A importância da integração urbana e paisagística: a propósito de alguns casos de promoção municipal destacados no PRÉMIO INH/IHRU 2007
Na sequência da edição, aqui no Infohabitar, da acta de apreciação e designação de prémios e menções respeitantes ao PRÉMIO INH/IHRU 2007 – 19ª EDIÇÃO, cujos resultados foram conhecidos em 3 de Julho de 2007, em cerimónia que decorreu no auditório da Biblioteca Almeida Garrett, no Porto, continua-se, hoje, nesta nossa revista, um percurso mais pormenorizado sobre o mesmo conjunto de soluções urbanas e residenciais.
Fig. 01: Vista do conjunto no Outeiro da Forca, Portalegre, 52 fogos promovidos pelo Município de Portalegre com o projecto do Atelier de Arquitectura Carlos Gonçalves.
Sublinham-se, desde já, três aspectos estruturantes nesta pequena sequência de artigos semanais a editar ao longo de Agosto de 2007:
.Trata-se de uma perspectiva de análise pessoal e “de trabalho”, desenvolvida pelo autor destas linhas no âmbito da sua participação no Júri do Prémio como representante do Laboratório Nacional de Engenharia Civil; e portanto uma perspectiva que não se tem de articular, plenamente, com a análise do Júri.
. Na sequência do que acabou de ser referido, optou-se por não referir quaisquer aspectos associados ao respectivo destaque no Prémio; e sublinha-se que a designação (ficha técnica), limita-se a repetir, praticamente na íntegra, a já divulgada na referida Acta do Júri e no respectivo Catálogo do Prémio.
. E, finalmente, aproveitou-se esta oportunidade para falar, apenas um pouco, sobre temas que se julga estarem na ordem do dia em termos de procura de boas soluções de habitar a casa e a cidade; e é sob o título dessas temáticas que se agrupam os conjuntos apresentados nesta pequena sequência de artigos.
Fig. 02: Uma vista de um dos 12 fogos distribuídos por Aguiã, Guilhadeses e Tabaçô promovidos pelo Município de Arcos de Valdevez, com projecto coordenado pelo arquitecto Carlos Machado.
Salientam-se, em seguida, os temas tratados nas passadas semanas e no presente artigo (tema sublinhado):
(i) Cooperativas de habitação, reabilitação e sustentabilidade ambiental e social.
(ii) Cooperativas de habitação e adequação de espaços de vizinhança e domésticos bem pormenorizados.
(iii) A importância da integração urbana e paisagística.
E, finalmente, aponta-se o tema a editar na próxima semana:
(iv) Sobre a relação entre soluções humanizadas, densificação e escala humana.
A importância da integração urbana e paisagística: a propósito de alguns casos de promoção municipal destacados no PRÉMIO INH/IHRU 2007
Nota: as soluções aqui apresentadas mereceram diversos destaques no PRÉMIO INH/IHRU 2007.
Fig. 03: Um aspecto representativo da dignidade urbana que marca o conjunto no Outeiro da Forca, promoção da C. M. de Portalegre.
Outeiro da Forca, Portalegre, 52 fogos
Conjunto no Outeiro da Forca, Portalegre, 52 fogos promovidos pelo Município de Portalegre e construídos pela empresa José Coutinho, S.A., com o projecto do Atelier de Arquitectura Carlos Gonçalves, Lda.
O conjunto promovido pela CM de Portalegre caracteriza-se por uma dupla qualidade geral:
. uma qualidade urbana, através da criação de uma verdadeira e já vitalizada vizinhança de proximidade pedonal;
. e uma qualidade edificada, mediante a criação de uma solução de edifício em que seja nos espaços comuns, seja nos espaços domésticos, temos a oportunidade de percorrer e viver sequências estimulantes em termos de formas, cor e luz natural.
Fig. 04: O alongado, atraente e vitalizado miolo pedonal de vizinhança do conjunto no Outeiro da Forca, Portalegre.
O alongado miolo pedonal de vizinhança, que serve um muito equilibrado número de cerca de 50 fogos, encontra-se bem vitalizado, seja pelas entradas dos edifícios, seja por equipamentos bem abertos para o contínuo pedonal e já em pleno funcionamento.
Fig. 05: As entradas dos edifícios podendo observar-se os espaços vazios que proporcionam excelentes condições de luz natural nos patins comuns e nas cozinhas.
No edifício há que salientar as soluções positivamente imaginativas que caracterizam os pequenos espaços comuns como expressivamente domésticos, plenos de alegria, de capacidade de apropriação e de envolventes matizes de cor e de luz natural.
Finalmente no interior doméstico destaques para os corredores muito mobiláveis e para as cozinhas plenas de luz natural – janelas em duas paredes exteriores – , que são verdadeiras pequenas salas de família.
Fig. 07: As cozinhas plenas de luz natural, que são verdadeiras pequenas salas de família.
O que se destaca talvez mais nesta solução é a rara e muito positiva sequência que se cria entre um exterior de quarteirão assumidamente público, um interior de quarteirão protegido e pedonalizado, marcado pela vizinhança de proximidade e bem vitalizado por equipamentos já activos, um interior de edifício cujos acessos têm estimulantes sequências espaciais, que se prolongam por variações de formas, de cor e de luz natural, que assumidamente dão presença forte e agradável a este pequeno mundo comum, e , finalmente, um espaço doméstico confortável e funcional.
Fig. 8: Um dos pequenos núcleos de um total de 12 fogos distribuídos por Aguiã, Guilhadeses e Tabaçô, promovidos pelo Município de Arcos de Valdevez.
Aguiã, Guilhadeses e Tabaçô, Arcos de Valdevez
12 fogos distribuídos por Aguiã, Guilhadeses e Tabaçô promovidos pelo Município de Arcos de Valdevez, construídos pela empresa Sociedade de Construções do Bico, Lda, sendo o projecto e a coordenação do arquitecto Carlos Machado.
Nestes pequenos núcleos de realojamento em Aguiã, Guilhadeses e Tabaçô, promovidos pelo município de Arcos de Valdevez, destaca-se a sensibilidade de se ter desenvolvido uma acção de integração paisagística, naturalmente, associada a uma forte adequação tipológica ao modo de vida, essencialmente rural, das famílias para as quais foram feitas as habitações.
Fig. 9: Micro-núcleos de realojamento em Aguiã, Guilhadeses e Tabaçô, promovidos pelo município de Arcos de Valdevez, numa sensível aproximação ao habitar rural, que também serve, naturalmente, a integração paisagística.
A ideia aqui cumprida é que sempre que assim é desejado se deve proporcionar que as famílias carentes de habitação possam habitar, em condições adequadas, os locais onde antes viviam em más condições. Um objectivo que é também de primeira linha relativamente à fundamental integração social dessas famílias.
Um outro aspecto também associado a estas importantes matérias da adequação tipológica tem a ver com uma solução de casa que joga numa forte complementaridade e continuidade entre espaços domésticos exteriores, interiores e de transição, o que fica bem evidenciado na sequência entre cozinha, alpendre de cozinha, quintal privado e telheiro de serviço neste mesmo quintal.
Fig. 10: Uma solução de casa que joga numa forte complementaridade e continuidade entre espaços domésticos exteriores, interiores e de transição.
Ainda nestas matérias de adequação humana da solução doméstica há que sublinhar o desenvolvimento térreo do fogo, sem desníveis, facilitando a vida diária de pessoas idosas, e o excelente desenvolvimento da grande cozinha de convívio.
Fig. 11: As excelentes cozinhas conviviais de Aguiã, Guilhadeses e Tabaçô; e na sua contiguidade há espaçosos alpendres multifuncionais.
Alguns breves comentários finais sobre o Prémio INH
Cinco aspectos merecem um destaque especial no remate da apresentação destes dois conjuntos municipais, destacados no PRÉMIO INH/IHRU 2007 e aqui abordados genericamente, embora numa perspectiva razoavelmente marcada pelo tema da integração urbana e paisagística:
(i) O primeiro aspecto põe em relevo a ligação que existe entre este assunto fortemente arquitectónico da integração urbana e paisagística e as matérias associadas ao desenvolvimento de vizinhanças de proximidade, e à excelente possibilidade de se fazerem casas realmente adequadas aos diversificados mundos familiares e pessoais dos muitos seus habitantes; matérias estas sumariamente apontadas na parte final do último artigo desta série.
(ii) O segundo aspecto refere-se à importância que tem o desenvolvimento de uma relação estreita/íntima, funcional e caracterizadamente coerente entre as soluções gerais de ocupação/integração topográfica, urbana e paisagística e as soluções gerais domésticas adoptadas; dá vontade de dizer que é desta apenas aparente “complexificação” que nascem, frequentemente, valores projectuais especiais e muito positivos.
(iii) O terceiro aspecto reduz-se a poucas palavras e tem a ver com a fundamental expressão da escala humana; pois é ela que acaba por ser, frequentemente, um importante agente de elementos de integração urbana e/ou paisagística. E é interessante apreciar-se os modos distintos mas igualmente efectivos com que se expressa a escala humana nos dois conjuntos que aqui foram apresentados.
(iv) O quarto aspecto reduz-se também a poucas palavras e refere-se ao continuar a privilegiar intervenções com pequenos números de fogos e naturalmente com números equilibrados de fogos e com misturas equilibradas e sustentáveis de fogos e de equipamentos vivos; a bem conhecida “pequena escala” geral.
(v) E, finalmente, o quinto aspecto, também muito ligado a todos os outros aqui apontados, e especialmente ao dessa “pequena escala”, que é o reafirmar da importância da dignidade residencial e urbana que tem de marcar as intervenções, uma dignidade crucial seja na desejada integração social, seja nos objectivos de integração urbana e paisagística aqui especificamente visados.
As fotografias são de António Baptista Coelho, excepto as imagens das habitações de Arcos de Valdevez, que são do Arq. José Clemente Ricon.
Casais de Baixo, Azambuja, 23 de Agosto de 2007
Editado por José Baptista Coelho, 23 de Agosto de 2007.
(i) O primeiro aspecto põe em relevo a ligação que existe entre este assunto fortemente arquitectónico da integração urbana e paisagística e as matérias associadas ao desenvolvimento de vizinhanças de proximidade, e à excelente possibilidade de se fazerem casas realmente adequadas aos diversificados mundos familiares e pessoais dos muitos seus habitantes; matérias estas sumariamente apontadas na parte final do último artigo desta série.
(ii) O segundo aspecto refere-se à importância que tem o desenvolvimento de uma relação estreita/íntima, funcional e caracterizadamente coerente entre as soluções gerais de ocupação/integração topográfica, urbana e paisagística e as soluções gerais domésticas adoptadas; dá vontade de dizer que é desta apenas aparente “complexificação” que nascem, frequentemente, valores projectuais especiais e muito positivos.
(iii) O terceiro aspecto reduz-se a poucas palavras e tem a ver com a fundamental expressão da escala humana; pois é ela que acaba por ser, frequentemente, um importante agente de elementos de integração urbana e/ou paisagística. E é interessante apreciar-se os modos distintos mas igualmente efectivos com que se expressa a escala humana nos dois conjuntos que aqui foram apresentados.
(iv) O quarto aspecto reduz-se também a poucas palavras e refere-se ao continuar a privilegiar intervenções com pequenos números de fogos e naturalmente com números equilibrados de fogos e com misturas equilibradas e sustentáveis de fogos e de equipamentos vivos; a bem conhecida “pequena escala” geral.
(v) E, finalmente, o quinto aspecto, também muito ligado a todos os outros aqui apontados, e especialmente ao dessa “pequena escala”, que é o reafirmar da importância da dignidade residencial e urbana que tem de marcar as intervenções, uma dignidade crucial seja na desejada integração social, seja nos objectivos de integração urbana e paisagística aqui especificamente visados.
As fotografias são de António Baptista Coelho, excepto as imagens das habitações de Arcos de Valdevez, que são do Arq. José Clemente Ricon.
Casais de Baixo, Azambuja, 23 de Agosto de 2007
Editado por José Baptista Coelho, 23 de Agosto de 2007.
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