Infohabitar, Ano XVI, n.º
750
Edição: terça-feira, 13 de outubro de 2020
Caros
leitores da Infohabitar,
Continuando
em um dos temas “centrais” da nossa revista: os espaços do habitar, vamos
aprofundando, semana a semana, esta matéria, neste caso específico no âmbito do,
julgado, bem oportuno tema da inovação nos espaços comuns residenciais; matéria
esta já abordada numa das últimas semanas e que aqui desenvolvemos mais um
pouco.
Esta
renovada viagem pelos espaços do habitar continuará a ser feita nas próximas
semanas.
Lembra-se
que serão sempre muito bem-vindas eventuais ideias comentadas a propósito dos
artigos aqui editados e propostas de novos artigos (a enviar para abc.infohabitar@gmail.com ao meu cuidado),
Considerando
a evolução da pandemia, aproveita-se esta oportunidade de contato para voltar a
sublinhar a importância que continua a ter o distanciamento social, conseguido
sempre que possível através do teletrabalho e de todas as medidas de proteção
própria e dos outros, que são muito favorecidas com o uso sistemático,
maximizado e cuidadoso de máscara – seja no interior seja nos espaços públicos
mais usados – e a continuidade dos cuidados de higiene.
Despeço-me,
até à próxima semana, com saudações calorosas e desejos de muita força e de boa
saúde,
Lisboa,
Encarnação, em 12 de outubro de 2020
António
Baptista Coelho
Editor da Infohabitar
Ainda sobre a inovação nos espaços comuns residenciais – Infohabitar # 750
António Baptista Coelho
Texto e fotografias
Introdução sobre
a importância que tem, hoje em dia, o desenvolvimento de um adequado espaço
comum residencial
A matéria da
inovação e de uma adequada e múltipla estratégia de conceção arquitectónica dos
espaços comuns residenciais, fazendo-os ultrapassar e expressivamente os
“contornos” de simples espaços comuns de circulação e tantas vezes
caraterizadamente residuais, é claramente muito oportuna quando um repensar da
importância, das valências e da própria estruturação formal e funcional dos
espaços de habitar estão na ordem do dia, marcada por habitações muito intensa
e longamente habitadas.
Esta
perspetiva faz todo o sentido quando habitamos edifícios multifamiliares, pois
havendo espaço comum este deveria ser, naturalmente, um espaço “positivo”,
acolhedor, diferenciador, identificável e com múltiplas funções; algumas tão
distintas como sítio de incentivo ao convívio natural e espaço de separação
entre mundos privados.
Num dos
últimos artigos desta nossa revista abordámos os espaços comuns residenciais,
já nesta perspetiva de necessária e oportuna inovação, privilegiando-se as
matérias das variadas valências condominiais, do interesse de ter muitos mais
objetivos do que os de uma simplista espaciosidade e da oportunidade de se
poderem apoiar atividades realmente interessantes e portanto basicamente
motivadoras nestes espaços comuns habitacionais – e, já agora, para ajudar a
desmistificar a natureza de tais atividades elas podem incluir, por exemplo,
entre muitas outras, a simples disponibilização estratégica de vistas
agradáveis, estimulantes e paisagísticas sobre as zonas envolventes.
No presente
artigo e para além desta introdução de aprofundamento sobre a importância que
tem, hoje em dia, um adequado e múltiplo (inovador) desenvolvimento de uma
expressiva faceta vivencial nos espaços comuns residenciais, iremos abordar o
que julgamos ser a urgência de uma tal inovação, a relação estreia que existe
entre o desenvolvimento de tais espaços comuns vitalizados e vitalizadores e a
criação de soluções do que poderemos designar de habitação assistida,
seguindo-se uma nova incursão nas matérias da espaciosidade residencial e
concluindo-se com uma reflexão preliminar sobre as virtualidades residenciais do
estacionamento em garagem.
É urgente inovar nos espaços comuns habitacionais
Sobre novidades
e tendências nos espaços comuns habitacionais já aqui se falou, nesta série
editorial, um pouco, quando se apontaram as diversas questões e opções que se
levantam quando se pensa em edifícios multifamiliares com uma mais forte
componente de espaços comuns.
No entanto
importa termos presente que, por um lado, estamos já bem dentro do século das
grandes cidades densificadas, e que, por outro, vivemos, cada vez mais, nesta
nossa Europa, o século da diversificação dos modos de vida domésticos,
associada à grande diversidade cultural que, cada vez mais, recheia as grandes
cidades, e também, cada vez mais, nesta nossa Europa:
·
o século das pessoas
que vivem com pressa e que não têm tempo para as tarefas domésticas;
·
o século das pessoas
que vivem sós;
·
o século dos idosos;
·
e, sendo assim, o
século das pessoas que realmente parecem precisar de habitações assistidas,
numa ampla gradação de serviços, que vãos dos mais simples aos caracterizadamente
hospitalares.
E refere-se
este “precisar de” habitações assistidas e o mesmo é dizer esta necessidade de
edifícios residenciais que integrem outros espaços e serviços comuns para lá
dos ligados às habituais funções de entrada e circulação comuns, a um
“sentimento” bastante para lá de uma simples necessidade funcional, porque
ligado à perspetiva de se poder ter uma vida urbana e doméstica muito mais
satisfatória, agradável, apoiada e motivada.
E se
repetirmos uma leitura diversa dos últimos parágrafos verificamos que
densificação urbana, diversidade no uso e apropriação da habitação, falta de
tempo para as velhas lides domésticas, tendência para uma prevalência de
habitações tipologicamente pequenas (o que não quer dizer que sejam
espacialmente pequenas) e a necessidade de amplos leques de serviços de apoio
directo às habitações, são, todos eles, aspectos potencialmente ligados à
emergência de uma ampla diversidade de soluções residenciais com uma forte
valência em espaços e serviços comuns; uma valência que terá, evidentemente,
que marcar a própria estruturação desta “novas” soluções edificadas, pois tais
mudanças não se compadecem com pequenos “enxertos” espaciais e funcionais nas,
frequentemente, estafadas tipologias edificadas vigentes.
E para que
tais “novas” soluções residenciais marcadamente “comuns” possam ter êxito, não
tenhamos quaisquer dúvidas de que o combate que apenas se iniciou pela
humanização e “domesticação” dos conjuntos residenciais e dos edifícios
habitacionais, terá de ter uma claríssima e fortíssima expressão na concepção
global, na pormenorização e na caracterização dos referidos espaços comuns
dessas soluções residenciais; caso contrário mais vale nem pensar nelas e
continuarmos a fazer o edifício “médio”, com a habitação “média”, para a
família “média”.
Fig. 02: a "praceta" comum
Notas das figuras 01 e 02:
A inovação fundamentada e urgente nas soluções de multifamiliares passa
tanto pela respetiva imagem geral e respetivos aspetos de pormenor, como pelos
seus conteúdos funcionais globais e particularizados, e é neste sentido que se
ilustra o artigo como esta solução residencial que integra um edifício multifamiliar
com dimensão reduzida, mas associado a pequenos unifamiliares em banda, que
podem ter inúmeras utilidades na relação com uma vivência multifamiliar mais
comum; e entre uma e outra subtipologia temos uma estimulante “praceta”
ajardinada com caráter comum.
Importa sublinhar que toda esta perspetiva se liga, estreitamente, seja
com aspetos bem atuais de densificação urbana (veja-se a maqueta), seja com
aspetos também bem atuais de disponibilização de novas tipologias habitacionais
assistidas (com serviços comuns); e todas estas ideias concretas
proporcionam novas formas de viver a cidade e uma certa continuidade da família
alargada e solidária.
O caso ilustrado refere-se a habitações do conjunto
urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da
exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - Arquitetura: Johan
Nyrén.
Espaços comuns e habitação assistida
Um conjunto
de adequados espaços comuns residenciais deve ser, sempre, um atributo de
qualidade acrescido na vivência global residencial e será sempre um fator
essencial de quem escolha uma solução de habitação assistida.
Neste sentido
e quando esta pessoa sai do seu apartamento ou da sua suite privativa, ela deve
sentir-se sempre como se estivesse ainda na sua “casa”, estando numa outra
“casa” que é também dos outros habitantes desta “casa” maior, uma “casa” que
tem de ser, claramente, uma sede de um leque de serviços aos quais ele muito
dificilmente teria acesso se continuasse a viver na sua casa “média”.
E,
naturalmente, não é admissível que o habitante se tenha de “endividar “ – no
sentido de ter custos excessivos – para poder viver deste modo, pois, afinal,
no caso mais corrente, ele só precisa de serviços mínimos de apoio doméstico e
a principal vantagem que recolhe dos espaços e serviços comuns é a companhia e
o convívio espontâneo com outros moradores, uma benesse que até nem há razão
para que tenha de ser paga; outros serviços e outros equipamentos poderão ser,
sempre, proporcionados numa base opcional e dirigidos a um mercado muito mais
largo do que o daquele condomínio específico.
Parece ser
interessante considerar este conceito de “habitação assistida” de uma forma
global, visando-se todo o universo habitacional, que deve sempre apoiar ao
máximo os seus habitantes, ultrapassando muito o estrito e negativo sentido
“maquinal” de uma habitação reduzida a um alojamento em condições mínimas e
sempre deprimentes, e considerando-se que poderão/deverão existir soluções em
que tais apoios serão mais alargados e múltiplos e ainda outras soluções em que
tais apoios irão configurar uma habitação expressivamente assistida e/ou
partilhada, seja numa perspetiva de apoios diversos e especializados em termos
de bem-estar e saúde, seja numa perspetiva de criação de um verdadeiro cenário
residencial fortemente marcado por serviços comuns – escolhidos enter um leque
amplo de opções –, ou ainda numa perspetiva de uma vivência comum
expressivamente partilhada – atual e frequentemente designada por cohousing.
A espaciosidade e a adaptabilidade nos espaços comuns
Embora a
espaciosidade comum não seja tudo e seja, frequentemente, mal utilizada, tal
como se apontou num artigo recente desta nossa revista, importa sublinhar que a
espaciosidade comum é um aspecto que pode constituir-se numa evidente mais-valia
em termos de diversificação dos usos do edifício residencial, do seu potencial
de “contínua” adaptabilidade e da sua capacidade funcional e de convívio.
Evidentemente
que podemos optar por uma espaciosidade caraterizada como mínima, aquela que
deverá levar tudo o resto que não é doméstico para a rua pública, e esta é uma
opção claramente válida, mas que tem de ter as devidas contrapartidas nessa rua
pública, que tem de ser sossegada, animada e humanizada, ainda que em diversas
zonas de uso; ou podemos optar por uma espaciosidade comum folgada, desde que
bem ligada a usos directos e potenciais, proporcionando estadias e opções
inesperadas no dia-a-dia.
Mas fazermos
espaços comuns exíguos que influenciam ruas “mortas”, ou amplos espaços comuns,
cuja amplidão é apenas dimensional e não motiva usos e apropriações parecem ser
opções sem sentido.
Virtualidades residenciais do estacionamento em garagem
Este título
suscitará, naturalmente, dúvidas, pois parece ser excessivamente delimitado
nesta abordagem dos espaços comuns residenciais, mas a ideia é, simplesmente,
que o estacionamento comum em garagem possa ser um espaço, pelo menos,
minimamente agradável e com algum carácter doméstico, e deixe de ser uma
espécie de “cave” residual, estritamente funcional, por vezes suja e
frequentemente mal iluminada e com cheiros, por vezes, menos agradáveis através
da qual entramos e saímos, quase sempre, no nosso edifício.
E, quem sabe,
se bem para lá de um sítio apenas minimamemente agradável, talvez que as
garagens comuns de estacionamento residencial possam vir a ser espaços bem
dignos de receção e mesmo de convívio.
Não se irá
aqui desenvolver muito o tema, mas somente apontar algumas ideias que se julga
simples e que poderão garantir uma clara subida da qualidade residencial das
garagens comuns.
Sublinha-se que esta matéria referida ao interesse que tem um adequado
desenvolvimento das garagens comuns de estacionamento como “positivos” espaços
comuns residenciais será abordada, em breve, aqui na Infohabitar em artigo
específico; no entanto ela fica já aqui bem marcada pois este tipo de exigência
deve, sem dúvida, marcar “estruturalmente” o projeto residencial multifamiliar.
Nota importante sobre as imagens que ilustram
o artigo:
As imagens que acompanham este artigo e que irão,
também, acompanhar outros artigos desta mesma série editorial foram recolhidas
pelo autor do artigo na visita que realizou à exposição habitacional
"Bo01 City of Tomorrow", que teve lugar em Malmö em 2001.
Aproveita-se para lembrar o grande interesse desta
exposição e para registar que a Bo01 foi organizada pelo “organismo de
exposições habitacionais sueco” (Svensk Bostadsmässa), que integra o Conselho
Nacional de Planeamento e Construção Habitacional (SABO), a Associação Sueca
das Companhias Municipais de Habitação, a Associação Sueca das Autoridades
Locais e quinze municípios suecos; salienta-se ainda que a Bo01 teve apoio
financeiro da Comissão Europeia, designadamente, no que se refere ao
desenvolvimento de soluções urbanas sustentáveis no campo da eficácia
energética, bem como apoios técnicos por parte do da Administração Nacional
Sueca da Energia e do Instituto de Ciência e Tecnologia de Lund.
A Bo01 foi o primeiro desenvolvimento/fase do novo
bairro de Malmö, designado como Västra Hamnen (O Porto Oeste) uma das
principais áreas urbanas de desenvolvimento da cidade no futuro.
Mais se refere que, sempre que seja possível, as
imagens recolhidas pelo autor do artigo na Bo01 serão referidas aos respetivos
projetistas dos edifícios visitados; no entanto, o elevado número de
imagens de interiores domésticos então recolhidas dificulta a identificação dos
respetivos projetistas de Arquitetura, não havendo informação adequada sobre os
respetivos designers de equipamento (mobiliário) e eventuais projetistas de
arquitetura de interiores; situação pela qual se apresentam as devidas
desculpas aos respetivos projetistas e designers, tendo-se em conta, quer as
frequentes ausências de referências - que serão, infelizmente, regra em relação
aos referidos designers -, quer os eventuais lapsos ou ausência de referências
aos respetivos projetistas de arquitetura.
O presente artigo corresponde a uma edição ampliada,
modificada e revista do artigo que foi editado na Infohabitar, em 10/04/2016,
com o n.º 577.
Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar
seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar
assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e
científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o
pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e
comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) No mesmo sentido, de natural responsabilização dos
autores dos artigos, a utilização de quaisquer elementos de ilustração dos
mesmos artigos, como , por exemplo, fotografias, desenhos, gráficos, etc., é,
igualmente, da exclusiva responsabilidade dos respetivos autores – que
deverão referir as respetivas fontes e obter as necessárias autorizações.
(iii) Para se tentar assegurar o referido e adequado nível
técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma
quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou
que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na
Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição
dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se
circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente
no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor
positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e
qual foi recebido na edição.
Infohabitar, Ano XVI, n.º 750
Ainda sobre a
inovação nos espaços comuns residenciais – Infohabitar # 750
Infohabitar
Editor: António Baptista
Coelho
Arquitecto/ESBAL – Escola
Superior de Belas Artes de Lisboa –, doutor em Arquitectura/FAUP – Faculdade de
Arquitectura da Universidade do Porto –, Investigador Principal com Habilitação
em Arquitectura e Urbanismo no Laboratório Nacional de Engenharia Civil
(LNEC), em Lisboa.
Revista do GHabitar (GH)
Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar –
Associação com sede na Federação Nacional de Cooperativas de Habitação
Económica (FENACHE).
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