Infohabitar, Ano XI, 525
Lembra-se a próxima Assembleia-geral da GHabitar
Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional - APPQH
(anteriormente designado "Grupo Habitar - APPQH")
A realizar no sábado, dia 28 de março de 2015,
em Matosinhos, na Sede da Cooperativa de Habitação Económica As Sete Bicas,
situada na Rua António Porto, n.º 42, 4460-353 Senhora da Hora, Matosinhos.
Convoca-se a 1.ª Assembleia-geral
da GHabitar, em sessão
ordinária, para reunir pelas
11h.00, numa sala da Sede da Cooperativa de Habitação Económica As Sete
Bicas, situada na Rua António Porto,n.º 42, 4460-353 Senhora da Hora,
Matosinhos,
A Convocatória foi devidamente publicitada na edição da
Infohabitar de 8 de março: http://infohabitar.blogspot.pt/2015/03/infohabitarano-xi-n.html
Continuamos, em seguida, a Série editorial sobre "habitar e viver melhor", na qual temos acompanhado uma
sequência espacial desde a vizinhança de proximidade urbana e habitacional até
ao edifício multifamiliar, e neste os seus espaços comuns. Estamos agora a
abordar , com algum detalhe, os espaços que constituem os nossos “pequenos”
mundos domésticos e privativos, refletindo sobre as diversas facetas que os
qualificam; e continuamos com alguns
aspetos sobre o espaço de cozinha e sobre o seu potencial como zona de
convívio doméstico.
A cozinha para conviver
Artigo LXXI da Série habitar e viver melhor
António Baptista Coelho
António Baptista Coelho
O espaço de cozinha para cozinhar, apenas, ou também para conviver?
Cozinha para
cozinhar ou para conviver? Uma pergunta que tem como resposta que numa casa é
necessário haver um espaço de preparação de refeições, espaço este
fundamentalmente funcional e marcado por um dado conjunto de instalações e
equipamentos, mas que não deve justificar um dado compartimento, feito
dimensionalmente à medida desse conjunto de instalações e equipamentos, como se
estivéssemos a conceber uma cozinha de um restaurante doméstico onde, quase
sempre, não há “empregados” cuja função é estar nessa cozinha "laboratório" a
preparar as refeições de quem habita aquela casa.
Caso esse
pólo de instalações e equipamentos esteja associado a um outro espaço doméstico
que tenha configuração e caracterização convivial, então teremos um espaço
positivo que tanto pode assumir-se como grande cozinha, como pode constituir-se
como sala-comum ou sala de família com uma zona específica dedicada à
preparação de refeições.
Segundo Sven
Thiberg (1), a forma do compartimento, a escolha dos materiais, as
características de iluminação e ventilação natural e o contacto com outros
compartimentos e espaços vizinhos são aspectos complementares de um bom
funcionamento básico da cozinha, mas que têm especial importância no seu papel
e conteúdo social, em termos do convívio e do estar familiares.
Fig. 01: Cozinha e zona de refeições de habitação do conjunto
urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da
exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H4-5, Arquitetura:
Jan Christer Ahlbäck.
Ligação entre preparar refeições e outras atividades domésticas
A cozinha de
preparação de refeições é o espaço doméstico que mais fornecimentos exteriores
recebe, é também o espaço doméstico que mais gera resíduos e lixos e é, ainda,
um espaço estratégico de produção de bens que ou são consumidos na própria
cozinha, ou num espaço de refeições específico.
Considerando tudo isto a
posição da zona onde se preparam as refeições deve ser estratégica e desafogada,
quer na sua relação com uma entrada na habitação, quer na sua relação com os
referidos espaços de refeições.
Alexander
(2) considera que o traçado da cozinha deve privilegiar o desenvolvimento de
uma longa bancada insolada (ou pelo menos cheia de luz), a possibilidade de
vistas exteriores e interiores significativas (não a vista cortada da parede
"à frente do nariz") e a alegria cromática com tons quentes (que
podem até quebrar a frieza/uniformidade da luz recebida por janelas, eventualmente, viradas
mais a norte - orientação bastante recomendada no hemisfério norte).
São as
seguintes as características mais desejáveis numa cozinha onde se tomam
refeições com agrado:
- existência de espaço real para se poder estar à mesa e num sítio agradável;
- a mesa poder servir para muitas outras actividades, desde o apoio à preparação de refeições ao trabalho e recreio das crianças;
- e a ausência de ruídos incómodos, como os do funcionamento de máquinas de lavar e secar roupa, o que pode obrigar à instalação destas máquinas em local específico e encerrado.
A
possibilidade de se desenvolver um verdadeiro convívio numa cozinha familiar ou
numa sala de família que integre uma zona de preparação de refeições, depende,
entre outros aspectos da previsão de uma zona de lavandaria doméstica num um
espaço próprio e com características definitivas e funcionalmente adequadas,
pois não faz qualquer sentido uma vizinhança promíscua entre cozinhar e tratar
da roupa.
Hábitos interessantes associados ao espaço de cozinha
A cozinha
separada do estar foi, de certa forma, uma invenção numa altura em que havia
criados(as) que cozinhavam e serviam na sala de jantar; e por acréscimo podemos
pensar o mesmo da própria sala de jantar.
Isto não significa que tais condições não se mantenham, em determinadas situações, e que noutras as próprias famílias não se sintam mais à vontade com situações que se tornaram correntes e tipificadas como estas e que aliás têm vantagens funcionais e ambientais no uso da casa, pois concentram e isolam a produção de ruídos e de cheiros, separando-as de zonas onde se pretende estar em sossego.
Isto não significa que tais condições não se mantenham, em determinadas situações, e que noutras as próprias famílias não se sintam mais à vontade com situações que se tornaram correntes e tipificadas como estas e que aliás têm vantagens funcionais e ambientais no uso da casa, pois concentram e isolam a produção de ruídos e de cheiros, separando-as de zonas onde se pretende estar em sossego.
Mas no entanto há
que interiorizar que os tempos de hoje não são tempos de empregados domésticos, nem são
tempos em que há uma parte da família na cozinha, isolada, a cozinhar para uma
outra parte da família na sala; se as pessoas quiserem viver assim devem poder
fazê-lo, mas, desejavelmente, nunca de uma forma quase obrigatória, que é, de
certa forma, a regra, em tantas soluções habitacionais ainda marcadas pela
“fatal” zona funcional cozinha/tratamento de roupas e, depois pela outra
fatalidade que dá pelo nome de “zona de quartos”, e à qual nos iremos dedicar outros artigos desta série editorial.
Fig. 02: Cozinha e zona de refeições de uma habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H 13-14, Arquitetura: Charles Moore, Ruble, Yudell, Bertil Öhrström.
Alternativas de uso da cozinha e de modos de viver a relação cozinha-sala
E há formas
expeditas de proporcionar alternativas de uso da cozinha e de modos de viver a
relação cozinha-sala, de modos que mantêm a referida possibilidade de relativa
discriminação entre quem executa funções e quem as goza, mas que,
simultaneamente proporcionam modos de uso da casa mais democráticos, mais
actuais e essencialmente mais conviviais.
E é fácil, basta disponibilizar-se uma cozinha espaçosa e com uma capacidade convivial, pelo menos, mínima, proporcionando-se, assim a alternativa ao estar/convívio nesta cozinha ou na sala, sala esta que, havendo limitações dimensionais (orçamentais) poderá ser razoavelmente reduzida, podendo, por exemplo, aceitar as refeições formais de uma forma versátil (por exemplo, numa mesa que se acrescente).
E é fácil, basta disponibilizar-se uma cozinha espaçosa e com uma capacidade convivial, pelo menos, mínima, proporcionando-se, assim a alternativa ao estar/convívio nesta cozinha ou na sala, sala esta que, havendo limitações dimensionais (orçamentais) poderá ser razoavelmente reduzida, podendo, por exemplo, aceitar as refeições formais de uma forma versátil (por exemplo, numa mesa que se acrescente).
Mas importa
considerar que uma tal versatilidade exige, além do tal dimensionamento
relativamente folgado e adaptável da cozinha, que esta seja pelo menos minimamente
cuidada em termos de acessos e de arranjos e equipamentos, de modo a que as
pessoas que lá trabalham e lá convivem, tomando as refeições, se sintam não num
ambiente maquinal, que tantas vezes lembra uma grande “casa de banho”, mas sim
no âmago, no coração de uma casa; e lá estão certos equipamentos como o fogão
para serem aproveitados nesse estimulante sentido simbólico e agregador do
convívio e do sentido doméstico.
A "cozinha de jantar"
Como indica
e ilustra Sven Thiberg “uma «cozinha de jantar» (dining-kitchen) com uma
espaçosa área de refeições e espaço suplementar para vários trabalhos pode,
sendo bem desenhada, adaptar-se ao desempenho de variadas necessidades,
proporcionando, cumulativamente, como refere este autor o desenvolvimento dos
trabalhos culinários de pé, sentado, ou em cadeira de rodas, o que é uma
interessante vantagem complementar (3), e aligeirando a sala de um amplo
conjunto de actividades, tornando-as, assim, mais adequada, por exemplo, para
formas mais especializadas de convívio (por exemplo enquanto se ouve música) e
para o recreio e o trabalho profissional em casa.
Notas:
(1) Sven
Thiberg(Ed.), "Housing Research and Design in Sweden", p. 176.
(2) Christopher
Alexander; Sara Ishikawa; Murray Silverstein; et al, "A Pattern
Language/Un Lenguaje de Patrones", pp. 802 e 803.
(3) Sven
Thiberg(Ed.), "Housing Research and Design in Sweden", p. 176.
.
.
Nota importante sobre as imagens que
ilustram o artigo:
As imagens que acompanham este artigo e que irão, também, acompanhar outros
artigos desta mesma série editorial foram recolhidas pelo autor do artigo na
visita que realizou à exposição habitacional "Bo01 City of
Tomorrow", que teve lugar em Malmö em 2001.
Aproveita-se para lembrar o grande interesse desta exposição e para
registar que a Bo01 foi organizada pelo “organismo de exposições
habitacionais sueco” (Svensk Bostadsmässa), que integra o Conselho Nacional de
Planeamento e Construção Habitacional (SABO), a Associação Sueca das Companhias
Municipais de Habitação, a Associação Sueca das Autoridades Locais e quinze
municípios suecos; salienta-se ainda que a Bo01 teve apoio financeiro da
Comissão Europeia, designadamente, no que se refere ao desenvolvimento de
soluções urbanas sustentáveis no campo da eficácia energética, bem como apoios
técnicos por parte do da Administração Nacional Sueca da Energia e do Instituto
de Ciência e Tecnologia de Lund.
A Bo01 foi o primeiro desenvolvimento/fase do novo bairro de Malmö,
designado como Västra Hamnen (O Porto Oeste) uma das principais áreas urbanas
de desenvolvimento da cidade no futuro.
Mais se refere que, sempre que seja possível, as imagens recolhidas pelo
autor do artigo na Bo01 serão referidas aos respetivos projetistas dos
edifícios visitados; no entanto, o elevado número de imagens de interiores
domésticos então recolhidas dificulta a identificação dos respetivos
projetistas de Arquitetura, não havendo informação adequada sobre os respetivos
designers de equipamento (mobiliário) e eventuais projetistas de arquitetura de
interiores; situação pela qual se apresentam as devidas desculpas aos
respetivos projetistas e designers, tendo-se em conta, quer as frequentes
ausências de referências - que serão, infelizmente, regra em relação aos
referidos designers -, quer os eventuais lapsos ou ausência de referências aos
respetivos projetistas de arquitetura.
Notas
editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada,
caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha
de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões
expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais
dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da
exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e
adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a
ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários
"automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos
conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição
da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos
editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à
verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da
revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de
eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.
Infohabitar, Ano XI, n.º 525
Artigo
LXXI da Série habitar e viver melhor
A cozinha
para conviver
Editor: António Baptista
Coelho
abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade
Habitacional
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação -
Olivais Norte.
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