Inovação
nos espaços comuns habitacionais - Infohabitar n.º 575
Infohabitar n.º 575
António Baptista Coelho
Artigo
XCII da Série habitar e viver melhor
Inovar nos espaços comuns residenciais
Relativamente ao amplo leque de inovação ou de “outros espaços comuns” possíveis num dado edifício multifamiliar o limite estará na imaginação de cada projectista, nos objectivos estipulados para a respectiva intervenção residencial e no orçamento que esteja previsto para a mesma intervenção.
A ideia que, desde já, se aponta é que o
caminho de super-diversificação de mini-espaços com as diversas utilidades que
se tem desenvolvido, em diversos países, associado a condomínios de reduzida
dimensão, não parece ter grande futuro pois acaba por se ter um conjunto de
equipamentos de condomínio sem um mínimo de capacidade de auto-sustentação e de
estímulo ao seu próprio uso.
Quando o condomínio tem dimensão apreciável
e há folga financeira talvez seja interessante investir em conjuntos de espaços
com utilidades bem fundamentadas e dimensões equilibradas e amplas, mais numa
perspectiva de assegurar algumas valências essenciais e que serão sempre
valorizadas ao longo dos decénios de vida do condomínio – como será o caso de
um amplo jardim e de uma agradável sala de condomínio bem equipada – e desde
que tais valências não comportem um esforço significativo na respectiva
manutenção mensal.
Variadas valências condominiais
Outras valências condominiais mensalmente
mais dispendiosas deverão der introduzidas com um cuidado máximo e ponderando,
designadamente, o interesse de uma sua exploração autonomizada, embora com
condições especiais para os condóminos.
Uma coisa é a imaginação criadora do
promotor visando a oferta de múltiplos serviços comuns, que podem ir da
biblioteca, á pequena sala de cinema, ao mini-ginásio e à pequena piscina.
Outra coisa é oferecer actividades viáveis a médio prazo, considerando os seus
custos de funcionamento. Mas aqui a dificuldade de uma tal oferta também não
pode ser obstáculo ao seu desenvolvimento, e a existência de espaços
disponíveis e multifuncionais será sempre um passo fundamental para o
desenvolvimento de uma dimensão comum afirmada num edifício multifamiliar; se
não existirem estes espaços nada será possível.
Fig. 01: - A imaginação pode fazer misturar tipologias unidas por espaços comuns exteriores, como neste caso em que na zona posterior de um edifício multifamiliar se desenvolvem pequenos estúdios/habitações com variadas potencialidades de uso (ex., habitações T0 e T1 para estadas periódicas de familiares dos habitantes dos fogos maiores do multifamiliar) - habitações do conjunto urbano "Bo01
City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em
Malmö em 2001 (ver nota final) - Arquitetura: Bengt Hidemark, Ingemar Jönsson.
E assim, diversos tipos de actividades comuns poderão vir a ser sequencialmente introduzidas, adaptadas e alteradas, por decisão do condomínio desde que haja condições básicas de espaciosidade e de equipamento flexibilizadoras de tais decisões.
Naturalmente que numa outra dimensão de
projecto e de vivência residencial estarão as unidades residenciais que
associem um determinado número de habitações, frequentemente com pequena
dimensão, a um amplo conjunto de espaços, serviços e equipamentos de uso comum
e que são adoptados pelos residentes numa base obrigatória, ou,
preferencialmente, julgo, numa base opcional e “à la carte”; espaços, serviços e equipamentos esses que poderão,
por vezes com vantagem, servir outras pessoas da vizinhança que não sejam
residentes no complexo/edifício, o que terá vantagens claras na dinamização do
convívio e da integração social local.
Mais do que a “simples” espaciosidade sem
outros objetivos
Nesta introdução a algumas outras notas
sobre os “outros espaços comuns” possíveis num dado edifício multifamiliar
apetece ainda dizer que parece ser sempre criticável é a abundância de espaços
sem outro uso que não seja a simples e perdulária espaciosidade, pois é sempre
possível suscitar ideias e ocupações e espaço a mais e sem qualquer utilidade
não tem realmente interesse – e é fácil encontrar usos para amplos espaços
comuns de entrada, e uma utilidade será, por exemplo, o desafogo espacial para
se poder ver bem um grande mural artístico.
Provavelmente mais adequado do que estar a
prever espaços e equipamentos comuns muito elaborados, mas essencialmente
reservados aos habitantes do respectivo edifício, será mais adequado prever
espaços e equipamentos multifuncionais que sirvam esses habitantes, mas que
sejam potencialmente utilizados por outras pessoas, segundo regras a definir,
garantindo-se, assim, uma maior base de sustentabilidade.
Atividades interessantes nos espaços comuns habitacionais
Talvez que um caminho interessante no
desenvolvimento de outros tipos de espaços comuns passe pelo cuidadoso
desenvolvimento daquelas actividades naturalmente mais praticadas, quando
entramos no nosso edifício, como será o caso de uma adequada espaciosidade na
porta de entrada, seguindo-se comodidade e funcionalidade na consulta do
correio, e alternativas de acesso aos andares, por elevadores e por escadas, não
obrigatoriamente concentradas.
Além destas possibilidades, naturalmente,
muitas outras há, num leque de tipos de espaços que têm por limite a imaginação
e o orçamento disponível, mas há dois aspectos fundamentais a considerar.
O primeiro é o respeito pela afirmação
essencialmente privatizada da solução multifamiliar, que será o caso mais
frequente, e que obrigará, sempre, a um eventual uso mais intenso dos espaços
comuns suplementares, para além dos estritamente de acesso, claramente
opcional, de modo a que não haja qualquer tipo de convivência “obrigatória”;
apenas quando a opção multifamiliar for claramente marcada pela vivência de
espaços e serviços comuns é de aceitar uma evidenciação especial de espaços
comuns de estar e de convívio numa forte contiguidade com as principais zonas
de acesso, e mesmo nestes casos será sempre agradável e estratégica a
possibilidade de se poder aceder ao apartamento de cada um com um mínimo de
convivialidade condominial, situação esta que torna o convívio sempre uma
opção, tomada em liberdade de alternativas, o que é muito adequado.
O tipo de
actividades realizáveis nestes espaços comuns suplementares talvez seja, numa
primeira reflexão, o menos importante, pois desde que os espaços existam e
sejam realmente apetecíveis e versáteis para diversos usos talvez seja até
inteligente e estratégico deixar que sejam os condóminos a fazer certas opções
funcionais, embora esta opção tenha o risco de um bloqueio democrático das
opções a tomar; e portanto talvez seja mais seguro desenvolver-se um expressivo
pré-arranjo e pré-equipamento, que permita desde logo um uso agradável, mas que
proporcione, depois, opções suplementares (exemplo uma mesa de bilhar ou mais
ma zona de estar).
O segundo aspecto fundamental a considerar é
ter a noção clara que se a opção for a dinamização do uso de diversos tipos de
espaços comuns ele só terão êxito se estiverem estrategicamente localizados na
sua relação com as principais zonas de acesso ao edifício, se forem espaçosos,
e se forem bem acabados, bem equipados e possibilitarem uma agradável relação
paisagística e, eventualmente, física com o exterior (por exemplo, através de
grandes janelas e terraços abrigados); não terá qualquer hipótese de uso
intenso como espaço convivial uma sala de condomínio arrumada num espaço
residual, mal acabado e equipado.
Fig. 02: não basta prever um dado espaço condominial de convívio, há que lhe proporcionar o máximo de condições para uma vivência eficaz (intensa e frequente) - habitações do conjunto
urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da
exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - Arquitetura: Mats Molén.
Ainda além destas possibilidades e seguindo uma relação privilegiada com aquilo que as pessoas têm mais tendência a fazer no seu edifício, fora do seu apartamento, será interessante pensar no apoio específico a um amplo leque de actividades oficinais, artísticas ou profissionais, realizado e numa “bateria” de agradáveis gabinetes, por exemplo, concentrados num nível específico do edifício e que poderão ser servidos por um núcleo de serviços comuns sanitários e, eventual e potencialmente conviviais; ficará sempre a questão da razão de não se associarem estes espaços aos respectivos apartamentos, mas esta poderá ser mais uma valência desejada por muitos e raramente encontrada e tem muito a ver com a necessidade de se ter algum isolamento para um amplo leque de actividades.
Naturalmente que vários ou quase todos estes
desenvolvimentos têm directa influência nos custos de desenvolvimento destes
espaços, mas aqui há que ter em conta realmente, que será sempre assim: todo e
qualquer metro quadrado suplementar é sempre um gasto não necessário, a não ser
que estejamos a desenvolver soluções com valências comuns bem definidas – por
exemplo zonas de estar com actividades específicas; e numa solução extrema é
sempre possível desenvolver um edifício cujos espaços comuns são reduzidos ao
estritamente necessário em termos de circulações.
Mas uma coisa é certa: “desperdiçar” grandes
espaços comuns apenas pelo simples gosto do desafogo espacial e de vistas numa
enorme zona de entrada que acaba apenas por ser usada nos circuitos de
circulação que a atravessam entre portas de rua, caixas de correio e
elevadores, faz muito pouco sentido, pois até o luxo espacial pode ser exibido
de formas muito mais interessantes, por exemplo através de um espaço interior
profusa e cuidadosamente recheado de plantas.
Um outro aspecto a ter em conta é a
irracionalidade de se investir num enorme espaço de entrada luxuosamente
acabado e passar a vida a entrar e sair do respectivo apartamento por patins e
elevadores acanhados, que dão, depois, acesso a outros patins de garagem e a
espaços de garagem apenas minimamente acabados e, tantas vezes,
claustrofóbicos. Há aqui, portanto, algum trabalho a fazer para harmonizar
intervenções nestes espaços comuns de acesso que são, afinal, intensamente
usados.
·
Nota importante sobre as
imagens que ilustram o artigo:
As imagens que acompanham este artigo e que irão,
também, acompanhar outros artigos desta mesma série editorial foram recolhidas
pelo autor do artigo na visita que realizou à exposição habitacional
"Bo01 City of Tomorrow", que teve lugar em Malmö em 2001.
Aproveita-se para lembrar o grande interesse desta
exposição e para registar que a Bo01 foi organizada pelo “organismo de
exposições habitacionais sueco” (Svensk Bostadsmässa), que integra o Conselho
Nacional de Planeamento e Construção Habitacional (SABO), a Associação Sueca
das Companhias Municipais de Habitação, a Associação Sueca das Autoridades
Locais e quinze municípios suecos; salienta-se ainda que a Bo01 teve apoio
financeiro da Comissão Europeia, designadamente, no que se refere ao
desenvolvimento de soluções urbanas sustentáveis no campo da eficácia
energética, bem como apoios técnicos por parte do da Administração Nacional
Sueca da Energia e do Instituto de Ciência e Tecnologia de Lund.
A Bo01 foi o primeiro desenvolvimento/fase do novo
bairro de Malmö, designado como Västra Hamnen (O Porto Oeste) uma das
principais áreas urbanas de desenvolvimento da cidade no futuro.
Mais se refere que, sempre que seja possível, as
imagens recolhidas pelo autor do artigo na Bo01 serão referidas aos respetivos
projetistas dos edifícios visitados; no entanto, o elevado número de
imagens de interiores domésticos então recolhidas dificulta a identificação dos
respetivos projetistas de Arquitetura, não havendo informação adequada sobre os
respetivos designers de equipamento (mobiliário) e eventuais projetistas de
arquitetura de interiores; situação pela qual se apresentam as devidas
desculpas aos respetivos projetistas e designers, tendo-se em conta, quer as
frequentes ausências de referências - que serão, infelizmente, regra em relação
aos referidos designers -, quer os eventuais lapsos ou ausência de referências
aos respetivos projetistas de arquitetura.
·
Notas
editoriais:
(i) Embora a edição dos
artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo
editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um
significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e
comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos
respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva
responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o
mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e
científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito
significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver
com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo
GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à
respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas
e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do
teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo
em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na
edição.
Infohabitar, Ano XII, n.º 575
Artigo
XCII da Série habitar e viver melhor
Inovação
nos espaços comuns habitacionais, Infohabitar n.º 575
Editor: António Baptista
Coelho
– abc@ubi.pt, abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade
Habitacional
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação -
Olivais Norte.
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