- Infohabitar 151
Nota prévia (editada em 2007/0907):
Nota prévia (editada em 2007/0907):
Na sequência da edição deste seu artigo o colega Fausto Simões enviou à edição do Infohabitar um pequeno e interessante texto sobre zonas pedonais, texto feito na sequência da sua leitura do artigo "Cidade do peão ou do automóvel I"; naturalmente, a edição agradece mais esta colaboração e anexa-a na sequência do referido artigo, que está facilmente acessível ma margem do Infohabitar - foi editado há poucas semanas.
É sempre com um gosto muito especial que acolhemos, aqui no Infohabitar, um novo cooperador nesta estimulante aventura de ir enriquecendo uma revista na www, que, ao longo de pouco mais de dois anos de edição semanal, proporciona já cerca de 150 artigos em diferentes temáticas, referidos a mais de 1500 páginas ilustradas. Artigos estes que são directamente acessíveis a partir do simples clicar no respectivo catálogo interactivo, catálogos este que foi muito recentemente actualizado e que se encontra facilmente no início da margem direita da nossa revista.
Esta semana temos, assim, a satisfação de editar um texto do Arq.º Fausto Simões, um colega que já participou activamente com o Grupo Habitar e o então Instituto Nacional de Habitação – hoje Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana – , no início de 2007, na 9ª Sessão Técnica do Grupo Habitar, em Lisboa, onde se abordou a “regulamentação térmica e a sustentabilidade na construção nova e na reabilitação da habitação com controlo de qualidade e custos”, tendo então o colega Fausto Simões apresentado uma interessante perspectiva da arquitectura e do urbanismo de proximidade na introdução das preocupações de conforto ambiental e de sustentabilidade em intervenções habitacionais e urbanas.
Hoje, aqui no nosso Infohabitar, Fausto Simões fala-nos, um pouco, sobre Leiria, e também sobre as perspectivas mais sensíveis e oportunas nas vitais e muito urgentes acções de reabilitação urbana.
António Baptista Coelho (coordenador da edição do Infohabitar)
Esta semana temos, assim, a satisfação de editar um texto do Arq.º Fausto Simões, um colega que já participou activamente com o Grupo Habitar e o então Instituto Nacional de Habitação – hoje Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana – , no início de 2007, na 9ª Sessão Técnica do Grupo Habitar, em Lisboa, onde se abordou a “regulamentação térmica e a sustentabilidade na construção nova e na reabilitação da habitação com controlo de qualidade e custos”, tendo então o colega Fausto Simões apresentado uma interessante perspectiva da arquitectura e do urbanismo de proximidade na introdução das preocupações de conforto ambiental e de sustentabilidade em intervenções habitacionais e urbanas.
Hoje, aqui no nosso Infohabitar, Fausto Simões fala-nos, um pouco, sobre Leiria, e também sobre as perspectivas mais sensíveis e oportunas nas vitais e muito urgentes acções de reabilitação urbana.
António Baptista Coelho (coordenador da edição do Infohabitar)
A PENSAR EM LEIRIA
Fausto Simões
A pedonalização da Rua Fulton em Fresno, na Califórnia (US), foi projectada nos anos sessenta pelo arquitecto que concebeu o primeiro centro comercial climatizado (“shopping mall”): Victor Gruen.
Ele apresenta-a como exemplo do que se pode fazer para converter num oásis convivencial, a baixa congestionada pelo trânsito motorizado, sem pôr em causa a automobilização da cidade.
Não mais do que um eixo de peões, isolado do resto da cidade por um mar de carros estacionados à sua volta, cintados por um anel rodoviário.
Foi aliás o esquema drástico a que chegou o Relatório Buchanan, produzido nos mesmos anos sessenta e que visava defender, contra a invasão do automóvel, a vida nos centros urbanos do Reino Unido.
Quarenta anos depois. O que aconteceu?
Aconteceu que no ano passado (2006), foi lançada a discussão pública sobre a reanimação da Rua Fulton! Correm imagens de uma rua devolvida ao peão mas deserta, sobretudo durante a noite. Ganha adeptos a reintrodução do trânsito motorizado para a reanimar.
Fig. 1: A Rua Fulton, segundo V. Gruen: fonte, Gruen, V. The Heart of Our Cities. Thames and Hudson, 1965.
Fig. 2: A Rua Fulton hoje: fonte, autoria Joe Moore , originalmente editado em http://www.fresnofamous.com/node/6456.
Figuras 1 e 2: A Rua Fulton, do projecto à realidade actual
Mas será solução? Será que ela é um deserto porque foi pedonalizada?
A explicação para mim mais convincente e mais importante para Leiria é esta que encontrei num blog (http://www.fresnofamous.com/node/6456): A Rua Fulton pedonalizada, significativamente designada por Fulton Mall, lutava contra a decadência do centro de Fresno, incapaz de concorrer com os centros comerciais “suburbanos”. Remava contra a maré, seguindo afinal o modelo "shopping mall" de Victor Gruen... Ele que remava contra o estilo de vida suburbana dos US!
E eu pergunto. Numa cidade que graças ao automóvel se dispersa por uma vasta região "suburbana", não será inevitável a emergência de centros de serviços no meio das vastas áreas residenciais, os quais concorrem vantajosamente com o centro urbano?
Centros comerciais na sociedade de “consumo conspícuo” no dizer fundamentado do sociólogo Thorstein Veblen, mas que poderão também aproveitar centros urbanos de aglomerados existentes, o que talvez seja pouco frequente nos US e mais comum na Europa.
Mas, qual a sustentabilidade social e ambiental deste sistema autodependente, em que se vai de carro comprar um pacote de manteiga, canalizado numa custosa rede rodoviária e apoiado em recursos fósseis exógenos cada vez menos abundantes e baratos: petróleo e gás natural?
A solução salvífica dos "supercarros" teima em não descolar! E será ela mesmo a solução?
A esta luz, afiguram-se mais sustentáveis os centros urbanos europeus progressivamente pedonalizados, com espaços públicos plenos de urbanidade , hoje convidativos e vibrantes como o de Copenhaga.
Porque Copenhaga é uma cidade que aposta na multimodalidade dos transportes, numa rede hierarquizada que prioriza o peão e a bicicleta sem excluir radicalmente o automóvel, quer nas áreas centrais quer nas residenciais: as “Woonerfs” na Flandres e "Homezones" no UK, à escala do homem e não da máquina. Iniciativas dos cidadãos apoiadas pela administração pública.
É bem visível um esforço nesse sentido, em “cidades globais” deliberadamente policêntricas como Londres, mas em que persiste bem vivo o seu centro principal.
Deve-se dizer que era isso que o Relatório Buchanan pretendia alcançar com o seu princípio das "áreas ambientais" servidas por uma rede rodoviária, hierarquizada em vias
de distribuição e de acesso. Mas não o conseguiu, a meu ver, precisamente pela
sua excessiva submissão ao primado do veículo particular.
Como parecem provar fracassos como os de Fresno!
Leiria deveria por os olhos nas cidades da Europa como Copenhaga. Os cidadãos têm que se mobilizar, não no sentido de aumentar a velocidade e a utilização do automóvel, mas no de converter Leiria numa cidade atrativa em que dê gosto viver, capaz de concorrer favoravelmente no campeonato das “cidades médias” europeias.
Enquanto é tempo. É, em última instância, uma questão de sobrevivência.
Fontes das imagens;
Fig. 1 – a Rua Fulton segundo V. Gruen: Gruen, V. The Heart of Our Cities. Thames and Hudson, 1965;
Fig. 2 – a Rua Fulton hoje: segundo http://www.fresnofamous.com/node/6456
Edição no Infohabitar por José Baptista Coelho: Lisboa, Encarnação – Olivais Norte, 2 de Agosto de 2007.
A explicação para mim mais convincente e mais importante para Leiria é esta que encontrei num blog (http://www.fresnofamous.com/node/6456): A Rua Fulton pedonalizada, significativamente designada por Fulton Mall, lutava contra a decadência do centro de Fresno, incapaz de concorrer com os centros comerciais “suburbanos”. Remava contra a maré, seguindo afinal o modelo "shopping mall" de Victor Gruen... Ele que remava contra o estilo de vida suburbana dos US!
E eu pergunto. Numa cidade que graças ao automóvel se dispersa por uma vasta região "suburbana", não será inevitável a emergência de centros de serviços no meio das vastas áreas residenciais, os quais concorrem vantajosamente com o centro urbano?
Centros comerciais na sociedade de “consumo conspícuo” no dizer fundamentado do sociólogo Thorstein Veblen, mas que poderão também aproveitar centros urbanos de aglomerados existentes, o que talvez seja pouco frequente nos US e mais comum na Europa.
Mas, qual a sustentabilidade social e ambiental deste sistema autodependente, em que se vai de carro comprar um pacote de manteiga, canalizado numa custosa rede rodoviária e apoiado em recursos fósseis exógenos cada vez menos abundantes e baratos: petróleo e gás natural?
A solução salvífica dos "supercarros" teima em não descolar! E será ela mesmo a solução?
A esta luz, afiguram-se mais sustentáveis os centros urbanos europeus progressivamente pedonalizados, com espaços públicos plenos de urbanidade , hoje convidativos e vibrantes como o de Copenhaga.
Porque Copenhaga é uma cidade que aposta na multimodalidade dos transportes, numa rede hierarquizada que prioriza o peão e a bicicleta sem excluir radicalmente o automóvel, quer nas áreas centrais quer nas residenciais: as “Woonerfs” na Flandres e "Homezones" no UK, à escala do homem e não da máquina. Iniciativas dos cidadãos apoiadas pela administração pública.
É bem visível um esforço nesse sentido, em “cidades globais” deliberadamente policêntricas como Londres, mas em que persiste bem vivo o seu centro principal.
Deve-se dizer que era isso que o Relatório Buchanan pretendia alcançar com o seu princípio das "áreas ambientais" servidas por uma rede rodoviária, hierarquizada em vias
de distribuição e de acesso. Mas não o conseguiu, a meu ver, precisamente pela
sua excessiva submissão ao primado do veículo particular.
Como parecem provar fracassos como os de Fresno!
Leiria deveria por os olhos nas cidades da Europa como Copenhaga. Os cidadãos têm que se mobilizar, não no sentido de aumentar a velocidade e a utilização do automóvel, mas no de converter Leiria numa cidade atrativa em que dê gosto viver, capaz de concorrer favoravelmente no campeonato das “cidades médias” europeias.
Enquanto é tempo. É, em última instância, uma questão de sobrevivência.
Fontes das imagens;
Fig. 1 – a Rua Fulton segundo V. Gruen: Gruen, V. The Heart of Our Cities. Thames and Hudson, 1965;
Fig. 2 – a Rua Fulton hoje: segundo http://www.fresnofamous.com/node/6456
Edição no Infohabitar por José Baptista Coelho: Lisboa, Encarnação – Olivais Norte, 2 de Agosto de 2007.
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