terça-feira, junho 19, 2018

Um peão um pouco triste I

Pequenos Comentários Infohabitar #1
Um peão um pouco triste I - Pequenos Comentários Infohabitar #1

(Nota explicativa: edita-se esta opinião pessoal, abrindo-se, informalmente, uma secção “informal” e, portanto, “não numerada” da Infohabitar, que, promete-se, será tematicamente muito ampla)


Há alguns anos, quando se iniciou,e muito bem, em Portugal,a introdução dos circuitos cicláveis ou para ciclistas, tive a oportunidade de referir em alguns encontros técnicos, uma preocupação pessoal e quase perplexidade (“positiva”, é claro), relativa à ausência ou quase ausência, numa salutar simultaneidade, de medidas de expressiva dinamização da circulação pedonal, naturalmente, em eficaz integração com uma adequada e tendencialmente  melhorada estrutura de transportes públicos (funcionais e durante toda a semana);
e lembro-me de lembrar (desculpem-me a expressão) que uma melhorada e eficaz estrutura pedonal também tinha e tem, suplementarmente, um extraordinário potencial em termos de uso lúdico e em lazer da cidade, o tal fundamental “flanar”por uma cidade do vagar, que, não tenhamos dúvidas, dá muita vida à cidade e para ela ganha muitos habitantes (em estadias e percursos frequentes e prolongados), desde os jovens aos mais idosos, proporcionando, como “suplemento de alma” funcional (desculpem novamente a expressão) verdadeiros ganhos de eficácia e de dinâmica urbana na vida da cidade, dos seus bairrros e das suas vizinhanças; e uma estrutura pedonal que, em boa parte, já existe, faltando, essencialmente, “atar” continuidades estratégicas, e equipar pontual e também estrategicamente, seja em termos de mobiliário e verde urbanos, seja na vital ligação a transportes públicos funcionais (e faltando, também, divulgar adequadamente essas continuidades).
Hoje em dia, quando se assiste a uma introdução muito expressiva de novos apoios à circulação em bicicleta – e muito bem, pois o objetivo evidente e positivo é tentar torná-la uma verdadeira alternativa aos outros tipos de mobilidade – não deixa de ser, pouco agradável e, julga-se, pouco adequado que os bem “velhos peões” se vejam “invadidos”, nos seus velhos passeios, por novos percursos “oficializados”, inclusive com “passadeiras” em plenos passeios, que parecem dar prioridade ao ciclista. E então agora, para além dos veículos motorizados o peão tem de deixar passar as bicicletas a não ser nas respetivas “passadeiras”; mas pensar no peão, nas suas condições, nos seus circuitos e nas suas continuidades e prioridades, parece que ficou para outras calendas ou então não se trata de preocupação prioritária!
Que ninguém veja neste texto algo contra a introdução do tráfego ciclista na cidade, nem tal faria qualuer sentido, evidentemente; vejam, apenas, a amargura de um peão convicto que continua a sentir-se esquecido e que agora, para além dos automobilistas tem também de ter expressivo cuidado com os ciclistas; e, já agora, lembrem-se de desenvolver e divulgar, adequadamente, “regras” de convivialidade entre os diversos tipos de tráfego urbano antes de começarem a acontecer numerosos  problemas graves (mas que sejam “regras” verdadeiramente adequadas e funcionais).

António Baptista Coelho

(uma opinião estritamente pessoal)

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