quarta-feira, agosto 09, 2023

Aspetos estruturantes da tipologia residencial intergeracional – versão de trabalho e base documental # 871 Infohabitar

 Ligação direta (clicar no link seguinte ou copiar para site de busca) para aceder à listagem interativa de 840 Artigos editados na Infohabitar – edição de janeiro de 2022 com links revistos em junho de 2022 (38 temas e mais de 100 autores):

https://docs.google.com/document/d/1WzJ3LfAmy4a7FRWMw5jFYJ9tjsuR4ll8/edit?usp=sharing&ouid=105588198309185023560&rtpof=true&sd=true

Aspetos estruturantes da tipologia residencial intergeracional – versão de trabalho e base documental # 871 Infohabitar

António Baptista Coelho  – com base direta nos textos, ideias e opiniões dos autores referidos ao longo do artigo


Artigo XXXIX da série editorial da Infohabitar – “Programa de Habitação Adaptável e Intergeracional através de uma Cooperativa a Custo Controlado “PHAI3C” 

Infohabitar, Ano XIX, n.º 871

Edição: quarta-feira, 9 de agosto de 2023

 

Caros leitores da Infohabitar,

Com o presente artigo, sobre a habitação intergeracional, continuamos num intervalo editorial, que se prolongará até ao próximo mês de setembro, relativamente à divulgação da série editorial dedicada à temática geral da Segregação sócio-espacial em contexto urbano”, da autoria do Professor Anselmo Belém Machado.

Com o presente artigo continuamos, portanto, a série sobre habitação intergeracional no âmbito da proposta de um Programa de Habitação Adaptável Intergeracional no âmbito de uma Cooperativa a Custos Controlados (PHAI3C), que visa oferecer soluções urbanas e residenciais que promovam a convivência entre diferentes gerações, que sejam adaptáveis a diferentes modos de vida e adequadas para pessoas com fragilidades físicas e mentais, sem estigmatização; e que, simultaneamente, e no referido âmbito intergeracional, ofereça soluções habitacionais para outras necessidades urgentes, como jovens e pessoas solteiras; e tudo isto com uma abordagem de gestão participativa, socialmente estimulante e financeiramente sustentável, que, naturalmente, terá sempre muito a ver com uma promoção cooperativa marcada por claras preocupações sociais e económicas.

Prevemos concluir esta série editorial sobre habitação intergeracional em meados do próximo mês de setembro.

Recorda-se, como sempre, que serão sempre muito bem-vindas eventuais ideias comentadas sobre os artigos aqui editados e propostas de novos artigos (a enviar, ao meu cuidado, para abc.infohabitar@gmail.com).

Com as melhores saudações a todos os caros leitores,     

Lisboa, em 9 de agosto de 2023,

António Baptista Coelho

Editor da Infohabitar

 


Aspetos estruturantes da tipologia residencial intergeracional – versão de trabalho e base documental # 871 Infohabitar

António Baptista Coelho  – com base direta nos textos, ideias e opiniões dos autores referidos ao longo do artigo

Resumo

Em primeiro lugar faz-se uma introdução ao presente conjunto de artigos sobre habitação intergeracional.

No artigo abordam-se aspetos ligados especificamente à conceção residencial para idosos, inovação tipológica por integração de variadas funções residenciais e a realidade específica dos jovens idosos – que designámos, globalmente, como aspetos estruturantes da tipologia residencial intergeracional.

Em termos de subtemáticas são abordadas, sequencialmente, as seguintes matérias: habitações especialmente concebidas para pessoas idosas; novas tipologias de edifícios residenciais formal e funcionalmente híbridos; novas tipologias habitacionais para os jovens idosos ou “adultos ativos”.

 

Notas introdutórias ao presente conjunto de artigos sobre habitação intergeracional

O presente conjunto de artigos inclui-se numa série editorial dedicada a uma reflexão temática exploratória, que integra a fase preliminar e “de trabalho”, dedicada à preparação e estruturação de um amplo processo de investigação teórico-prático, intitulado Programa de Habitação Adaptável Intergeracional Cooperativa a Custos Controlados (PHAI3C); programa/estudo este que está a ser desenvolvido, pelo autor destes artigos, no Departamento de Edifícios do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), e que integra o Programa de Investigação e Inovação (P2I) do LNEC, sublinhando-se que as opiniões expressas nestes artigos são, apenas, dos seus autores – o autor dos artigos e promotor do PHAI3C e os numerosos autores neles amplamente citados.

Neste sentido salienta-se o papel visado para o presente conjunto de artigos, no sentido de se proporcionar uma divulgação que possa resultar numa desejável e construtiva discussão alargada sobre as muito urgentes e exigentes matérias da habitação mais adequada para idosos e pessoas fragilizadas, visando-se, não apenas as suas necessidades e gostos específicos, mas também o papel e a valia que têm numa sociedade ativa e integrada.

Nesta perspetiva e tendo-se em conta a fase preliminar e de trabalho da referida investigação, salienta-se que a forma e a extensão dos artigos agora listados reflete uma assumida apresentação comentada, minimamente estruturada, de opiniões e resultados de múltiplas pesquisas, de muitos autores, escolhidos pela sua perspetiva temática focada e por corresponderem a estudos razoavelmente recentes; forma esta que fica patente no significativo número de citações – salientadas em itálico –, algumas delas longas e quase todas incluídas na língua original.

Julga-se que não se poderia atuar de forma diversa quando se pretende, como é o caso, chegar, cuidadosamente, a resultados teórico-práticos funcionais e aplicáveis na prática, e não apenas a uma reflexão pessoal sobre uma matéria tão sensível e complexa como é a habitação intergeracional adaptável desenvolvida por uma cooperativa a custos controlados e em parte dedicada a pessoas fragilizadas.

  

Aspetos estruturantes da tipologia residencial intergeracional – versão de trabalho e base documental # 871 Infohabitar

Índice geral (entre parêntesis, n.º de página do item)

Breve introdução

1. Habitações especialmente concebidas para pessoas idosas

2. Novas tipologias de edifícios híbridos

2.1. Novos tipos de edifícios formal e funcionalmente híbridos

2.2. Habitação e espaços formal e funcionalmente híbridos

3. Novas tipologias habitacionais para os jovens idosos ou “adultos ativos”

Bibliografia (referências práticas)


Aspetos estruturantes da tipologia residencial intergeracional – versão de trabalho e base documental # 871 Infohabitar

Nota específica relativa às citações: tal como foi acima sublinhado nas “Notas introdutórias”, e tendo-se em conta a fase preliminar e de trabalho do presente estudo, ele inclui numerosas citações, todas salientadas em texto a itálico, reentrante e em tipo de letra “Arial Narrow”, algumas delas longas e quase todas apresentadas na respetiva língua original; em termos formais e tendo-se em conta essa grande frequência de citações, optou-se, por regra, pela respetiva indicação da fonte documental, respetivo título e autoria, no corpo de texto e em nota de pé de página ou de final de artigo (conforme a edição), seguindo-se a(s) respetiva(s) citação(ões) com a indicação, posterior, do(s) respetivo(s) número(s) de página(s) entre parêntesis – ex: (pg. 26) –, e, em alguns casos, mas não por regra, repetindo-se a indicação específica ao documento que “está a ser referido” e/ou à sua respetiva autoria.

Specific note regarding citations: as highlighted above in the “Introductory Notes”, and taking into account the preliminary and working phase of the present study, it includes numerous citations, all highlighted in italicized text, reentrant and in font type. letter “Arial Narrow”, some of them long and almost all presented in their original language; in formal terms and taking into account this high frequency of citations, we opted, as a rule, for the respective indication of the documentary source, respective title and authorship, in the body of the text and in a footnote or at the end of the article (according to the edition), followed by the respective citation(s) with the subsequent indication of the respective page number(s) in parentheses – ex: ( pg. 26) – and, in some cases, but not as a rule, repeating the specific indication of the document that “is being referred to” and/or its respective authorship.

Breve introdução

Aproximam-nos da conclusão da “versão de trabalho e base documental” deste estudo sobre a intergeracionalidade residencial, avançando, tendencialmente do mais geral para o mais particular,  numa área temática especificamente dedicada às questões tipológicas e também já numa área que podemos designar de “ponte” para o registo e indicação de casos de referência e de exemplos práticos – matéria esta que integrará o presente estudo, numa sua fase de conclusão e com caráter de anexo técnico muito sintetizado à indicação genérica destes casos; mas lá chegaremos.

No presente âmbito da abordagem específica das questões essencialmente tipológicas da intergeracionalidade residencial desenvolvemos quatro artigos/itens (i a iv), sendo este o primeiro, onde se abordam, sequencial e sinteticamente as seguintes matérias:

 (i, o presente artigo, Infohabitar 871) aspetos ligados especificamente à conceção residencial para idosos, inovação tipológica por integração de variadas funções residenciais e a realidade específica dos jovens idosos – que designámos, globalmente, como aspetos estruturantes da tipologia residencial intergeracional;

(ii, Infohabitar 872) habitação para a aposentação, habitação assistida muito apoiada, habitação de interesse social intergeracional, habitação adaptada e tipos de espaços privados e comuns – que designámos, globalmente, como facetas tipológicas específicas da habitação intergeracional;

(iii, Infohabitar 873) aspetos críticos da conceção residencial intergeracional, inovação residencial em situações de dependência, aspetos específicos de harmonização entre conceção e bem-estar, integração de cuidados especiais e habitação muito apoiada – que designámos, globalmente, como aspetos específicos da conceção residencial para idosos e fragilizados;

(iv, Infohabitar 874) e finalmente aspetos da conceção habitacional sensível e amiga das pessoas dementes, vantagens da pequena escala de intervenção residencial para pessoas dementes e a oferta de pequenos conjuntos residenciais do tipo “aldeia” para pessoas fragilizadas - que designámos, globalmente, como aspetos específicos de uma tipologia residencial sensível às pessoas com demências.  

1. Habitações especialmente concebidas para pessoas idosas

Relativamente à temática do desenvolvimento de soluções habitacionais específicas para pessoas idosas  uma Age UK factsheet intitulada Specialist housing for older people, avança com um conjunto de considerações que são, em seguida, parcialmente, apontadas e minimamente comentadas, designadamente, nos aspetos mais ligados à promoção de conjuntos residenciais amigos dos idosos, com caraterísticas intergeracionais participadas e apoiados por espaços e serviços comuns. [1]

O documento aponta que a consideração de “pessoas idosas”, no sentido da respetiva provisão residencial, é habitualmente referida a níveis etários superiores a 55 ou 60 anos.

Em termos de leque tipológico apontado salientam-se diferentes tipologias, marcadas pela exigência, ou não, de uma dada idade para lhe aceder, pela existência de “apoios” de emergência e domésticos, ou “cuidados” essencialmente pessoais, e pelo grau de autonomia vivencial proporcionado.

Ficamos, então, com alguns importantes aspetos tipológicos apontados no estudo, acima referido, editado na Age UK factsheet e intitulado Specialist housing for older people: (negrito nosso)

age-exclusive’ housing, where residents have to be over a certain age to qualify, but little or no support is provided. 

housing-with-support’, where residents receive support services such as  an emergency alarm system, but staff do not provide care

housing-with-care’, where staff provide care services such as help with washing, dressing, toileting and taking medication.

Sheltered housing is probably the best known and most common form of specialist housing. It is a type of ‘housing-with-support’. It is available to rent or buy, with the different options covered in section 5.

Sheltered schemes typically have 20 to 50 flats or bungalows, with a basic range of shared facilities. You have your own front door, but receive some level of support on-site. (pg. 3)

Relativamente às tipologias de apoios proporcionados e aos associados quadros de gestão eles estão já devidamente estruturados, designadamente, em relação com a disponibilização oficial de apoios pessoais existente em cada local e situação específica, que, eventualmente, poderá ser prestado ao nível domiciliar, tal como, em seguida, se exemplifica, por citação do documento acima referido:

There is usually an emergency alarm system in each property, providing a 24/7 link with a control centre. There is usually a scheme manager, also known as a warden, who may live on-site or visit to provide ‘floating’ support(pg. 4)

Julga-se que a base disto tudo estará na flexibilidade ou adaptabilidade seja da parte física, seja dos equipamentos e serviços, seja da parte organizativa e de gestão, seja do quadro amplo de intervenção; seja do próprio processo de acesso a uma habitação com apoios e cuidados; e, naturalmente, que tudo seja bem viável sustentável, tendo-se em conta o presente e o futuro que é marcado pela “revolução grisalha”.

No documento que está a ser referido, aponta-se, ainda, que a opção pelo arrendamento ou pela compra depende, essencialmente, por um lado da existência de uma adequada e variada oferta, e , por outro lado, da situação de base (ou prévia) habitacional de cada interessado e dos seus recursos financeiros; podendo ainda existirem situações mistas de propriedade partilhada ou comum. (pg. 8)

A questão da existência de soluções residenciais com “cuidados extra” ou “muito apoiadas”, proporcionando pessoal de apoio disponível 24/24h e cuidados pessoais muito extensos (banho, refeições, vestir, arranjo pessoal, medicamentação, etc.), é considerada ainda no Reino Unido como uma solução mais independente, em termos vivenciais e de autonomia de cada residente, do que uma solução do tipo “casa de cuidados” (care home), também por vezes designada de habitação com “cuidados próximos” (close care), isto porque os residentes em soluções residenciais com “extra care” “vivem independentemente  em espaços domésticos perfeitamente autónomos e com a sua própria porta de entrada”, tal como se aponta no documento que está a ser referido. (pg. 13)

É também oportuno ter em conta, designadamente, para a aplicabilidade destes conceitos ao nosso PHAI3C, que se julga poder chegar a estes níveis de “cuidados extra”, mas prestados inteiramente a nível individual e no âmbito do respetivo espaço doméstico de cada pessoa ou família, que cuidados de enfermagem mais elaborados (ex., tratamento de feridas, cuidados médicos mais elaborados, etc.) não são habitualmente prestados pelo pessoal ligado ao respetivo espaço residencial, mas sim por enfermeiros visitantes, tal como se aponta no documento que está a ser referido (pg. 13); uma condição que, sendo bem enquadrada em termos de gestão e de aspetos de segurança no acompanhamento da saúde dos residentes, parece ser interessante em termos de flexibilidade de aplicação, podendo, até, ser associada a uma prestação de cuidados de emfermagem e médicos externos à intervenção do PHAI3C, mas bem apurados e contratados a um nível mais amplo e optimizado em termos da respetiva qualidade e dos custos associados.

2. Novas tipologias de edifícios híbridos

2.1. Novos tipos de edifícios formal e funcionalmente híbridos

Relativamente à temática de uma habitação amiga dos idosos o artigo da editora A+T, intitulado Complex Buildings. Storytellers, aponta um pequeno mas bem importante conjunto de aspetos caraterizadores de inovadoras tipologias edificadas e cuja natureza parece poder adequar-se, potencialmente, de forma muito interessante à promoção de conjuntos residenciais amigos dos idosos e com caraterísticas intergeracionais participadas e apoiados por espaços e serviços comuns. [2] (negrito nosso)

De certa forma o que se procura no desenvolvimento de soluções residenciais intergeracionais, apoiadas por espaços e serviços comuns e integradas em edifícios funcionalmente mistos, e tal como se regista no documento da A+T acima referido, é a criação de elementos urbanos pacificamente contadores de histórias”, de diferentes histórias, embora interligadas, marcados por uma dinâmica evolutiva e adaptativa (capacidade geradora), constituídos por uma totalidade complexa (linker-interiors) e “misturadores”, porque “carregados de usos estimulantes” e, assim, urbanisticamente positivos, porque “exercem uma influência que vai muito para lá do seu perfil físico e que consegue revitalizar exponencialmente todo o ambiente construído”. (da zona).

2.2. Habitação e espaços formal e funcionalmente híbridos

Relativamente à temática de uma habitação amiga dos idosos os autores do artigo dedicado ao desenvolvimento de novas tipologias residenciais funcionalmente híbridas intitulado De Smet Vermeulen Architecten. Care Home’ T Zand, Iglo, apontam um conjunto de considerações que são, em seguida, muito pontualmente apontadas e comentadas, designadamente, nos aspetos mais ligados à promoção de conjuntos residenciais amigos dos idosos e com caraterísticas intergeracionais participadas e apoiados por espaços e serviços comuns.[3] (negrito nosso)

Trata-se de um conjunto funcionalmente misto, concebido por De Smet Vermeulen, que inclui um complexo residencial com cuidados pessoais, um centro de cuidados infantis e uma zona comercial superiormente rematada por apartamentos para idosos, cujas linhas mutuamente separadoras são esbatidas: “The conflicting models become complementary and evolve into a more mixed, less segregated urban form”; aspetos estes apontados no documento acima referido. (pg. 1)

Tal como é referido no mesmo documento, um dos aspetos interessantes desta solução, marcadamente densificada mas com edifícios baixos e, portanto, com forte continuidade urbana, reside no sentido de grande integração funcional dos espaços, que também se reflete na diversidade e flexibilidade das soluções de acessibilidade aos fogos, que quando térreos têm acessos diretos ao exterior (jardim ou pequena rua): (pg. 2)

The most public parts of the residential care complex face the square; behind them are the communal living spaces and behind that again the individual rooms, grouped around the gardens. So instead of passing endless rows of identical rooms, the route from the main entrance to a room passes through a variety of residential milieus.

A transverse route strings the houses together, resulting in short travel paths for the care professionals. (pg. 3)

Chama-se a atenção do leitor para a importância, que pode ser crucial, desta estratégia de acessibilidades, que desmonta, positivamente, o risco de sermos confrontados, quando entramos, com a potencial monotonia e frieza de uma bateria de acessos a espaços privados, proporcionando, pelo contrário, uma diversidade de vistas e de atividades, mas salvaguardando-se a funcionalidade do acesso às habitações dos serviços de cuidados pessoais.

Relativamente à temática do desenvolvimento de soluções habitacionais específicas para pessoas idosas, mas numa interessante perspetiva tipológica híbrida em termos de funções e de caraterizações ambientais, o artigo de Victor Regnier significativamente intitulado Going Dutch. A Mixed-Use Housing Model From the Netherlands Responds to the Aging Demographic, integra um conjunto de considerações, relativamente ao que as soluções habitacionais e urbanas amigas dos idosos poderão ser no futuro, estando já em parte antecipadas nos Países Baixos, e sendo algumas dessas considerações, em seguida, parcialmente, apontadas e minimamente comentadas, designadamente, nos aspetos mais ligados à promoção de conjuntos residenciais amigos dos idosos, com caraterísticas intergeracionais participadas e apoiados por espaços e serviços comuns.[4] (negrito nosso)

Tal como refere Victor Regnier no citado artigo, a ideia básica e aplicada até agora essencialmente nos Países Baixos é a possibilidade de vivermos e envelhecermos (em princípio, até à nossa morte) em apartamentos razoavelmente espaçosos – entre cerca de 65m2 e 93m2 (700 a 1000 ft2) – concebidos em termos dos mais atualizados aspetos de “design universal” e adequados ao apoio à prestação de cuidados pessoais itinerantes (domiciliares, neste caso), numa perspetiva de aceitação do seu eventual e gradual crescimento em termos quantitativos e qualitativos (ex., gradualmente mais complexos); no caso dos Países Baixos e especificamente na solução residencial designada Apartments for Life (A4L), existe a possibilidade de residir num apartamento privado ou num “condominium“, que se julga ser uma modalidade de coabitação adequada para pessoas que não têm a necessária autonomia (ex., pessoas com demências). (pg. 1)

Victor Regnier sublinha tratar-se do movimento A4L e da iniciativa Humanitas Bergweg, em Roterdão, já habitada há cerca de 30 anos e onde coabitam pessoas de variadas idades e graus de autonomia (desde o totalmente independente ao totalmente dependente), envelhecendo “em casa” (“in place”) com o apoio programado de trabalhadores de cuidados domiciliares (“homecare workers”),em termos de ajuda múltipla e assistência pessoal – desde uma vez por dia a quatro ou oito vezes por dia.

E Regnier continua apontando um importantes conjunto de aspetos:

“As pessoas não são mudadas de sítio, permanecendo no mesmo quadro vivencial, sendo os serviços incrementados com base nas necessidades.” Em termos de refeições há programas específicos e parcerias com serviços assistenciais em termos de refeições pré-cozinhadas e embaladas. (pg. 1)

E o referido autor avança, sequencialmente, em aspetos de tipologias estimulante e cuidadosamente híbridas:

These homecare-based service models create a more private, choice-rich setting, while using care personnel more effectively: this building-service hybrid can offer a better quality of life with a cheaper price tag—a combination that is hard to top.

Rundgraafpark exterior. Built in 2006, Rundgraafpark in Veldhoven, Netherlands, is an atrium-style Apartments for Life building that includes 40 condos and 113 units or rental housing, daycare for 20 community residents and three small group clusters for people with dementia

The A4L dwelling units average 800 square feet (75m2) , are constructed to a universal design standard and typically contain a full kitchen and a fully accessible bathroom.

Buildings tend to be larger than the typical 40- to 60-unit assisted living building: most are mid-rise structures with 150 to 200 units.

Os conjuntos do A4L tendem, portanto, a terem maior dimensão do que é habitual em edifícios com habitações assistidas, o que nem será estranho pois são intergeracionais e funcionalmente híbridos (ex., incluem, por vezes, minimercados e equipamentos para a infância), incluindo habitações para pessoas com total autonomia; essa dimensão significativa e esta diversidade de habitantes proporcionam excelentes condições em termos dos respetivos custos residenciais.

Muitos edifícios do A4L têm soluções edificadas “rodeando” átrios comuns cheios de luz natural, plantas e espaços atraentes para sentar, comer e conviver; e neste sentido importa aqui comentar dois aspetos, sendo o primeiro a ideia de que por vezes nos esquecemos que o espaço “em altura”, desafogado e cheio de luz, acaba por custar muito menos do que o mesmo espaço “fatiado” em diversos pisos, e sendo o segundo o cuidado que temos de ter, nos países do Sul da Europa com as condições de insolação que podem ser complicadas nestes espaços se não houver cuidados específicos; e neste sentido Victor Regnier sublinha:

The A4L buildings typically house first-floor common spaces that are open to neighborhood residents and those living in the housing above. These common areas include activity spaces, but also might have room for physical therapy as well as neighborhood-friendly services like a restaurant, coffee bar and beauty shop.

The buildings’ units are primarily rentals but, increasingly, are mixed with condominium-style choices. In the Dutch system, units can either be sold, rented at market rate or qualified for at below-market rate.

The A4L housing model serves both building residents and adjacent residents in the neighborhood because the buildings are natural settings for services—meals-on-wheels programs, homecare and emergency response aid— that can be organized and distributed to older people in nearby conventional housing. (pg. 1)


As soluções residenciais A4L parecem atrair muitos casais idosos e designadamente casais integrando um dos membros com problemas de autonomia; sendo que se julga que serão também muito atraentes para casais que possam ter o cuidado de prever uma eventual situação desse tipo, mas também para casais sem filhos e pessoas que vivem isoladas e que, desta forma, podem ter ajudas domésticas facilitadas, apoios no abastecimento doméstico ali bem próximos, bem como um potencial de convívio sempre ali bem perto e disponível.

E note-se que esta funcionalidade nos apoios domésticos e convivialidade potencial que abrange um amplo leque intergeracional, se traduz numa grande facilidade de vida urbana para os adultos e jovens muito dedicados às suas atividades profissionais e, “em troca”, proporciona ao conjunto da intervenção uma presença bem ativa e participante destes mesmos adultos, que é sempre muito bem-vinda por parte dos vizinhos mais idosos; nesta perspetiva e no referido artigo Regnier salienta:

Typically, new A4L buildings have more independent residents and regularly attract couples; they are particularly appealing for couples where one partner is more dependent than the other, as services can be arranged for the frailer spouse while the independent unit (and lifestyle that accompanies it) satisfies the more active spouse.

It is not uncommon for a new building’s move-in population to be in their mid-70s, with 30 percent to 40 percent couples …

A “use it or lose it” philosophy encourages residents to do as much as they can for themselves, but with regular assessment by case workers. Very often, one-third of residents are involved in volunteer programs, or popular activities such as selling groceries at the building’s store, or distributing meals-on-wheels offerings …  volunteers run the activity programs, and couples and younger residents are appreciated because they are active and helpful to their neighbors. (pg. 1 e 2)

A questão associada à desejável significativa dimensão destas vizinhanças dos A4L, que Regnier considera dever ser de pelo menos 175 a 200 residentes (pg. 1 e 2), para ser eficiente em termos de custos, também se poderá ligar, julgamos nós, a uma máxima racionalização construtiva da respetiva solução edificada, designadamente, em termos de (i) n.º de pisos e (ii) sua extensão na relação com (iii) a previsão de ascensores e (iv) adequadas garantias de segurança contra incêndios.

Importa, ainda, salientar na última citação a referência direta que é feita à satisfação associada à integração residencial de pessoas mais novas e dinâmicas; numa defesa clara do grande interesse e oportunidade da intergeracionalidade residencial e urbana.

Um outro aspeto considerado de grande relevância neste artigo de Victor Regnier é a sua reflexão sobre os caminhos de um adequado “envelhecimento em casa”, no sentido de um pensamento criativo que aposte numa afirmada distinção entre habitação apoiada por serviços dos conhecidos equipamentos residenciais “super-equipados” e caros, claramente insustentáveis face à presente “revolução grisalha”:

Given the structure of services provided, the A4L housing model requires that at least 175 to 200 people occupy a building in order for it to be cost efficient. Providers like Humanitas in Rotterdam have found that this building type can be 10 percent to 15 percent less expensive than a traditional institutional model, although formal studies have not been conducted to verify this cost saving.

… we should begin experimenting with ideas that help us better resolve the aging-in-place problem. We must think creatively about supporting residents at their margin of need, and work on separating housing with services from institutional building-use groups. Assisted living is expensive, partly because the buildings are often constructed like mini-hospitalsan unnecessary standard.

Most importantly, we need exemplars to test the idea and acclimate … consumers to the concept. For one thing is certain: what we are doing today is not sustainable. (pg. 2)

3. Novas tipologias habitacionais para os jovens idosos ou “adultos ativos”

Relativamente à temática de uma habitação amiga dos idosos os autores do artigo intitulado The new active adult housing: And how senior living providers can thrive in a 55+ world, apontam um conjunto de considerações que são, em seguida, parcialmente, apontadas e minimamente comentadas, designadamente, nos aspetos mais ligados à promoção de conjuntos residenciais amigos dos idosos e com caraterísticas intergeracionais participadas e apoiados por espaços e serviços comuns. (negrito nosso) .[5]

Um aspeto muito interessante, registado no artigo que acabou de ser referido, é considerar-se que em soluções residenciais dirigidas para a vida ativa de “jovens idosos” existem serviços e equipamentos indispensáveis e outros, que, pelo contrário, até afastam os potenciais interessados (pg. 3); provavelmente, dizemos nós, por serem associáveis às velhas soluções assistencialistas e institucionais.

Outro aspeto a considerar e apontado no mesmo artigo, é a identificação dos aspetos residenciais, vivenciais e de “apoios” diversos que são os mais desejados pelos “novos idosos” – muito ligados à geração dos designados baby boomers ; cujas caraterísticas em termos de necessidades e muito de gostos habitacionais, quando idosos, não parecem ter sido, ainda, suficientemente estudados, sendo que não parece haver dúvidas que são bem distintos das anteriores gerações de “reformados”, que, muitas vezes, se conformavam com pouco mais do que o que era considerado essencial (comentário nosso).

No artigo acima referido esta última perspetiva é muito bem sintetizada quando se aponta que o que os referidos idosos baby boomers procuram, quando decidem mudar das suas habitações familiares é, essencialmente e muito mais, um “estilo de vida”, do que uma solução residencial específica; e comentamos nós que talvez, porque queiram continuar e aprofundar um dado “estilo de vida” ou até avançar, finalmente, num “estilo de vida” que nunca conseguiram seguir, até então, enquanto na sua vida de trabalho ( a designada “vida ativa”); e nesta perspetiva da adoção de um novo “estilo de vida”, que poderá basear-se e refletir-se no respetivo habitar importa ter em conta alguns aspetos apontados no artigo que está a ser citado:

For active adult providers, the key word to describe the space is “lifestyle.”

That positions active adult as the counter to the care-based housing in traditional senior living. And with seniors living longer and growing frailer later in life, lifestyle is a word, and a space, that traditional senior living providers would be wise to explore. (pg. 3)

E parece ser isso mesmo: os mais de 55 anos têm de ser atraídos para uma forma de vida que lhes seja muito adequada, mas , mais do que isso, para a possibilidade de avançarem num viver que os satisfaça em termos de muito do que sempre quiseram fazer, mas não puderam, essencialmente, por falta de tempo e de apoios práticos nesse sentido; e, complementarmente, uma tal mudança deverá ser acompanhada por ser ela própria um bom investimento também financeiro.

Talvez que um dos segredos de se conseguirem tais “planos” a nível individual é a criação de condições espaciais, ambientais, funcionais e organizativas que harmonizem, ao máximo, todo um enorme leque de vontades e gostos individuais em quadros necessariamente marcados por uma expressiva proximidade.

O que certas imagens de excelentes espaços comuns de conjuntos para pessoas idosas (ex., enorme zona de lareira, mas com expressiva escala humana e excelente e diversificada decoração; grande zona de entrada, representativa mas humanizada) nos transmitem é, de certa forma, a possibilidade de muita gente “ter” acesso, embora que de forma partilhada, em grandes espaços comuns, a partes dos sonhos habitáveis que até veem em muitas revistas e séries televisivas na TV e aos quais muito dificilmente ou nunca poderiam aceder individualmente; tal como se depreende do artigo que está a ser referido:

Some want a resort style-community, and others want something rooted in outdoor activities. Some want to be closer to their own families, while others want to be away from other people’s families and young children. Some are working, and some are retirees who view this new period as an opportunity to volunteer. But all seek a new lifestyle.

… “what ultimately sells the home is the community and lifestyle the people are going to enjoy from it,” …. 

 “The demographics are such that to not offer this product is probably a missed opportunity,” says Jeff Hinkle, senior vice president of Scottsdale-based Shea Homes, which works in active adult under its Trilogy® brand. (pg. 5)

Julga-se que a ideia central relativa ao PHAI3C e tendo em conta o que acabou de ser apontado, e que se resume na procura de um “estilo de vida” agradável e estimulante, é uma forma “livre” de HCC, direcionada ou especificamente adequada para idosos e fragilizados, mas totalmente distinta e diferente de soluções associáveis a aspetos “assistenciais”.

Bibliografia (referências práticas)

Notas bibliográficas no final do texto

A+t - Generators, linkers, mixers & storytellers. Complex buildings series. A+t 48 . Agosto 2017. https://aplust.net/blog/complex_buildings_storytellers__nlbel_spielbudenplatz_/

AAVV - De Smet Vermeulen Architecten. Care Home’ T Zand, Iglo. divisare (/) jul 24, 2018. https://de-smet-vermeulen-architecten.divisare.pro

AAVV; Senior Housing News - The new active adult housing: And how senior living providers can thrive in a 55+ world. Senior Housing News, Key Takeaways. 2018 www.seniorhousingnews.com

Age UK factsheet - Specialist housing for older people, Age UK factsheet, novembro 2017.

REGNIER, Victor - Going Dutch. A Mixed-Use Housing Model From the Netherlands Responds to the Aging Demographic. Aging Today, Bimonthly Newspaper of ASA - American Society on Ageing. posted 06.19.2012

 

Nota editorial da Infohabitar:

Embora a edição dos artigos na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.

Notas editoriais gerais:

(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.

(ii) No mesmo sentido, de natural responsabilização dos autores dos artigos, a utilização de quaisquer elementos de ilustração dos mesmos artigos, como , por exemplo, fotografias, desenhos, gráficos, etc., é, igualmente, da exclusiva responsabilidade dos respetivos autores – que deverão referir as respetivas fontes e obter as necessárias autorizações. 

(iii) Para se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.


Etiquetas/palavras chave: habitação, habitação intergeracional, habitação para idosos, intergeracionalidade, espaços residenciais, PHAI3C, Programa de Habitação Adaptável e Intergeracional Cooperativa a Custos Controlados

 

Aspetos estruturantes da tipologia residencial intergeracional – versão de trabalho e base documental # 871 Infohabitar

António Baptista Coelho  – com base direta nos textos, ideias e opiniões dos autores referidos ao longo do artigo

Artigo XXXIX da série editorial da Infohabitar – “Programa de Habitação Adaptável e Intergeracional através de uma Cooperativa a Custo Controlado “PHAI3C” 

Infohabitar, Ano XIX, n.º 871

Edição: quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Infohabitar

Editor: António Baptista Coelho, Investigador Principal com Habilitação em Arquitectura e Urbanismo – Departamento de Edifícios do  Laboratório Nacional de Engenharia Civil - LNEC

abc.infohabitar@gmail.com, abc@lnec.pt

 

A Infohabitar é uma Revista do GHabitar Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar – Associação atualmente com sede na Federação Nacional de Cooperativas de Habitação Económica (FENACHE) e anteriormente com sede no Núcleo de Arquitectura e Urbanismo do LNEC.

Apoio à Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.

 

Notas bibliográficas:

[1] Age UK factsheet - Specialist housing for older people 201764, novembro 2017.

[2] A+t - Generators, linkers, mixers & storytellers. Complex buildings series. A+t 48

Agosto 2017. https://aplust.net/blog/complex_buildings_storytellers__nlbel_spielbudenplatz_/

[3] AAVV - De Smet Vermeulen Architecten. Care Home’ T Zand, Iglo. divisare (/) jul 24, 2018. https://de-smet-vermeulen-architecten.divisare.pro

[4] Victor Regnier - Going Dutch. A Mixed-Use Housing Model From the Netherlands Responds to the Aging Demographic. Aging Today, Bimonthly Newspaper of ASA - American Society on Ageing. posted 06.19.2012

[5] Senior Housing News - The new active adult housing: And how senior living providers can thrive in a 55+ world. Senior Housing News, Key Takeaways. 2018 www.seniorhousingnews.com

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