhor” e o desenvolvimento de uma nova Série editorial dedicada à “Habitação Colaborativa Intergeracional” –, como através da reedição, eventualmente comentada, de artigos editados nos primeiros anos da Infohabitar, e ainda através da continuidade de uma edição comentada de esquissos/desenhos, seja numa perspectiva da própria prática do desenho livre, seja considerando, especificamente, os aspectos de arquitectura e de habitar que estejam, eventualmente, associados a cada tema desenhado.
Finalmente, faz-se um apelo sincero:
. a novos artigos que nos possam ser enviados com o objetivo da respetiva edição, que poderão ser de variada índole, desde que referidos ao grande tema do habitat humano  - ex., desde temas estruturados e/ou inovadores, a reflexões específicas sobre determinada matérias (e o confinamento doméstico proporciona sem dúvida muita matéria de reflexão teórico-prática sobre o que são e o que poderiam ser os nossos “mundos” domésticos);
. a recensões sobre livros ou filmes, conjuntos de imagens, pelo menos, minimamente apresentadas e/ou comentadas, como fotos e esboços (cuidado com a autoria), etc.
. e a “simples” comentários relativos a determinados artigos, comentários estes que deverão ser acompanhados pela referência de autorização para divulgação editorial (caso assim o desejem).
E para já é tudo, mas na próxima semana voltaremos.

Com saudações calorosas e desejos de muita força e de boa saúde,
Lisboa, Encarnação, em 30 de março de 2020
António Baptista Coelho
Editor da Infohabitar (em teletrabalho doméstico)

Desenhos a sépia de velhos/novos espaços urbanos e naturais (I)  – Infohabitar # 724

Por António Baptista Coelho (imagens e textos)

Introdução explicativa
Como referência prática de apoio à leitura, lembra-se que no artigo Infohabitar n.º 711, intitulado “Uma primeira reflexão sobre velhos/novos espaços urbanos”, se procurou desenvolver, esquematicamente, a ideia de que, nos tempos de hoje, quando se pretende imprimir ao espaço urbano uma renovada marca pedonal e de meios “suaves” de deslocação, facilitados, designadamente, pelas novas tecnologias de informação e comunicação e pelo crescimento do uso dos veículos pouco poluentes, será talvez altura de podermos reavaliar e reintroduzir soluções de Arquitetura urbana, que integrem, e profundamente – portanto, no “pleno uso” dos respetivos e muito amplos leques de tipologias de espaços e aspetos de pormenor – morfologias de edifícios e de espaços públicos, sendo ambas, expressivamente, marcadas pela escala humana, e pela diversidade e mutação de agradáveis e atraentes sequências de imagens, verdadeiramente catalizadoras do movimento e da permanência.
No referido artigo Infohabitar n.º 711, intitulado “Uma primeira reflexão sobre velhos/novos espaços urbanos”, realizou-se, então, uma abordagem de enquadramento da temática dos velhos/novos espaços urbanos, seguindo-se o apontamento de  alguns desenvolvimentos recentes e de referência, que apoiam estas ideias, desenvolvendo-se, sequencialmente a matéria do que se considera poder ser uma estratégica variabilidade urbana, que se julga poder ser até facilitada pelas novas e potentes ferramentas de projeto e de visualização do mesmo.
E salienta-se, finalmente, que se julga que boa parte destas reflexões ilustradas poderão ser úteis em termos de apoio à prática, quer no contexto de novas intervenções, quer no âmbito de regeneração urbana, respeitando-se, naturalmente, a essencial adequação e/ou adaptação a cada situação específica e a estratégica caraterização de cada operação.
Alguns desenhos comentados
Em seguida e tendo-se por base a apresentação de alguns desenhos à mão livre (7 esboços coloridos a sépia), comentam-se, neste caso com brevidade, as matérias da Arquitetura do habitar, associáveis às temáticas que acabaram de ser referidas, mas não se descurando alguns também breves comentários relativos ao desenvolvimento dos respetivos desenhos (a brevidade dos comentários acabou por se aplicar mais às últimas figuras).


Fig. 01: pormenor do caminho que serpenteia no agradável jardim urbano que rodeia a igreja de Santo Eugénio na Encarnação, um espaço que se julga ter sido uma das primeiras obras do arq.º paisagista Gonçalo Ribeiro Telles (Jardim da Praça de Santo Eugénio, Encarnação, Lisboa, 1951).
Este jardim encontra-se rodeado por moradias e equipamentos, mas consegue, mesmo com um dimensionamento muito equilibrado (relativamente pequeno) uma razoável simulação de um ambiente natural, através de relvados, arbustos, árvores com diferentes tamanhos e formas de copa e caminhos que vão “ondulando” e oferecendo assim percursos mais estendidos e com sequências variadas de pontos de vista.
Tal como é refletido no título do artigo o esquisso é colorido a sépia, neste caso usando-se tinta permanente que é depois aguarelada e, finalmente, sublinhando-se alguns aspetos a traço negro.


Fig. 02: vista de uma zona pedonal em Olivais Norte, Lisboa, “centrada” em um dos edifícios que correspondem ao Prémio Valmor e Municipal de Arquitectura de 1967, o primeiro (e julga-se que o único) Prémio Valmor atribuído a um edifício de habitação de interesse social, com projeto dos arquitectos Nuno Teotónio Pereira, António Pinto de Freitas e Nuno Portas.
Estamos numa “nova” zona urbana lisboeta, Olivais Norte, que constitui o mais exemplar bairro modernista português, rodeado pela grande malha de pequenas moradias do bairro da Encarnação e hoje em dia facilmente visitável através da estação de Metro da Encarnação.
A estrutura/ambiente urbano que aqui foi muito bem desenvolvida tem uma imagem dupla que corresponde a uma “dupla vida”: (i) seja mais urbana, através de uma razoável continuidade física de edifícios e árvores de arruamento, acompanhando as rodovias estruturantes do bairro; (ii) seja mais naturalizada, tal como é visível no esquisso, através de uma conjugação entre veredas e outras zonas pedonais, organicamente desenvolvidas, massas naturalizadas de zonas verdes horizontais (relvados e prados), verticais (árvores com diferentes formas e dimensões) e de transição horizontal/vertical (arbustos eles próprios com diferentes formas/funções) e edifícios que, aqui, neste mundo/vida mais naturalizado surgem numa sua presença mais solta e bem distinta dessa relativa continuada urbana.
O esquisso segue a mesma “técnica” das aguadas sépia, seguidamente reforçadas a traço negro; neste caso procurando-se desenvolver alguma distinção de tipo de “traçar”, entre a ilustração dos elementos naturais (talvez menos “gráfica”) e a ilustração dos edifício, mais sintética.


Fig. 03: outro pormenor do caminho que percorre o jardim urbano que rodeia a igreja de Santo Eugénio na Encarnação, referido no texto da Fig. 01, salientando-se que neste jardim se desenvolveu uma grande extensão e continuidade dos espaços relvados o que proporciona excelente funcionalidade dos respetivos cuidados de manutenção e jardinagem.
E embora constituindo um espaço de jardim bastante formal são evidentes os pormenores “dramáticos” que reforçam a expressão e o sentimento de estarmos num espaço de natureza (“construída”, é claro), como neste enquadramento em que o caminho é praticamente coberto por duas pequenas árvores, uma de cada lado e onde é possível ter a noção de perspetiva/profundidade bem pontuada pelos troncos das árvores que vão “desaparecendo”, gradualmente, ao longe.


Fig. 04: outra vista de uma zona pedonal em Olivais Norte, Lisboa novamente “centrada” em um dos edifícios que correspondem ao Prémio Valmor e Municipal de Arquitectura de 1967, ilustrando-se, neste caso, a importância que esta exemplar malha urbana modernista soube dar ao evidenciar da topografia original e a grandes oliveiras pré-existentes, e que foram conjugadas com novas plantações de árvores altas, e assim articulando-se com a altura dos edifícios.
O esquisso aplica, também, as aguadas sépia, primeiro desenhadas com os traços sépia de caneta de tinta permanente, depois “aguados”/aguarelados e, finalmente, sublinhando-se o desenho a traço negro, neste caso, com texturas bastante acentuadas.


Fig. 05: novamente, uma zona pedonal de Olivais Norte, neste caso marcada por edifícios relativamente baixos e com expressiva continuidade horizontal, trata-se de uma tipologia de habitações duplex sobrepostas, que, de certa forma, fazem aproximar a ideia de conjunto à de habitações unifamiliares em banda em segundo plano de uma paisagem quase rural.
E fica evidente o cuidado que foi colocado na escolha das espécies, com destaque para as arbóreas, nesta caso com um amplo espaço muito focado numa grande árvore de copa larga; sublinhando-se, assim, o que foi, entre nós, a primeira grande e muito qualificada intervenção da arquitectura paisagista no âmbito da promoção de habitação de interesse social e à escala de um pequeno bairro.


Fig. 06: na imagem o grande e único edifício Categoria IV do bairro de Olivais Norte projetado pelo Arq.º Abel Manta; na altura (década de 1960) a habitação de interesse social portuguesa encontrava-se estruturada em cinco categorias, caracterizadas essencialmente por distintos aspetos de espaciosidade doméstica e também, em parte, a tipos de acabamentos - Categorias I, II, III, IV e HR, sendo as habitações menos espaçosas as de Categoria HR e I, e assinalando-se, a propósito, que a atual habitação de interesse social corresponderá, em termos de espaciosidade doméstica, sensivelmente à “antiga” Categoria II (talvez um pouco melhorada).
Em termos de desenho/esquisso nunca é fácil fazer o “apontamento” de um grande edifício caraterizado por um muito elevado número de elementos iguais (neste caso vãos exteriores e varandas), correndo-se, frequentemente, o risco de um excesso de síntese, com resultado na reduzida compreensão do “objeto” desenhado, ou, até mais frequentemente, de um excesso de minúcia e de um excessivo “carregar” na presença gráfica do grande número de elementos repetidos; isto para além da intensa atenção/paciência necessária(s) para a tentativa da respetiva expressão gráfica.


Fig. 07: finalmente e, aqui, essencialmente para fazer destacar diferenças estruturantes ou básicas entre dois tipos de espaço urbano – modernista e “tradicional” – temos uma vista esquissada sobre a Colina do Castelo em Lisboa, deixando e haver espaço entre edifícios, que passam a surgir como uma verdadeira colina edificada, sem edifícios protagonistas a não ser, talvez o Castelo e um ou outro elemento urbano um pouco distinto do conjunto.

Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) No mesmo sentido, de natural responsabilização dos autores dos artigos, a utilização de quaisquer elementos de ilustração dos mesmos artigos, como , por exemplo, fotografias, desenhos, gráficos, etc., é, igualmente, da exclusiva responsabilidade dos respetivos autores – que deverão referir as respetivas fontes e obter as necessárias autorizações.
(iii) Para se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.


Infohabitar, Ano XVI, n.º 724

Desenhos a sépia de velhos/novos espaços urbanos e naturais (I) – Infohabitar # 724

Infohabitar
Editor: António Baptista Coelho
Arquitecto/ESBAL – Escola Superior de Belas Artes de Lisboa –, doutor em Arquitectura/FAUP – Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto –, Investigador Principal com Habilitação em Arquitectura e Urbanismo no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), em Lisboa.


Revista do GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar – Associação com sede na Federação Nacional de Cooperativa de Habitação Económica (FENACHE).

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