quarta-feira, junho 22, 2005

EDIFÍCIO COPAN: MARCO DE REVITALIZAÇÃO HABITACIONAL EM SÃO PAULO – Parte I - GALVÃO, Walter; ORNSTEIN, Sheila - Infohabitar 27

 - Infohabitar 27


Caros colegas e leitores do Infohabitar,
É com honra e um gosto que advém de uma amizade já longa e consolidada que o Infohabitar e eu próprio vos apresentamos um excelente artigo elaborado pela Professora Sheila Ornstein e pelo Arquitecto Walter Galvão, ambos da prestigiada Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP).
A Professora Sheila Ornstein tem um longo e muito rico currículo em diversas áreas do conhecimento da arquitectura e do urbanismo, com um destaque especial para as matérias ligadas à hoje tão crucial Avaliação Pós-Ocupação (APO) no campo habitacional e em outros campos da arquitectura – apenas a título de exemplo bastará dizer que ainda há poucas semanas esteve em Lisboa para participar num evento sobre APO na área escolar – e pertence ao NUTAU – Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e do Urbanismo da FAUUSP – núcleo este com quem o Núcleo de Arquitectura e Urbanismo (NAU) do LNEC, a que pertenço, colabora activamente desde já há bastantes anos. O Arquitecto Walter Galvão é um jovem e promissor valor da pesquisa habitacional e arquitectónica brasileira e paulistana, que está a realizar o seu percurso académico na excelente FAUUSP, que tem colaborado de forma muito dinâmica com a Professora Sheila Ornstein e que, no trabalho que se segue, demonstra bem o seu real valor e tudo aquilo que dele é legítimo esperar.
Devo ainda aqui expressar a grande alegria por mais este contributo no Infohabitar dos amigos e colegas da outra margem do Atlântico. Assim podemos realmente pensar em construir um Infohabitar que seja realmente um jornal informal mas especializado da ampla temática do habitar em língua portuguesa; bem hajam pela vossa contribuição.
Considerando o interesse e a extensão do artigo que se segue, ele é dividido em duas partes (Parte I e II), cuja edição no Infohabitar será sequencial (separada por um intervalo de alguns dias) e terá a devida divulgação via e-mail.


EDIFÍCIO COPAN: MARCO DE REVITALIZAÇÃO HABITACIONAL NO CENTRO DE SÃO PAULO, BRASIL – Parte I


GALVÃO, Walter José Ferreira (1);
ORNSTEIN, Sheila Walbe (2).
(1) Arquiteto. Especialista em Conforto ambiental e Conservação de Energia e Mestrando na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP). Alameda Franca 1336. CEP 01422.001 São Paulo/SP/Brasil e.mail walterga@usp.br. (2) Professora titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP) e bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Rua do Lago 876, Cidade Universitária, São Paulo/SP/Brasil. CEP 05508-080 e.mail sheilawo@usp.br.

Projetado em 1952 por Oscar Niemeyer, com colaboração do arquiteto Carlos Alberto Cerqueira Lemos, o edifício COPAN surgiu numa época de profundas transformações em São Paulo. A economia da capital paulistana se fortalecia, aquecendo o mercado imobiliário e ocasionando uma verdadeira “febre construtiva” na cidade (Mendonça, 1989). Neste momento de prosperidade os novos paradigmas de São Paulo eram gigantismo, adensamento populacional, verticalização, dentre outros (Barbara, 2004). A cidade crescia rapidamente e ansiava por símbolos representativos de sua nova condição de “grande metrópole” (Mendonça, 1989). Por sua monumentalidade estrutural, tipologia variada de apartamentos e forma arrojada o COPAN pode ser considerado um destes símbolos.

Figura 01 – Vista do COPAN. Fonte: Maria Lúcia Padovani

No ambicioso projeto inicial lançado pela Companhia Panamericana de hotéis (COPAN) – empresa criada na década de 50 pelo Banco Nacional Imobiliário [BNI] para administrar o empreendimento, tanto a Companhia Panamericana, bem como o BNI não existem mais – o conjunto era composto por dois edifícios, um onde funcionaria um hotel para 600 apartamentos e outro residencial. Os dois prédios deveriam ser ligados por uma marquise abrigando cinema, teatro, lojas e praças internas. O edifício do hotel não foi construído. Inicialmente o edifício residencial deveria ter 900 apartamentos, mas dois blocos, que teriam apartamentos de 4 dormitórios, foram redesenhados para kitchenettes e apartamentos de 1 dormitório (Botey, 1996).
As obras foram iniciadas em 1952, mas somente em 1961 as partes de alvenaria estavam prontas. O COPAN efetivamente construído tem 1.160 apartamentos divididos em 6 blocos e área comercial no térreo com 72 lojas além de cinema que hoje é ocupado por igreja evangélica. Entre a área comercial do térreo e a torre de apartamentos existem dois pavimentos intermediários, um onde funciona o escritório da Companhia Telefonica e outro que a administração do edifício utiliza para exposições e eventos.
A torre de apartamentos tem 32 andares assim distribuídos: Bloco A com 64 apartamentos de 2 dormitórios; blocos C e D com 128 apartamentos de 3 dormitórios; Blocos B, E e F com 968 apartamentos tipo kitchenettes e de 1 dormitório. O edifício possui 20 elevadores no total e 221 vagas para automóveis em 2 subsolos. A área construída total é de 116,152m² (www.copansp.com.br).

Figura 02 – Planta do pavimento térreo (galeria).


Figura 03 – Planta do pavimento tipo.


Nos anos 70 o COPAN entrou num processo de degradação, acompanhando a decadência do próprio centro de São Paulo. Grandes empresas, bancos, comércio de luxo, hotéis e equipamentos de lazer saíram da região e, com eles, o interesse imobiliário (Sampaio e Pereira, 2003). Muitos edifícios encortiçaram-se e galerias se degradaram, diminuindo sobremaneira a qualidade habitacional na área. Por ser um dos principais símbolos dos ideais de “morar no centro”, criou-se a imagem que o prédio havia se transformado num grande cortiço vertical e, de fato, os problemas eram muitos. Segundo Heise e Barreto (1997) ...faltava água regularmente... e a fiação elétrica, corroída... ficava imersa em vazamentos d’água permanentes”.
(Nota: o artigo continua e conclui na próxima edição do Infohabitar)



Referências bibliográficas

- BARBARA, Fernanda. Duas tipologias habitacionais: o Conjunto Ana Rosa e o Edifício COPAN. Contexto e análise de dois projetos realizados em São Paulo na década de 1950. São Paulo. Dissertação (mestrado). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. 2004
- BOTEY, Josep M. A.. Oscar Niemeyer. Obras e Proyectos. Barcelona, Gustavo Gili, 1996.
- GALVÃO, Walter José Ferreira. Análise de aplicação de questionários como medida para aferir a opinião de usuários em grandes conjuntos de apartamentos: o caso do edifício COPAN/SP. Seminário Internacional NUTAU 2004. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo
- HEISE, Tatiana; BARRETO, Jule. O COPAN renova-se. Revista Urbs. n. 1 , p. 8-15, 1997.
- MENDOÇA, Denise Xavier de. Arquitetura Metropolitana São Paulo Década de 50: análise de 4 edifícios - Copan, Sede do jornal o Estado de São Paulo, Itália e Conjunto Nacional. São Carlos. Dissertação (mestrado). Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo, 1989.
- ORNSTEIN, Sheila Walbe; BRUNA, Gilda Collet; ROMÉRO Marcelo de Andrade. Ambiente Construído e Comportamento: a Avaliação Pós-Ocupação e a qualidade ambiental, São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo /Studio Nobel/Fundação de Pesquisas Ambientais, 1995.
- SAMPAIO, Maria Ruth do Amaral .PEREIRA, Paulo César Xavier. Habitação em São Paulo.Ins. de Estudos Avançados São Paulo: IEA da Universidade de São Paulo V. 17 n. 48 p. 167 – 183. 2003
Sítios consultados
- www.bancodobrasil.com.br
- www.iets.org.br


6 comentários :

  1. Anónimo19:51

    Pergunto
    Qual é o arquitecto que pode fazer "considerações" relativamente a esta forma de HABITAR, relativamente à forma tradicional?
    Relativamente ao sucesso que têm estas mini-cidades e em que países? e em que países há?
    Ou então há já bibliografia? sobre estes edifícios-metrópole?
    Por outro lado, se é sabido que a violência urbana tem muitas causas, que não virá agora para o caso, e de entre as razões, a altura e imensidão de uma TORRE, como se insere este tipo de mini-cidade nas populações para as quais se constrói?
    E como é a SEGURANÇA de milhares de pessoas neste CORTIÇO ??

    Comparando com um grande edifício de Corbusier, este tinha igualmente equipamento de cultura e lazer, ginásios, supermercados em vários andares, espaços infantis e para 3ª. idade, conjuntos incríveis de elevadores e, ainda corredores quase de largura de uma RUA normal, para que pudessem afluir, a cada andar, os utentes, e até havia
    crianças a andar de bicicleta. TUDO ao PÉ DA PORTA, como eu costumo dizer, mas eu refiro-me a uma RUA em que se vê o céu e se sente o ar frio ou quente, e não neste ambiente CLIMATIZADO

    E quando o sistema eléctrico avaria? Numa situação destas? E há também consultório médico ou/e outro tipo de equipamento para estes milhares de habitantes num espaço assim tão fechado? Isto não é o mesmo que os arranha-céus de NY? Ou é mais ou menos isso. Gostava de saber que semelhanças e/ou diferenças. O que é que se pode dizer sobre estas mini-cidades porque já não são condomínios" (ou são?). Que literatura há sobre isto? Gostava de ter acesso a informação e CRÍTICA e, designadamente, a resultados relativamente à resposta dos habitantes.

    Maria Celeste Ramos, Arquitecta Paisagista, membro do Grupo Habitar

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  2. Anónimo23:05

    Prezados amigos.
    Apenas acrescento que em quatro anos que estou realizando pesquisa de Avaliação Pós Ocupação no edifício COPAN, não identifiquei nada que o caracterize como "cortiço".
    Vou apresentar alguns dados obtidos junto aos usuários, que considero relevantes nas discussões.
    O Universo do COPAN foi dividido, para aplicação de questionários, em três universos amostrais:
    1- Blocos A, C e D - aptos. de 2 e 3 dormitórios.
    2- Bloco B - apto. de 1 dormitório e kitchenettes
    3- Blcocs E e F - apto. de 1 dormitório e kithchenettes
    90% do universo amostral 1, 100% do 2 e 84% do 3, consideram "ótimo" ou "bom" seu apartamento.
    Em pergunta aberta sobre "pontos de insatisfação no local onde mora" 24% da amostra 1, 31% da amostra 2 e 23% da amostra 3, nada declararam, ou seja, não tem nenhum ponto de insatisfação.
    Finalmente 97% da amostra 1, 86% da amostra 2 e 80% da amostra 3, utilizam o comércio e serviços existentes na galeria do térreo.
    Um grande abraço para todos.
    Walter José ferreira Galvão - Mestrando da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo/Brasil

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  3. Anónimo11:14

    Apenas para ajudar a esclarecer a interessante discussão, que teve já como importante objectivo o desenvolvimento das informações sobre a importante requalificação do edifício COPAN, quero deixara aqui bem claro que tenho a certeza que o emprego feito da palavra "cortiço" teve a ver, apenas, com o sentido físico suscitado por um cortiço que alberga uma colmeia de abelhas e não a referência ao sentido que, no Brasil, tem a palavra referindo-se provavelmente a uma zona habitacional muito degradada.
    Até a própria forma e escala do edifício COPAN faz lembrar a textura em favos de um grande cortiço, voltando a sublinhar, que não querendo dizer mais do que esta comparação.
    António Baptista Coelho

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  4. Anónimo13:59

    O Copan nunca foi cortiço... quase chegou nisso....

    Se você mesmo afirmou isso, como a atual administração não melhorou o predio, isso é a típica postura de moradores que pagam aluguel e costumam atrasar o pagto. do condomínio, já que se for pago em dia não tem os 20%.... sou morador faz 14 anos e nunca tive nenhum tipo de problema com a atual administração que sempre colocou a disposição a contabiliade p/ qq condômino.

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  5. Anónimo00:34

    Preciso de plantas do edifício Copan.
    alguem sabe onde encontrar??

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  6. Anónimo00:35

    Preciso de plantas do edifício Copan.Alguém sabe onde encontrar??

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